NÃO se pode deixar de ficar impressionado e jubiloso com as manifestações de entusiasmo de vossa Conferência Federal. Elas denotam muita juventude, muita confiança, muita certeza no futuro de nosso Partido, que é a esperança da classe operária e do povo de nosso pais.

Entretanto, não convém apenas rejubilar-se. É preciso também ver nossos defeitos e nossas fraquezas, e, logo de início, é para essas fraquezas que desejaria chamar a atenção da Conferência Federal.

Desde a Conferência anterior, em junho de 1947, em Gennevilliers, foram realizados progressos no trabalho, sob a direção de nosso camarada Raymond Guyot e com a ajuda do Comitê Central do Partido. A Federação do Sena melhorou sensivelmente seus métodos de trabalho, sua atividade geral; mas é preciso dizer-se, imediatamente, e sobretudo é preciso que vós mesmos fiqueis convencidos, persuadidos de que esses progressos são ainda insuficientes, notoriamente insuficientes. A atividade dos comunistas do Sena, a atividade das organizações comunistas do Sena, das células e das seções não se mostra ainda à altura das exigências que se erguem perante nosso Partido. Ela não está nem sequer à altura da posição que ocupais no coração do país.

Na Conferência anterior, eu vos tinha dito: “Noblesse oblige”. Agora, sinto-me tentado a dizer como no Evangelho: “Muito vos será exigido porque muito vos foi dado”. Ora, no último período, vós vos deixastes ultrapassar um tanto por outras federações de nosso Partido Comunista, vós vos deixastes ficar um tanto à distância. Sois, naturalmente, a Federação mais numerosa: 100.000 membros, mas também vos encontrais num departamento muito mais povoado do que os outros, com 5 milhões de habitantes.

Obtivestes um total considerável de sufrágios nas diversas eleições, mas não deveis esquecer que se antes da guerra a percentagem de vossos sufrágios era muito mais importante que os demais, se vossos efetivos comparados ao total da população eram, numa grande margem, os mais numerosos no país, atualmente já não é assim.

Há numerosas Federações que obtiveram, nas eleições, percentagens mais altas do que a que foi obtida no departamento do Sena, e, em particular, do que a que foi obtida em Paris.

Ora, Paris continua a ser não só um centro de atividade proletária, não só o centro onde bate o coração do proletariado generoso e que Lênin gostava de apontar como um dos mais esclarecidos do mundo, mas Paris é também o centro da reação francesa que dirige suas operações contra a classe operária, contra nosso povo, como é, ainda, um dos centros da reação internacional que forja suas intrigas contra os povos e, em particular, confirme se vê pelo processo Kravchenko, contra a União Soviética, contra os países de democracia popular.

                                                        A Luta Pela Paz é a Questão Decisiva

E VOU tocar imediatamente em vossa fraqueza essencial, a que surgiu na própria Conferência, após haver sido verificada em sua preparação, no decorrer das assembléias de células e das conferências das seções: é a grave subestimarão da situação presente, é a grave subestimação da exacerbação das contradições na escala internacional e em nosso país, é a grave subestimarão dos perigos que ameaçam a paz e, ao mesmo tempo, a subestimação do desenvolvimento das forças que em todo o mundo, e, naturalmente, também em nosso país, se opõem à deflagração de uma nova guerra imperialista.

Não é verdade, caros camaradas, que se falou muito pouco, que se falou pouquíssimo, em vossas assembléias de seções, em vossas Conferências, na luta pela paz? Ora, a paz, a luta pela paz é hoje a questão decisiva.

Há já perto de 18 meses, nosso saudoso camarada Zdhanov analisava as transformações surgidas na situação internacional. Ele constatava que, após a segunda guerra mundial, a correlação de forças se modificara, de modo decisivo, em favor do socialismo, e acrescentava que desde o fim da guerra, uma parte dos aliados se orienta para a conquista dos objetivos que já eram os seus no transcorrer da própria guerra, os objetivos de caráter imperialista, que uma parte dos vencedores tende a se apoiar sobre os vencidos visando estabelecer, contra seus aliados da véspera, sua hegemonia sobre o mundo.

Isso é o fundamental na análise feita no informe de Zdhanov e na declaração dos Partidos Comunistas. Ao mesmo tempo, Zdhanov acentuava que

“as forças ligadas à paz são tão grandes e tão poderosas que bastaria que elas dessem prova de tenacidade e de firmeza no luta pela defesa da paz para que os planos dos agressores sofressem um completo fracasso”
Já se meditou suficientemente nas obrigações que decorrem dessas teses e declarações para os Partidos Comunistas, para nosso Partido Comunista Francês e, mais particularmente ainda, para os Comunistas do Sena? Os Comunistas de Paris — Paris, onde vêm emaranhar-se os fios da conspiração imperialista contra a URSS — já refletiram bastante sobre isso?

É necessário fazer essa pergunta, pois se ouvem apreciações bastante surpreendentes. Há camaradas que raciocinam da seguinte maneira:

“Que venha a guerra. Tudo irá pelos ares, e teremos o comunismo”.
Não é fato que há camaradas que raciocinam assim?

Esses camaradas não percebem que estão levando água para o moinho dos adversários, para o moinho dos que caluniam a União Soviética e os comunistas, para o moinho daqueles que nos caluniam acusando-nos de desejar a guerra. Já durante 20 anos os dirigentes da social-democracia pretenderam que a União Soviética queria a guerra, porque, diziam eles, não poderia construir o socialismo e, para estender a revolução, precisava da guerra. Blum e Paul Faure pretendiam que nós, os jovens operários comunistas, queríamos a guerra, porque, sem a guerra, não tínhamos a esperança de que a classe operária pudesse chegar um dia ao poder. E ainda hoje, quando os povos acabam apenas de sair das provações trágicas da segunda guerra mundial, após terem sido sangrados quase até a última gota, esgotados por essa guerra deflagrada pelos hitleristas com a cumplicidade dos homens de Munique e da reação internacional: os mesmos que preparam e querem desencadear uma terceira guerra mundial, tentam esconder seu jogo, sua política criminosa acusando, mais uma vez, a União Soviética e os comunistas de quererem a guerra. E há camaradas que, ingenuamente, dão pretextos às calúnias dos fomentadores de guerra.

Por outro lado, há camaradas que dizem: por certo que não queremos a guerra; nunca haveremos de fazer a guerra; o mais fácil caminho para o poder é o caminho da paz. A esses, é necessário responder:

I — Infelizmente, se a paz e a guerra dependem muito das massas e por conseguinte de nós, comunistas, de nós proletários, de nossa luta tenaz e firme, não dependem só de nós, mas também dos outros. O resultado da batalha entre a classe operária, as forças do povo que querem a paz, e as forças imperialistas que pendem para uma nova guerra, é que decidirá sobre a guerra ou a paz. Não estamos sozinhos na luta.
II — Não se deve raciocinar a respeito da guerra como moralistas, isto é, se é bem ou se é mal, mas como proletários revolucionários, como marxistas. Foi isso que Lênin nos ensinou.

                               A Guerra Decorre da Própria Natureza do Capitalismo

EIS O QUE dizia Lênin em 1.° de novembro de 1914 em seu artigo intitulado:”Situação e tarefas da Internacional Socialista”:

“A guerra não é um acidente, ela não é um pecado, como supõe o padre cristão (tão bom propagandista do patriotismo, do humanitarismo e da paz quanto os oportunistas); ela é uma etapa inevitável do capitalismo, uma forma da vida capitalista tão natural quanto a paz…
“A recusa do serviço militar, a greve contra a guerra, etc., puras tolices, sonho pobre e tímido de uma luta desarmada contra a burguesia armada. . .
“A propaganda da luta de classes, na própria guerra, é o dever do socialismo.
“Acabemos de uma vez com as declamações sentimentais e religiosas_ sobre a “paz a qualquer preço”.
“Após esta guerra, se não se produzir uma série de revoluções coroadas de sucesso, outras guerras virão em breve. . .”
Após a primeira guerra mundial não houve uma série de revoluções, só houve uma revolução e, infelizmente, realizou-se a profecia de Lênin: estourou outra guerra mundial. Mas o campo da revolução ampliou-se. Existem agora as possibilidades de impedir nova guerra pela união, na ação, das mais amplas forças de paz. Entretanto, não devemos dissimular que a guerra decorre da próprio natureza do capitalismo, “que traz a guerra em si como a nuvem trai a tempestade”, segundo dizia Jaurés. A guerra está ligada à existência do capitalismo em sua última fase, a fase imperialista, de decomposição e de putrefação. É nessa época que se afirma o domínio dos monopólios capitalistas e da oligarquia financeira no mundo. Os trustes capitalistas concluíram a partilha do mundo, as grandes potências meteram suas garras na totalidade dos territórios “disponíveis”. De acordo com a lei leninista do desenvolvimento desigual do capitalismo, não podem deixar de produzir-se bruscas rupturas do equilíbrio, levando esta ou aquela potência imperialista a procurar um maior quinhão de mercados, escoadouros e territórios. Para obter esse quinhão maior, o imperialismo só conhece um meio: a força, a guerra.

Stálin, nas “Questões do Leninismo”, recorda-nos o ensinamento de Lênin:

“Essa luta desesperada entre os diferentes grupos de capitalistas tem, como particularidade notável, o fato de implicar, como elemento inevitável, em guerras imperialistas, em guerras pela conquista dos territórios alheios.”
E, mais adiante:

“As guerras imperialistas são o único meio de restabelecer o “equilíbrio” comprometido… Dai a inelutabilidade das guerras sob o imperialismo”.
Em seu discurso aos eleitores, em 1946, Stálin explica que a segunda guerra mundial, como a primeira, foi deflagrada nas condições da crise geral do capitalismo:

“Seria injusto pensar que a segunda guerra mundial surgiu casualmente ou como resultado de erros destes ou daqueles estadistas, ainda que sem dúvida alguma tenha havido erros. Na realidade, a guerra surgiu como resultado inevitável do desenvolvimento das forças econômicas e políticas mundiais, baseadas no capitalismo monopolista moderno. Os marxistas declararam, mais uma vez, que o sistema capitalista da economia mundial traz implícitos elementos de crise geral e de choques militares e que, em virtude disso, o desenvolvimento do capitalismo mundial, em nosso tempo, se processa não na forma de avanços suaves e uniformes, mas por meio de crises e catástrofes de guerra.
“O problema é que o desenvolvimento desigual dos paises capitalistas conduz ordinariamente, com o transcurso do tempo, a uma brusca alteração do equilíbrio interior do sistema mundial do capitalismo, com a particularidade de que o grupo de paises capitalistas, que se considera menos garantido em matérias primas e mercados para o venda, procura geralmente modificar a situação e efetuar nova distribuição, a seu favor, das “esferas de influência”, empregando a força das armas. Como resultado surge a divisão do mundo capitalista em dois campos hostis e se guerreia entre si”.(1)
Prossigamos na nossa análise. Existe ainda o capitalismo? Existe ainda o imperialismo? Haverá ainda, em qualquer parte, grupos capitalistas, trustes, cartéis que tentam estabelecer seu domínio no mundo? Sim, certamente.

E, da mesma forma, existe no globo uma contradição essencial, fundamental, a contradição entre o mundo do socialismo em construção e o mundo do capitalismo condenado ao desaparecimento — mas que não quer morrer de sua morte natural, que procurará manter-se até o fim e que, para se manter, não hesitará em lançar os povos nos horrores da guerra. A própria existência da União Soviética abala em seus alicerces o mundo capitalista.

                        As Três Contradições do Capitalismo na Época do Imperialismo

DEVEIS reler ainda, em Stálin, a explicação leninista sobre as três contrações essenciais do capitalismo na época imperialista:

“A PRIMEIRA CONTRADIÇÃO é a que existe entre o trabalho e o capital. O imperialismo é a onipotência dos trustes e dos consórcios monopolistas, dos bancos e da oligarquia financeira nos países industriais…”
“De duas uma: ou entrega-te à mercê do Capital, vegeta como no passado e afunda-te cada vez mais, ou então lança mão de uma nova arma. É dessa maneira que o imperialismo coloca a questão perante as massas de milhões de proletários. O imperialismo leva a classe operária à revolução”(2).
E eis aqui a nota histórica do Ministério do Exterior da União Soviética, que não é um simples documento diplomático, mas que constitui uma declaração de excepcional importância, dirigida aos povos, a análise leninista-stalinista da situação atual, explicando as causas profundas da política de agressão do imperialismo contra a União Soviética, contra os países de democracia popular, contra os povos:

“Eles (os meios dirigentes dos Estados Unidos e da Grã-Bretanha) têm o hábito de fugir diante da solução real dos problemas internos, amadurecidos em seus paises, segundo as modificações surgidas na situação histórica e é principalmente por isso que eles ligam seus cálculos ulteriores aos planos de realização deste ou daquele objetivo de agressão no exterior…”
Decifrai. Isto quer dizer que as condições amadurecem na França, na Itália, na Inglaterra, para as transformações sociais, políticas, já reclamadas pela realidade. As camadas dirigentes desses países procuram, na guerra, uma saída para suas dificuldades, uma solução para os problemas levantados pela sobrevivência desse capitalismo apodrecido. Em 1948, a produção das indústrias de base na França foi menor do que em 1913. Notemos, para comparar, que a produção da indústria pesada na União Soviética, no momento, para só citar esse exemplo, era, em 1940, onze vezes e meia superior ao que era em 1913, no tempo dos czares. A fim de manter sua dominação, os capitalistas da França procuram o apoio da reação internacional, de seu destacamento mais agressivo, mais reacionário, o imperialismo americano. Em troca, oferecem nosso país, oferecem os recursos de nosso país e, sobretudo, o sangue dos operários, o sangue dos camponeses da França; sacrificam a independência nacional de nosso país para favorecer os desígnios de hegemonia e de agressão imperialista dos Estados Unidos. Diz ainda Stálin:

“A SEGUNDA CONTRADIÇÃO é a que existe entre os diferentes grupos financeiros das potências imperialistas em suas lutas pelas fontes de matérias primas, pelos territórios alheios. O imperialismo é a exportação dos capitais para as fontes de matérias primas, a luta feroz pela posse monopolista dessas fontes, pela nova partilha do mundo já partilhado, luta travada com um encarniçamento particular pelos novos grupos financeiros e pelas novos potências à procura de “um lugar ao sol”, contra os velhos grupos e potências que se agarram obstinadamente ao que já haviam açambarcado”.(3)
Já citei, ainda há pouco, a conclusão. Não peço desculpas por voltar a ela. Não me desculpo também — e talvez isto sirva de lição aos delegados — de citar, de ler da tribuna de uma conferência do partido, nosso mestre em socialismo, em leninismo, Stálin:

“… Essa luta encarniçada entre os diferentes grupos de capitalistas tem uma particularidade notável; o fato de envolver, como elemento inevitável, as guerras imperialistas, as guerras pela conquista dos territórios alheios. Essa circunstância, por sua vez, tem como particularidade notável o fato de conduzir ao enfraquecimento recíproco dos imperialistas, ao enfraquecimento da posição do capitalismo em geral, à aproximação da hora da revolução proletária, à necessidade prática dessa revolução”.
E eis a nota do Ministério do Exterior da URSS, que mostra quais são os resultados do Plano Marshall, que perspectivas pode oferecer esse plano guerreiro, Plano de harmonização da Europa, como o apresentava Léon Blum, plano super-imperialista à moda de Kautsky! Na verdade, esse plano não é mais que a organização da hegemonia norte-americana na Europa, a tentativa de transformar nosso país e os outros países marshallizados em simples colônias norte-americanas. Não é senão um plano militar e estratégico, um plano guerreiro. A nota soviética mostra que:

“O resultado desse estado de coisas será inevitavelmente a agravação das contradições que já se verificam a cada momento, tanto entre os Estados Unidos e os países do bloco ocidental, quanto no próprio interior do grupo da Europa ocidental”.
Contradições agravadas entre os países marshaliizados, de um lado, e, por outro lado, os Estados Unidos colocados na posição forçada de exportar capitais e mercadorias, de vender sempre sem nunca comprar. Contradições agravadas entre os próprios países marshaliizados: entre a França e a Inglaterra, que fecha suas fronteiras a diversos produtos de nossa indústria; entre a França e os países de Benelux [BElgië, NEderland e LUXembourg]: as compras de nosso país na Bélgica foram suspensas. Contradições agravadas no interior de cada um desses países. Não se produziu, como prometiam os srs. Schuman, Maurice e Robert, o soerguimento da economia dos países marshaliizados, mas sim a estagnação e o recuo das indústrias essenciais; o que se vê na Itália, na Bélgica, na Grã-Bretanha e que começa a aparecer na França é o desemprego. É a alta dos preços, a diminuição do nível de vida das massas laboriosas, são as dificuldades monetárias e financeiras. É, em suma, a agravação de todas as contradições, e, para livrar-se dessas contradições, a procura de uma saída na guerra contra a União Soviética.

E como ainda acentua Stálin:

“A TERCEIRA CONTRADIÇÃO é a que existe entre o punhado de nações “civilizadas” dominadoras e as centenas de milhões de homens dos povos coloniais e dependentes do mundo. O imperialismo é a exploração mais descarada e a opressão mais desumana das centenas de milhões de habitantes das imensas colônias e países dependentes. A extorsão do super-lucro, é o objetivo dessa exploração e dessa opressão. Mas, explorando esses países, o imperialismo é obrigado a construir neles estradas de ferro, fábricas e usinas, centros de indústria e de comércio. O aparecimento de uma classe de proletários, formação de uma intelectualidade do país, despertar da consciência nacional, fortalecimento do movimento de libertação, tais como são os resultados inevitáveis dessa “política”. O fortalecimento do movimento revolucionário em todas as colônias e em todos os países dependentes, sem exceção, constitui um testemunho evidente de tudo isso. Essa circunstância é importante para o proletariado, por isso que mina pela base as posições do capitalismo, transformando as colônias e os países dependentes, de reservas do capitalismo, em reservas da revolução proletária.”(4)
Assim, como acentua a nota do Governo Soviético:

“Não é por acaso que o pacto de Bruxelas é uma aliança das potências coloniais, que, com o objetivo de conservar seus privilégios seculares nas colônias, se esforçam por utilizar o grupo militar e político atualmente criado para o fim da reprimir o movimento de libertação nacional nessas colônias”.
Um testemunho disso é a Inglaterra, que se agarra aos países do Oriente-Próximo, à Índia, à Malásia; outro testemunho é a Holanda, que desencadeia uma guerra de agressão contra a República da Indonésia; outro testemunho também é a França, em guerra contra o povo do Vietnam; mais outro testemunho é ainda a Bélgica, que quer continuar de posse das riquezas do Congo.

Essa é a explicação da situação atual; eis por que os povos estão arriscados a ser novamente lançados nos horrores da guerra. Eis por que a luta pela paz não é uma questão para amanhã ou depois de amanhã, mas é uma questão para hoje…

Essa é uma parte da resposta às perguntas feitas pela gente simples, quando indaga: “A guerra é possível?” E a resposta aos que dizem: “a guerra não virá. A guerra não pode vir”. Tais raciocínios também foram feitos antes de 1914 e antes de 1939. Deles resultaram pavorosos sofrimentos para o povo.

                                              A União Soviética, Fortaleza da Paz no Mundo

AGORA, instruídos por duras experiências, cabe-nos explicar que, se o povo não disser basta, os provocadores de guerra o precipitarão de novo na catástrofe.

Além disso, a explicação leninista sobre o imperialismo, fomentador de guerra, responde à propaganda hipócrita e mentirosa que tende colocar no mesmo plano, “a colocar lado a lado”, como igualmente responsáveis pela tensão universal, a União Soviética, o país do socialismo e da paz, e os Estados Unidos, o país do imperialismo e da guerra.

Partindo desses dados fundamentais, a nota do Governo Soviético analisa em seus pormenores a política agressiva do governo de Nova-lorque e de seus agregados de Paris e Londres.

Essa política traduziu-se de início pela assinatura do Plano Marshall, e em seguida do pacto de União Ocidental, e ainda das tentativas de organização da União Européia; prosseguiu pelas negociações com vistas a um pacto do Atlântico-Norte, que seria completado por um acordo do Mediterrâneo. No Pacto do Atlântico-Norte, além de Portugal, essa velha colônia inglesa, queriam arrastar os países escandinavos. Eis por que o Governo Soviético pediu ao Governo da Noruega que fizesse o favor de lhe dizer quais eram suas intenções a respeito do Pacto do Atlântico. Posso anunciar-vos que o Governo Soviético considerou insuficiente a resposta do Governo norueguês. O Governo Soviético declarou:

“Na declaração do Governo norueguês insinua-se que a ameaça de uma agressão poderia partir da URSS. Semelhante suposição é desprovida de fundamento, pois a Noruega não tem nenhuma razão para duvidar das intenções de boa vizinhança da URSS a seu respeito. Suas intenções tornam impossível qualquer eventualidade de agressão.
“O Governo norueguês sabe que a União Soviética sempre adotou uma atitude amistosa a seu respeito e que, durante os anos da segunda guerra mundial, contribuiu para libertar a Noruega dos invasores fascistas.
“Assim, as tropas soviéticas foram espontaneamente retiradas do território norueguês, mais depressa mesmo do que o desejava o próprio Governo norueguês”.
Acrescenta o Governo soviético:

“Se, entretanto, o Governo norueguês duvida ainda das intenções de boa vizinhança da União Soviética, esta última, a fim de dissipar qualquer equívoco, propõe ao Governo norueguês a conclusão de um pacto de não-agressão, pondo um termo, dessa maneira, a todos os seus temores”.
As coisas estão nesse pé.

Quanto ao acordo do Mediterrâneo, tem este por fim agrupar com a França, a Itália, a Espanha de Franco, a Grécia de Tsaldaris, e a Turquia — a Turquia não beligerante durante a última guerra e sempre hostil para com a União Soviética. Aqueles que estendem pelo mundo sua rede de guerra, que tentam organizar malha por malha o isolamento, o cerco da União Soviética, que tentam preparar as condições de sua agressão à URSS, esses pretendem, hipocritamente, que não se trata, para eles, senão de defender a paz, de assegurar a defesa nacional de seus países respectivos.

Será necessário acentuar muito particularmente o que pode haver de ridículo e de odioso, para nós, franceses, numa pretensão semelhante, quando se pensa que os acordos que alienaram a independência de nosso país tendem, paralelamente, a reconstruir o poderio do agressor alemão? Estão se apoiando no aliado alemão ocidental como, de outro lado, se apóiam no Japão. Mas também no Japão o povo parece querer levar em conta as lições da história: ele acaba de dar ao valoroso Partido Comunista Japonês sua primeira grande vitória eleitoral.

Mas, como disse Zdhanov, há 18 meses:

“Entre o desejo dos imperialistas de fazer explodir uma nova guerra e a possibilidade de organizá-la, há uma imensa distância”.(5)
O Governo soviético declara em sua nota:

“Não se deve, entretanto, esquecer que a conclusão de semelhantes pactos não dá ainda nem a garantia nem a possibilidade de realizar os objetivos agressivos visados por seus instigadores…”
A nota recente do Governo Soviético e as declarações do camarada Stálin lançaram uma luz fulgurante sobre os preparativos de uma nova guerra, levados a efeito pelo governo dos Estados Unidos e seus protegidos de Paris e Londres.

A nota soviética acentua, com razão, que o bloco ocidental, que a Santa-Aliança de Bruxelas constituem uma aliança de potências colonialistas apoiadas nos Estados Unidos contra seus próprios povos, contra a classe operária da metrópole e contra os povos mantidos sob o jugo colonialista pela violência e pela guerra.

As declarações do camarada Stálin, suas repetidas propostas no sentido de uma entrevista com o presidente Truman, encostaram à parede os provocadores de guerra. Essas declarações deram mais uma prova de que o governo dos Estados Unidos e, no seu séquito, os da França e da Inglaterra, não querem chegar a acordo com a URSS, pois isso dificultaria sua política de agressão.

                                                    A Guerra Nem é Fatal, Nem Necessária

E NESTE ponto, eu gostaria de responder a mais algumas perguntas. Ao contrário do que talvez se pense, a guerra não é nem fatal nem necessária. Lênin exprime a idéia de que uma “série de revoluções poderia impedir a guerra”. Considerável movimento de massa, contra a guerra, vem sendo realizado. E à frente do campo da paz encontram-se a União Soviética e os países de democracia popular. Não se pode, de forma alguma, subestimar a importância e o papel da União Soviética. A União Soviética já não é mais um país como os outros. A União Soviética é o país do socialismo, é o país onde os operários e os camponeses, dirigidos por Lênin e Stálin, pelos bolcheviques, abriram a primeira brecha no sistema capitalista. Há 31 anos que vimos acompanhando apaixonadamente os esforços de nossos camaradas da União Soviética. E não os acompanhamos apenas, mas, na medida de nossas forças, respondendo ao apelo de Lênin, respondendo ao apelo de Stálin, nós nos batemos para garantir a solidariedade de nosso povo para com a União Soviética. O testemunho vivo dessa solidariedade, nossa glória e nossa honra, são André Marty, Charles Tillon, todos os seus companheiros do Mar Negro, soldados e marinheiros. É também Jeanne Labourbe, são todas as francesas que já manifestaram, às vezes à custa da própria vida, sua indefectível dedicação ao país do socialismo, à União Soviética.

Mas nós não somos apenas proletários que vêem no regime instaurado na União Soviética a antecipação do regime que nós próprios construiremos um dia em nosso país; somos franceses e francesas que sabem que uma dos mais firmes garantias da segurança e da independência de nosso país é a amizade e a aliança franco-soviética.

Na rádio de Londres, a 20 de janeiro de 1942, o general De Gaulle declarava:

“Se na ordem estratégica ainda não se produziu nada de mais frutuoso do que a derrota infringida a Hitler por Stálin na frente européia oriental, na ordem política o aparecimento certo da Rússia na primeira fila dos vencedores de amanhã, traz à Europa e ao mundo uma garantia de equilíbrio de que nenhuma potência, mais do que a França, tem bons motivos para se felicitar. Para desgraça geral, com demasiada freqüência durante séculos, a aliança franco-russa foi impedida ou entravada pela intriga e pela incompreensão. Nem por isso deixa de continuar a ser uma necessidade que temos visto surgir em cada período da História…”
“Nesse domínio, a França só espera o furor dos traidores e dos covardes que a entregariam ao inimigo. Essa gente não deixará de gritar que nossa vitória ao lado da Rússia provocaria entre nós a subversão social que teme acima de tudo. A nação francesa despreza esse insulto suplementar. Ela se conhece bastante a si mesma para saber que a escolha de seu próprio regime constituirá sempre uma questão inteiramente sua. Aliás, ela já pagou demasiadamente caro a vergonhosa aliança dos privilégios e da internacional das academias”.
A verdade que De Gaulle ontem exprimia continua a ser a verdade de hoje. O povo de França continua a manter o sentimento de que a aliança franco-soviética é ainda uma necessidade. Eis por que as massas fazem tal acolhimento à nossa declaração solene:

“O povo francês não fará, nunca fará guerra à União Soviética”.

                                                Crescem no Mundo as Forças da Paz

E AO LADO da União Soviética, eis os países de democracia popular, onde o novo poder realiza as funções de ditadura do proletariado, e onde se acaba de efetuar um passo considerável para a unificação dos partidos operários, na base dos princípios do marxismo-leninismo. Eis os países de democracia popular que avançam a passos largos no caminho da reconstrução, do desenvolvimento de suas indústrias e que serão alcançados, mais cedo ou mais tarde, pelos povos da Iugoslávia, livres da quadrilha nacionalista de Tito, que vem traindo os interesses da Revolução.

Eis o valente povo grego, com seus gloriosos guerrilheiros que deixam em dificuldades os mercenários de Tsaldaris, providos da técnica americana.

Eis os exércitos da China democrática nas portas de Nanquim e de Hankow: 250 milhões de chineses, desde já sob a bandeira da China libertada e guiada por nosso camarada Mao Tse Tung, que estipulou as condições para o armistício. E quando seus interlocutores dizem: “Vamos discutir”, Mao Tse Tung, lhes responde em nome dos exércitos populares, em nome do povo chinês: “Não se trata de discutir; trata-se, pura e simplesmente, de aceitar”.

Eis, há mais de dois anos, o combate heróico do povo do Vietnam, sob a direção de Ho Chi Minh, presidente da República do Vietnam.

Eis também a luta dos povos da Indonésia, a luta dos povos da África Negra, de Madagascar, a luta dos norte-africanos para conquistar suas liberdades.

Por todo lado, o frêmito dos povos em marcha para a libertação, para a independência nacional. E retomo, aqui, o raciocínio já iniciado ontem, nesta tribuna. Haverá, por acaso, camaradas que imaginam que a França se tornou um oásis de tranqüilidade nesse mundo em ebulição? Aqueles que se deixam influenciar pelas campanhas do inimigo burguês e de seus agentes social-democratas ou outros, aqueles que imaginam que em outras partes se combate, alcançam-se vitórias, mas que aqui é diferente, esses não enxergam um palmo adianta do nariz.

                                                                                  Na França

É VERDADE que aqui ainda não há vitórias na mesma escala, mas essas vitórias virão, estão vindo cada dia que se passa. Nós as preparamos na luta e é precisamente a batalha que se deve travar. Nossos camaradas da Itália estão em condições sensivelmente idênticas. Pensai nesses três milhões e meios de assinaturas de mulheres italianas levadas à última assembléia da Organização das Nações Unidas! Pensai nessa batalha do proletariado italiano, unido pelo pacto de unidade de ação entre comunistas e socialistas da esquerda, que obriga até mesmo Saragat, até mesmo os socialistas da direita a repudiar, ao menos em palavras, as possibilidades de acordo militar entre a Itália e os imperialistas americanos! Vontade de paz afirmada por esse povo que luta.

E aqui, em nossa terra, será verdade que o inimigo já terá dobrado a vontade de paz das massas laboriosas, a vontade de luta dos trabalhadores? Será verdade que Jules Moch venceu no seu ataque odiento contra o Partido Comunista?

Quem poderá afirmá-lo? Se nossos adversários falam de reviravoltas, isso quer simplesmente dizer que até agora eles partiram os dentes em suas tentativas de desferir golpes contra nós. Isso não significa que a luta esteja terminada. Muito longe de regredir, nossa influência progride e continuamos a desenvolver nessa ação à vanguarda das massas. Mais uma vez, porém, certos camaradas não vêem essa realidade; acreditam no que lhes conta o rádio mentiroso; acreditam no que lhes diz a imprensa inimiga; acreditam no que lhes repete “Franc-Tireur”. Sim, certos camaradas acreditam mais no que lhes falam os adversários do que no que lhes diz seu Comitê Central. Aliás, isso não é coisa nova nem peculiar à França. Na “História do P.C. (b)” da URSS, Stálin escreveu que os operários, no período de abril a outubro de 1917, davam às vezes provas de uma “absurda credulidade”. E acrescentava:

“Mas a excessiva credulidade dos operários e dos soldados ia pregar-lhes uma boa peça”.
Sim, os operários são assim. São generosos e crédulos ao excesso. O inimigo bem o sabe. É por isso que tenta fazer vibrar qualquer corda sensível, e então operários, militantes, deixam-se influenciar e desarmar.

                               Desde a Libertação Nosso Partido Continua a Progredir

ENTRETANTO, se examinarmos o caminho percorrido, é claro que a situação em que nos encontramos em fevereiro de 1949 não é exatamente a mesma em que estávamos — digamos há 15 anos, em fevereiro de 1934 — quando então contávamos 30.000 membros no Partido. Não é exatamente a mesma que tínhamos em setembro de 1939. O Partido, em razão de seu mérito diante da classe operária, diante do povo, em razão de sua dedicação e do sacrifício de seus militantes, o Partido cresceu muito em influência, em organização, em capacidade política. E depende de todos vós a possibilidade de crescermos ainda mais e com maior rapidez.

E desde a libertação, em condições difíceis, nosso Partido continuou a progredir.

Tivemos de travar uma grande batalha política contra a coalizão das forças reacionárias, apoiadas pelas forças de ocupação anglo-saxônicas. Uma batalha contra as forças do passado, alinhadas desde a libertação, atrás de De Gaulle, que então dispunha de um amplo crédito e de apoio em todos partidos, exceto no nosso.

Quem poderia negar os sucessos alcançados nessa batalha? De Gaulle pretendia subjugar-nos e isolar-nos. Fomos nós que conseguimos desmascará-lo como homem da pior reação, como um aspirante à ditadura.

É na luta que os partidos da classe operária, que os povos aprendem; é na batalha que eles aprendem a julgar uns e outros. Acreditais que De Gaulle tenha, atualmente, a mesma autoridade no país que tinha em agosto de 1944?

Mas talvez, direis vós, outros tenham ganho o que De Gaulle perdeu. Quem? Léon Blum? O Partido Socialista com seus dirigentes “furadores de greve” e “colonialistas”? Que foi de fracasso em fracasso em cada escrutínio, que conheceu uma primeira mutilação séria com o afastamento de nossos companheiros socialistas unitários.

Quem, o M.R.P.? Bidault? Schumann e Cia.? Esse partido perdeu três quartos de seus eleitores. O povo da França não perdoará aos dirigentes do M.P.R. o fato de haverem presidido a política de traição nacional, particularmente quanto à questão alemã e os graves problemas da segurança • das reparações.

Quem mais? Queuille? E André Marie? Com sua política hostil aos camponeses, ao povo em geral, e favorável apenas aos privilegiados, aos antigos colaboracionistas?

Nessa batalha, quem está recuando? Nós ou os outros? Examinai o balanço geral. Não se trata de tomar os próprios desejos como realidades. Não se trata de falar de revolução, trata-se de criar as condições para realizá-la e a primeira das condições é arrastar as massas conosco, organizá-las solidamente na ação geral por pão, liberdade e paz.

Trata-se, de acordo com os princípios da estratégia leninista-stalinista, de desferir golpes e isolar aqueles que poderiam fazer hesitar uma parte da classe operária, uma parte dos elementos populares no momento da batalha decisiva. Temos nós essa possibilidade? Sem dúvida alguma! Mas ainda não realizamos completamente essa tarefa. Temos de fazer muito mais.

Estamos agora numa situação em que a burguesia utilizou uns após outros todos os seus partidos, ouso mesmo dizer, todos os seus homens. Doravante não existe, aos olhos do povo, como aos olhos da maioria da classe operária, senão um único sucessor possível e certo: o Partido Comunista que, amanhã, conduzirá a França para um novo e feliz destino.

                                A Classe Operária Reconhece os Seus Combatentes

ESSE RESULTADO político não foi alcançado por simples afirmações, pela expressão de desejos piedosos. Foi atingido por uma batalha tenaz, encarniçada em todos os terrenos, uma batalha para ganhar, na luta reivindicatória e política, cada operário, cada camponês, para ganhar as mulheres, os jovens, os intelectuais.

A classe operária pouco a pouco reconhece os seus. Já não está no poder de quem quer que seja apagar, doravante, os páginas da história do nosso partido. Será conveniente, porém, que os próprios comunistas apreciem esse capital precioso; que o apreciem e que saibam fazê-lo frutificar, que não o deixem, de forma alguma, ser prejudicado pelas campanhas dos adversários, mas que, ao contrário, saibam utilizá-lo a fim de desfechar novos golpes contra o adversário e de ampliar ainda mais a irradiação do nosso Partido.

É precisamente nesse plano, é sob esse ângulo que devem ser julgados as últimas grandes batalhas, a batalha dos mineiros em particular. É verdade que houve camaradas que puderam dizer: “A greve dos mineiros foi um fracasso”. Não insisto nem sequer sobre o fato de que, às vezes, aqueles que disseram isso não fizeram grande coisa para ajudar seus companheiros mineiros, nem no plano da solidariedade financeira, nem no plano da simples ação. Eles se parecem um pouco com aquele camarada de que falamos ontem, e que dizia: — “Que venha quanto antes a greve geral” e que não parou o trabalho em 13 de novembro último. E, no entanto, é verdade, também para os comunistas, que “quem pode o mais pode o menos”.

A grande batalha dos mineiros não cessou de fazer sentir suas conseqüências em nosso país. Ela teve uma considerável repercussão na França e no plano internacional. No plano internacional, suscitou o espanto e o furor dos patrões americanos: “Como, com essas operações militares e de guerra civil, com os tanques, com os C. R. S., com o assassinato de vários mineiros, sem falar nos furadores de greve da chamada Federação Operária, não se consegue acabar com uma greve que dura há dois meses? Mas como garantir, nessas condições, a retaguarda da guerra contra a União Soviética?”

Entre nossos amigos e nossos camaradas, entre nossos irmãos dos países de democracia popular e da União Soviética, a greve dos mineiros provocou um vivo movimento de solidariedade financeira. Foi em centenas de milhões que os mineiros soviéticos, os mineiros húngaros, os mineiros romenos, os mineiros tchecos auxiliaram seus irmãos da França.

Eis quanto ao plano internacional.

Vejamos quanto ao plano interno. O objetivo do governo consistia em afastar o problema angustiante dos preços e dos salários. Muito longe de alcançar tal objetivo, foi-lhe necessário dar satisfação a outras categorias de trabalhadores, de forma que, hoje, a questão está colocada para a totalidade dos operários.

Tratava-se, ainda, de desfechar um golpe contra o movimento operário, particularmente contra seu destacamento mais corajoso, aquele que soube colocar-se à sua vanguarda, tanto na batalha pela libertação quanto no esforço de reconstrução e de produção, na época em que essas questões estavam sendo colocadas.

O governo queria desferir um golpe contra os mineiros; ora, quase todos os dias, em qualquer ponto de nossas bacias, surge uma greve, um movimento, uma interrupção parcial do trabalho. A organização dos mineiros, para tristeza do governo, vai indo muito bem. Posso vos dar essa certeza, apesar dos dois mil camaradas ainda presos neste momento. Deve-se dizer que não se tem feito o necessário para arrancar os mineiros à prisão. A greve dos mineiros, depois da greve de novembro de 1947, viu eleva-se o nível de combatividade da classe operária, viu os progressos constantes da consciência de classe entre os proletários em luta. É há camaradas que não vêem isso! Falta-lhes a fé na classe operária; falta-lhes a fé na força e na capacidade da classe operária; eles se deixam impressionar pelo alarido do adversário. Asseguro-vos que não são os operários, os comunistas, que duvidam do futuro, mas sim os privilegiados e seus agentes, aqueles que se mantêm, tremendo, em seus ministérios e em seus escritórios. Esses tremem perante as forças crescentes da classe operária, perante o povo da França. Tremem perante os resultados das eleições municipais que afirmam, pela França inteira, de Malakoff ao Havre, d’Epernay a Mulhouse, de Romilly a Firminy e a Grenoble, a confiança crescente das populações em nosso partido. Por que tremem eles? Não foi porque conquistamos mais duas cadeiras num Conselho Municipal, mas porque, em primeiro lugar após seus ataques encarniçados contra nós, eles devem estar percebendo a evidência: os trabalhadores estão cada vez mais ligados ao nosso Partido. Em segundo lugar, porque não conseguiram afastar de nós os amigos certos com os quais nos ligamos na batalha da resistência, amigos que não são comunistas, que são republicanos e que disseram, de uma vez por todas:

“Fieis ao espírito da resistência, queremos, como vós, fazer uma França diferente, e apesar do ataque dirigido contra vós, ficaremos convosco, continuaremos a luta por um governo de união democrática, pela República, pela paz.”

                                                   A Mais Ampla União na Ação Pela Paz

CAMINHAMOS para um governo de união democrática. Lutamos pela transformação cada vez maior da correlação de forças em favor do paz contra os fomentadores de guerra.

É a questão decisiva do momento. Devemos caminhar com audácia para uma união mais ampla, levando em conta precisamente a ardente vontade de paz que está no coração das massas, levando em conta as aspirações que impelem para nós os trabalhadores socialistas, os trabalhadores católicos. Essa corrente é tão profunda entre os católicos, que o Cardeal Arcebispo de Paris se vê obrigado. a declarar não que “Eu vos proíbo o entendimento com os comunistas”, mas “Eu vos proíbo de dar uma feição PERMANENTE ao vosso entendimento com os comunistas”.

Dessa maneira, portanto, grandes possibilidades se abrem para nós. Nossa tarefa, nosso dever imperioso e urgente é de trabalhar no sentido de reunir, em nosso país, todos os partidários da paz sem que se trate de exigir de cada um deles qualquer outra profissão de fé além de seu amor pela paz e de sua vontade de lutar pela paz e pela democracia.

Quanto a nós, comunistas, embora exigindo o direito de afirmar nosso ponto de vista em todas as circunstâncias, nós admitimos perfeitamente que se possa pensar de maneira diferente da nossa a respeito de vários problemas, inclusive sobre a questão, no entanto tão importante, das causas profundas desses novos perigos que ameaçam a paz. Só queremos levar em conta uma coisa que passa à frente de todas as demais: a necessidade, a urgência imperiosa da união para a paz.

Como durante aquelas jornadas de 1934, cujo aniversário celebramos, como durante a resistência glorioso oposta ao ocupante hitlerista e à traição de Vichy, os comunistas só ambicionam formar entre os melhores.

Desse ponto de vista, há por vezes, em nossa, fileiras, algumas manifestações de estreiteza. Devemos, portanto, insistir sobre as noções elementares da tática da frente única.

Eis o que, em relação a essa questão da luta pela paz, Lênin escrevia em outubro de 1915, num artigo intitulado: “O primeiro passo”:

“O Manifesto (de Zimmerwald) não falava nitidamente, abertamente, sem equívocos, nos métodos revolucionários de ação (contra a guerra imperialista)…
“Nosso Comitê Central deveria ter assinado manifesto inconseqüente e timorato? Pensamos que sim… que esse manifesto constitui um passo para a frente… é um fato confirmado. Seria sectário recusar dar esse passo para a frente, com a minoria dos alemães, dos franceses, dos suecos, dos noruegueses, dos suíços, quando conservamos nossa plena liberdade de movimento e a possibilidade total de criticar as inconseqüências presentes, trabalhando para conseguir maiores resultados. Seria uma pobre tática recusar marchar com o movimento internacional crescente de protestos contra o social-chovinismo, unicamente por que esse movimento constitui “apenas um passo para a frente” e desejará, sem dúvida, amanhã, dar um passo para trás e reconciliar-se com o antigo bureau socialista internacional.”
Alguns camaradas esqueceram esse ensinamento de Lênin. Não é verdade que milhões e milhões de homens e de mulheres, e que não são comunistas, querem sinceramente a paz? Acontece, às vezes, que esses homens, essas mulheres dão ouvidos aos maus pastores que procuram confundir as cartas e manter as ilusões. E não saberíamos nós fazer, como em 1934, e antes disso ainda, a diferença entre aqueles que enganam e aqueles que são enganados? E, mais ainda: quando homens que fazem figura de militantes “pacifistas” são obrigados, sob a pressão das massas, a dar um passo para a frente, como escrevia Lênin, não saberemos nós dizer: “Muito bem para esse primeiro passo, mas não parem aí”. Ou os deixaríamos, ao contrário, dar um passo porá trás? Nesse caso estaríamos faltando ao nosso dever de comunistas.

Lênin criticava as inconseqüências da esquerda socialista de Kienthal e de Zimmerwald, mas trabalhava com esses representantes e seguia para adiante, ao mesmo tempo que defendia o ponto de vista do Partido Bolchevique em todas as questões.

Em 1922, o governo soviético, dirigido por Lênin, enviava ao Congresso de Haia uma delegação que ali se encontrava com os dirigentes dos sindicatos e das cooperativas reformistas, com os dirigentes da social-democracia, com os representantes dos movimentos puramente “pacifistas” e pequeno-burgueses.

Quando das jornadas de fevereiro de 1934, cujo XV aniversário estamos comemorando, como conseguimos impelir para a frente o movimento? Foi organizando sob o signo da união, a ação dos operários parisienses, a 9 de fevereiro; depois a ação dos trabalhadores de todo o país, 12 de fevereiro. Dizíamos, então — “Frente única a qualquer preço”. Lembro-me ainda de alguns camaradas, desses que gostam de complicar tudo, e que diziam, naquela época: “Como? Frente única a qualquer preço? Vamos, então, renunciar ao Partido?” Como se pudesse caber, nesse “a qualquer preço”, o desaparecimento do Partido!

A fórmula dizia apenas o que queria dizer, isto é, que estávamos decididos a afastar todos os obstáculos para obter a frente única. Dimitrov pôde dizer no VII Congresso da Internacional Comunista, em 1935:

“O mérito do Partido Comunista Francês é o de ter compreendido o que tem de ser feito hoje, não ter dado ouvidos aos sectários que abalavam o partido e dificultavam a realização da frente única de luta contra o fascismo e de ter, ao contrário, preparado corajosamente, à maneira bolchevique, por um Pacto de Ação comum com o Partido Socialista, a frente única do proletariado, como base da frente popular anti-fascista em formação”.
Mais tarde, a Frente Popular nos levava às formulações da Frente Francesa, depois, sob a ocupação, à idéia e à organização da Frente Nacional. E tudo isso estaria acabado, agora? Será que desejamos viver apenas entre nós e a só contar com aqueles que falam e pensam como nos? É necessário dar um novo passo, e vós o compreendereis. É absolutamente necessário reunir, organizar todas as forças da paz. Não existe, atualmente, tarefa mais urgente. E, com isso, continuar, ao mesmo tempo, como Lênin nos ensina, a combater as ilusões, os erros, as fraquezas e a recordar, incessantemente, que o essencial é a ação.

“O menor passo para a frente vale mais do que doze programas”, dizia Marx. Isso não quer dizer que devemos desprezar os programas, mas é preciso, antes de mais nada, levar em conta a vida. É preciso lutar pela paz e responder às questões que a vida nos apresenta.

                             Responder a Todas as Perguntas Feitas Pelo Povo Francês

JA FOI acentuado, nesta tribuna, que nas células, nas secções não só não se responde às perguntas feitas pelos militantes ou pelos aderentes do Partido, mas que ainda os censuram por fazer perguntas. Escutai o que diz Lênin:

“Não se pode falar em preparativos para a luta contra a guerra ou mesmo adotar uma atitude consciente a seu respeito, se não se deseja analisar as opiniões e explicar o inevitável aparecimento das mesmas e a importância decisiva que elas têm na questão da luta contra a guerra”.
Não somos oportunistas que enfiam a cabeça debaixo do capucho para não ver as dificuldades e que tampam os ouvidos para não ouvir os perguntas, a fim de não ter que responder. Não devemos temer as perguntas, devemos responder a todas elas.

“Não tememos as dificuldades, os bolcheviques estão aí para superar as dificuldades” — disse Stálin,
Se fazem perguntas, é necessário que se dêem as respostas. Por exemplo: é preciso mostrar a posição decisiva da França e lutar para arrancar nosso pais ao campo imperialista e conduzi-lo ao campo democrático e de defesa da paz. Podemos e devemos descarregar um golpe decisivo contra a estratégia dos imperialistas americanos, que se baseia na transformação de nosso país em base de operações e de agressão contra a União Soviética. O Sr. Paul Schaeffer, vice-presidente da Comissão dos Representantes americanos, de passagem em Berlim, declarou:

“Um embate de forças com a União Soviética será, tarde ou cedo, inevitável, e quanto mais cedo melhor… Se a França disser que não, isso tornará as coisas difíceis no início”.
Pois bem, temos de dizer que não e agir de tal forma que as “coisas” se tornem impossíveis.

Isso serve de esclarecimento para a oca gente que se sente decepcionada com a rejeição, pelo Departamento de Estado norte-americano, do convite de Stálin.

Fazem certas perguntas, como, por exemplo: Deve-se estimular, agora, a produção de material de guerra? Por que não responderiam os comunistas a semelhante pergunta? E para responder a essa pergunta, é necessário, preliminarmente, examinar qual a guerra que está sendo preparada pelos governantes.

É muito claro. Logo em seguida à libertação, para terminar vitoriosamente e o mais depressa possível a guerra contra Hitler, nos lançamos a um esforço intenso de produção em geral e de produção de armamentos em particular. Hoje, nossos governantes, sob as ordens dos norte-americanos, dirigem operações de guerra civil em nossas bacias mineiras, fazem uma guerra colonialista, injusta, contra o Vietnam e preparam uma guerra imperialista contra a União Soviética.

É necessário tirarmos todas as conseqüências desses fatos e em todos os setores, diplomático, militar, de armamentos. É necessário dar as respostas exigidas pelos trabalhadores, a menos de faltar ao nosso papel de guia da classe operária.

No plano diplomático, nosso programa de Gennevilliers já deu a necessária resposta, em seu artigo primeiro. É preciso romper com todos os tratados e acordos que alienaram a independência de nosso pais. Já não existe independência francesa, mas sim um estado cada vez mais marcante de subordinação da França a uma potência estrangeira. Nessas condições, o governo de Paris não é capaz de praticar uma política francesa, uma política de independência nacional e de defesa nacional.
Nossos governantes estão praticando uma política contrária aos interesses da França. Pode-se dizer, que o Sr. Ramadier, com seu Estado-Maior estrangeiro de Fontaínebleau, prepara um exército francês, a serviço exclusivo da França?

E os armamentos que nos autorizam ainda a fabricar em nosso país, são eles armamentos destinados a defender, quando se der o caso, a independência da França? Não; querem utilizá-los contra nossos amigos e aliados da União Soviética, contra nossos irmãos do Vietnam e contra os trabalhadores da França.

Naturalmente, não se trata de formular respostas anarquistas. Da mesma maneira como nunca dissemos aos conscritos que eles não deveriam partir para a caserna, da mesma maneira como nunca dissemos aos soldados que não seguissem até mesmo para uma guerra reacionária, também não diremos aos operários que cessem individualmente a fabricação de armamentos.

Diremos a todos os trabalhadores: É necessário travar a luta política, no sentido de não fabricar armamentos contra o povo soviético, contra o povo do Vietnam, contra o povo da França.

É uma batalha de massas. Não devemos deixar que transformem o exército francês em estribo do bloco ocidental, numa espécie de L.V.F. É necessário compreender que a situação, em 1949, se transformou em relação ao que era em 1945 ou 1946. É o conteúdo de classe da política posta em prática por esse governo que obriga a tirar todas as conclusões e a responder claramente às perguntas que nos são feitas.

Da mesma maneira devemos saber adaptar nossas palavras de ordem às transformações surgidas na situação.

Lênin, os bolcheviques, analisavam uma situação, davam uma palavra de ordem e, se a situação se transformava, a palavra de ordem era substituída. Foi assim que, em abril de 1917, a palavra de ordem bolchevique era: “Todo o poder aos Soviétes”. Os Soviétes acabavam de surgir em todas as cidades da Rússia e até nas aldeias onde os camponeses queriam terra. “Todo o poder aos Soviétes” era uma palavra de ordem justa para lutar contra as tentativas de manter, com uma assembléia provisória, o poder da burguesia por intermédio dos partidos pequeno-burgueses, mencheviques e socialistas revolucionários e dos grupos anarquistas.

Depois de fevereiro, a credulidade dos operários, permitira que esses partidos pequeno-burgueses obtivessem fortes posições nos Soviétes, deformando assim a organização nascente dos Soviétes em base de operação contra a revolução proletária. Então Lênin declarou: “Retiremos a palavra de ordem de “Todo o poder aos Soviétes”. Dois meses depois, em fins de setembro, Lênin estava na ilegalidade, em sua cabana na Finlândia. A metade dos membros do Comitê Central era perseguida. Mas o impulso das massas acentuava-se, pois a credulidade tem limites. Os fatos encarregaram-se de abrir os olhos dos soldados, dos operários, dos camponeses russos, e eles voltaram em massa para os Soviétes. Deram a maioria aos bolcheviques em todos os centros decisivos, em Petersburgo, em Moscou, em Ecaterimburgo, no Donetz. Então Lênin proclama novamente: “Todo o poder aos Soviétes”. E os Soviétes tomaram todo o poder, com Lênin, Stálin e os bolcheviques à frente das massas. Podeis verificar tudo isso nos informes da época.

                                                    Devemos Lutar por uma Indústria a Serviço da Paz

MAS, AQUI, talvez os camaradas levantem uma objeção: Que acontece então à indústria nacional? Deve-se abandonar igualmente a palavra de ordem de luta para salvar a indústria francesa, para preservar nossa indústria nacional? Não, evidentemente, muito ao contrário. Devemos lutar ainda mais encarniçadamente contra o Plano Marshall, contra as tentativas de liquidação de nossas indústrias essenciais. Necessitamos de uma aviação, necessitamos de automóveis. Devemos lutar por uma indústria a serviço da paz. Semelhante indústria a serviço da paz poderia, aliás, permitir, quando se der o caso, se a situação assim o exigir e se se estabelecessem as condições de uma verdadeira defesa nacional, a produção mais rápida de todos os armamentos necessários à defesa da França.

Não queremos que se construam tanques para lutar contra os mineiros ou contra o Vietnam, mas queremos tratores para nossos camponeses, queremos aviões para nossas linhas aéreas a serem reconstruídas e desenvolvidas.

É necessário ir ainda mais longe.

Um camarada colocou, com razão, a questão na qual muitos camaradas pensam às vezes, mas temem abordar francamente porque nossos adversários tentaram realmente transformá-la numa cilada contra nosso Partido Comunista: “Que faríeis se o exército Soviético entrasse na França?

Tendo um camarada feito essa pergunta numa reunião de célula, foi-lhe respondido: “Isto não está na ordem do dia. E fazer essa pergunta é admitir a guerra”.

Leon Blum dizia a mesma coisa a nosso respeito antes de 1939:

“Dizer que se está lutando contra a guerra é, desde já, admitir a hipótese da guerra; ora, eu me recuso a admitir a hipótese da guerra”.
O que não o impediu de tomar a iniciativa da “não-intervenção” que levava à guerra nas mais desfavoráveis condições para a França.

                                O Dever Sagrado do Partido Comunista e da Classe Operária

NÓS, PORÉM, não admitimos essa hipocrisia. Devemos responder corretamente à pergunta. Alguns pseudo-revolucionários dizem ainda — “Responderemos à guerra pela revolução”. Lênin explicou inúmeras vezes que as coisas não são tão simples assim. Se, apesar de nossos esforços, apesar da resistência dos povos, os imperialistas conseguissem desencadear a guerra, isso significaria que marcaram pontos a seu favor, contra o movimento operário, e que, ao menos durante o início da guerra, as condições poderiam ser difíceis para a classe operária, para seu Partido. Eis porque, já em 1907, sete anos antes da primeira guerra, Lênin sustentava no Congresso Internacional de Stuttgart a seguinte emenda, incorporada na moção final, relatada por Vanderwelde:

“No caso em que a guerra estoure, os socialistas têm, entretanto, o dever de intervir para fazê-la cessar prontamente e de utilizar com todas as suas forças a crise econômica e política criada pela guerra, para agitar as camadas populares mais profundas e precipitar a queda da dominação capitalista”.
Como sabemos, Lênin e os bolcheviques, se conformaram com essa decisão do Congresso de Stuttgart. Karl Liebknecht, Rosa Luxemburgo nela se inspiraram na Alemanha. Em plena guerra, a 1º de maio de 1916, numa praça de Berlim, Karl Liebknecht pronunciava, vestido de soldado, um discurso contra a guerra. Preso, foi mandado para um batalhão disciplinar. Mais tarde, como Rosa Luxemburgo, foi assassinado. Ambos haviam cumprido seu dever de verdadeiros socialistas.

Os bolcheviques, com Lênin e Stálin, e apesar das dificuldades, apesar da clandestinidade, souberam realizar os objetivos de seu Partido, porque os militantes estavam preparados ideologicamente.

Se, apesar de todos os nossos esforços, a guerra estourar, é necessário que os trabalhadores, que os comunistas tenham sido preparados para a luta nas condições novas que poderão surgir para eles.

Foi assim, aliás, que nosso Partido pôde triunfar de todas as dificuldades em 1939: porque já então estava preparado no espírito da fidelidade inabalável e incondicional à causa da revolução socialista, encarnada pela revolução soviética.

Para responder à pergunta feita a respeito do Exército Vermelho, deve-se, inicialmente, afirmar com segurança que não é possível conceber uma guerra em que a União Soviética assumisse o papel de agressor contra nosso país. Nunca houve uma única guerra em que a União Soviética houvesse tomado o papel de agressor contra qualquer povo que seja; e nunca há de haver.

Ao contrário, a União Soviética teve de se defender contra várias agressões. Nos primeiros tempos do poder soviético, quando o país socialista ainda era fraco, a luta foi às vezes muito difícil, com as quatorze potências coligadas contra a URSS.

Mas a Revolução e o Exército Vermelho triunfaram. E mostraram-se capazes de travar vitoriosamente a grande guerra de libertação dos povos contra o fascismo hitlerista. Felizmente para nosso país, não é verdade?

Por outro lado, quando caluniam a União Soviética, atribuindo-lhe intenções agressivas, o que se quer esconder ao povo é que, por enquanto, há efetivamente tropas de ocupação na França, há um Estado Maior estrangeiro em Fontainebleau, e que o governo sob as ordens dos norte-americanos transforma nosso país numa base de agressão contra a URSS e que está soçobrando numa política de intrigas contra a União Soviética.

Se um governo semelhante fosse até o fim da sua política de agressão contra a União Soviética, e se o Exército Vermelho, defendendo as conquistas da revolução, tivesse de perseguir os agressores do bloco imperialista ocidental até no solo da França, porque, em tais condições, a atitude dos proletários e do povo da França deveria ser diferente da dos proletários, dos povos da Polônia, da Romênia, da Bulgária, da Iugoslávia, da Tchecoslováquia, da Hungria, que aclamaram seus libertadores do Exército Soviético? (Todos os delegados, de pé, aplaudem prolongadamente).

Se devêssemos ser um dia arrastados pela loucura de nossos governantes — que teriam, decididamente, o gosto do suicídio — como o notava Molotov no XXX aniversário da União Soviética, se jamais se produzisse semelhante eventualidade, saberíamos, então, cumprir nosso dever, todo o nosso dever, para com a classe operária, para com o nosso país, para com o socialismo.

“Nesta luta pela consolidação da paz universal e da segurança internacional — declara a nota do Ministério das Relações Exteriores da União Soviética — a União Soviética considera como seus aliados todos os outros países amantes da paz e todos os incontáveis partidários de uma paz universal e democrática…”
Isso quer dizer que o governo soviético, que o camarada Stálin pessoalmente, consideram os povos, consideram os proletários de todos os países, e entre eles os proletários da França, como aliados da União Soviética. Essa confiança por parte do camarada Stálin muito nos honra e nos desvanece. E nós lhe dizemos:

“Ficai certo, caro camarada Stálin, que nos anos que se aproximam, tanto quanto em 1919 e em 1939, não tereis que vos envergonhar de vossos filhos espirituais da França” (Ovações dos delegados que se erguem e aclamam prolongadamente o nome de Stálin).

                                      A Luta Pela Paz é Ligada à Ação Reivindicatória

EM MINHA intervenção, em nome do Comitê Central, acentuei o problema capital da luta pela paz. Mas não é preciso dizer que essa batalha só terá a possibilidade de vitória se for ligada à atividade quotidiana reivindicatória de todo o Partido.

As lutas se desenvolvem em vossa região parisiense com a greve de Panhard, a greve dos que trabalham em hospitais. Ela se ampliará ainda mais se os comunistas e, particularmente, os comunistas que a confiança dos sindicalizados colocou à frente das grandes organizações operárias souberem dar valor a todas as reivindicações, por menores que sejam.

Além disso, não é evidente que as pesadas despesas militares a que o Plano Marshall constrange nosso país são, em grande parte, responsáveis das dificuldades econômicas e financeiras? O dinheiro que se está gastando para a guerra do Vietnam, para a preparação da guerra anti-soviética, deveria ser gasto para a reconstrução do país, para melhorar a situação dos trabalhadores, dos infelizes, para ajudar os camponeses e os artesãos, para aliviar a penúria dos velhos trabalhadores.

Assim, a batalha pela paz acha-se ligada à toda a nossa atividade geral pelas reivindicações e à luta pela liberdade: inquilinos, ex-combatentes, ex-prisioneiros de guerra, operários, camponeses, intelectuais, mulheres, jovens, todos estão interessados na mesma luta. E, a esse respeito, permiti que eu estimule nossos jovens camaradas que querem mostrar-se cada vez mais enérgicos, mais ativos, como nós também o éramos, quando tínhamos vinte anos.

             Elevar o Nível Ideológico do Partido, da Classe Operária, das Massas

DESEJARIA dizer algumas palavras, rapidamente, sobre os problemas próprios do Partido. Dessa exposição sobre os problemas da luta pela paz surge uma primeira conclusão: “Todas essas questões terão sido abordadas com bastante nitidez na própria preparação de vossa Conferência Federal? Não. É um erro, um erro grave. É preciso progredir, é preciso fazer o cérebro trabalhar, tornar todos os militantes, todas as organizações do Partido capazes de realizar plenamente suas tarefas. Isso quer dizer que é necessário fazer um esforço considerável no sentido de educar os quadros do Partido, de educar os trabalhadores, de educar as massas em geral. Fazer um esforço para a educação dos jovens militantes, nas escolas, nas conferências, na ação. Fazer ainda um esforço no sentido de reeducar os antigos militantes, porque às vezes alguns camaradas esquecem, ou se deixam superar pelos acontecimentos. São bons camaradas, mas não marcham ao ritmo da nova época. Stálin chamou muitas vezes nossa atenção para aqueles que se deixam distanciar:

“É preciso caminhar com as massas, caminhar um passo à frente, um passo que seja, mas um passo à frente, e nunca seguir atrás das massas”.
Aconteça que o espírito de classe, o espírito de partido se debilitaram em alguns. Não insisti sobre esse ponto, porque a questão foi fortemente colocada no informe de Raymond Guyot e foi objeto de uma excelente intervenção de André Marty, que falou contra o “paternalismo”, contra as conseqüências de uma certa corrupção ideológica e até certo ponto material, na qual estariam soçobrando alguns delegados dos Comitês de Empresas.

Foi oportuno que camaradas tão autorizados quanto Benoit Frachon e Gaston Monmousseau houvessem chamado a atenção de todos os trabalhadores e de todos os militantes para esse perigo, a fim de que se, possa compreender a importância do reerguimento a ser feito.

                                                                     Menos, Porém Melhor

ORA, em certas conferências de seção, fizeram a seguinte pergunta: “Lestes os artigos de Frachon em “L’Humanité”? E os camaradas responderam: Não! Lestes os artigos de Monmousseau em “La Vie Ouvrière”? Não! Conheceis o artigo do camarada Lecoeur sobre as usinas Renaut, publicado em “France Nouvelle”? — Não!

Que leis vós então, camaradas? — perguntaram aos delegados. — Bem sei, que direis que nem sempre tendes tempo. Os militantes são sobrecarregados de tarefas, é verdade.

Será preferível, então, seguir o preceito de Lênin: menos, porém melhor. É necessário tentar não se deixar sobrecarregar por todas as pequenas tarefas. Essas tarefas, devemos realizá-las, porém não sozinhos. É preciso realizá-las, junto com todos os camaradas da célula, com todos os camaradas da seção, velando pelo trabalho coletivo, a fim de que todos tenham a possibilidade de ler, de estudar, de se elevar politicamente e de se tornar também os educadores da classe operária.

Que enfraquecimento do espírito de partido na célula ou seção onde, durante meses e meses, puderam desenvolver-se campanhas de desmoralização do Partido e de seus militantes, campanhas que tendem a desorganizar o Partido, sem que os membros dessas células ou seções, e sobretudo os dirigentes, reagissem imediatamente. Como pode um militante apresentar-se perante seu Partido, se não defendeu, em todas as ocasiões, seu Partido, se não defendeu seu Comitê Central, se não defendeu os seus. Como lutar contra o inimigo se não se possui o espírito de partido, e se não se tem no coração o amor por Lênin e por Stálin?

É preciso também que os operários parisienses, que os militantes comunistas parisienses consigam superar suas fraquezas. Outrora reinava, sobretudo na Região parisiense, o estado de espírito individualista, que fez com que Lênin dissesse:

“O que mais prejudica a França é a frase anarquista”.
Conseguimos fazer com que os anarquistas e os anarco-sindicalistas recuassem, ganhamos a classe operária, mas resta ainda qualquer coisa deles.

O espírito individualista e pequeno-burguês permanece. Demasiado é o número dos camaradas ainda afligidos por uma espantosa susceptibilidade, o que impede de dizer umas boas verdades a um comunista, como se deve dizer, muito nitidamente, muito francamente. Há quem faça alguns mexericos fora de sua célula ou de seu comitê do Partido. Semelhantes métodos não são admitidos entre nós! Não se debate a questão do Partido na rua. Discutem-se essas questões nos comitês, nas células; na rua luta-se para aplicar a política do Partido, e para defender, em todas as ocasiões, o Partido e seus militantes.

                                            Ler e Conseguir Leitores para “L’Humanité”

HÁ AINDA outra fraqueza da qual é necessário que nos curemos: a generosidade do proletariado parisiense é lendária. O espírito internacionalista de um proletário parisiense faz com que um operário parisiense se sinta realmente o irmão dos operários estrangeiros, o irmão de todos aqueles que eram outrora expulsos dos países que depois se tornaram os países da ditadura do proletariado, o irmão dos trabalhadores norte-africanos ou vietnamês que vinham para a metrópole. Nunca se sentiu num proletário parisiense o menor vestígio de superioridade “racial”, de anti-semitismo, e, menos ainda, qualquer desprezo por seus irmãos de cor.

E, no entanto, esse proletariado tão generoso tem um lado fraco, que o inimigo, com habilidade rara, sabe explorar. Ele ama a “pilhéria”. E porque gosta da pilhéria, mantém o espírito farsista, o espírito de “Canard-Enchainé” e “Franc-Tireur”, que pretende rir de tudo… e que leva, simplesmente, a duvidar de tudo… Contam-se histórias sobre os políticos dos diversos partidos da burguesia e aos poucos se vão insinuando nessas histórias os nomes de militantes comunistas, até o dia em que não se tratará mais de uma graçola que faz sorrir — e contra a qual já se deveria reagir com espírito de partido — mas, como por exemplo, esta manhã, no “Franc-Tireur”, escreve-se que foi um membro do Comitê Central quem teria interferido para arquivar o caso Sainrapt-Bríce, e nesse artigo desenvolvem-se sistematicamente as teses confusionistas e trotskistas que levam água ao moinho dos provocadores de guerra.

E contra esse veneno ideológico não se faz tudo quanto se deveria para difundir “L’Humanité”. É um fato. Ontem, na Comissão de Imprensa, a questão que menos se levou a sério foi a da venda, da difusão de “L’Humanité”.

O que é peculiar aos membros do Comitê Central, como estais vendo, é que eles não colocam as questões de modo geral, é que tentam ver a realidade em frente, atrair a atenção dos membros do Partido para a situação. Não deveria haver uma reunião dos comitês de células, uma reunião dos comitês de seção sem que neles se discuta a difusão do jornal diário do Partido.

                  A Crítica e a Auto-Crítica, Armas Poderosas dos Partidos Comunistas

A PROPÓSITO do internacionalismo proletário, devemos notar alguns raciocínios que refletem a influência pequeno-burguesa e nacionalista: “Nossos operários são os mais capazes, nossos camponeses são os mais inteligentes; nossos sábios são os maiores; tudo quanto é francês é melhor…” Por certo, nosso povo pode prevalecer-se de uma rica tradição revolucionária; por certo, foi o proletariado parisiense o primeiro a levantar, sob a Comuna, a bandeira da ditadura do proletariado. Mas outros povos também progrediram, e devemos reconhecer que, por sua vez, se tornaram os inovadores com os quais muito poderemos aprender e em todos os terrenos. É preciso nos atermos numa apreciação mais justa da realidade e de nossos méritos, não nos afastarmos dos princípios do internacionalismo proletário. Num dos mais notáveis documentos, sua carta ao camarada Ivanov, em 1938, escreve Stálin:

“Só se pode resolver o segundo problema unindo grandes esforços do proletariado internacional com esforços ainda maiores de todo o nosso povo soviético. É necessário reforçar e consolidar os laços proletários internacionais entre a classe operária da URSS e a classe operária dos países burgueses; é preciso organizar a ajuda política da classe operária dos países burgueses à classe operária do nosso país para no caso de uma agressão militar contra o nosso país, assim como é preciso organizar de todas as formas a ajuda da classe operária de nosso país à classe operária dos países burgueses”(6).
Stálin assim falava pouco antes da segunda guerra mundial. Os povos da União Soviética e os proletários, em muitos países, levaram em conta o ensinamento de Lênin e de Stálin. E, ao lutar por suas pátrias, souberam permanecer fiéis ao internacionalismo proletário.

Há ainda demasiada resistência à crítica e à auto-crítica no Partido. A crítica é bem aceita, mas para os outros. Quanto à auto-crítica, essa consiste, muitas vezes, em se dizer “Cometemos este erro; cometemos mais aquele erro”. Isso não é auto-crítica, mas antes confissão. A auto-crítica consiste em descobrir as raízes do erro que foi cometido e em que condições foi o erro cometido, que condições levaram a cometer esse erro, e, em seguido, a procurar os meios políticos, ideológicos e de organização, próprios para evitar a renovação desse erro.

Stálin insiste nessa idéia da auto-crítica, e fez dela um dos quatro pontos do método de Lênin, em oposição aos métodos da social-democracia. Ele indica que a auto-crítica permite forjar verdadeiros quadros operários, educar a classe operária e as massas em geral. É preciso, por certo, auxiliar fraternalmente os camaradas e corrigi-lhes os erros. É preciso, por certo, mostrar muita solicitude para com todos os aderentes, para com todos os militantes. Mas, precisamente, a melhor prova de solicitude para com um militante é não lhe ocultar seus próprios defeitos, é abrir-lhe os olhos, é auxiliá-lo a corrigir suas debilidades.

Stálin disse em “O Homem o capital mais precioso”:

“Certos camaradas dizem que seria um mal falar abertamente de nossos erros, pois o reconhecimento declarado de nossos erros poderia ser interpretado por nossos inimigos como um sinal de nossa fraqueza, e explorado por eles. São tolices, camaradas, tolices e nada mais. Ao contrário, reconhecer abertamente nossos erros e corrigi-los honestamente só pode fortalecer nosso partido, elevar a autoridade de nosso Partido aos olhos dos operários, dos camponeses, dos trabalhadores intelectuais, aumentar a força, o poderio de nosso Estado”.
Disse ele ainda:

“Poupar e salvaguardar os quadros, encobrindo seus erros, é matar seguramente esses quadros”.

Colocar-se Resolutamente à Frente das Massas na Luta pela Independência Nacional e pela Paz

ÚLTIMO ponto: deve ter sido constatado que não foi desenvolvido um esforço suficiente no sentido de fazer subir os militantes operários nos comitês do Partido, nas posições sucessivas.

Não se trata de jogar pedras em nossos camaradas intelectuais ou pertencentes às classes médias. Não se trata de soçobrar no obreirismo nem mesmo de tornar a aplicar as decisões outrora necessárias e que tinham prescrito a presença de 9/10 de operários nos comitês do Partido e nas listas de candidatos. Grandes progressos foram alcançados pelo Partido. Camaradas, que não são de origem proletária — como esquecer Gabriel Péri, Politzer, Solomon e tantos outros — demonstraram que um intelectual comunista é capaz de se comportar como um verdadeiro comunista.

Mas na Federação do Sena, foram demasiadamente poucos os operários promovidos aos postos de direção. É assim que existem seções que não contêm um só operário em sua direção. E mesmo secções de usina dirigidas por camaradas da empresa, mas que são técnicos, “quadros” e não operários.

É necessário fazer um esforço mais intenso para melhorar a composição dos comitês de direção, empurrar para a frente, com um pouco mais de audácia, os jovens e as mulheres. Não quero insistir.

Todas as possibilidades são oferecidas aos comunistas no Sena, como em todo o país, para que se coloquem à frente de um grande movimento de massas. Todas as possibilidades vos são oferecidas para retomardes na organização do Partido o lugar que deve ser o vosso, o primeiro lugar. Para consegui-lo basta ardor, vontade, energia, coragem. Se fizerdes isso, e vós o fareis, caros camaradas — já destes, em 1934 e durante a guerra, a prova de que sois capazes de grandes coisas — então estareis contribuindo de modo decisivo para a grande batalha para salvar a paz, para reconquistar a independência nacional, para fazer uma França forte, independente e democrática. Então, sob a direção de nosso Partido Comunista, e guiados pelo espírito de Lênin e de Stálin, os trabalhadores da França marcharão

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Notas:
(1) J. Stálin — “Discursos aos Eleitores’ — Pág. 3 — Edições Horizonte — Rio. 
(2) J. Stálin — “Cuestiones del Leninismo”, pág. 11 — Ediciones en Lenguas Extranjeras. — Moscu. 
(3) J. Stálin — “Cuestiones del Leninismo”, pags. 11 e 12 — Ediciones en Lenguas Extranjeras — Moscu. 
(4) J. Stálin — “Cuestiones del Leninismo”, pág. 12 — Ediciones en Lenguas Extranjeras — Moscu. 
(5) Andrei Zdhanov — “Pela Paz, a Democracia e a Independência dos Povos” — Problemas n. 6, pág. 42 — Rio. 
(6) J. Stálin — “Resposta ao camarada Ivanov” — Problemas, n. 5, pág 16 — Rio. 
                                   
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                                      Nós, os marxistas, declaramos que o sistema capitalista de economia mundial traz em si elementos de crise e da guerra, que o desenvolvimento do capitalismo não segue um curso firme para frente, mas prossegue através de crises e catástrofes.
Stálin — “Discurso aos Eleitores