O Problema Colonial Depois da Segunda Guerra Mundial
Há trinta anos, ao derrubar os latifundiários e capitalistas, a Grande Revolução Socialista de Outubro arrebentou as cadeias da dominação nacional, libertou todos os povos oprimidos da Rússia, sem exceção, e abriu-lhes amplas possibilidades de um livre desenvolvimento nacional. O Estado soviético multinacional demonstrou ao mundo inteiro que era possível e praticamente realizável a união voluntária de povos iguais em direitos dentro de uma única família socialista. A confiança mútua e a igualdade nacional, a convivência pacífica e a colaboração fraternal dos povos evidenciam o triunfo da política nacional leninista-stalinista na URSS.
Inteiramente diversa é a situação das nações no mundo capitalista. Stálin nos ensina que o imperialismo somente pela força pode aproximar as nações entre si, por meio de guerras de rapina e da manutenção dos colônias pela força no marco “de um todo único”. Os imperialistas não estão em condições de resolver o problema nacional, de estabelecer relações de confiança mútua e de amizade entre os povos. O capitalismo não pode e não quer acabar com a divisão das nações em nações oprimidas, dependentes e desiguais em direitos, por um lado, e nações opressoras, exploradoras e iguais em direitos, por outro. Tal divisão existe e se aprofunda “em oposição à mentira democrático-burguesa que encobre a escravização colonial e financeira, própria da época do capital financeiro e do imperialismo, da imensa maioria da população da terra por uma insignificante minoria dos países capitalistas mais ricos.”
Somente o leninismo resolve o problema nacional e colonial. A despeito dos apologistas burgueses, que procuram por todos os meios justificar e eternizar a desigualdade de direitos dos povos; a despeito dos reformistas, que mantêm, no fundo, a mesma política burguesa no programa nacional, o marxismo-leninismo chama todos os povos oprimidos à luta pela sua completa libertação, liga o movimento nacional-libertador dos povos oprimidos das colônias e dos países dependentes a luta revolucionária do proletariado. Em suas obras, Lénin e Stálin, grandes mestres dos trabalhadores, revelaram com profundeza e reflexão a essência do problema nacional e colonial, elaborando teoricamente as formas de resolvê-lo. A política nacional leninista-stalinista encontrou plena encarnação na URSS, onde foram resolvidos melhor que em nenhum outro país o problema dacolaboração das nações e a questão colonial. A amizade dos povos dá origem à força do Estado Soviético.
A questão colonial é um dos problemas mais agudos da política mundial. Durante muitos decênios o domínio de uns países sobre outros, a competição das potências coloniais e sua luta por uma nova divisão dos países dependentes e coloniais, foram os principais motivos que deram origem aos conflitos internacionais e aos choques militares.
Depois da Segunda Guerra Mundial, o problema continua inquietando a opinião pública de todo o mundo, e tornou-se ainda mais agudo. Cerca de uma terça parte da população do mundo continua privada dos direitos mais elementares. Setecentos milhões de seres sofrem, de uma forma ou de outra, a opressão colonial. É impossível negar que esse fato encontra-se em flagrante contradição com a vitória conseguida na Segunda Guerra Mundial pelas forças democráticas sobre as negras forças do fascismo.
A Luta Contra o Fascismo no Mundo Colonial
A Segunda Guerra Mundial não podia deixar de influir profundamente na situação dos países coloniais. Na luta contra os escravizadores fascistas aglutinaram-se todas as forças democráticas, com a União Soviética à frente. A vitória sobre a Alemanha hitlerista e o Japão imperialista significou o fracasso dos planos criminosos dos imperialistas alemães e japoneses, que queriam ampliar a esfera da sua dominação nacional e colonial.
Um grande número de povos coloniais e dependentes não permaneceu à margem da luta antifascista geral. O papel dirigente da União Soviética na coalizão anti-hitlerista dos povos amantes da liberdade, a heróica luta do exército e do povo do grande Estado socialista, profundamente hostil a toda a opressão nacional ou racial, foram, aos olhos dos povos das colônias, uma importantíssima garantia de que a guerra contra a Alemanha, Itália e o Japão tinha um caráter autenticamente progressista e libertador.
E no curso da segunda conflagração mundial ficou claramente manifestado um considerável ascenso do movimento de libertação nacional em diversos países coloniais e dependentes. Intensificou-se sensivelmente a luta anti-imperialista no Oriente árabe, na Síria, no Líbano e no Egito. Adquiriram um caráter mais agudo as formas de luta contra a dominação inglesa na Índia e na Birmânia. Levantaram-se as massas populares da Indochina, que se livraram do jugo dos imperialistas japoneses e franceses e proclamaram sua independência. O vasto movimento anti-imperialista verificado na Malaya Britânica, na Indonésia e nas Filipinas adquiriu uma forma de luta de guerrilhas armada contra os invasores japoneses. Os povos dos países coloniais não podiam deixar de combater contra o fascismo como a forma mais descarada de opressão racial e colonial. É indubitável que a participação dos povos do mundo colonial na luta libertadora comum contra o fascismo poderia ter sido mais enérgica ainda e mais ampla si a isto não se houvessem oposto diretamente as potências-metrópoles, como ocorreu, por exemplo, na Indonésia e na Indochina.
A guerra, que provocou sérios progressos econômicos em todo o mundo, refletiu-se também, de maneira idêntica, na economia dos países coloniais. Em diversos países, as potências imperialistas não tiveram mais remédio senão permitir, em certos limites, a criação de determinados ramos de indústria para cujo desenvolvimento não haviam contribuído em época normal por considerá-lo uma ameaça direta aos interesses monopolistas da metrópole. O desenvolvimento da indústria nas colônias conduziu, também, a certas mudanças na forma da dependência econômica das colônias em relação às metrópoles. Como resultado da adaptação da indústria às necessidades da guerra, as metrópoles se viram obrigadas a reduzir — en redondo — sua exportação. Em alguns casos tiveram, inclusive, que passar da saturação das colônias com suas mercadorias à extração nas mesmas, não só de matérias primas como, também, de uma parte considerável de sua produção industrial. Como resultado da guerra e do aumento da procura de diversos tipos de mercadorias, os países coloniais se viram abrigados a “doar” seus bens materiais sem nenhuma compensação.
E, apesar disso, os progressos econômicos registrados no mundo colonial durante a Segunda Guerra Mundial repercutiram seriamente na situação política geral dos países dependentes e semi-dependentes. Aumentou de modo considerável o peso específico da classe operária na luta desses países por sua independência política e econômica. O proletariado colonial não cresceu apenas numericamente; cresceu, também, do ponto de vista organizativo e ideológico. Particularmente, os operários se revelaram como os mais conseqüentes lutadores contra o fascismo, capazes de reconhecer imediatamente os falsos amigos dos povos coloniais e de ligar a derrota dos agressores imperialistas — Alemanha e Japão — às tarefas concretas da luta de libertação nacional dos países dependentes e coloniais.
As Manobras e os Métodos de Despistamento do Imperialismo nas Colônias
O período de após-guerra se caracteriza por importantes manobras das potências imperialistas nas colônias. Estas manobras tiveram por objetivo consolidar as posições vacilantes do imperialismo através do estabelecimento de novas formas, mais maleáveis e habilmente disfarçadas, de dominação nas colônias por meio de concessões parciais as reivindicações nacionais dos países coloniais.
Nos círculos dominantes dos impérios coloniais, adquiriu atualmente maior difusão a teoria de que os povos dos países coloniais atrasados em seu desenvolvimento devem, indubitavelmente, atravessar paulatinamente diversos estádios de dependência ou de fidei-comisso por parte das potências mais desenvolvidas e avançadas. A teoria em questão é excepcionalmente benéfica para os imperialistas e ajuda-os a conservar os velhos sistemas colonizadores com o pretexto capcioso de que os povos deste ou daquele país colonial não estão ainda maduros, segundo eles, para a existência independente. Não é de surpreender que tal teoria haja adquirido uma singular popularidade no império colonial clássico, na Inglaterra.
Devemos assinalar que a política colonial do governo trabalhista inglês, da mesma forma que sua política exterior, não se diferencia essencialmente em nada da política dos conservadores, um tanto mais sinceros campeões do imperialismo guerreiro. A esse respeito, podem encontrar-se confissões características em um discurso pronunciado pelo atual Ministro trabalhista das Colônias — Creech Jones, relativas à política dos trabalhistas.
Nesse discurso, pronunciado em uma assembléia da Sociedade Fabiana, Creech Jones não regateou palavras de condenação para com o imperialismo. “Estamos obrigados — disse — a liquidar a idéia do imperialismo econômico. Nossa política deve ser examinada, não sob o ponto de vista das vantagens para a Grã-Bretanha, mas sob o ponto de vista da felicidade, do florescimento e da liberdade dos povos coloniais. Porém, uma coisa é formular uma política concreta e de princípios elevados, e outra é a sua aplicação prática.” “O movimento trabalhista — continuou Creech Jones — não pode desconhecer os fatos históricos e retornar à época em que ainda não existiam as colônias.”
Deste modo, o Ministro trabalhista das Colônias está disposto a condenar e, inclusive, a liquidar a “idéia” do imperialismo; porém, não se dispõe de modo algum a atentar contra a prática colonial imperialista. Afirma que o movimento trabalhista não pode nem sequer — intentar — partir de que a Inglaterra tenha colônias. Indubitavelmente, a coincidência do Ministro trabalhista com as teses de Churchill nessa questão é evidente.
Churchill quase não pôde ocultar sua admiração ante a habilidade com que o governo trabalhista “resolveu” o delicado problema da Índia. A admissão da Índia em dois domínios sobre uma base religioso-comunal, conservando os principiados como um importante fator complementar da pressão inglesa, é, sob o ponto de vista do imperialismo inglês uma concessão completamente suficiente ao movimento de libertação nacional da Índia. A importância dessa medida para o imperialismo inglês reside no fato de que, tendo o aspecto de uma considerável concessão, abre, ao mesmo tempo, a possibilidade de continuar aplicando no futuro a tradicional tática inglesa de provocar artificialmente contradições nacionais, religiosas e de outras índoles no interior da Índia e de utilizá-las em proveito da conservação do domínio britânico.
Ao lado disto, um dos fenômenos peculiares da política de apos-guerra das potências imperialistas em relação às colônias, é a criação de novas formas de “unificação” das colônias e metrópoles sob a bandeira da “federação” ou da “união”. Estas “uniões” incluem em seu seio, sobre a base da igualdade de direitos puramente nacional tanto as potências-metrópole coloniais como suas colônias, com uma autonomia interna de maior ou menor grau. Assim, surgiram depois da guerra a União Francesa e a União Holando-Indonésica. Trata-se de duas novas organizações estatais jurídicas, destinadas a mudar aparentemente a forma exterior das relações da França e da Holanda com seus domínios “imperiais”. O Estatuto da União Francesa, que figura na Constituição da República, contem diversas disposições destinadas a garantir a autonomia dos territórios de ultramar pertencentes à França, e os direitos democráticos elementares de sua população. Tal é a parte externa da questão. Apesar disso, os imperialistas franceses atuam na Indochina como se nada houvesse mudado nas relações entre a França e as suas colônias. A União Francesa poderia ter-se convertido em uma forma de colaboração dos povos antes dependentes e atrasados em seu desenvolvimento, com a democracia francesa, unicamente se a política da França fosse determinada por elementos autenticamente democráticos, se se reduzisse à impotência a reação e si o poder efetivo na França pertencesse ao povo.
Os imperialistas holandeses, estimulados pelos seus protetores de Washington, violam insolentemente os acordos firmados com a República da Indonésia e regam de sangue os campos de um país cuja independência se comprometeram a respeitar. Está absolutamente claro que a União Holando-Indonésica foi utilizada pelos imperialistas apenas como biombo para encobrir seus preparativos de uma nova intervenção sangrenta.
Os imperialistas não desejam renunciar à sua posição monopolista nas colônias. E se, como conseqüência do crescente movimento de libertação nacional nas colônias e nos países dependentes, se vêem obrigados a fazer determinadas concessões, tratam por todos os meios de dar a tais concessões um caráter formal. Esse fato revela, com toda a clareza, a essência da pseudo-democracia burguesa, destinada a disfarçar a exploração capitalista e, no caso concreto de que nos ocupamos, a prosseguir nas colônias, sob outras formas, sua velha política de enganar às massas e de desviar sua atenção da luta ativa pelos seus direitos.
A concessão de uma independência formal às colônias não garante de modo nenhum sua verdadeira autonomia. Existem muitos exemplos que revelam a insolência e o descaramento com que as grandes potências imperialistas impõem a sua vontade aos Estados débeis, embora “independentes” na forma.
A concessão da “independência” às Filipinas, em 1940, não liberou-a do domínio do imperialismo norte-americano. Tanto no Oriente Próximo como no Hemisfério Ocidental, existem grupos de países que, independentes na forma, são na realidade, campo do despotismo do capital estrangeiro.
Nos últimos tempos, os ideólogos da burguesia expõem, cada dia com maior freqüência, “teorias” que menosprezam até a idéia da soberania nacional e tratam de convencer aos povos de que eles “não têm direito”, inclusive, de defender-se dos atentados por parte dos monopólios imperialistas dos Estados Unidos e da Inglaterra.
O Imperialismo dos Estados Unidos da América e o Problema Colonial
Uma das peculiaridades do período de após-guerra é o aumento do número de países que dependem, em maior ou menor escala, do imperialismo norte-americano. Como resultado da crescente expansão ianque, tornaram-se muito indefinidos e dificilmente diferenciáveis os limites da situação de independência ou de semi-colônia de muitos países anteriormente independentes. Ao mesmo tempo, produziu-se uma certa redistribuição dos países dependentes entre os amos imperialistas em favor do mais forte deles, o imperialismo do dólar. Na órbita dos Estados Unidos da América entraram os mais antigos domínios, como o Canadá, que pertencem formalmente ao Império Britânico. Por outro lado, muitos países semi-coloniais que antes eram objeto das pretensões econômicas e políticas de várias potências capitalistas, converteram-se em “esferas de influência” monopolizada pelo capital norte-americano (Turquia, Saúdi-Arábia, e outros).
Em consonância com isto produziram-se, também, mudanças na política colonial geral das mais importantes potências capitalistas. Antes, o principal guardião do sistema colonial era a Inglaterra que, sendo a potência colonial mais forte, tomava constantemente a iniciativa do esmagamento da luta de libertação nacional dos povos dos países coloniais e dependentes. Agora, os Estados Unidos disputam esse papel da Inglaterra, cada vez em maior grau. Isso se manifesta tanto no apoio direto dos Estados Unidos aos elementos reacionários e feudais de muitos países semi-coloniais e dependentes, como na sua posição de pôr-se à frente da intervenção para o esmagamento dos povos do sudeste da Ásia — Indonésia e China — que se libertaram do jugo do imperialismo estrangeiro. Isso se manifesta, finalmente, na desenfreada expansão do imperialismo norte-americano, que trata de pôr sua mão sobre todos os países débeis e dependentes, sem exceção, e de fundar um grandioso “império” colonial norte-americano, encobrindo-o sob falsos adornos, pseudo-democráticos.
Com isto, a expansão dos Estados Unidos está dirigida principalmente para os Estados soberanos, aos quais ameaça o perigo de converter-se em semi-colônias. Um vivo exemplo disso nos é oferecido pela China. Apesar da China — como resultado da Segunda Guerra Mundial — ter conquistado formalmente uma situação de grande potência, o imperialismo norte-americano, apoiando ativamente os elementos reacionários do interior da China e, por sua vez, apoiando-se neles, conduz-se na China como em um país conquistado. As tropas norte-americanas instalaram-se seriamente, para um longo período, no território chinês. O “Tratado de Amizade, Comércio e Navegação”, assinado em novembro de 1946 entre os Estados Unidos e a China, coloca o capital ianque numa situação tão privilegiada que significa objetivamente a escravização econômica da China.
Situação quase idêntica criou-se na Turquia, que perdeu sua independência como resultado da aplicação da chamada “doutrina de Truman”. A expansão dos Estados Unidos cresce e amplia-se, também, em outros países do Próximo, Médio e Extremo Oriente. Um testemunho disso é a atividade norte-americana na Saúdi-Arábia, no Irã e em muitos outros países.
A União Soviética e o Problema Colonial
A posição da União Soviética no problema colonial difere radicalmente por uma questão de princípio, da dos países capitalistas. A União Soviética foi sempre um inimigo intransigente de todas as formas e variantes de dominação colonial. A democracia soviética, como a mais completa e conseqüente democracia, é incompatível com qualquer espécie de opressão racial ou nacional. No curso de toda sua existência, o Estado Soviético fez ouvir sua voz, mais de uma vez, em defesa dos interesses dos países débeis vítimas da política rapace dos agressores.
Um dos numerosos exemplos disso é a posição assumida pelo governo soviético em relação à criminosa agressão da Itália fascista à indefesa Abissínia. Somente o governo soviético assumiu uma posição conseqüente até o fim, de condenação incondicional ao agressor fascista.
Depois de terminada a Segunda Guerra Mundial, ao constituir-se a ONU, a União Soviética defendeu resolutamente a tese de que a nova organização internacional se propusesse, como uma de suas tarefas mais importantes, a contribuir para que todos os países e povos dependentes conseguissem, no mais curto prazo, sua completa independência política. Falando a 7 de maio de 1945, numa entrevista coletiva à imprensa de São Francisco, V. Molotov acentuou que “do ponto de vista dos interesses da segurança internacional, devemos nos preocupar, antes de tudo, que os países dependentes possam enveredar o quanto antes pelo caminho da independência nacional.” Apesar disso, o ponto de vista soviético não foi apoiado pelas demais grandes potências.
O sistema do fidei-comisso da ONU, a respeito dos territórios de pendentes, foi concebido como um considerável passo à frente, em comparação com o sistema de mandatos da Sociedade das Nações. A diferença fundamental entre o fidei-comisso e o sistema de mandato deveria consistir no fato de que o fidei-comisso tem um caráter temporário — e tem como objetivo facilitar o desenvolvimento progressivo da população dos territórios sujeitos à tutela “para a sua autonomia ou independência”. De acordo com a Carta da ONU, o fidei-comisso destina-se a “estimular o respeito aos direitos do homem e às liberdades fundamentais para todos, sem distinção de raça, sexo, idioma e religião.” Por seu lado, o sistema de mandatos da Sociedade das Nações serviu de biombo para esconder a divisão das colônias, entre os paises vencedores na primeira guerra mundial.
Ao ser convidada, em 1934, para ingressar na Sociedade das Nações, a União Soviética considerou necessário fazer constar sua atitude oposta, em princípio, ao artigo 22 dos Estatutos da Sociedade das Nações, que fixava as relações coloniais sob o aspecto de mandatos. Já anteriormente em 1927, Stálin havia explicado as causas determinantes que levara o Estado Soviético a não ingressar na Sociedade das Nações. “A União Soviética — disse — não é membro da Sociedade das Nações, e dela não participa, antes de tudo, porque não quer ser responsável pela política imperialista da Sociedade das Nações, nos “mandatos” que outorga para a exploração e a opressão dos países coloniais.”
O sistema de fidei-comisso previsto na Carta das Nações Unidas parecia destinado a terminar com a aberta campanha colonizadora dos povos dependentes, peculiar do antigo sistema de mandatos. Não obstante, os imperialistas, interessados não no debilitamento, mas no reforçamento da exploração colonial, fizeram tudo quanto foi possível para frustrar a aplicação dos princípios do fidei-comisso, tais como foram formulados na Carta da Organização das Nações Unidas. A constituição do Conselho de Fidei-comisso foi conscientemente sabotada. Em discurso pronunciado a 29 de outubro de 1946, na sessão plenária da Assembléia Geral da ONU, Molotov assinalou que podia pensar-se que “alguém impede especialmente a fundação do Conselho de Fidei-comisso. Por ventura não solapa a autoridade de nossa organização o fato de que já tenha decorrido mais de um ano sem que se possa criar o Conselho de Fidei-comisso, destinado a procurar melhorar as condições de vida dos povos que habitam nos territórios sob mandato da Grã-Bretanha, França, Bélgica, Austrália, Nova Zelândia e União Sul-Africana e que deveria contribuir para o seu desenvolvimento para a autonomia e independência, E que temos, na realidade? Ainda não deram um passo sequer por esse caminho, aqueles países que retêm com tenacidade em suas mãos os mandatos sobre a Palestina e Tangânica, Togo e Nova Guiné, etc., limitando-se, presentemente, a redigir projetos não satisfatórios e declarações sem importância. O governo da União Sul Africana — diga-se de passagem — foi mais longe e, em vez de aplicar medidas destinadas a preparar a África Sul-Ocidental para a autonomia ou a independência, exige simplesmente que seja referendada a anexação deste território, o que, como todo o mundo pode ver, está em plena contradição com a Carta das Nações Unidas.”
No mesmo discurso, Molotov apelou para que fossem reconhecidas as justas reivindicações dos povos da Índia e da Indonésia.
A criação do Conselho de Fidei-comisso foi impedida até dezembro de 1946, isto é, até que as potências coloniais, mediante uma maioria mecânica de votos, conseguiram a aprovação da Assembléia Geral para tais projetos, de acordos de fidei-comisso, que reproduzem quase sem mudança alguma as condições de direção dos territórios sob tutela existentes no sistema de mandatos da Sociedade das Nações.
A circunstância de que acordos idênticos foram aprovados pela maioria da Assembléia, mostra claramente má vontade das potências capitalistas decisivas de pôr em prática os princípios da ONU e de acabar com o regime colonial existente nos territórios sob mandato. Os acordos de tutela fazem caso omisso das exigências formuladas na Carta da ONU em relação ao estabelecimento de um prazo definido de fidei-comisso e acerca da determinação dos meios e caminhos a seguir para que os povos dos territórios sob tutela possam conseguir sua completa independência. Ainda mais: tais acordos afirmam, com clareza e cinismo absolutos, que os territórios sob tutela devem ser administrados como parte integrante do Estado fidei-comissário. A isto, devemos acrescentar que os acordos de fidei-comisso prevêem o direito dos Estados fidei-comissários de criarem, nos paises sob tutela, bases militares terrestres, navais e aéreas.
A delegação da União Soviética na Assembléia Geral, criticou duramente a orientação anti-democrática dos acordos de fidei-comisso que, na sua essência, desconhecem e anulam as exigências formuladas na Carta da ONU. O representante da URSS declarou que tal gênero de acordos não pode servir de base para a criação do Conselho de Fidei-comisso. Em vista disso, a delegação da URSS se negou a participar na eleição do Conselho.
A Carta da ONU prevê o fidei-comisso coletivo como uma das formas de ajuda aos países dependentes, na sua aspiração de marchar o mais cedo possível pelo caminho do desenvolvimento independente. O princípio do fidei-comisso coletivo devia ter sido aplicado pela primeira vez no caso da Coréia. Este país, durante trinta e cinco anos sob o jugo do imperialismo japonês, foi libertado da escravidão colonial como resultado da Segunda Guerra Mundial. Em dezembro de 1945, chegou-se a um acordo, objetivando criar as condições capazes de propiciar ao povo coreano a mais rápida consecução de sua completa independência estatal. A Coréia seria posta sob o fidei-comisso coletivo das quatro grandes potências — União Soviética, Estados Unidos, Inglaterra e China — por um curto prazo. Ao estabelecer-se isto, o fidei-comisso sobre a Coréia foi definido como “medida de ajuda e colaboração ao progresso político, econômico e social do povo coreano, ao desenvolvimento da autonomia democrática e ao estabelecimento da independência estatal da Coréia.” A proposta da União Soviética previa a imediata criação de um Governo democrático provisório da Coréia. Também à instância da União Soviética, o prazo de fidei-comisso sobre a Coréia foi fixado em cinco anos como máximo e não em dez, como propunham os representantes dos Estados Unidos.
O acordo sobre a Coréia previa a criação de uma Comissão mista de representantes dos comandos militares soviéticos e norte-americanos com objetivos de contribuir para a formação de um governo provisório coreano. A mesma Comissão mista devia elaborar as condições do fidei-comisso, com a participação do governo provisório da Coréia e das organizações democráticas coreanas. Apesar disso, tal solução do problema não corresponde — pelo que podemos observar — às aspirações dos Estados Unidos da América. A Comissão mista soviético-norte-americana funciona já há mais de um ano. Porém, por culpa exclusiva da parte norte-americana, não foi possível, até agora, chegar-se a um acordo acerca de que, partidos democráticos e organizações sociais da Coréia, devem ser consultados pela Comissão, nas questões relacionadas com a formação do Governo provisório coreano.
O Problema Colonial Exige Solução
A expansão imperialista, dirigida contra os direitos soberanos dos povos, teve sempre como fruto a ampliação e o aprofundamento da luta antiimperialista e libertadora. A Segunda Guerra Mundial demonstrou ao mundo inteiro, e de maneira adequada, o aventureirismo e a condenação ao fracasso de quaisquer planos imperialistas de escravização dos povos amantes da liberdade, qualquer que seja a bandeira sob a qual se encubram. Já no decurso da segunda guerra-mundial, se revelara com toda a força a podridão do sistema colonial, a inconsistência dos impérios coloniais e o despertar das amplas massas populares das colônias, que não desejam continuar vivendo sob o jugo estrangeiro. Por isso; desvanecem-se as esperanças nos atuais cálculos das camarilhas reacionárias internacionais e dos monopólios capitalistas, de conseguirem impunemente a ampliação das fronteiras da exploração colonial, do alargamento das cadeias da escravidão do dólar a novos países e povos.
É indubitável que não pode existir uma paz bastante prolongada, firme e justa enquanto os milhões de habitantes dos países coloniais e dependentes continuem privados dos seus direitos humanos elementares. Os povos coloniais, a maioria dos quais participou da luta antifascista comum, devem ser libertados do jugo da opressão colonial. Nisso estão interessados todos os verdadeiros partidários da paz e da segurança dos povos.
Stálin e o Marxismo-Leninismo
O camarada Stálin deu um grande impulso à teoria revolucionária marxista-leninista; enriqueceu com um conteúdo novo todos os problemas fundamentais do marxismo-lenismo aplicado às novas circunstâncias; elevou a um nível mais alto a doutrina leninista sobre o imperialismo; tratou detalhadamente a questão do Estado Proletário; o problema camponês, o problema nacional, o problema do Partido e de seu papel no sistema da ditadura do proletariado, problemas de estratégia e de tática e, por último, o problema do triunfo do socialismo em um só país e o dos caminhos da construção do socialismo”.
Kalínin