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    Comunicação

    Mil graus na terra da garoa

          Do alto do prédio ou na superfície da alvenaria, a cidade dói nos olhos dos inocentes que transitam nas calçadas. De onde eu a vejo, minhas retinas são seletas e de como eu a vejo, as esquinas são espertas.       A cidade de São Paulo, que está no mapa, não é todo daquele tamanho, […]

    POR: Redação

    4 min de leitura

          Do alto do prédio ou na superfície da alvenaria, a cidade dói nos olhos dos inocentes que transitam nas calçadas. De onde eu a vejo, minhas retinas são seletas e de como eu a vejo, as esquinas são espertas.

          A cidade de São Paulo, que está no mapa, não é todo daquele tamanho, muita gente já tirou um pedaço, que faz muita falta na mesa do jantar, ou depositou em conta corrente, que nada contra a corrente, de quem ama esse lugar.

          Essa maçã mordida que a massa não come, constrói o luxo que alimenta o lixo escondido debaixo do tapete. Essa cidade não é minha e não devia ser de ninguém, mas ela existe, e todo ano faz aniversário.

          Longe do estupro a céu aberto eu costuro meu poema sobre a torre de babel, que samba o rock triste, deste carnaval de concreto e de garrafas fincadas no chão. O cartão postal do meu coração não despreza o centro, nem esconde a periferia.

          São Paulo pra mim é pagode com feijoada nos botecos que brotam nas ladeiras. É samba de quinta e samba da vela na segunda feira. É ser Rap soul funk ou metal de primeira. É sarau da Cooperifa no quilombo da Piraporinha, onde a poesia nasce das ruas sem asfalto, em plena quarta-feira. A literatura do morro arranhando os céus da cidade.

          É comprar livros nos sebos e ensebar nos bancos da praça ou do metrô.

          É ler caros amigos e Becos e vielas dentro do ônibus ou na fila de espera. É ser Um da sul, da norte, da leste ou oeste, deixa a bússola te levar.

          É participar do favela toma conta, no Itaim paulista, ou dançar samba de côco no Panelafro, onde Zumbi impera.

          É jogar futsal nas quadras das escolas públicas, quase abandonadas pelo alfabeto. É conspirar tomando cerveja gelada no bar do Zé Batidão. É Carolina de Jesus de Jéferson De, saindo da tela. É as mina de vestidinho e chinelo de dedo no churrasco em cima da laje.

          É a rapaziada nos campos de várzea de canela em punho maltratando a bola ou maltratada por ela.

          É ser preto ou branco, tanto faz, mas principalmente verde, que é a esperança da paz. É o ensaio da vai-vai e das outras escolas. É ouvir Belchior na voz do ceará.

          É comer peixe na barraca do Saldanha.

          É Levar os espinhos na Casa das rosas para colher cravos e margaridas.

          É não ouvir cd pirata nem original, quando o mesmo for caro. É ser enquadrado somente pelas lentes do Marcelo Min, QSL?

          É ser "nóis vai", mesmo quando a gente não for. É Falar errado, mas agir correto.

          É curtir o sol – mesmo quando ele não vem –, e encontrar sempre as mesmas pessoas no muro das lamentações.

          É Empinar pipa nos dias sem vento.

          É viver mil fitas e ser mil graus na terra da garoa.

          Enfim, São Paulo é isso, mas também tem outros lugares.