Intitulado A Tríplice Fronteira e a Guerra ao Terror, o livro se desprende de teorias da conspiração e analisa com fundamentos a acusação de uma possível ameaça terrorista na região e suas consequências.

“Até agora, não foi provada a presença de terroristas. Mesmo assim, os Estados Unidos se mantêm como principal acusador e detêm certo controle na tríplice fronteira”, diz o autor.

Amaral explica que, anualmente a Comissão 3+1 – composta pelos três países que integram a fronteira e pelos EUA –, responsável pela segurança do local, divulga relatórios de comum acordo entre os quatro governos em que expressam preocupação com a questão, mas sem apresentar nenhum indício concreto da presença de terroristas.

A região foi alvo de acusações norte-americanas a partir de 1992, quando a capital argentina sofreu atentados contra a embaixada israelense e uma associação judaica. A partir daí, passou-se a associar a presença de imigrantes árabes na tríplice fronteira, o que segundo os EUA seria suficiente para possíveis terroristas se "camuflarem".

“A tríplice fronteira realmente concentra grande número de descendentes de árabes, na maioria libaneses e sírios, mas que [na visão dos EUA] de forma alguma devem ser automaticamente associados ao terrorismo. A verdade é que a origem destas pessoas foi suficiente para criar grande preconceito por parte dos EUA, intensificado ainda mais depois dos atentados de 11 de setembro”, disse o autor.

Em razão disso, surge a desconfiança sobre a ação norte-americana e discutem-se os reais interesses dos EUA na fronteira, ponto principal do debate exposto no livro.

“É difícil dizer qual é o interesse especifico. O argumento geral, que sai principalmente de movimentos sociais de esquerda de toda a América Latina, é que os EUA usam a suposição de terroristas como pretexto para implantar um projeto de neoimperialismo e controlar as ações em volta do Aquífero Guarani”, esclarece.

Maior reservatório natural de água doce subterrânea do mundo, sob o solo dos três países, o aquífero seria motivo de cobiça em razão da perspectiva de escassez do recurso natural a longo prazo. Porém, para Amaral, outros aspectos também pesam na proximidade que os EUA criaram com a região.

“A tríplice fronteira é uma região estratégica para a atuação norte-americana, já que desde o início o Paraguai se mostrou seduzido pelas propostas envolvendo a cooperação de segurança e passou a apoiar os EUA. Desta forma, a região torna-se um dos principais pontos para uma possível tentativa de desfragmentação do Mercosul”, argumenta o autor.

Amaral pontua a escassez de recursos no Comando Sul do Pentágono como outro aspecto relevante. “Em razão do fato de o combate ao terrorismo se concentrar no Oriente Médio, os comandantes responsáveis pela parte sul do hemisfério se viram ameaçados com cortes no orçamento. A partir disso, era comum vê-los no congresso – responsável por aprovar os orçamentos – com novas justificativas para sua existência. Penso que a ameaça terrorista na tríplice fronteira foi um dos recursos utilizados para isso”, explica.

O autor reconhece, porém, que o governo Obama já mostra diferenças na abordagem da polêmica em relação ao antecessor, George W. Bush. “O posicionamento ainda não mudou completamente, mas o atual presidente coloca a questão da segurança no local com uma postura cooperativa, não acusativa”, diz Amaral.

O pesquisador lembra que o assunto foi citado apenas em um relatório norte-americano sobre direitos humanos. “O silêncio também diz muito na política”, completa.

Apesar das evoluções, Amaral é enfático e expõe no livro a necessidade de discutir novos rumos para a tríplice fronteira e não limitar o debate ao âmbito dos conflitos internacionais e de interesse.

“É necessário que haja um engajamento respeitoso entre as partes, até porque a ajuda dos EUA pode ser bem-vinda, nós não temos os recursos de inteligência e segurança como a deles”, explica.

Preconceitos

Para ele, a imagem negativa que se criou em torno dos possíveis terroristas que existem na fronteira prejudicou a região em diversos aspectos. “Quando você cria desconfiança e os mecanismos de segurança tornam-se discriminatórios e ostensivos a atividade econômica e a dinâmica da região são lesadas”.

O turismo, por exemplo, é um dos aspectos com grande potencial, mas que foi praticamente anulado em razão das acusações, mas que, segundo Amaral pode ser recuperado se receber os devidos incentivos.

“A questão tem que avançar, novos rumos, novas medidas tem que ser tomadas. A agenda de segurança é importante mas é necessário ver o problema de outras óticas, a criminalidade e a informalidade, por exemplo, são problemas gravíssimos que tem de ser solucionados para que a região seja valorizada”, conclui.

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Fonte: Opera Mundi