Eventos são um bom negócio!
Investimentos transbordam seus impactos diretos e indiretos, cada vez mais, com benefícios nos campos econômicos, sociais e ambientais.
Os eventos, nas suas mais diversas tipologias, demandam cada vez mais investimentos, e, na consecução de seus objetivos, têm gerado desdobramentos, antes, durante e depois de suas realizações.
E este tem sido um diferencial da realização de qualquer evento nos dias de hoje, utilizando estruturas provisórias ou permanentes. E o evento esportivo não foge a esta regra, com fortes impactos territoriais, temporais e nos diversos públicos envolvidos.
Mercado de eventos
Evento é uma atividade que tem um objetivo claro e apresenta uma característica específica: temporalidade e territorialidade pré-definida. Ele ocorre em um local e em determinada data. Pode até ser alterada, mas quando acontece, estão definidos o local e a data, sendo que hoje com os meios de comunicação tem possibilidade de a cada dia se tornar mais público, seja onde for.
O conjunto de tipologia de eventos é diverso e, a cada dia, novas tipologias vêm surgindo, refletindo níveis de especialização cada vez maiores, exigindo mais e mais encadeamentos e profissionalização para a sua realização.
Temos eventos sociais (festas de casamentos, formaturas), culturais (exposições, shows), históricos (comemorações), temáticos (ambientais, manifestações), religiosos, de negócio (encontros e rodadas de negócios), de capacitação (seminários, congressos), de comercialização (feiras), políticos (comícios, manifestações, mobilizações), esportivos (suas mais diversas modalidades), entre outros. E que ainda podem estar segmentados pelos seus públicos, pela sua abrangência, dentre outras formas de delimitação.
Aspectos de organização levaram a se ter toda uma estruturação e infraestrutura de suporte e apoio que, em muitos casos, só o processo de preparação do evento supera muito o esforço de realização.
E nesse esforço de melhorar o desempenho para a realização de eventos, com uma efetiva profissionalização, já se criou uma ambiência onde existem empresas especializadas na organização, e um complexo encadeamento produtivo que envolve os prestadores de serviços nas diversas etapas de realização de um evento. Temos redes de fornecedores, de profissionais, e este nível de especialização ocorreu de uma forma bem natural, como decorrência de um ambiente cada vez mais competitivo.
Hoje, temos um mercado de eventos e, como tal, para um evento – independentemente de que modalidade seja – é um negócio!
Dados da Fundação Getúlio Vargas apontam que só o mercado de shows no Brasil vem crescendo 7% ao ano. E já falamos de cifras que beiram a bilhões de reais ao ano de aplicações em suas realizações e em faturamento.
Seja uma festa de casamento, um comício político ou uma competição esportiva, os eventos ocorrem em mercados cada vez mais exigentes, onde as cifras que circulam são crescentes.
A cadeia produtiva esportiva
O evento esportivo, de uma forma peculiar, tem algumas características que o distinguem e, como tal, demandam procedimentos diferenciados.
O primeiro aspecto distintivo se relaciona à modalidade esportiva a ser trabalhada, que direciona para demandas específicas de infraestrutura de arenas, equipamentos utilizados, necessidades dos atletas e equipes, perfil de assistência, e outros pontos correlacionados.
Estamos falando de demandas técnicas, tecnológicas, de marketing, imagem, registro – específicas de cada modalidade esportiva –, que evoluem ao longo do tempo, demandando cada vez mais conhecimento, tecnologia e investimentos.
Exemplos podem ser percebidos nos trajes utilizados pelos atletas, em seus processos de preparação, nos equipamentos de registro e mensuração, nos revestimentos de pistas, entre outros pontos.
Ou seja, o esporte hoje é uma atividade econômica que demanda encadeamentos produtivos com atividades de pesquisa e desenvolvimento, indústria, serviços, comércio, com desdobramentos em setores como alimentos e bebidas, medicamentos, vestuário, mobiliário, instrumentação, tecnologia de informação, entre outros.
O esporte é uma atividade econômica transversal, que vem crescendo a cada dia, demandando ainda interações com comunicação, marketing, saúde, educação, segurança, logística e transporte.
A logística para um evento esportivo em si é uma atividade de forte impacto econômico e social, que gera renda e postos temporários de trabalho com impacto forte nos territórios onde os eventos ocorrem. Um bom exemplo são as corridas de Fórmula 1, onde o circuito anual corre o mundo, com migração de todo o conjunto de suporte das equipes em tempo recorde, dentro dos mais precisos aspectos de segurança que usa a mais alta tecnologia.
Esses pontos reforçam a ideia de que a estrutura de um evento esportivo – hoje possível de ser operado em qualquer parte do planeta, seja pelos meios de logística seja pela disseminação das tecnologias de instalações provisórias empregados – aponta para a relevância dos impactos econômicos, sociais e ambientais deste tipo de evento, que cada vez mais mobiliza recursos e incorpora multidões nas suas assistências. E que cada vez mais tem seus mercados ampliados em função de forte aceitabilidade pela população em seus mais diversos matizes, pela adesão popular ao esporte, que se reflete na forte visibilidade por meio da mídia, dos esforços de patrocinadores, que mobilizam cada vez mais grupos de torcedores, muitos até fanáticos, em peregrinações junto a seus atletas e suas equipes preferidas.
Hoje temos grupos de pessoas que cada vez mais acompanham as modalidades esportivas onde elas aconteçam, e grupos locais que cada vez mais não perdem oportunidades de assistir a eventos esportivos. Eventos esportivos movimentam e agitam!
As arenas esportivas lotam, para alegria de organizadores, atletas, patrocinadores e de todos os que atuam na cadeia produtiva do esporte.
Os indicadores de público, comecialização de produtos vinculados ao esporte, espelham de forma concreta o impacto desta modalidade de evento. Sem contar o volume de recursos aplicados em patrocínio e marketing esportivo nas mais diversas modalidades de esporte.
Hoje, diversos países já mensuram o Produto Interno Bruto (PIB) do esporte. Com cifras que chegam a cerca de 2% do PIB em alguns casos.
Momento Brasil
Há bastante tempo, o Brasil passou a se incorporar no circuito internacional do esporte, seja por conta da paixão por algumas modalidades (como o futebol que já realizou alguns eventos internacionais, como a Copa de 1950, diversos Sul-Americanos, campeonatos interclubes, entre outros), ou pelo desempenho de alguns atletas nas respectivas modalidades (neste caso, são exemplares as corridas automobilísticas de Fórmula 1 e Indy, torneios de tênis, e competições de vôlei de praia e de quadra, basquete, judô, futebol de salão e de areia, entre outros).
A última década foi muito significativa neste aspecto.
E por que isto tem ocorrido mais intensamente nos últimos anos?
Além do desempenho esportivo do país e de seus clubes, equipes e atletas, um conjunto de contextos favoráveis tem ocorrido e favorecido esta nova realidade. Consequências de vivermos uma realidade de estabilidade política e econômica, de ter crescido o poder aquisitivo da população, de o país ter adquirido uma imagem positiva em nível internacional e o seu melhor desempenho no cenário internacional.
Até a crise internacional nos ajuda nesse cenário!
O país aumentou efetivamente sua atratividade internacional para eventos e tem demonstrado competência na sua realização. A par de alguns questionamentos e críticas, o país, numa integração de esforços entre poder público e iniciativa privada, tem demonstrado capacidade de realizar eventos.
No caso de eventos esportivos, temos os bons exemplos das corridas de Fórmula 1; os circuitos de vôlei de praia; as competições de futebol de areia, que hoje já acontecem alguns em diversas localidades do país, interiorizando inclusive esta capacidade de realizar eventos esportivos. Os mais recentes que merecem ser citados, pois apresentaram êxito nas suas organizações, foram:
• Jogos Pan-Americanos no Rio de Janeiro;
• Olimpíadas Militares no Rio de Janeiro; e
• Copa das Confederações de futebol, que ocorreram nas cidades de Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Fortaleza, Recife e Rio de Janeiro.
Ou seja, a vinda da Copa Fifa de futebol em 2014 e das Olimpíadas e Paralimpíadas em 2016, coroa um esforço do país, que demonstra nossa capacidade de fazer acontecer.
E as oportunidades?
A par dos ganhos do ponto de vista esportivo, a realização de eventos precisa ser olhada em função das oportunidades de negócios. E mesmo quando muito se fala dos valores investidos na modernização e construção de arenas e instalações esportivas, por conta da realização desses eventos internacionais no país é a chegada de uma nova geração de arenas esportivas ao país. Sem entrar no mérito dos valores aplicados e das formas de sua contratação, algo que não ocorre apenas nesta tipologia de obra e compra de produtos e serviços –, o que pode efetivamente ser afirmado – é que isso está ocorrendo com muito atraso.
Aliás, este movimento incorpora o conceito de arena multiuso, que já em alguns casos de arenas inauguradas para a Copa das Confederações se mostrou como espaços diferenciados para a realização de shows e outros tipos de eventos, demonstrando a plenitude da viabilidade econômica.
Outro fator diferenciado neste processo de modernização de arenas foi a incorporação de conceitos de construção sustentável, que passou inclusive a ser considerado referencial técnico que passará a ser seguido em outras praças em que venham a ocorrer eventos desta envergadura.
Assim, a par do impulso que se dará no esporte, com impacto direto de ganhos nas áreas de saúde e educação, a realização desses evento no país tem permitido acelerar e antecipar investimentos em áreas como mobilidade urbana, terminais (rodoviários, aeroviários, portuários), saneamento, comunicações, transporte e segurança.
O impacto é direto, com benefícios claros e mensuráveis para as populações destas localidades onde ocorrerão estes eventos, por mais transtornos que estas populações possam estar passando na fase de construção dessas obras.
Uma realidade que temos hoje: as cidades-sede de jogos da Copa Fifa de futebol se tornaram verdadeiros canteiros de obras. Será que se estes jogos não fossem acontecer, haveria esta movimentação? Só este esforço gera nestas localidades novos postos de trabalho, demanda por novos produtos e serviços, circulação de recursos e potencial de melhoria da qualidade de vida. Isto é efetivamente medido.
Ou seja, podemos afirmar que o ganho é geral! E não ficamos só neste tipo de ganho!
Outro impacto perceptível ocorre em atividades econômicas correlacionadas, em especial nas atividades de hotelaria, turismo, gastronomia, alimentos e bebidas, serviços, economia criativa e comércio varejista.
A Copa das Confederações já mostrou resultados bem interessantes e as perspectivas para a Copa Fifa e os Jogos Olímpicos já são animadoras.
Nas seis cidades-sede da Copa das Confederações o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) realizou um observatório de oportunidades de negócios, onde mensurou o que se ganhou e o que pode ser trabalhado ainda para a Copa Fifa de 2014. E depoimentos de empresários foram excelente feedback de incrementos de faturamento e pontos que precisam ser melhorados, para melhor aproveitar as oportunidades de aumento de negócios por conta da realização desses eventos.
Outro estudo realizado em 2010 pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) e o Sebrae identificou 1.000 oportunidades de negócios para empresas de menor porte em 10 setores, onde resultados de ganho financeiro vêm sendo obtidos desde 2011, e onde pequenos negócios vendem mais ou passam a gerar novos negócios por conta da Copa, e já estão ocorrendo ganhos por conta dos Jogos Olímpicos.
Um bom exemplo é a empresa Boneleska, do Paraná que, por processo de licenciamento da Fifa, desenvolveu e comercializou o boné do Fuleco – que foi campeão de vendas e sucesso de público na Copa das Confederações. Um produto novo lançado por uma pequena empresa por conta do evento esportivo.
Neste sentido, o Sebrae, desde 2011, vem trabalhando com mais de 25 mil pequenos negócios, para que, preparados e informados, aproveitem esta oportunidade decorrente da Copa das Confederações que ocorreu este ano, e da Copa Fifa em 2014. Desde 2012, vem promovendo rodadas de negócios por conta destes dois eventos, com vendas ocorrendo de forma efetiva.
E as oportunidades não param por aí.
Talvez o maior ganho desse impulso esteja relacionado à melhoria de produtos e a serviços oferecidos à população!
O tão falado padrão FIFA nada mais é que termos oferta de produtos e serviços com padrão de competitividade internacional. E este resultado permanecerá com empresas brasileiras mais competitivas. Além de aumento da capacidade de receber e atrair eventos, em função de instalações e serviços que passaremos a ter capacidade de oferecer.
A concorrência sadia entre cidades e locais para receberem os Centros de preparação e treinamento das equipes que virão participar da Copa Fifa é um exemplo concreto.
Todos estes ganhos e oportunidades anteriormente apontados são decorrentes de investimentos privados que vêm ocorrendo, e, em muitos casos, demandando recursos de crédito – que teve inclusive postura de oferta de bancos públicos e privados que viram também, nestes eventos, oportunidade de ampliação da oferta de serviços financeiros, como, por exemplo, a ampliação do uso de cartões de débito e de crédito.
E não fica por aí a oportunidade de ganhos!
Outro ganho, intangível e imensurável, é a visibilidade internacional que o Brasil terá por conta da transmissão dos jogos realizados no país – que irá gerar demanda por produtos e serviços do Brasil, e que com certeza atrairá pessoas que terão interesse em conhecer o país. Ganhos para frente, ou seja, após a realização dos eventos.
Ganhos para a imagem do país, de seu povo, seus territórios, seus valores, sua cultura e com rebatimentos para empresas, produtos e serviços, e profissionais.
Ganhos para o Brasil, que poderá aparecer para o mundo pela sua diversidade, alegria, solidariedade, receptividade e qualidade em fazer.
Estes são legados que podem ser considerados imensuráveis neste momento! Transbordando negócios.
Eventos esportivos demandam sempre investimentos em instalações, equipamentos, recursos humanos, e com diversas atividades de suporte, que se viabilizam com recursos de patrocínio e, em alguns casos, com captação de recursos públicos.
Investimentos que geram demandas por produtos e serviços, postos de trabalho, e que criam um ciclo virtuoso do empreendimento, com impactos sociais, territoriais, econômicos e ambientais. E que têm a capacidade de transbordar em outras demandas externas ao evento em si, em função das necessidades dos desportistas, da mídia, de torcedores e acompanhantes.
O evento esportivo envolve circulação de pessoas. E aqui está um filão de oportunidades de negócios, em alguns casos maior do que a própria implementação do evento esportivo.
Neste momento ocorre o efetivo incremento de consumo, localizado em área de influência mensurável e proporcionada pela realização dos eventos, e ela começa, em alguns casos, a ser considerada área de impacto. Exemplos disso são as áreas de fan fest da Fifa.
Este impacto adicional beneficia principalmente os setores de construção civil, serviços especializados, comunicação, economia criativa, transporte, logística, turismo, alimentação, artesanato, entre outros.
Estudos da OCDE já apontam que em decorrência da realização em determinados países de eventos esportivos de mobilização planetária, como Copa e Olimpíadas, podem ser percebidos incrementos de até 1% do valor do PIB. Daí o interesse de nações e patrocinadores na realização desses eventos.
Estamos falando de volumes de recursos muito grandes e que se ampliam nos desdobramentos aqui apontados, numa relação direta com o número de pessoas envolvidas, nas mais diversas formas. Sempre lembrando que os impactos ocorrem antes, durante e após, quando pensamos os eventos como negócios.
Oportunidade privilegiada de negócios
Eventos esportivos têm se tornado cada vez mais objeto de estudo e observação por profissionais fora da atividade do esporte em função do seu papel mobilizador de massas, e capacidade de multiplicação de seus impactos.
Atualmente, e cada vez mais, passou a ter um olhar econômico, seja em decorrência do volume cada vez maior que se aplica na sua realização, mas em especial pelo poder de transbordamento de outros negócios decorrentes e em continuidade aos eventos esportivos. Os volumes investidos em patrocínio apontam para esta capacidade de desdobramento.
E o desafio maior é que nos apropriemos destas oportunidades e que empresas e profissionais locais incorporem estes ganhos de forma permanente e sustentável pela oferta de produtos e serviços cada vez mais competitivos.
Com certeza, o esporte e os eventos esportivos são e geram bons negócios.
* Paulo Alvim é engenheiro, mestre em Ciência da Informação. Atualmente, gerente da Unidade de Acesso a Mercados e Serviços Financeiros do Sebrae Nacional
Referências bibliograficas:
Mapeamento de oportunidades da Copa FIFA 2014 no Brasil – Sebrae – FGV , 2011
Programa Sebrae 2014 – Sebrae 2010
Publicado originalmente na revista Princípios, edição 127 (outubro-novembro/2013).