ARTIGO: Ari Barroso e os acordes da paixão
Quando as seleções da Europa se classificavam para a Copa de 2014, virou moda nos estádios a charanga da torcida tocar Aquarela do Brasil. A música-hino de Ari Barroso foi festivamente associada à sede do torneio, mas não menciona o esporte, pois quando foi composta, em 1939, a Seleção canarinho ainda estava longe de bailar o futebol-arte que passou a deslumbrar o mundo a partir de 1958.
Ao lembrarmos neste 9 de fevereiro o cinquentenário da morte de Ari Barroso, a homenagem deve ir além da opulenta obra musical com que o mineiro de Ubá exaltou o Brasil. Ari fez parte da linhagem de artistas, sobretudo da Música e da Literatura, que não só celebraram a contribuição do futebol à identidade nacional do brasileiro como arderam de paixão pelo jogo tal e qual qualquer anônimo de arquibancada. Achavam, parodiando Dorival Caymmi, que quem não gosta de bola bom sujeito não é.
Se hoje muita gente que se considera bem-pensante desdenha o futebol, tratando-o em citação fora do lugar como “ópio do povo”, no passado o esporte era idolatrado como elemento lúdico por gênios da cepa de Pixinguinha, Lamartine Babo, Jackson do Pandeiro, nos acordes, e Paulo Mendes Campos, Vinicius de Morais, João Cabral de Paulo e José Lins do Rego, nas letras. Nenhum, no entanto, atingiu o clímax da passionalidade de Ari Barroso – no campo e na tribuna.
Conservador na política, não deixou de abraçar causas do povo, a começar do Flamengo, pelo qual ele torcia abertamente mesmo quando era locutor de rádio, a ponto de invadir o campo para reclamar do juiz. Como vereador da UDN no Rio, apoiou a campanha do jornalista Mário Filho pela construção do Maracanã, opondo-se ao boicote sempre antinacional de Carlos Lacerda, seu colega de partido. Nos anais da Câmara carioca lê-se a informação de que Ari, embora vivesse às turras com o Partido Comunista, empenhou-se pelo apoio da bancada ao “Maior do Mundo”, negociando com o prefeito Ângelo Mendes de Moraes a construção de cinco campos de futebol no subúrbio.
Como fundo musical da campanha compôs o samba O Brasil Há de Ganhar, mas ganhou o Uruguai, e a música ficou esquecida, porém foi atualizada pela vitórias a que ele assistiu em 1958 e 1962 – e bem pode ser cantada nos dias atuais: “Verde, amarelo, cor de anil / são as cores do Brasil / vencemos o mundo inteiro / maior no futebol é o brasileiro…”
Aldo Rebelo é ministro do Esporte. Correio eletrônico: [email protected]