O velho Tonho, quando soube da presença do filho no quarto dos fundos, estremeceu. Pôs-se a balbuciar uns meus jesus e minhas nossas senhoras, e perguntava a um auditório interior o que é que ele vinha fazer; por que voltara.
 
      Sempre tivera medo do filho. Quando moleque, seu olhar o acusava, não sabia bem de quê. Por mais que fizesse, não se sentia à vontade com o menino por perto.
 
      Era o seu mais velho. Sobrevivera a muitos que vieram depois. Era uma criança bonita, tinha saúde. Apesar de calado, não era leso. Chegavam até seus ouvidos coisas inteligentes que falara ou fizera. Deveria sentir orgulho. Mas, não: vivia como que envergonhado daquele seu rebento. Às vezes, deus o perdoasse, achava que ele não era seu filho.
 
      – Você não vai lá falar com ele? – interpela dona Maria.

       – Vou dizer o quê?
 
      – Perguntar o que ele quer aqui.

       – Oxente! Essa casa é dele também. Ele voltou, só isso.

       – Pois então eu vou lá.

       – A senhora já perguntou, mãínha. – intervém Maria. – E ele não lhe respondeu.

       – Pois agora quero ver ele não responder. – e dona Maria foi saindo porta afora.

       – Maria, não vá caçar encrenca, Maria! – a detém seu Tonho. – Deixe o menino decansar!

       – Isso não tá certo, Antonio! Ele some daqui por dez anos e agora volta sem uma satisfação. É que você não viu a cara dele.

       – É de assustar – se manifesta um dos meninos.

       – Pchit! – ralha dona Maria. – Quem lhe chamou na conversa?

      O menino amua; se cala. Todos se calam. Mas, em Maria, algo se acende. O que é, não sabe. Mas sabe que tem que saber.