Comunistas vêem oportunidade ofensiva na crise capitalista
Aproveitando a presença de delegações estrangeiras de todo o mundo, a Secretaria de Relações Internacionais abriu este espaço de intercâmbio com os dirigentes de partidos de esquerda para ouvir um pouco sobre a avaliação de conjuntura de cada um. Estão previstas até o momento 90 pessoas, representando 60 organizações de cerca de 40 países. Discursaram 14 partidos de 12 países no período da manhã, 21 partidos de 14 países no período da tarde, e mais 13 dirigentes nesta quinta-feira (14) de manhã.
A crise capitalista internacional e suas consequências principalmente nos países centrais foi o tema que norteou o debate. Embora nos países periféricos a crise não tenha se expressado com a mesma intensidade, a ofensiva imperialista tem seus reflexos em todo o mundo, por meio de reação bélica e acordos bilaterais duvidosos como reação do países ricos para garantir os recursos necessários a sua retomada econômica. Nos países onde a classe trabalhadora mais sofre, abre-se uma oportunidade de intervenção mobilizadora rumo a uma alternativa de esquerda, da mesma forma que a direita disputa as massas com o pensamento nazifascista.
Capitalismo e imperialismo
Foi a partir desse debate, que o presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo, abriu o seminário apontando as lições que se impõe aos comunistas com a crise. “Podemos assistir o relançamento da luta pelo socialismo, ainda que condicionada pela defensiva estratégica”, afirmou Rabelo. Para ele, há um aspecto alentador na luta pelo socialismo em condições mais favoráveis, com a atual crise, pois observa-se uma tendência ao declínio dos países imperialistas, ao passo que emergem novas lideranças na geopolítica internacional.
Rabelo apontou como os países comunistas resistem exitosamente à crise, a partir da percepção de que não há um modelo único de transição para o socialismo. Na América Latina, Rabelo aponta experiências de relançamento da luta pelo socialismo no mundo, por meio de governos como Venezuela, Bolívia e Equador. Por outro lado, atualiza-se a visão leninista de imperialismo, com a ofensiva dos países ricos sobre economias e governos vulneráveis em sua soberania.
“O capitalismo não se desenvolve simetricamente, ao contrário, o desenvolvimento desigual é a chave para entender as dinâmicas estruturais desse sistema”, cita Rabelo. Se em outros momentos, os países centrais se beneficiavam da exploração dos países periféricos, a teoria continua valendo pelos efeitos desiguais que se manifestam na economia pujante dos países periféricos com seus amplos mercados de consumo, formados a partir de políticas de distribuição de renda, enquanto os países desenvolvidos vivem uma brutal recessão. Rabelo aponta as medidas que os Brics, grupo de países em desenvolvimento, buscam para proteger suas moedas e fluxos de comércio entre eles.
As potências manobram para prolongar o status quo, mas os países que emergem estabelecem uma nova ordem internacional de defesa da democratização e de reforma dos organismos das Nações Unidas. “No curso da luta para acelerar a correlação de forças, cabe às forças revolucionárias e progressistas valorizar o papel de coalizões contra-hegemônicas e contestadoras do status quo imperialista”, disse Rabelo, citando as relações entre China e Rússia e a Aliança Ibas (Índia, Brasil e África do Sul).
Rabelo evitou abordar a conjuntura brasileira, que será foco da intervenção multifacetada sobre o país, durante todo o 13o. Congresso do PCdoB, inclusive por meio de seu informe e dos discursos do ex-presidente Lula e da presidenta Dilma. Mas Rabelo mencionou que o Brasil tem sido porta-voz de posições progressistas no cenário internacional para solução de controvérsias que ocorrem à revelia da Carta da Onu.
O governo brasileiro tem priorizado a integração da América do Sul, como um tema prioritário da geopolítica. “Por isso, tem manifestado grande preocupação com a situação do Pacífico Sul”, disse ele, citando o modo como os EUA tenta minar a integração do continente por meio de acordos bilaterais.
O PCdoB, como organização marxista-leninista, tem no internacionalismo um princípio constitutivo de sua organização e atuação. Lembrando isso, Rabelo afirmou que o seminário é parte de um esforço que deve ser intensificado para discutir temas políticos teóricos e ideológicos de grande importância para o cenário internacional contemporâneo.
Leia os trechos mais importantes das intervenções de cada representante internacional: (continua…)
Africa do Sul, Partido Comunista da África do Sul, Christopher Matllhako
O Partido Comunista da África do Sul tem garantido importantes vitórias eleitorais nos últimos 17 anos. No próximo ano, fará um importante balanço de lutas e conquistas, como este que compartilha agora com o PCdoB.
Matlhako afirmou que estas ocasiões são a oportunidade em que questões de tática e estratégia merecem atenção importante. Ele considera que o Estado tem um papel chave como concentração de força política.
Desde o colapso do comunismo e a sedução do consumo nos países do leste europeu, o capitalismo liberal se apresenta como a última fase da civilização.
O sul-africano aponta os limites dos movimentos antiglobalização surgidos no final dos anos 1990. Em sua opinião, nenhum desses novos movimentos conseguiu apresentar estratégias coerentes e consistentes contra o projeto político do capitalismo. O capitalismo absorveu os movimentos de massa e o poder do estado continuará como antes.
Por outro lado, o consenso liberal está sendo desacreditado desde a queda do Muro de Berlim. “Não estamos no pré-óbito dessa situação, mas exige alternativa e os trabalhadores precisam de alternativas que não sejam cosméticas e reformistas”.
Para ele, o multipartidarismo é parte importante dessa luta. “Não implica em rejeição ao marxismo ou à analise de Lênin que continuam precisas e convincentes, mas devem ser aplicadas nas condições do mundo atual.”
Argentina, La Campora, Federico Montero
Montero compartilha da análise das tendências globais feita por Rabelo. Ele também avalia que há uma convivência da periferia em defensiva estratégica contra o imperialismo dos países centrais em crise.
“Acreditamos e defendemos, como a presidenta Cristina Kirchner, a luta pela reforma dos organismos multilaterais, assim como reivindicamos a autonomia das Ilhas Malvinas e agradecemos a solidariedade nessa luta”. Ele considera essas reformas importantes para arrefecer o afã militarista dos EUA, neste momento de crise econômica.
Seu partido acredita na construção de um novo modelo de soberania política e integração regional e defende as lutas políticas dentro da tradição do peronismo que é uma força muito popular em seu país. “Defendemos com unhas e dentes um processo iniciado em 2003 que significou o final de uma forca política e do neoliberalismo.”
A crise profunda pela qual passou a Argentina terminou um ciclo de retrocessos. “A recuperação da soberania para nós foi muito importante”, diz ele, referindo-se, principalmente, ao significado do não à Área de Livre Comércio das Américas (Alca), em Mar Del Plata, ao sepultar essa tentativa de integração hegemônica norteamericana. “Os Kischner foram protagonistas do cancelamento da dívida histórica dos fundos abutres”, comemora ele.
“Enfrentamos uma profunda reforma política do país, com regulação dos partidos, acesso ao financiamento público e dos espaços dos meios de comunicação para que todos possam participar”, diz ele, acrescentando a reforma judicial e dos meios de comunicação.
Hoje, os meios de comunicação tentam manter a hegemonia cultural dos poderes do neoliberalismo, mas o país passa por uma reforma importante dos meios de comunicação. Ou seja, o país vive uma ampliação de direitos sem precedentes.
Existe uma preocupação, segundo Montero, de construir maiorias sociais e não apenas maiorias eleitorais para consolidar esses processos de mudanças.
Argentina, Frente Grande, Javier Pablo Hermo
Hermo diz ter orgulho de ser dos partidos populares de esquerda da América Latina que governam e mudam seus países. Mas ele alerta para os perigos que cercam esses partidos oriundos da recomposição das elites conservadoras. Para ele, isso se expressa principalmente na unidade latinoamericana, que se afirma por meio de um discurso que parece suficiente, “mas que depende de razões que vão além da formação de nossos povos”. “Questões externas convenientes ao capitalismo nos ameaçam”, afirmou. Para ele, há uma questão institucional pendente na integração, como a constituição de um parlamento regional do Mercosul. É preciso, em sua opinião, criar organismos que possam dar vozes comuns aos países, que possam ir além das questões comerciais. Hermo se mostra particularmente preocupado com o regime automotivo da Argentina e do Brasil e com o futuro do papel da Republica Bolivariana da Venezuela.
“A luta dos europeus, também é nossa luta!” Ele analisa as imposições da troika europeia sobre a Grécia, por exemplo, como aquelas que os países sul americanos sofreram durante décadas, e contra as quais se rebelaram. “Dizem que não há nada por fazer. Como dizia Thatcher, de que não há alternativa”, lembrou.
Hermo apontou a “traição” de um ideário socialdemocrata de governos, assim como a intensa campanha contra a esquerda, que dificulta identificar alternativas. Com isso, segundo ele, vive-se um paradoxo em que a ameaça sobre o desenvoolvimento social da Europa nos atinge na América Latina, pelo tipo de capitalismo global que avança no continente. “Redistribuição da renda não significou redistribuição das riquezas”, analisa. Para ele, isso é uma questão que começa a surgir como problema.
“O que entendemos como desenvolvimento? Temos que pensar em um modelo alternativo, que possa fazer frente ao desenvolvimento, com devastação da natureza, e sofrimento dos mais pobres”, concluiu.
Bolívia, Partido Comunista da Bolívia, Senador Ignacio Mendoza
O senador boliviano afirmou o contentamento do presidente Evo Morales com as relações bilaterais. Ele mencionou a crise recente em que um senador exilado na embaixada brasileira foi transportado ilegalmente para o Brasil, gerando tensões. “Uma atitude de provocação direta para tentar romper relações entre nossos dois povos, ao ponto de gerar a renúncia do chanceler brasileiro Antonio Patriota”, avaliou, lembrando que os presidentes precisaram gerir diretamente a crise para superar o incidente. Para ele, isso mostra que as forças de direita têm tentáculos em toda a América Latina.
“Nossos vínculos tem que ser muito sinceros e de aproximação estratégica”, afirmou Mendoza, para citar o episódio do sequestro do presidente Evo, durante viagem à Rússia, quando foi impedido de atravessar o espaço aéreo europeu. “Quatro países, não por acaso ligados à Otan, estiveram envolvidos numa ação imperialista que arriscou a vida do presidente Evo Morales”. A resposta do Mercosul foi importante para afirmar a soberania da Bolívia.
Para ele, há uma ofensiva imperialista com interesses que tentam frustrar o processo de mudanças que vem ocorrendo no continente. “O socialismo tem que atender às necessidades de nossos povos, nao importa o nome. Um programa de transição é muito importante levando em conta a arena política”.
Para mencionar as dificuldades que seu governo enfrenta na arena política, ele citou as forças trotskistas que se opunham às mudanças tentando caracterizar o governo de Evo como “pro-burgues” e “pro-imperialista”. O resultado foi a derrota contundente dessas forças na eleição dos sindicatos mineiros. “Isso vai consolidar essa vitória essencial da aliança entre operários e camponeses”.
Canadá, Partido Comunista (marxista e leninista), Margaret Villamizar
O discurso da camarada canadense refletiu as preocupações dos países desenvolvidos com a crise econômica e os reflexos para a luta dos trabalhadores. “O capital se desenvolve através de guerras e roubos e coloca problemas como se fossem insolúveis. Desta forma, o crescimento e as bolhas seriam parte dos ciclos econômicos de recessão e expansão”.
No entanto, essa contradição inerente ao capital expõe a luta de classes ao gerar desemprego. “Estamos vendo que as pessoas são tiradas da equação e não podem opinar”, denuncia ela.
Margaret mostra como a classe trabalhadora avançou em suas conquistas depois da segunda guerra mundial, ao passo que os EUA tornaram-se a referência com seu estilo de vida consumista e a única fonte de crédito internacional com a Europa destruída. Foi assim que o dólar se tornar a moeda internacional, enquanto aquele país se expandia militarmente em oposição ao bloco socialista. A canadense prossegue no raciocínio para demonstrar como o consumo interno dos EUA foi financiado, chegando à imensa crise que os atinge desde 2008. “Os trabalhadores não podem confiar nos contratos do governo, mas apenas na sua luta”, conclui ela, insistindo que a reivindicação precisa conduzir para um basta aos pagamentos aos ricos que faliram a economia e um aumento do financiamento para os trabalhadores.
Coreia, Partido do Trabalho da Coreia, Pak Kun Gwang
Vindo da distante e pouco conhecida Coreia do Norte, Gwang trouxe principalmente suas preocupações com o imperialismo militarista que avança sobre o mundo, como era de se esperar. Os coreanos convivem com frequentes provocações militares norte-americanas em seus mares, tendo reagido de forma contundente nos últimos meses.
Para ele, o seminário permite compartilhar experiências construtivas. “É uma oportunidade importante para encorajar e promover a luta dos povos do mundo, aspirando-se a independência e a paz, compartilhando a solidariedade”, afirmou.
Segundo Gwang, superado o período da guerra fria, continua o desafio para um mundo novo em que ainda persistem as guerras civis. “Hoje, na conjuntura internacional, a tendência é permitir o autoritarismo e se intensifica o uso das forças armadas na ingerência interna de outros países”.
Fatos recentes no norte da África e no Oriente Médio, diz ele referindo-se à Líbia e à Síria, são violações de soberania que abalam a paz, não só desses países, mas de todo o mundo e precisam ser frustradas. “A península coreana vai se tornando uma região candente de disputa. Os EUA não aprendem as lições da guerra da Coreia e insistem na ocupação”, diz ele, denunciando o modo como os EUA impediram o funcionamento de um satélite próprio da República Popular da Coreia.
Gwang diz que a confrontação dos EUA com suas manobras de guerra na região agrava a situação da península, que já sofre com a política de austeridade imposta pelas potências capitalistas. A Coreia precisa se defender investindo em seu poderio militar para proteger a soberania do país, ao mesmo tempo que garante obras de infraestrutura e serviços públicos de qualidade para a população. Diante do isolamento promovido pelos EUA, a Coreia agradeceu o apoio e solidariedade dos partidos comunistas a sua luta.
Colômbia, Partido Comunista da Colômbia, Pietro Alarcón
Colômbia, Marcha Patriótica, Juan Pablo Tapiro
EUA, Partido Comunista dos Estados Unidos, Gary Dotterman
França, Partido Comunista Francês, Obey Ament
Galícia, União do Povo Galeco, Duarte Correa Pinheiro
Grã-Bretanha, Partido Comunista da Grã-Bretanha (marxista-leninista), Novjot Brar
Grécia, Partido Comunista da Grécia, Lefteris Nikolaou
Guatemala, Aliança Nova Nação, Eucevio Figueroa
Itália, Francesco Maringio, Partido Comunista Italiano.
Japão, Partido Comunista Japonês, Hiracu Sugawara
Laos, Partido Popular Revolucionário do Laos, Buakeo Phumvongsay
Nicarágua, Frente Sandinista de Libertação Nacional, Marvin Ortega
Palestina, Frente Popular para Libertação da Palestina, Nader Alves Bujah
Palestina, Fatah-OLP, Fauzi El-Masheem
Panamá, Partido do Povo do Panamá, Moises Carrasquilla
Paraguai, Frente Ampla Guaçu, Victor Barreiro
Paraguai, Partido Popular Tekojojá, Ricardo Canese
Peru, Partido do Povo, Luis Alberto Salgado.
Portugal, PCP, José Capucho
Peru, Partido Comunista Peruano, Roberto de la Cruz Huamán
Portugal, União Democrática Popular, Joana Mortagua
Grã-Bretanha, Partido Comunista Revolucionário (ML), Michael Chant.
Paraguai, Partido Comunista do Paraguai, Derlis Villagra
Iraque, Partido Comunista do Iraque, Azet Salman Sadik
Peru, Partido Comunista Pátria Roja, Rolando Brena Pantoja
Líbano, Partido Comunista, Khaled Mahassen
Tunísia, Partido Watad Unificado, Farouk Jhinaoui
Uruguai, Partido Comunista, senador Eduardo Lorier
Partido Comunista da Federação Russa, Rashkin Valery
Alemanha, Die Linke, Dietmar Schulz
Benin, Gilbert Kouessi, Partido Comunista
Argentina, Partido Comunista, Victor Hugo Gomez
Chipre, Partido progressista do povo trabalhador, Vera Polycarpou
Argentina, Frente Transversal Nacional e Popular, Oscar Laborde
Palestina, Partido do Povo Palestina, Asem J. R. Abdalhadi
Itália, Partido da Refundação Comunista, Marco Consolo
Argentina, Partido Comunista Congresso Extraordinário, Ezequiel D Adamo
Saara ocidente, frente popular de liberacion de saguia el hamra y rio de oro polisario, Hash Ahmed
Siria, Partido Baath, Hassam Abbas
Venezuela, Partido Socialista Unido de Venezuela, Marelis Perez
Cuba, Partido Comunista, Maria Antonia Ramos
Vietnã, Partido Comunista, Nguyen van Kien