Salvo alterações próprias de uma conjuntura política instável, os campos em confronto na sucessão presidencial já estão delineados. De um lado, a candidatura à reeleição do presidente Lula, sustentada pela esquerda e outros setores do campo progressista; de outro, a candidatura de Geraldo Alckmin, representante da direita neoliberal.

Estes dois campos, por um lado, disputam a ferro e fogo o “centro” representado pelo PMDB que, embora cindido, terá papel relevante no desfecho do confronto. Por outro, as pretensas forças de “ultra-esquerda”, numa cumplicidade objetiva com a direita, seguem atadas ao equívoco de atacar a candidatura Lula.

Se Lula vence, a luta pela mudança avança; se perde, o país retrocede, retorna às mãos da direita neoliberal. Além disso, está em jogo o processo de integração solidária da América Latina. Um preposto de Wasghinton – tal e qual Alckmin –, na Presidência, seria uma barragem ao avanço das forças patrióticas e democráticas na América do Sul.

Estará no centro da luta de idéias desta campanha eleitoral a temática do desenvolvimento e de modo correlato a luta pela superação do neoliberalismo.

Desde a posse de Lula, instaurou-se um debate no âmbito da sociedade e do próprio governo para desvendar caminhos para a implementação de um novo projeto nacional de desenvolvimento. Dois campos básicos se forjaram: o da mudança e o do continuísmo. Nessa luta de idéias, Princípios tem combatido o continuísmo, explicitando suas críticas à política macroeconômica ortodoxa que restringe o crescimento e provoca concentração de renda.

Além da crítica, procura oferecer contribuições políticas e teóricas referentes aos dilemas da esquerda brasileira e de seu governo. Entre o fatalismo que apregoa a capitulação ou a cedência aos fundamentos neoliberais, ao longo do mandato de Lula, Princípios procurou demonstrar ser possível empreender a resistência e dar passos à superação do neoliberalismo.

O resultado concreto do governo, em termos de mensagem política, poderia ser assim sintetizado.
O governo Lula herdou um país à beira da insolvência financeira; a economia emperrada e desnacionalizada; grandes parcelas do povo sob o infortúnio do desemprego e mesmo sob o flagelo da fome e da miséria; o país com sua soberania aviltada, sob a tutela do FMI e nas garras da Alca. Em três anos de mandato, o governo saneou no essencial esse cenário maldito herdado, a situação se encontra equilibrada, a economia mesmo que aquém das possibilidades voltou a crescer, a oferta de empregos aumentou, o país ficou livre da tutela do FMI e o projeto da Alca foi paralisado.

Dessa maneira, o Brasil está pronto para adentrar a um ciclo de desenvolvimento democrático. E Lula – que, pela expressão de Renato Rabelo, presidente do PCdoB, se revelou o “presidente do povo” – demonstrou ter competência e liderança para conduzir o Brasil a esse crescimento econômico acentuado, pois criou as condições para isso.

Os partidos de esquerda e demais setores democráticos que sustentarão a campanha de Lula têm a necessidade, e a legitimidade, de apresentar uma mensagem destinada aos que trabalham e aos que produzem, proclamando ser possível, sim, o país crescer a índices e ritmos mais acentuados, com vasta produção de riqueza, geração de emprego, distribuição de renda e fortalecimento do projeto de integração sul-americana. Da mesma maneira, à luz do aprendizado, devem sinalizar quanto às necessárias reorientações e mudanças, sobretudo na política macroeconômica ortodoxa que, na prática, impossibilitou um crescimento maior da economia.

Neste momento crucial da vida brasileira, Princípios saúda e reforça esse amplo movimento político, social, cultural e intelectual que progressivamente vai se forjando em nossa pátria para barrar o retorno da direita neoliberal e avançar nas mudanças.

EDIÇÃO 84, ABR/MAI, 2006, PÁGINAS 3