Ultimamente, muitas editoras tiveram a feliz idéia de publicar volumes de introdução às diversas formas do conhecimento. A primeira delas é a coleção Buriti, iniciada em 1964 e de pequena duração temporal. Nos anos 1970-80 surge, pela Brasiliense, a coleção Primeiros Passos. O sucesso foi tão grande que outras editoras seguiram seu exemplo.

A Editora Ática, entretanto, na série Princípios, iniciou a edição de livros voltados para os mais amplos temas do conhecimento. O de Anna Mantovani, Cenografia, é exemplo do tratamento amplo da coleção. Na introdução, Anna delimita as partes componentes do seu tema e nos dá exemplos de sua intencionalidade.

Segundo a autora, a cenografia é uma composição e um espaço tridimensional, onde é apresentado o espetáculo teatral e onde existe uma relação entre a cena e o público. A existência do espetáculo teatral, no entanto, exige a presença de profissionais especializados nas mais diversas áreas: “O encenador ou diretor concebe o espetáculo como um todo (a partir do texto dramático a ser encenado ou de outra proposta sem uso do texto), dirige o trabalho dos atores e coordena todo o grupo. Os atores criam as personagens, atuam. O cenógrafo cria a cenografia, acompanha a execução dos cenários pelos cenotécnicos, pintores ou outros profissionais (como, por exemplo, os aderecistas, os que fazem os efeitos especiais etc). O figurinista cria os figurinos e acompanha a sua execução pelas costureiras.

O iluminador cria e esquematiza a luz. O programador visual cria o catálogo e o cartaz do espetáculo. O sonoplasta cria o som. O coreógrafo – ou outro profissional especializado em expressão corporal – cria e coordena o movimento dos atores em cena. Existe, ainda, um equipe administrativa e de produção, responsável pela divulgação, pela compra de materiais e objetos necessários, contratos e pagamentos, enfim, que cuida da parte financeira” (p. 5 e 6).

O processo de realização da cenografia surge na Grécia e chega até nossos dias. Há diferenças fundamentais conforme a época: por exemplo, na Grécia, o teatro é um lugar de reunião pública; em Roma, as representações tinham um caráter de classes, os ricos eram separados dos pobres; na Idade Média era realizado em praça pública como um instrumento religioso; no Renascimento surge o que poderíamos denominar de edifício teatral, isto é, o teatro com palco e assentos móveis para o público.

Na época Barroca, século XVI, os italianos dividiam o público segundo seus recursos, em platéia e balcões; na Inglaterra elizabetana incentivou-se a criação de edifícios próprios para a encenação, é o momento em que Shakespeare escreve suas peças.

É no final do século XVIII, início do XIX, que a cenografia toma novo impulso. Os atores representam o espetáculo de maneira mais realista, pois o teatro era até então encenado de maneira diferente, onde não eram apresentados fatos do cotidiano. Agora, os atores representavam de forma fiel a época a ser encenada, exigindo assim pesquisa na formação do cenário. A influência dos Meininger é notada, pois existe uma busca de unidade na concepção de cada cena e do espetáculo como um todo, cada elemento deve estar interligado, porque o ator se movimenta no cenário.

Richard Wagner, Antoine, Stanislavsky, Fort e Meyerhold são alguns nomes que influíram de maneira básica nas concepções de cenografia atingindo o uso de novos textos e parte de técnicas utilizadas pelo teatro. No século XX, as concepções da história literária, como o Futurismo, o Expressionismo, a Vanguarda Russa, a escola de Bauhaus etc. marcam a sua personalidade na estrutura arquitetônica do teatro, na formulação de textos. Do ponto de vista arquitetônico, passamos do teatro tradicional para o Total Theatre de Gropius e para o teatro em forma de U, “com quatro palcos e a platéia disposta em forma de U, assentos móveis e giratórios para melhor visibilidade” (p. 57).

A autora, depois de um longo resumo das formações teatrais, que utilizamos de maneira muito breve, termina seu trabalho com uma visão desse processo no Brasil. Analisa quatro grandes momentos do nosso teatro: Santa Rosa, Teatro Brasileiro de Comédia, Teatro de Arena, Teatro Oficina.

O Santa Rosa assume seu aspecto mais grandioso com a montagem de Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues, dirigido por Ziembinski em 1943. O Teatro Brasileiro de Comédia, de 1948, lança “cenários bem acabados e adequados aos dramas encenados” (p. 84). O Teatro de Arena foge aos padrões existentes e em 1953 inicia suas atividades com os atores posicionados no centro, rodeados por espectadores. O Teatro Oficina, em 1961, possuía “a platéia nas laterais e no meio delas o lugar teatral” (p. 85). O número de encenações que surge durante as décadas de 1950 e 1960 é variado e em grande parte inovador no teatro brasileiro.

A obra termina com um vocabulário crítico muito útil ao leitor. A bibliografia é sucinta, mas comentada. Ao final, o texto apresentado é de síntese e bastante claro.

Viviane Mazin
Aluna do curso de Geografia, da USP

EDIÇÃO 26, AGO/SET/OUT, 1992, PÁGINAS 73