Voltando ao Cavalo de Pedro… Fosse o Cavalo de Tróia teria adentrado os arraiais e soltado seus guerreiros. Mas é o cavalo de Pedro. Sem lugar. Mas com certa elegância. Pedro sorri como se fosse ao Jóquei Clube para dançar um tango. Se ainda houvesse Jóquei. Caminhando até o Casablanca ver um filme de caubói, se houvesse Casablanca. Na serrinha, menos incômodo para a casa das esmeraldas, para a casa das campinas, longe dos poderes. Depredado, ofendido, humilhado, padecerá pichações, insultos e incêndios. Afinal, ali resta ainda um pouco de cerrado. Deveria ser um parque. Fica a Praça Cívica, com nome de Pedro. Talvez sobrevivam entre os estacionamentos, os pivetes e lavadores de carro que loteiam as ruas, as portas das igrejas, os salões de festas, os teatros. Como a gente de cima privatiza o dinheiro público, a merenda dos meninos, os remédios dos velhinhos, os buracos das estradas; a fome da ralé, os miseráveis privatizam o que podem. O monumento logo sofrerá esta ação dos reformadores sociais das ruas. Será ocupado: trouxas, carrinhos, meninas prenhes, moleques com chuços para pequenos assaltos. Goiânia já não cabe Pedro. Talvez porque tenha vindo a cavalo. Se fosse no fordinho, na camionete Chevrolet vermelha, ou mesmo pedestre andarilho, certamente poderia se esgueirar pela deserta Avenida Goiás remasterizada e nua. Poderia se escorar entre as casas derrubadas da Rua Vinte. Seria mais fácil passar despercebido sem ofender a inveja dos incapazes de gerar um sonho. Vão estragando o alheio, ciscando lixo dos outros. O Governo encarregou a artista de erigir uma estátua para ficar no vento, sem moradia. Porque ninguém atenta para um lugar onde pousar o brônzeo eqüestre, inquietante memória de Pedro. Lembram até plebiscito. A hospedagem natural seria a Praça Cívica. No coração de sua cidade. Arquitetos e paisagistas sabem como resolver problemas de espaço e ambientação. Ali, defronte o Palácio Pedro Ludovico. Bem na entrada. Não serve? É discrepante a figura com o colosso envidraçado ou os janotinhas engravatados? Então deve ser ali, canto direito da Praça Cívica. Onde o Prefeito Íris fez uma sede provisória para a administração e vai se tornando definitiva. Basta derrubar o retângulo provisório, reaparelhar a praça, incluindo ali o Monumento, como sucede em qualquer cidade. Um lugar nobre para a memória do fundador. O que não pode é Pedro ficar vagando, alma penada, sem lugar para sua figura ou pasto para seu cavalo. Medida extrema: coloquem Pedro e seu cavalo na porta da sua casinha museu. Mesmo abandonada, como anda, lembra o homem que é o único culpado por não haver lugar, na cidade que fez para sua estátua. É culpado de ter morrido pobre. Não ocupou ou praças, vales, loteamentos. Podia ter reservado umas quadras. Viveu na modesta casa à sombra de dois mognos. Por isso, não resta a Pedro senão a dura pedra. Uma porta de rua, onde amarrara o sonho, único espaço, pasto possível para amarrar, agora, seu cavalo.
Pedro e seu cavalo (final)
Voltando ao Cavalo de Pedro… Fosse o Cavalo de Tróia teria adentrado os arraiais e soltado seus guerreiros. Mas é o cavalo de Pedro. Sem lugar. Mas com certa elegância. Pedro sorri como se fosse ao Jóquei Clube para dançar um tango. Se ainda houvesse Jóquei. Caminhando até o Casablanca ver um filme de […]
POR: Redação
∙ ∙4 min de leitura
Notícias Relacionadas
-
A diferença é a China, estúpido!
Tarifaço, guerra tecnológica e contenção. EUA querem barrar desenvolvimento chinês, mas análise mostra que a China não é a URSS — e o mundo mudou.
-
Brasil sobe no IDH, aponta ONU, mas desigualdade persiste
Mesmo com avanço de cinco posições, o Brasil ocupa a 84ª posição e fica atrás de 13 países latino-americanos; baixa escolaridade limita progresso no desenvolvimento humano. Confira análise
-
Futuro da Igreja e peso do passado: o Conclave após Francisco
Filmes e séries ajudam a refletir sobre o papel histórico e político da Igreja Católica diante do Conclave nesta quarta-feira (7)
-
Para onde caminha o Brasil? A urgência de uma frente nacional
Artigo faz diagnóstico da crise e apresenta propostas para recuperar a soberania e reconstruir o país com base na Constituição de 1988
-
Há 100 anos, jornal A Classe Operária lançava sua primeira edição
Criado em 1925 como órgão do Partido Comunista do Brasil, periódico completa um século de história como expressão da luta política, da imprensa classista e da resistência da classe trabalhadora brasileira
-
Por que Taiwan não pode participar da Assembleia Mundial da Saúde
Entenda a polêmica envolvendo a reivindicação de Taiwan por um assento como observador na AMS e a posição oficial chinesa baseada no princípio de uma só China