Líderes discutem integração sul-americana pautada pela solidariedade
O debate foi um dos temas deste sábado (02/07), último dia do seminário "Governos de esquerda e progressistas na América Latina e no Caribe: balanço e perspectivas". O evento foi realizado pela Fundação Perseu Abramo, Fundação Maurício Grabois e pela UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro).
Além de Marco Aurélio, o tema "Integração, democracia e desenvolvimento: as políticas dos governos de esquerda na América Latina e no Caribe" foi discutido por Ana Elisa Osório, deputada do PSUV (Partido Socialista Unido da Venezuela) e vice-presidente do grupo parlamentar do país no parlamento latino-americano; pelo argentino Oscar Laborde, embaixador e representante especial para a Integração do Mercosul; e pelo paraguaio Gustavo Codas, diretor-geral da Itaipu Binacional.
Para Codas, a reconfiguração do poder mundial, com a diminuição do poder de influência dos Estados Unidos e o surgimento de novos polos, como a China e a América do Sul, determina novas questões para as relações diplomáticas e as políticas externas dos países da região, que são, segundo ele, muito diferentes.
"Como disse o presidente uruguaio, José Mujica, 'o Brasil não tem culpa de ser grande e nós não temos culpa de ser pequenos'", brincou. A reação brasileira à nacionalização do gás natural da Bolívia, em 2006, e as renegociações do Tratado de Itaipu, que envolvem o reajuste da taxa anual de cessão paga pelo Brasil ao Paraguai pela energia não usada da Usina de Itaipu, são um modo de "reconhecer novas relações bilaterais, baseadas não só no mercado mas também nas assimetrias entre os países", afirmou.
O surgimento de governos progressistas de esquerda na América Latina, que consideram valores como a solidariedade e a complementaridade entre os países na elaboração de suas políticas externas, favorece o estabelecimento de novas relações dentro da região, acredita o paraguaio.
"O fato de o Brasil estar sintonizado com estas mudanças faz com que vocês possam estabelecer outros tipos de relações com sua própria região. Este alinhamento tem um componente ideológico importante, evidentemente, mas também econômico e pragmático, que se mostra na forma no comércio exterior redesenhado e nos investimentos brasileiros na região", declarou Codas ao Opera Mundi.
Marco Aurélio Garcia corroborou a visão do paraguaio, afirmando que o Brasil fez uma "opção prioritária" pela região. "A questão que se coloca para o Brasil é a seguinte: nós queremos ser um polo enquanto país, sozinhos, ou junto com a América do Sul? Nós fizemos uma aposta e queremos associar nossos destinos", confirmou.
O modelo europeu foi criticado pelo brasileiro, que acredita que ele não pode ser paradigma para a integração sul-americana. "Nosso critério de integração tem que ser diferente dos critérios de integração que estamos assistindo no mundo hoje. A economia brasileira é uma economia grande e diversificada, mas não podemos utilizar isso como um instrumento de opressão. Nós não queremos ser a Alemanha da América do Sul", sublinhou Garcia.
"Neste caso nós teríamos que dizer que não queremos ser a França", brincou o argentino Oscar Laborde. Para ele, o Brasil teve uma "atitude responsável" ao assumir a liderança da região, e que, apesar de isso favorecer o país no cenário internacional, não acredita que essa decisão tenha sido tomada por "conveniência", mas pela crença em uma complementação, apesar das desigualdades entre os países.
"Esta breve experiência já nos rendeu frutos no mercado intra-regional, no enfrentamento da crise mundial e na melhora das condições de vida das pessoas da América Latina. Obviamente, quem conduz tem uma maior responsabilidade, e se espera que faça mais concessões, porque tem uma responsabilidade maior", afirmou Laborde.
Apesar de acreditar que os países da América Latina estejam alinhados por um objetivo comum, Gustavo Codas disse que se deve estar atento para a possibilidade de o peso do Brasil pender a balança a seu favor. "A lógica de cada Estado e do governo que representa este Estado é defender os interesses nacionais, e nem sempre este é compatível com o interesse da região ou da comunidade mais ampla. É aí que entra a política, para que não nos rendamos à mera inércia do mercado ou da gestão empresarial. É este o ponto mais delicado", avaliou o paraguaio.
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Fonte: Opera Mundi