A revista, que desde o primeiro momento se apresentou como "teórica, política e de informação", tomou a posição da defesa e aperfeiçoamento da democracia, dos direitos do povo e dos trabalhadores, e do socialismo. Vivenciou e refletiu, nestas suas 60 edições, importantes momentos de nossa história recente, como o fim do regime militar no Brasil, o colapso da União Soviética e a ascensão das políticas neoliberais na esfera internacional – que têm gerado tanto impacto sobre a vida dos brasileiros, sob os governos Collor e Fernando Henrique Cardoso.

A revista marxista afirmava em seu primeiro editorial, de março de 1981: "Princípios edita seu primeiro número. Revista teórica, política e de informações variadas, aparece para satisfazer uma necessidade premente das forças sociais progressistas da nossa sociedade, tendo em vista elucidar problemas, aprofundar o conhecimento das causas e efeitos dos males que afetam a vida do povo e do país. ( .. )"

Surgiu como um dos órgãos centrais do Partido Comunista do Brasil (o outro é o jornal A Classe Operária, que por sua vez é também o órgão oficial do Partido), mas logo ficou claro que os comunistas e marxistas brasileiros se esforçavam por colocar um novo e ímpar veículo de imprensa à disposição dos setores progressistas, patrióticas e democráticos – com o intuito de fomentar o debate necessário à formação e consolidação de uma ampla corrente para descortinar novos rumos para a sociedade brasileira. Com a legalidade conquistada a partir de 1985 o Partido Comunista do Brasil cresceu e a revista acompanhou esse movimento, expandindo sua abordagem e circulação para setores mais amplos e firmando-se como um instrumento que adquiriu respeitabilidade em importantes segmentos de formação de opinião pela qualidade e profundidade de suas abordagens e pela integridade de seu respeitável rol de colaboradores. Assim, os textos de Princípios adentraram – além dos meios partidários, parlamentares, estudantis, operário-sindicais, sociais, populares e outros centros irradiadores de pensamento político e teórico – até mesmo na academia, onde seus artigos têm se tornado componentes da bibliografia básica de cursos na graduação e pós-graduação. Além de seu conteúdo, a credibilidade do veículo tem crescido pela regularidade de sua circulação – garantida trimestralmente pela Editora Anita Garibaldi. Constitui, assim, uma experiência rica e sem igual na história da imprensa progressista e revolucionária de nosso país, pois nenhum outro órgão com essas características circulou por tanto tempo.

Atualmente pesquisa soluções para valorizar o que tem de mais importante: o texto dos colaboradores. E estes não são poucos. São lideranças políticas de expressão, dirigentes de instituições e entidades, cientistas e pesquisadores renomados, especialistas nas principais áreas do conhecimento, jornalistas e escritores, artistas, professores; enfim grandes personalidades do Brasil e do Exterior.

Desde seu surgimento, há 60 edições, a revista já publicou quase mil artigos e envolveu cerca de 500 colaboradores diretos, tornando-se difícil relacionar todos aqui: João Amazonas, Jiang Zemin, Renato Rabelo, Luis Inácio Lula da Silva, Miguel Arraes, Miguel Urbano Rodrigues, Aziz Ab' Saber, Luis Fernandes, Manuel Correia de Andrade, Olival Freire Jr., Rogério Cezar de Cerqueira Leite, José Carlos Ruy, Candido Mendes, Oscar Niemeyer, Luis Werneck Vianna, Haroldo Lima,Wanderley Guilherme dos Santos, Sérgio Miranda, Celso Furtado, Aldo Rebelo, Paulo Nogueira Batista Jr., Aldo Arantes, José Leite Lopes, Michel Paty, Ariano Suassuna, Dias Gomes, Biplab Dasgupta, José Reinaldo Carvalho, Guenadi Ziuganov, Ricardo Ferreira, Irwin Marquit, José Saramago; e tantos importantes pensadores que contribuíram e contribuem para elevar a qualidade e credibilidade da revista.

Apesar de ter dado passos importantes, este veículo da imprensa revolucionária, porém, não se move isolado; ao contrário, depende do movimento real da sociedade, das forças políticas envolvidas na luta em que está inserido, e da vida do país e seu povo.

Princípios sempre se esforçou para estar em dia com os grandes temas e debates em curso, no cenário nacional e no mundo. O Brasil em seus aspectos multifacéticos, a conjuntura e as questões internacionais, a economia, o marxismo e socialismo, o movimento operário, a história, a filosofia, a política, a ciência e tecnologia, a educação, a cultura e arte, a mulher – enfim, os mais importantes e candentes temas que envolvem a vida social apareceram de forma plena ou parcial em suas páginas nesses vinte anos.

Em pesquisa realizada em meados de 1997, constatou que um dos temas de maior interesse para seus leitores era a questão internacional. Em meio à falta de credibilidade dos órgãos da grande imprensa, envolvidos no "partido único" do pensamento neoliberal de interesses estratégicos dos Estados Unidos; à heterogeneidade das fontes de outros setores da esquerda brasileira; e ao fato de muitos leitores identificarem no Partido Comunista do Brasil o herdeiro do internacionalismo proletário, há um público ávido por encontrar nas páginas da revista matérias de informações e análises sobre os principais acontecimentos da conjuntura internacional. Assim, as questões que envolvem os países socialistas (China, Cuba, Vietnã e Coréia do Norte) e o movimento comunista internacional (lutas, eleições, mobilizações), ao serem enfocadas pela revista, não raro, constituem a principal fonte de informação e análise para esse público de leitores brasileiros. Durante o período da contra-revolução na URSS e Leste europeu, a revista abordou sistematicamente, com matérias teóricas e político-informativas os principais eventos e suas conseqüências políticas e ideológicas; desde seus primórdios com a perestroika, de Gorbachev – a edição 17 teve capa e todos os textos dedicados a esse tema – à análise objetiva dos fatos e polêmicas com o intuito de contribuir para o necessário salto na elaboração teórica marxista a fim de que esta, ao contrário de sucumbir com os acontecimentos contra-revolucionários que se sucederam, continue justificando sua atualidade e se capacitando para nortear as transformações históricas necessárias à libertação do proletariado e de toda a sociedade da exploração capitalista.

Além das questões internacionais, outro tema crucial para a pauta da revista é o da economia política, em especial, nos últimos tempos, a cobertura do Plano Real e os desdobramentos da situação econômica brasileira. Em seu primeiro editorial – durante o governo do general João Figueiredo, no período do início da crise da dívida (aurora do que mais tarde passou a ser chamada a "década perdida", os anos 80) – afirmava ter um grande programa a realizar nesse campo: "(… ) O presente número dedica algum espaço às questões econômicas. Seu objetivo, porém, é tratar permanentemente do assunto, ligado em especial com a crise que se alastra em todos os países capitalistas e revisionistas, provocando gigantescos transtornos na sociedade e enormes sacrifícios aos trabalhadores das cidades e do campo. A propaganda oficial, os economistas e os ideólogos burgueses e pequeno burgueses falam da crise como algo acidental, passageiro, cujos motivos devem ser encontrados em fatores transitórios, controláveis, irrelevantes. Mas a crise é o processo natural do desenvolvimento capitalista, polarizando sempre mais a riqueza e a miséria. Cada crise de maior envergadura estimula o avanço tecnológico desse sistema, reforça o poderio dos monopólios, bem como o do capitalismo monopolista de Estado, que se caracteriza por uma vasta socialização capitalista da produção, pelo entrelaçamento dos monopólios com o Estado e pela subordinação do aparelho do Estado burguês aos grandes monopólios.

Durante a crise substituem-se as estruturas fundamentais das empresas, o que exige vultuosos recursos somente disponíveis entre os mais poderosos. Assim, são liquidados os menos fortes e a concentração e a centralização do capital agigantam-se. Tal renovação, grosso modo, não proporciona aumento de empregos; ao contrário, utilizando métodos sofisticados, reduz a quantidade de trabalhadores enquanto cresce a produção. O exército de reserva (os desempregados) ganha novas dimensões. Por isso, é falso pensar que, passada a crise – se acaso chegar a esse momento – tudo volte à antiga situação, como apregoam os mistificadores. Não. Os povos terão de conviver com índices elevados de desemprego permanente, com alto custo de vida, com impostos ainda mais pesados, com a criminalidade em ascensão, com parcelas ponderáveis de menores abandonados. Porque esses males acompanham o capitalismo, como a sombra segue o corpo. Quanto mais ele se desenvolve, maiores mazelas arrasta consigo. Precisamente por essa razão, sua existência é posta em causa. ( … )"

Ao surgir, a revista já inaugurava sua abordagem da temática econômica com o artigo "Transformações operadas na sociedade brasileira" que procurava fazer uma análise das principais indicações sobre o desenvolvimento do capitalismo dependente no Brasil. Dentre elas destacava que o processo, naquele período analisado (anos 60 e 70), apontava para uma maior e mais grave subordinação da economia do país ao capital estrangeiro e para o aumento da influência dos monopólios internacionais sobre a vida do país. Nos números seguintes o tema da economia apareceu de maneira parcial, ou seja sem expor análises mais teóricas e globais. A partir de seu número 15, aproximadamente, os textos publicados já apresentam análises mais abrangentes. Por aquele período, Princípios dá um passo adiante, em plena turbulência do Leste europeu. Seu nº. 16 (dezembro de 1988) traz um enfoque mais alentado sobre as questões econômicas. Na fase que se sucede, em conjunto com os demais temas, desenvolve-se uma abordagem mais permanente de questões da teoria econômica, com colaboradores mais regulares.

A edição 23 apresenta, no final de 1991, o texto de João Amazonas "Etapas econômicas do sistema socialista", que defende as idéias de Lênin sobre a economia política no socialismo. A 29 publica o texto "Capitalismo de Estado na transição ao socialismo", do mesmo autor, e dá continuidade aos estudos da economia política leninista, procura entender o processo objetivo da transição socialista e as causas do retrocesso no Leste europeu. Nesse período vários temas conexos com a conjuntura econômica do nosso país são abordados como a Lei de Patentes e as privatizações das empresas estatais.

A partir de 1994 se faz um esforço para que a revista passe a cobrir mais a realidade concreta brasileira e seu movimento, acompanhando especialmente a implementação do Plano Real. Demonstra em vários artigos o caráter dos objetivos da equipe econômica do governo: a dependência do capital especulativo externo; a submissão ao Fundo Monetário Internacional; a paridade artificial da moeda; a tendência à vulnerabilidade e à instabilidade econômica; o desequilíbrio nas contas externas; a desnacionalização da economia e o desmonte do Estado nacional; a privatização do patrimônio construído pelo povo brasileiro; o ataque sistemático à organização e aos direitos dos trabalhadores.

No conjunto, mas em especial após acompanhar analiticamente a política neoliberal do governo de Fernando Henrique Cardoso, pode se dizer que o veículo contribuiu para fundamentar e fomentar uma corrente de opinião que defende a necessidade da mudança no rumo da política econômica brasileira. Os textos das edições mais recentes têm demonstrado que as bases da Nação estão sendo desmontadas e que o país necessita de uma política econômica soberana, a exemplo do artigo de Celso Furtado "A reconstrução do Brasil" (Princípios, nº. 54).

Além desses, Princípios procurou cobrir temas de relevância conjuntural, desde o fim do regime militar no país – passando pela Constituinte, a campanha da Frente Brasil Popular em 1989, o plebiscito e demais lutas importantes nessas décadas – às eleições municipais em 2000, em que a esquerda teve expressiva vitória. As últimas edições da revista trataram o tema das questões urbanas e municipais numa seqüência de abordagem, estimulando o estudo das temáticas ligadas ao desenvolvimento urbano (segurança, transporte, saúde, educação, plano diretor, orçamento e orçamento participativo, democracia, participação e representação, e outros) para subsidiar a elaboração dos projetos eleitorais dos setores progressistas. Publicou textos sobre o entendimento das grandes demandas das populações das regiões metropolitanas, conseguindo desvendar por que os municípios e cidades se encontram em sérias dificuldades e o esboço de possíveis soluções. Esforçou-se para estar em sintonia com a atuação do deputado Inácio Arruda (PCdoB/CE) na Comissão de desenvolvimento Urbano e Interior da Câmara Federal. Enfocou a luta pela terra urbana e o direito à moradia, defendendo tal direito como subjetivo – conforme leitura da Constituição atual – e, portanto, passível de ser exigido pelo povo. Coincidentemente o direito à moradia foi, no início de 2000, incluído na Constituição como um dos direitos fundamentais.

A revista a seguir abriu suas páginas para explicar e defender o Estatuto das Cidades – um complexo de dispositivos legais destinado a congregar o conjunto dos problemas das cidades, municípios e regiões metropolitanas à luz dos artigos 182 e 183 da Constituição que dão diretrizes para uma regulamentação federal da matéria. A tese, corretamente levantada, versa sobre a necessidade urgente do Estado brasileiro desenvolver uma política para as regiões metropolitanas, pois estas congregam grande parte da população e da produção de riquezas do país, sendo impossível resolver sua problemática apenas em âmbito local. Adiante cobriu a I Conferência das Cidades, publicando a Carta das Cidades – documento histórico que condensa as reivindicações destas entidades públicas e suas populações. Publicou também diversos textos como os do professor Aziz Ab' Saber; um programa para a maior cidade do país, São Paulo; e sobre as dificuldades enfrentadas para concepção e execução do planejamento nas cidades – assoladas pelas imposições irracionais das forças de mercado em tempos neoliberais, limitadas por planos diretores excessivamente genéricos que não servem para políticas concretas e submetidas à pressão organizada do capital imobiliário.

Além de cobrir os principais temas conjunturais, as páginas de Princípios acolheram, em várias ocasiões, temas especiais, sendo que alguns tiveram tratamento sistemático e outros até encarte especial. Assim ocorreu com a Comuna de Paris (que neste ano completa 130 anos), a questão racial, a saúde, a história do movimento operário e, mais recentemente, os 500 anos do Brasil. Durante o ano 2000, foi editada uma seqüência de textos sobre o meio milênio do país, enfocando sua história econômica, política e cultural. Dentre eles teve destaque o documento 500 anos de luta na construção de um povo, uma cultura e uma nação novos. Esse esforço, certamente, continuará, pois há muito o que se pesquisar e elaborar sobre o Brasil, a Nação seu povo. Ainda nesse bloco de abordagens especiais, aprofundou problemas relacionados à emancipação da mulher; a Universidade, ciência e tecnologia; aniversários de personalidades e acontecimentos históricos; para citar apenas alguns.

Os anos 90 do século XX iniciaram sob o impacto da derrota política das experiências da União Soviética e do Leste europeu, e a conseqüente derrota histórica do socialismo. A intelligentsia capitalista inundou os meios de formação de opinião e a mídia com teses que anunciavam, em definitivo, a vitória do sistema capitalista sobre o socialismo – dentre elas, uma anunciava o fim da própria história. Os textos de Princípios procuraram encarar de frente essa realidade adversa. A partir da edição 24 (com o país sob o governo Collor) desenvolve uma abordagem sistemática do novo modelo que passava das experimentações do Chile de Pinochet e da Inglaterra de Margareth Tatcher – para ser a receita oficial do imperialismo norte-americano e dos organismos internacionais (FMI e Banco Mundial) pata todo o mundo: o neoliberalismo. Seus artigos fizeram um esforço de vanguarda para fundamentar conceitos e categorias filosóficas para situar o que se passava no centro do capitalismo e seus reflexos na periferia. Artigos teórico-conceituais se complementam com outros de caráter informativo e de denúncia das conseqüências desastrosas do receituário oficial em curso no mundo capitalista sobre os povos e os trabalhadores. A substituição do keynesianismo – corrente adotada desde a II Guerra – pelo pensamento da escola de Chicago; as novas formas de saque imperialista; o fluxo mundial de capitais; a globalização financeira; o desemprego; o plano de privatizações do governo brasileiro; e os principais aspectos da política neoliberal são tratadas pelos colaboradores nesse período.

Princípios 36 (no início de 1986) já apresenta a primeira grande crise no período de domínio neoliberal na América Latina com capa e textos sobre o México e a crise do modelo neoliberal. Nesse período – e a empreitada ainda continua – a revista cumpriu um papel de vanguarda na aglutinação de colaboradores competentes e textos de qualidade que auxiliaram setores da esquerda e da oposição a compreender essa nova fase da exploração capitalista, o significado mais profundo dos governos de Collor e Fernando Henrique e da aplicação desse modelo no Brasil e a necessidade da denúncia desse projeto para a população. Assim, a revista contribuiu para reforçar a resistência da sociedade brasileira aos ditames dos arautos da globalização neoliberal e para desmascarar o governo de FHC, que no seu início deixara muitos setores, sociais e políticos confusos. Mais recentemente cobriu satisfatoriamente a seqüência das crises financeiras globalizadas (como as da Ásia, Rússia e do próprio Brasil) e suas desastrosas conseqüências – que, juntamente com os indicadores comprovantes do aumento da miséria, levaram os organismos internacionais patrocinadores dos ajustes neoliberais a rever uma série de questões.

Em que pese todos os esforços, a elaboração marxista, e avançada, é ainda débil no Brasil – em quantidade e qualidade – e, por isso, o programa inicial da revista, expresso em seu primeiro editorial, continua válido: "(. .. ) Suas páginas agasalharão, com zelo particular, os trabalhos concernentes à teoria. Nas condições atuais do mundo e do nosso país, a frente teórica adquire importância sobressalente, de primeiro plano. (. .. )"

Um dos sentidos maiores da revista existir é o estímulo ao desenvolvimento da elaboração da ciência social mais avançada. O pensamento marxista vive uma crise em meio a um momento defensivo do movimento revolucionário, li'gado às recentes derrotas sofridas. Surgiram muitas incompreensões e dúvidas e se faz necessário, mais do que nunca, defender e desenvolver a teoria revolucionária e tratar conseqüentemente os novos fatores e elementos objetivos da sociedade. A revista continua dando destaque à luta teórica, em especial, precisa apresentar artigos sobre a defesa do socialismo e sua vinculação com o projeto de um novo rumo para o Brasil.

O trabalho de elaboração da concepção de socialismo com a feição e espírito do povo brasileiro, ainda é um objetivo teórico permanente a seguir. Para auxiliar a explicitação de um projeto socialista atualizado e sintonizado com a vida do país, pode desdobrar questões presentes no Programa Socialista do Partido Comunista do Brasil (como: Um projeto nacional para o Brasil; A crise mundial do capitalismo; Concentração da produção, da renda e da riqueza – no Brasil e no mundo; Os processos financeiros: reprodução do capital à margem do processo produtivo; O problema da centralidade do trabalho no capitalismo contemporâneo; O capitalismo, em seu desenvolvimento, acentua o caráter social da produção, gerando, a partir de suas próprias contradições, as condições para a sociedade futura; As imposições do lucro, sob o modo de produção capitalista, impede a generalização para toda a sociedade dos benefícios adquiridos com o avanço da ciência, e a tecnologia longe de ser fator de libertação para a humanidade, torna-se uma ameaça ao emprego e à vida da maioria das pessoas;

Apesar dos problemas, a acumulação capitalista se desenvolve e cresce, expressa na centralização das empresas, nas fusões que se generalizam pelo mundo capitalista; A crise do capitalismo aumenta a exploração e a opressão dos trabalhadores assalariados; As mudanças nos métodos de produção e o crescimento na cota de mais-valia; Terceirização e mercado informal; Ataques aos direitos sociais e políticos dos trabalhadores; Luta de classe do proletariado e os desempregados e marginalizados; e muitos outros)

Princípios adentra ao novo milênio sabendo que o século XX "foi o período da história da humanidade que registrou o maior número de lutas e participação de grandes massas no processo de desenvolvimento da sociedade. Foi marcado por revoluções, dentre elas a revolução russa de 1917 – o maior acontecimento da história no que se refere ao desenvolvimento da sociedade – e a revolução chinesa de 1949 (outro gigante momento da luta dos povos). O século XX mostrou que o que Marx, Engels e Lênin conceberam ao criar e desenvolver a ciência social, o que examinaram, como as contradições que surgiam no próprio sistema capitalista, e sua contribuição ao desenvolvimento da Filosofia, está comprovado por essas lutas, e que tais enfrentamentos não se deram por acaso. A teoria marxista, por sua vez, não é algo pronto ou parado no tempo, porque reflete a realidade em desenvolvimento e justamente porque o capitalismo se desenvolve mais rapidamente é que crescem as contradições e surge a necessidade da sua superação – pela revolução proletária. Das experiências do século XX, extrai-se também o ensinamento de que a transição do capitalismo ao comunismo preenche toda uma etapa histórica, que registra avanços e recuos; vitórias e derrotas.

A revolução socialista não é tarefa fácil e construir a nova sociedade – a experiência está mostrando – não é algo tão simples. As formas e relações capitalistas surgiram no seio da sociedade feudal, mas as relações de produção socialistas não podem nascer sob o capitalismo – elas têm de ser criadas com a revolução já implantada. Por isso é necessário atentar para dois problemas fundamentais que servem para acelerar – ou, em caso contrário, para enfraquecer – o avanço da sociedade. O primeiro problema envolve a difusão da consciência social, a ideologia revolucionária, em larga escala. É uma grande batalha; antes, durante e depois da revolução. O povo e os trabalhadores só terão condições de sustentar a luta revolucionária e levar adiante a construção do socialismo (e do comunismo) se ti verem consciência do processo que se desenvolve na sociedade, se tiverem pleno acesso à teoria, à consciência social revolucionária. O segundo grande problema envolve o fortalecimento do Partido Comunista. É ele o portador dessa consciência revolucionária, que não nasce espontaneamente do movimento do capitalismo. A consciência social vem de fora e o Partido é seu agente. Ele precisa ser reforçado para cumprir este papel histórico. Sem esse reforço, o processo não avança." (1)

No presente, a necessidade de se forjar a ampla unidade do povo em defesa do Brasil, da democracia e do trabalho é o desafio político mais importante (2), conformando o contexto do debate em que se move a revista – e ao qual ela procura, hoje, inserir sua contribuição. Os desafios de Princípios são imensos: ampliar a circulação; garantir melhor inserção na luta de idéias; aperfeiçoar seu conteúdo e forma … – tudo isso no seio de uma luta política intensa, porém de grande significado histórico. E, ao se concluir, após uma análise dos vinte anos e sessenta edições, qual o papel desempenhado por este veículo no desenvolvimento do pensamento progressista brasileiro, é possível afirmar que a revista já conquistou um importante espaço na luta – a de maior significado histórico – em defesa do Brasil e pela vitória do socialismo em nossa pátria, para que nosso povo, liberto dos grilhões do atraso e da dependência, possa oferecer sua contribuição original ao desenvolvimento material e espiritual da humanidade.

Edvar Luiz Bonotlo é mestre em filosofia do direito pela PUC/SP, membro da equipe de redação da revista Princípios e da comissão nacional de propaganda do PCdoB.

Notas

(1) Citação de trecho do artigo de João Amazonas, "A perspectiva histórica do socialismo", publicado na edição 56 de Princípios.
(2) O Manifesto em defesa do Brasil, da democracia e do trabalho foi lançado no final de 1999 em Brasília – subscrito por mais de uma centena de personalidades do mundo político, jurídico-institucional, científico, artístico-cultural e desportivo de nosso país – e, além de propugnar novos rumos, conclama à formação de um amplo movimento com caráter de salvação nacional. Foi publicado por Princípios, n.o 55.

EDIÇÃO 60, FEV/MAR/ABR, 2001, PÁGINAS 40, 41, 42, 43, 44, 45, 46, 47