Maria Rosa Silva de Souza
Como é a sua militância no PCdoB em defesa da emancipação da mulher?
É buscar organizar as mulheres, levar a influência do Partido, conscientizar para entender a bandeira que o PCdoB de longa data sempre defendeu, que é a participação das mulheres no Partido e na sociedade. E buscar a evolução dessa consciência entre a militância de mulheres e homens. Entendo que o Partido compreende a necessidade de as mulheres se organizarem. Tanto que no último Congresso foi referendada a necessidade de uma Secretaria de mulheres, pela necessidade que temos de buscar fazer toda a militância partidária, principalmente as mulheres, entender a luta pela emancipação, a luta contra a discriminação.
A Bahia é a maior delegação nesta Conferência. Por quê?
Porque fizemos um grande esforço, pois entendemos hoje que a Bahia tem uma longa história nessa luta. Não é à toa que temos uma referência forte dentro do Partido que é a
Loreta Valadares. Ela expressou para nós a necessidade dessa luta. Portanto, a Bahia não poderia se mostrar um Estado que não abraçasse essa questão partidária. Então, fizemos um esforço de mobilizar o Estado, principalmente na capital onde o Partido é mais organizado.
No Estatuto do Partido hoje não é obrigatória, mas facultativa, as secretarias nos municípios. Somente são obrigatórias as estaduais e nas capitais. Nós, da Bahia, entendemos que o Partido precisa avançar no intuito de mostrar que as cidades pequenas também precisam ter sua Secretaria. Essa é uma das bandeiras que a Bahia traz. É por isso que buscamos mobilizar, fomos para os municípios debater a questão da participação da mulher.
E fomos surpreendidas pelo fato de uma mulher, comunista, pré-candidata a vereadora, ter sido assassinada em Maranguagipe – ela e a filha foram esfaqueadas por seu companheiro. Descobrimos isso logo no início e, por isso, se transformou em um estímulo para mostrarmos a nossa mobilização e a nossa força enquanto mulheres comunistas, para referendar nossa presença na Conferência com 46 delegadas e delegados.
Você também atua no movimento sindical?
Sim, sou secretária estadual de Mulheres da Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil (CTB). E também sou coordenadora da União Brasileira de Mulheres (UBM) no Estado e da direção nacional. Essa é a forma com a qual buscamos ver um modo de atrair as mulheres que não têm essa compreensão. Elas não conseguem
se ver como uma pessoa que pode vir a transformar essa sociedade, que pode ajudar homens e mulheres a construírem uma nova humanidade.
Então, criamos esse vínculo com as mulheres, via CTB e UBM, com o intuito de aglutinar mais as mulheres, de buscar mostrar a batalha que travamos na luta de classes, na luta por uma nova vida, um mundo diferente, com as expectativas de que a mulher possa também ocupar espaços no poder, que possa estar à frente de sindicatos, dos movimentos sociais, buscando melhorar as suas condições no espaço da sociedade.
Como você analisa essa bandeira histórica dos comunistas brasileiros?
O Partido está comemorando seus 90 anos, em um ano que se comemoram os 80 anos do voto feminino. A meu ver, para o PCdoB este é um momento de grande reflexão. É o momento em que o Partido chama a sua militância para entender o que significa a emancipação da mulher. Não é apenas a mulher se libertar em sua cabeça, o seu corpo, ou economicamente. A luta da mulher é ela também entender o outro lado, entender a luta da humanidade, entender o que é o povo mais oprimido.
Então, a Conferência ocorre neste momento em que temos uma mulher presidenta da República. Mas não reflete ainda a emancipação do ser humano, da humanidade. Não reflete ainda, por mais avanços que nós tivemos com um operário na Presidência, a verdadeira emancipação do ser humano. Um Partido, como você disse, historicamente presente na luta das mulheres.
E como é tratada a questão de gênero na militância partidária?
Há um esforço que cresce de uma campanha de desvalorização partidária, achando que o ser humano por si só pode consolidar e construir uma nova vida, sem ter influência partidária. Por isso, este é também o momento de nós referendarmos o papel partidário das mulheres. Para que não permitamos que essa linha de desvalorização partidária seja superior à organização do Partido, onde o povo precisa se organizar partidariamente até para discutir sobre suas condições no país, na legislação, no Executivo, no Parlamento. Esse é um conflito de ideias que precisamos ganhar.