O conflito entre israelenses e palestinos ganha outra visão aos olhos do pintor paulista Cândido Portinari na mostra Portinari em Israel, que acontece no Centro da Cultura Judaica, em São Paulo.

Em árabe e israelita, um dos esboços expostos, o pintor cria uma cena atípica, um muçulmano e um judeu, ambos ortodoxos, de braços dados. A simbologia da paz é ilustrada também nas obras Figuras em roda dançando e Kibutz, em que o pintor expressa o lado alegre dos dois povos com comemorações típicas de danças e festa.

Portinari, que visitou Israel em 1956 a convite do Centro Cultural Brasil-Israel para conhecer o recém-criado Estado, fundado em 1948, criou laços afetivos com a região por retomar sua produção artística após a visita ao país. O pintor, que acreditava que suas telas estavam perdendo a validade histórica com crescimento da fotografia e do cinema, na época havia diminuído sua produção.

“Depois de voltar de Israel, Portinari recuperou o amor pelo trabalho. Na época, no Brasil ele não era mais considerado a revolução do modernismo, no entanto, ao chegar em Israel foi considerado o maior pintor do século XX, o que o motivou muito”, contou o diretor de programação do Centro da Cultura Judaica e coordenador da exposição, Benjamin Seroussi.

Em seguida, após a estadia de um mês no país, que reconhecia a importância de Portinari também na abordagem de temáticas sociais e dimensões éticas, 122 obras foram produzidas, entre esboços, desenhos e pinturas. Destas, 70 podem ser vistas na exposição Portinari em Israel que tem a curadoria de João Cândido, filho do artista.

Retratos do povo, do cotidiano e da religião podem ser observados nas obras de Portinari, que assim como fez no Brasil, imergiu na cultura do país para explorar seus costumes e peculiaridades.

“Portinari fez questão de retratar durgos, beduínos, árabes e judeus, todos de forma muito específica, ilustrando a cultura plural existente, o que até hoje é uma característica bastante marcante da região”, disse Seroussi.

Livros e História

No entanto, antes de se deparar com as obras, o visitante tem a oportunidade de acompanhar uma cronologia sobre a vida do pintor que relembra as principais fases vividas por ele. Além disso, a exposição apresenta uma contextualização histórica da década de 1950, abordando aspectos políticos, culturais e históricos nacionais e internacionais.

No segundo andar do centro cultural, os que forem a exposição podem explorar achamada “biblioteca circulada” criada por Seroussi. Nela, há livros para a consulta dos acervos do Itaú Cultural, MAM, Projeto Portinari e da Bienal, além de filmes sobre o artista, entrevistas com Maria Portinari, – mulher do pintor – e amigos próximos e um clipping com uma serie de notícias brasileiras e israelenses sobre a visita de Portinari a Israel.

“A ideia é oferecer ao público a oportunidade de adentrar no universo de Candido Portinari. O manuseio de alguns documentos aproxima os visitantes do pintor possibilitando a experiência de pesquisa para aqueles que desejam se aprofundar na vida e obra do artista”, explicou o coordenador da exposição.

Arte no prato

Outro destaque é o alinhamento das programações habituais do Centro da Cultura Judaica com a exposição de Portinari. Concertos musicais, contadores de histórias e oficinas de criação serão direcionadas para a temática do artista.

O Bistrô Portinari, por exemplo, é um dos eventos que chamam mais atenção na programação. Nele, os participantes poderão aprender e experimentar em workshops gastronômicos as receitas preferidas do pintor.

Ao todo, serão três pratos preparados, todos no dia 22 de junho. “O primeiro será um peixe assado com molho de mandioca, prato típico do restaurante Amarelinho, bastante frequentado por Portinari, na Cinelândia, no Rio de Janeiro. Já o segundo, mistura o gosto do pintor pela cozinha litorânea com sua fruta preferida. O chef preparará uma moqueca com banana”, revela Seroussi.

Por fim, o último prato resgata a infância de Portinari em sua cidade natal, Brodowski, no nordeste do estado de São Paulo. Lá, anualmente acontece a típica Festa de La Nona, que contempla a culinária italiana. “Para homenagear a cidade de Portinari, o workshop gastronômico fechará a programação com uma carbonara a la Festa de la Nona, uma deliciosa macarronada, vale a pena”, garante o coordenador da exposição.

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Fonte: Opera Mundi