Um momento constrangedor foi vivido nesta quarta-feira (10/12), no Congresso Nacional chileno, em Valparaíso. Tudo começou quando o deputado Ignacio Urrutia, do partido UDI (União Democrata Independente, o mais conservador do país), solicitou à mesa da Câmara de Deputados um minuto de silêncio em homenagem ao aniversário de oito anos do falecimento do ditador Augusto Pinochet, que governou o país entre 1973 e 1990.
O pedido foi rejeitado por todos os deputados, exceto os da bancada da UDI. Mesmo assim, a mesa aceitou que se realizasse o minuto de silêncio, por uma questão de protocolo. A debandada dos parlamentares demorou alguns segundos e contou inclusive, com os demais partidos da oposição. Somente nove parlamentares da UDI, além dos componentes da Mesa Diretora, acompanharam a homenagem.

Pinochet morreu em pleno Dia Internacional dos Direitos Humanos, em 2006. Também foi a coincidência das datas o que levou a mesa a agendar para este mesmo 10 de dezembro o início da discussão do projeto que anula a Lei de Anistia, e acaba com as exceções a respeito do caráter imprescritível dos crimes contra os direitos humanos.
Na saída da sala, os primeiros a darem declarações foram os deputados do Partido Comunista, liderados pela ex-dirigente estudantil Karol Cariola. Na semana passada, ela causou incômodo na oposição com o projeto que proíbe homenagens à ditadura utilizando espaços públicos ou pertencentes ao Estado. Segundo a deputada, “pior do que a tentativa de transformar um genocida em herói, é a bofetada na cara de milhares de chilenos que ainda não sabem onde foram parar os corpos dos seus familiares”.

Se o projeto de lei de Cariola já estivesse vigente, a homenagem solicitada pela UDI não poderia ser realizada no Congresso Nacional, por se tratar de um edifício estatal.
“Equilíbrio”
A sessão terminou logo após a homenagem a Pinochet, e o único deputado que deu declarações foi o próprio Ignacio Urrutia, que fez o pedido à mesa. O parlamentar disse que a iniciativa queria trazer “equilíbrio” para a política do país. Mas, ao mesmo tempo, carregou nas críticas à esquerda. “Todos os anos, fazem minuto de silêncio para [Salvador] Allende [deposto pelo golpe nos anos 1970], e outras homenagens a todos os terroristas que eles quiseram comemorar. Agora que queremos celebrar o soldado que salvou o país da ditadura marxista, eles se irritam”, explicou.
Porém, o deputado não quis responder quando perguntado se o pedido foi em tom de represália. Isso porque ele já passou duas vezes pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, em 2011 e 2013, por não respeitar o minuto de silêncio pela morte de Allende, no aniversário do golpe. Em 2012, Urrutia também causou polêmica no país, quando criticou um projeto que permitia que homossexuais fizessem parte das Forças Armadas, argumentando que “se isso acontecer, seremos invadidos por qualquer país”.
Regulamento da Câmara
Outra controvérsia envolvendo o minuto de silêncio para Pinochet aconteceu quando o presidente da Câmara, o deputado democrata-cristão Aldo Cornejo, usou o protocolo da casa para explicar porque aceitou a homenagem. Segundo ele, todo pedido realizado 15 minutos antes do início da sessão, mesmo que seja rejeitado pelos demais parlamentares, está apto para tornar-se efetivo.
A versão, porém, foi contestada pelo socialista Tucapel Jiménez. Ele alega que realizou, em outubro, um pedido para a realização de um minuto de silêncio pelos 43 estudantes desaparecidos no México, também dentro do regulamento, e que, no seu caso, a homenagem foi negada.