Os ataques com engenhos explosivos quase que duplicaram no Afeganistão no último ano. Os dados divulgados pela ONU desmentem a propaganda ocupante, que fala em progressos «lentos mas firmes» no terreno.

O número de ataques à bomba no Afeganistão duplicou no último ano, diz um relatório das Nações Unidas difundido no sábado. «O crescimento dos incidentes envolvendo engenhos explosivos artesanais constitui uma tendência alarmante, com um aumento de 94 por cento nos quatro primeiros meses do ano relativamente ao mesmo período de 2009», sublinha o informe assinado pelo secretário-geral da organização, Ban Ki-moon.

No documento, citado pela Lusa, acrescenta-se ainda que as bombas artesanais são as armas mais utilizadas pelos insurgentes e que os atentados, direccionados na sua esmagadora maioria contra as forças ocupantes, ocorrem em média duas vezes por semana.

Particularmente violentas são as províncias de Helmand e Kandahar, regiões do Sul do Afeganistão que os militares da NATO e dos EUA procuram controlar a todo o custo, embora, até ao momento, não tenham obtido sucesso.

A ONU admite igualmente que se verificou um aumento dos ataques coordenados, os quais, frisa, denotam um grau de complexidade assinalável.

A situação é de tal forma grave que as Nações Unidas voltaram a anunciar a retirada de alguns dos seus funcionários do território devido à degradação das condições de segurança. No final do ano passado, a ONU já tinha evacuado, pelas mesmas razões, centenas de funcionários estrangeiros em serviço no Afeganistão.

EUA falseiam realidade

O texto divulgado por Ban Ki-moon desmente as informações veiculadas pelo Pentágono sobre alegados avanços na contenção dos grupos que resistem à ocupação do país.

Recentemente, o secretário da Defesa dos EUA, Robert Gates, considerou que no terreno se observam progressos lentos mas firmes. Em entrevista à Fox, Gates disse também que o comando ocupante acredita que as operações, particularmente as que se desenrolam no Sul, indicam a direcção certa, não podendo, no entanto, confirmar quando se iniciará a retirada do contingente norte-americano do país, prometida pelo presidente Barack Obama para Julho de 2011.

Recorde-se que com o envio de mais 30 mil homens para o terreno, em Dezembro de 2009, Obama garantiu ter-se iniciado uma nova estratégia para a estabilização do Afeganistão. Tais orientações não se traduziram, até agora, num incremento da segurança, bem pelo contrário, como atestam os números divulgados pela ONU.

Acresce que os indicadores relativos ao total de baixas em combate são dos piores jamais registados desde o início da invasão e ocupação da nação centro-asiática.

Só durante o corrente mês já morreram no Afeganistão pelo menos 53 soldados da ISAF, 34 dos quais norte-americanos. A manter-se este ritmo de baixas, Junho de 2010 poderá vir a tornar-se o período mais mortífero para as tropas estrangeiras desde o começo da guerra, superando o saldo de 75 militares abatidos em Julho de 2009, ano em que um total de 520 soldados da NATO morreram no Afeganistão.

Vítimas civis e negócios da guerra

Os dados da ONU asseguram que os civis afegãos são as principais vítimas dos atentados perpetrados por grupos da resistência, mas um facto recorrente são os ataques da NATO que vitimam civis.

No sábado, pelo menos dez pessoas, entre as quais seis mulheres e crianças, morreram na sequência de um bombardeamento da Aliança Atlântica na província de Khost.

Outro dado seguro é que a guerra no Afeganistão é uma oportunidade de negócio, mesmo para empresas vinculadas com o assassinato de civis, como a Blackwater.

No mesmo dia em que as autoridades provinciais de Khost davam a conhecer publicamente o número de populares mortos em consequência do raide aéreo da NATO, a embaixada dos EUA no Afeganistão informava que a Xe ServicesBlackwater) ganhou um contrato de fornecimento de serviços de segurança avaliado em 120 milhões de dólares.

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Fonte: jornal Avante!