Notícias sobre os Bric
Brics ganham importância significativa no comércio internacional, diz Ipea
Países do bloco reforçaram sua presença mundial em 12 anos, apesar das “diferenças comparativas”
Unidos por características em comum como vasto território, grande população e altas taxas de crescimento econômico, os países que formam o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) têm perfis bem distintos quando o assunto é vantagem comparativa. A observação foi feita em estudo apresentado na quarta-feira, 14, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), destacando que o bloco apresentou aumento significativo de importância quando o tema é o comércio internacional.
De acordo com o levantamento, apesar do crescimento da corrente global entre 1996 e 2008 ter praticamente dobrado nesses 12 anos, os Brics reforçaram a sua importância no mercado mundial, apresentando taxas de exportação ainda mais elevadas. "Ainda assim, os Brics possuem grandes diferenças", resume o documento.
O comunicado 43 do Ipea, intitulado "Rússia, Índia e China: Comércio Exterior e Investimento Direto Externo", salienta que o Brasil apresenta elevada vantagem comparativa em produtos intensivos, em recursos naturais e primários agropecuários. "Neste último, a vantagem é crescente", afirma o estudo.
A Rússia, de acordo com o levantamento, possui competitividade "muito acima dos demais" no comércio de primários minerais, ainda que o Brasil apresente uma leve tendência e aumento na vantagem desse tipo de bem. Já a Índia sustenta a sua elevada vantagem comparativa em produtos intensivos em trabalho. "Além disso, tem aumentado consistentemente sua competitividade em bens intensivos de recursos naturais." A China, por sua vez, continua com elevada vantagem em produtos intensivos de mão-de-obra. "Contudo, ela foi a única economia, entre os Brics, que conseguiu atingir uma situação de elevada competitividade em bens intensivos em tecnologia", afirmam os técnicos do Ipea.
Para fazer as comparações, o Instituto utilizou o Índice de Vantagens Comparativas Reveladas (IVCR) – um país não pode ser considerado como detentor de vantagens comparativas no comércio de um determinado produto quando o IVCR apresentar valores inferiores a 1. No comunicado 43, o Ipea registra os 10 produtos com maior IVCR de cada país. No caso do Brasil, os três primeiros colocados são minério de ferro (IVCR de 25,36), óleo de semente (18,13) e tabaco não-manufaturado (18,02). Na China, os destaques são seda (11,49), coque (produto derivado do carvão), semi-coque (6,06) e cerâmica (4,62). Entre os produtos com maior IVCR da Índia estão gás de carvão, gás d'água (44,05), arroz (15,14) e pérolas e pedras preciosas (14,23). Por fim, a Russia: níquel (12,02), madeira bruta (11,31) e gás natural (10,64).
O documento revela ainda que, do ponto de vista econômico, os quatro países possuem modelos de desenvolvimento distintos. O Brasil se caracteriza como uma economia com elevada participação do consumo e mercado doméstico forte. A Rússia, segundo o Ipea, tem seu desenvolvimento baseado nas vendas externas de commodities energéticas. A Índia aproveitou a disparada das exportações de serviços para crescer a taxas elevadas. "E tem aumentado sua competitividade em diversos outros setores", considera o levantamento. Já o desenvolvimento chinês, segundo o Instituto, é dirigido pelas exportações de manufaturas e por elevadas taxas de investimento. Além disso, destaca que o mercado consumidor externo está se expandindo rapidamente.
O estudo traz ainda um detalhado panorama da internacionalização das empresas russas, indianas e chinesas e o papel desses países em relação aos investimentos fora de seus territórios. Destaca, por exemplo, que a Rússia se tornou a maior fonte de Investimento Direto Estrangeiro (IDE) dentro dos Brics, após a valorização das commodities minerais na década de 2000. O país ocupa a 14ª posição entre os maiores investidores externos em âmbito global, com a soma de US$ 203 bilhões em IDE em 2008.
Em relação à Índia, o Ipea identificou que o país respondia por menos de 1% dos investimentos originados nos países em desenvolvimento em 2000 para mais de 6% ao final de 2008. "A saída de IDE da Índia é uma das dimensões mais notáveis da crescente integração desse país com a economia mundial, sobretudo após 2006".
Sobre a China, os autores enfatizaram as taxas de crescimento em torno de 10% nos últimos 30 anos. Com isso, além da importância obtida para o continente asiático, o país passou a exercer influência sobre outros mercados. "Essa internacionalização, que ganhou mais força somente na década de 2000, fez com que a China, já no final de 2008, se transformasse num importante investidor estrangeiro entre os países em desenvolvimento."
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Bric quer integração maior para forçar reforma financeira global
Os quatro países que integram o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) buscam por maior integração e podem incrementar sua coordenação interna como fator de pressão nos fóruns internacionais, avaliou nesta quarta-feira o secretário-executivo do Ministério das Relações Exteriores, Antônio Patriota.
Segundo o diplomata, tudo indica que Brasil, Rússia, Índia e China intensificarão suas relações em 2011, já que devem ocupar, simultaneamente, assentos no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas.
"Os quatro países poderão se coordenar e desenvolver um diálogo mais intenso", afirmou ele ao abrir um evento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com entidades similares das outras três nações emergentes.
Afetados em menor escala, em geral, na recente crise global, os líderes dessas economias evocarão na cúpula de sexta-feira – a segunda entre os chefes de Estado – por uma reforma no sistema financeiro internacional e maior voz na ONU, Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial.
"Apesar da relevância dos Bric ainda existe uma insuficiente participação nos organismos de governança (internacional)", defendeu Patriota. "Está claro que precisamos ter maior participação nesses organismos."
Li Yang, vice-presidente da Academina Chinesa de Ciências Sociais, reforçou que a China está preocupada com os poucos avanços no sentido de uma reforma sistema financeiro internacional e defendeu trocas comerciais em moeda local.
"Devemos defender o uso de nossas próprias moedas entre os países do Bric", disse. "Temos discutido com Brasil, Índia e Rússia a possibilidade de desenvolver acordos comerciais que utilizem nossas próprias moedas."
Para Vladimir Davydov, diretor do Instituto Latino-Americano, Academia Russa de Ciências, há poucas chances dessas discussões vingarem no médio prazo.
"Não existe viabilidade política e condições técnicas de se avançar em uma mudança brusca."
Cerca de 42% da população mundial vive nos países do Bric. Segundo dados do Itamaraty, as quatro nações correspondiam em 2008 a 15% do PIB mundial, contra 9% em 2003.
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Bric não deve pressionar China sobre iuan, diz criador da sigla
Não há nenhuma vantagem para Brasil, Rússia e Índia em pressionar a China para que deixe sua moeda se fortalecer, uma vez que Pequim já está caminhando nessa direção, disse nesta quarta-feira o economista-chefe do Goldman Sachs, Jim O'Neill.
O'Neill, que em 2001 cunhou o termo Bric para descrever as quatro maiores economias emergentes do mundo, fez os comentários às vesperas do segundo encontro presidencial do grupo em Brasília.
A China tem estado sob pressão dos Estados Unidos e de outros países para deixar que sua divisa se valorize. O Brasil se juntou ao coro na semana passada, quando o ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou que uma política cambial flexível por parte da nação asiática "seria muito boa" para a economia global.
Um iuan mais fraco torna as exportações chinesas mais competitivas em relação a outros países. "Os chineses não dizem aos brasileiros o que eles devem fazer, então por que os brasileiros dizem aos chineses o que eles devem fazer?", indagou O'Neill em entrevista de Londres.
Ele concordou com a fala de Mantega de que um iuan flexível seria melhor para a economia global, mas disse que isso já está a caminho.
Especulações de que Pequim pode em breve anunciar uma longamente aguardada mudança em seu regime cambial têm se intensificado recentemente, ajudando a apreciar o iuan.
"Uma das ironias dessa situação é que os chineses basicamente já decidiram fazer isso. Acho que é isso que Washington percebeu", acrescentou O'Neill.
O iuan depreciado é um ponto de tensão dentro do Bric, já que corrói a competitividade da indústria nacional.
A questão pode ser discutida nos bastidores do encontro entre ministros de Finanças do G20 em Washington no final deste mês, disse na sexta-feira uma fonte do governo brasileiro, embora seja improvável que o tema seja posto formalmente na agenda.
Comércio em moeda local
Um iuan flexível seria necessário para os países do Bric a fim de que façam progressos em planos voltados ao comércio em moedas locais, disse O'Neill.
No ano passado, os bancos centrais chinês e brasileiro afirmaram que os dois países estão trabalhando em sistema para permitir que exportadores e importadores definam acordos em divisas locais, substituindo o dólar.
"Eles têm dado alguns passos nessa direção já com acordos de swap, mas obviamente que para aplicar isso em todas as operações comerciais entre os países eles têm de permitir mais o uso de cada uma de suas moedas", afirmou O'Neill.
"O único modo que torna isso factível é se a China afrouxar os controles no uso do renminbi (iuan)."
O encontro em Brasília antes da reunião do G20 na capital americana é uma maneira de pressionar os países desenvolvidos sobre a necessidade de modificar as organizações internacionais, para que elas possam refletir melhor a importância dos gigantes emergentes na economia mundial, segundo O'Neill.
O Brasil e outras nações em desenvolvimento vêm pressionando nações ricas a aceitar uma mudança no poder de voto no Fundo Monetário Internacional (FMI), a qual beneficiaria países emergentes.
"Acho que o fato de os países do Bric se encontrarem antes do G20 é muito benéfico. É meio ridículo que o FMI dê mais direitos de voto a nações como a Bélgica que aos países do Bric", acrescentou.
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Puxado por chineses, Bric dobrou vendas externas em 10 anos
No ano 2000, o grupo vendia o equivalente a 7,2% das exportações mundiais. Hoje, participação é de 15%
Em dez anos, os países que formam o Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) dobraram sua participação no comércio internacional e mudaram o mapa dos fluxos de bens no mundo. No ano 2000, os quatro países representavam 7,2% das exportações. Hoje, ocupam quase 15% do comércio internacional. Mas a disparidade entre os membros do grupo também aumentou, especialmente diante da expansão da China.
Os dados são da Organização Mundial do Comércio (OMC), e revelam que em 2000 o bloco exportava o equivalente a US$ 451 bilhões, menos que as exportações do Japão. A China já era a maior, com vendas de US$ 249 bilhões, seguida pelos russos com US$ 105 bilhões, brasileiros com US$ 55 bilhões e indianos com US$ 42 bilhões. Juntos, representavam pouco mais de 7% de tudo o que se exportava, em um cenário dominado por Estados Unidos e Alemanha entre os maiores vendedores do mundo.
Dez anos depois, o mapa é diferente. A China aderiu à OMC, a Rússia passou a concentrar suas exportações em gás e petróleo e as vendas do Brasil e da Índia tiveram certo avanço. No total, o bloco exportou em 2009 mais de US$ 1,8 trilhão, quase quatro vezes o volume de dez anos atrás.
Grande parte da expansão ocorreu graças à China, que no ano passado ultrapassou a Alemanha e os Estados Unidos para tornar-se a maior exportadora. O volume chegou a US$ 1,2 trilhão. Depois de representar 3,9% das exportações em 2000, passou a abocanhar quase 10% do comércio mundial.
Disparidade. Mas a expansão dos países do Bric no comércio internacional também foi acompanhada por uma maior disparidade no próprio bloco. O Brasil, em 2000, exportava 20% do volume de vendas da China. Hoje, vende menos de 10%. A mesma distância entre Índia e China acabou ocorrendo. No que se refere ao comércio russo, o país triplicou suas vendas em dez anos. Mas hoje representa exportações equivalentes a 25% de tudo o que a China exporta.
No caso brasileiro, a expansão em valores foi significativa, passando de US$ 55 bilhões para US$ 153 bilhões em 2009. Mas, proporcionalmente ao restante do cenário internacional, a expansão foi tímida. Em 2000, o Brasil representava 0,9% do comércio mundial, saltando para 1,2% no ano passado.
Em 2009, o Brasil caiu duas posições no ranking da OMC, passando da 22.ª posição para a 24.ª. A queda no preço das commodities afetou a renda gerada pelas exportações de forma mais intensa que outras economias.
Crescimento
7,2 %
era a participação dos Brics no comércio mundial em 2000
15 %
é a participação atualmente
US$ 451 bilhões
foi exportado pelo bloco em 2000
US$ 1,8 trilhão
foi exportado pelo bloco em 2009
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Bric eleva pressão para esvaziar dólar
Os países integrantes do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China) devem fazer um esforço conjunto para impedir ataques especulativos a seus respectivos mercados de câmbio e de títulos, afirmou o presidente da Rússia, Dmitry Medvedev.
Ele acrescentou que a troca de informações entre as nações do grupo é essencial na prevenção desses ataques. Os países do Bric vão se reunir, em Brasília, no final desta semana.
Um assessor de Medvedev dissera, na última sexta-feira, que a Rússia não apresentará nenhuma proposta para a criação de uma nova moeda internacional de reserva durante o encontro, mas continuará discutindo o uso mais amplo do Direito Especial de Saque (SDR, em inglês), a moeda do Fundo Monetário Internacional (FMI).
Em reuniões anteriores, a Rússia criticou a dependência excessiva do dólar como moeda de reserva global e recomendou a criação de uma divisa multinacional para substituir o dólar nessa função.
Caso a proposta seja encampada pelos demais integrantes do Bric será mais um golpe na conversibilidade da moeda norte-americana. Alguns integrantes do grupo já têm acordos bilaterais e até regionais, nos quais o dólar é substituído por divisas locais.
Na véspera, o presidente da China, Hu Jintao, sinalizara ao presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que seu país asiático poderia alterar gradualmente a política cambial e aumentar as importações de produtos norte-americanos.
Jintao, no entanto, também demonstrou descontentamento com as demandas das potências econômicas ocidentais para que a China permita a valorização do iuan.
Segundo a agência de notícias chinesa Xinhua, ele teria afirmado a Obama que, embora o país busque reformar o sistema pelo qual determina a taxa cambial, não haverá mudanças "por conta de pressões externas".
Nas últimas semanas, o governo dos EUA negociou nos bastidores com a China para tentar promover alterações na política cambial do país.
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E cooperativas miram no Bric
De olho num mercado consumidor pouco explorado pelas cooperativas, representantes do setor desembarcam esta semana em Brasília para discutir estratégias que resultem no incremento do comércio para Rússia, Índia e China, que, junto com o Brasil, formam o Bric.
Dados da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB) mostram que a China recebeu 9,7% dos cerca de US$ 4 bilhões exportados pelas cooperativas agrícolas brasileiras em 2009. A Índia está em segundo lugar, com 5,9%.
Para a Rússia, grande importadora de carne suína, as cooperativas brasileiras exportaram apenas 3% do faturamento total obtido com as vendas externas do agronegócio. As exportações de produtos agrícolas desses países para o Brasil são menores ainda.
"São mercados pouquíssimos explorados dos dois lados", explica o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas.
Para conhecer melhor a atividade cooperativista em Rússia, Índia e China e as potencialidades desses mercados, será realizado quinta e sexta-feira o I Encontro de Cooperativas do Bric. O evento, que faz parte da agenda oficial da Cúpula do Bric, acontece na sede da OCB, em Brasília.
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Com agências