O livro “Marxismo, História e Revolução Brasileira: Encontros e desencontros”, do historiador e secretário-geral da Fundação Maurício Grabois Augusto César Buonicore, será lançado na Unicamp na próxima quarta-feira, às 18h30min, durante o “Colóquio Internacional Marx e Engels”, evento promovido pelo Centro de Estudos Marxistas (Cemarx). A obra reúne escritos que buscam uma compreensão mais profunda das contradições e da história de nosso país à luz do marxismo.

Como diz no prefácio o jornalista José Carlos Ruy — diretor de Cominicação e Publicações da Fundação Maurício Grabois —. o livro é um vasto leque de temas, que vão desde a formação do estado burguês no Brasil e a formação do povo brasileiro, até o debate de algumas categorias centrais do marxismo, como a questão das classes sociais (e o problema crucial da definição de proletariado em nosso tempo). O enfrentamento destes temas é feito a partir das condições contemporâneas da luta política e do debate teórico.
O livro “Marxismo, História e Revolução Brasileira: Encontros e desencontros”, do historiador e secretário-geral da Fundação Maurício Grabois Augusto César Buonicore, será lançado na Unicamp na próxima quarta-feira, às 18h30min, durante o “Colóquio Internacional Marx e Engels”, evento promovido pelo Centro de Estudos Marxistas (Cemarx). A obra reúne escritos que buscam uma compreensão mais profunda das contradições e da história de nosso país à luz do marxismo.

Como diz no prefácio o jornalista José Carlos Ruy — diretor de Cominicação e Publicações da Fundação Maurício Grabois —. o livro é um vasto leque de temas, que vão desde a formação do estado burguês no Brasil e a formação do povo brasileiro, até o debate de algumas categorias centrais do marxismo, como a questão das classes sociais (e o problema crucial da definição de proletariado em nosso tempo). O enfrentamento destes temas é feito a partir das condições contemporâneas da luta política e do debate teórico.

Ele corresponde a necessidades atuais de uma investigação que articula a pesquisa teórica com a luta política, respondendo à imposição de juntar – na melhor tradição do pensamento marxista – teoria e prática. Muitos dos temas abordados aqui surgiram de embates na Escola Nacional do Partido Comunista do Brasil, da qual Augusto Buonicore é um dos coordenadores. São, nestas condições, temas que se impõe não a partir de uma perspectiva intelectual, mas das urgências da luta política.

O marxismo é um pensamento vivo e necessário para o enfrentamento das contradições atuais. E é a partir desta convicção que Augusto Buonicore destrincha problemas conceituais que pareciam já equacionados e resolvidos. Ou que, para um pensamento condicionado pela crise do socialismo das décadas de 1980/1990, pareciam superados e estranhos à agenda contemporânea.

Estes textos demonstram a limitação e a falsidade de teses que a mídia e o pensamento conservador dominante vendem como modernas. A atualidade do marxismo se revela justamente no enfrentamento dos problemas do presente e do reequacionamento, à luz deles, de questões que pareciam resolvidas e que as contradições de nosso tempo impõem sua reconsideração à luz de novas determinações.

Como definir democracia? Democracia capitalista e suas relações com as classes e em particular o proletariado? Qual é a natureza do estado burguês em nosso tempo? Como ele reflete os interesses de prazo das classes proprietárias, particularmente de sua fração hegemônica? Como, no Brasil, o Estado, como instituição, se desenvolveu através da luta de classes que vai desde a resistência africana e indígena contra a escravidão até a insurgência operária do século XX, e dos conflitos envolvendo as facções agroexportadora e industrial da burguesia brasileira e os aliados do imperialismo? Quais foram as características próprias, particulares, da formação do estado burguês no Brasil? Qual o alcance, e os limites, da revolução burguesa em nosso país?

Estas são algumas das questões aqui analisadas à luz do pensamento marxista. Contudo, o próprio marxismo precisa ser reanalizado uma vez que não se trata de uma doutrina ahistórica, estranha à evolução dos povos e nações nem às contradições novas que surgem nessa trajetória.

Um exemplo disso é a abordagem inovadora da questão do proletariado hoje. Muito já se escreveu, na esteira do alegado fim da história, sobre a falência do proletariado, nesta sociedade que o pensamento hegemônico considera pós-industrial, na qual o trabalho teria perdido sua centralidade nas relações sociais, não havendo mais sentido falar em classes sociais, e muito menos em proletariado.

Augusto Buonicore está entre os que não aceitam essa premissa conservadora. Seu exame da situação atual das classes sociais busca desvendar os segredos que elas apresentam na atualidade. E, particularmente, compreender esta esfinge para o pensamento avançado que se oculta sob o rótulo de proletariado.

Entre os que insistem na velha definição que vê nele somente o operário do chão de fábrica, de um lado, e aqueles que incluem sob aquela designação, indistintamente, todos os que vivem da venda de sua força de trabalho, Buonicore avança na compreensão ao propor que as análises de Marx sobre a divisão da burguesia em frações de classe também aplicam ao proletariado.

O proletariado, como classe — diz ele — não constitui "um bloco monolítico, sem fissuras" mas se divide "e subdivide, em frações e camadas distintas", cada uma delas "portadora de uma ideologia própria e, por conseguinte, de projetos societários e formas de organização políticas também diferenciados".

Embora nenhuma das frações, ou camadas, do proletariado tenha "interesse na manutenção indefinida do modo de produção capitalista", há "uma forte tendência nos setores médios – assalariados intelectuais – em apostar nas saídas reformistas e obstaculizarem o próprio processo de transição do socialismo ao comunismo", constata.

A análise do processo histórico brasileiro e suas contradições feita neste livro também apresenta aspectos inovadores. Ele inclui o exame do desdobramento empírico daquele desenvolvimento, em suas diferentes fases, e também o comentário das principais interpretações conceituais produzidas pelos autores brasileiros clássicos, com destaque para os historiadores marxistas.

Nestas considerações há um tema que se destaca: a luta contra o racismo. Há uma rica bibliografia sobre a questão, mas Augusto Buonicore não se detém nela, e enfrenta a espinhosa problemática das relações entre o marxismo, os comunistas e a questão racial não apenas em sua dimensão histórica mas também em seus desdobramentos contemporâneos, que inclui a análise do problema de quem é o povo brasileiro e seus elementos formadores, com papel de destaque para a contribuição africana.

Ao longo do século XX a relação do marxismo com a questão racial foi sinuosa. Foi muito forte, no passado, a compreensão de que ela se subordinava à outra, mais importante, que era a questão de classe, supondo que sua resolução abriria a porta para o combate ao racismo.

Em nosso país o Partido Comunista do Brasil foi pioneiro no equacionamento político dessa luta. Pioneirismo expresso na apresentação de candidatos negros em eleições, como por exemplo a do operário Minervino de Oliveira para concorrer à presidência da República, em 1930; foi comunista também o primeiro deputado federal negro, Claudino Silva, em 1946.

Os comunistas estiveram à frente também na definição programática da questão racial e já em 1930 um manifesto do partido convocava os trabalhadores negros à luta, embora fosse um apelo genérico de mobilização contra a exploração, sem nenhuma bandeira específica contra o racismo.

Mesmo assim foram passos importantes que assinalam o inconformismo comunista contra esta forma de opressão e que, décadas depois, viria se traduzir na formulação de reivindicações específicas pela igualdade entre todos os brasileiros, independente da cor de sua pele, e no esforço de dar uma forma organizada para essa luta.

O objeto das reflexões registradas neste livro é o povo brasileiro e sua luta. E o suporte teórico para elas é o pensamento marxistas, na convicção de que é a partir da análise de situações históricas concretas e particulares que esse legado conceitual evolui e se enriquece. O leitor tem em mãos um significativo passo nesse sentido.

Serviço

Título: Marxismo, História e Revolução Brasileira: Encontros e desencontros
Autor: Augusto Buonicore
320 Páginas
Preço: R$ 35,00