A FACE CRUEL DOS GOVERNOS DA BURGUESIA
Os historiadores estimam que a "semana sangrenta" que se seguiu à derrota da Comuna de Paris de 1871 deixou um saldo de 20 a 35 mil mortos; as fontes oficiais da época admitiam a morte de 17 mil pessoas. No total, perto de 100 mil operários parisienses foram atingidos pela repressão, entre os presos, exilados e assassinados. Pode se ter uma idéia da fúria repressora quando se compara esse número de mortos com as vítimas do Terror jacobino, de 6 de abril de 1793 a 27 de julho de 1794, quando 16.594 pessoas foram mortas, a maior parte delas adversária política da revolução francesa.
A hipocrisia burguesa, que faz a sobra destes mortos pairar como um véu sobre o brilho da revolução de 1789, esconde a mão manchada no sangue de um número muito maior de pessoas, num prazo de tempo infinitamente menor. Qualquer morte é lamentável; apesar disso, é possível medir, contando cadáveres, a intensidade terrorista de um governo. Os jacobinos governaram a França durante 457 dias; sob seu domínio, 36 pessoas morreram por dia. A repressão contra os Communards durou uma semana, durante a qual foram mortos de 2.850 a 5.000 pessoas por dia! Isto é, ela foi de 80 a 140 vezes mais mortífera do que os jacobinos. E suas vítimas foram escolhidas a esmo, no meio do povo, por qualquer capricho dos comandantes militares responsáveis pela chacina: o uso de barba, o uso de peças do vestuário da Guarda Nacional, delações, vinganças pessoais, suspeitas mal fundadas etc.
A sangrenta vingança da burguesia francesa contra os operários parisienses, que ousaram desafiar o poder do capital e da corrompida e caduca elite francesa, é um dos inúmeros casos em que – como um tigre enlouquecido – a repressão sufocou outros levantes operários e populares. Desde então, o “perigo comunista" ganhou adeptos cada vez mais radicais entre a direita e os conservadores, servindo de pretexto para massacrar movimentos populares, greves e toda atividade política independente do povo.
O espírito que animou esses massacres foi sintetizado pelo general argentino Ibérico Saint-Jean que, em 1976, justificou o golpe de Estado em seu país e a perseguição aos políticos democratas e populares dizendo: "primeiro mataremos os subversivos. Depois mataremos os colaboradores. Depois os simpatizantes. Depois, os indecisos. E finalmente, mataremos os indiferentes".
Essa estratégia tem permeado a história desde as lutas operárias do século passado, principalmente a Comuna de Paris de 1871. O "domingo sangrento" da revolução russa de 1905 é um exemplo. No dia 9 de janeiro daquele ano, a ingenuidade e o oportunismo do padre Georgei Gapon mobilizaram uma marcha de mais de 200 mil trabalhadores e seus familiares para levar ao czar Nicolau II uma petição contra a fome, a miséria e as degradantes condições de vida. No meio do caminho, porém, foram surpreendidos por tropas de cavalaria, que avançaram contra a massa, atirando, pisoteando-a com cavalos, golpeando-a com sabres. Até hoje não se conhece o número de mortos e feridos (1).
Porém, a fúria da cavalaria do czar não conseguiu deter a marcha da revolução na Rússia, e o êxito dos bolcheviques liderados por Lênin, em 1917, acentuou o ânimo anticomunista das elites em todo o mundo.
A Alemanha, no final da Primeira Guerra Mundial, viveu crise semelhante àquela que, na Rússia, evoluiu para a ruptura com o capitalismo. A monarquia alemã foi deposta e o governo assumido pelo Partido Social-Democrático, dominado por reformistas e oportunistas. O recém-criado Partido Comunista Alemão tentou repetir, então, o feito bolchevique, em vão. O oportunismo social-democrata fechou os olhos para a atuação dos freikorps, grupos de para-militares formados por soldados desmobilizados da frente de batalha. Autênticos esquadrões da morte, embriões das futuras milícias nazistas, os freikorps agiam livremente contra manifestações operárias, greves, levantes. O levante comunista de Berlim foi reprimido por eles, que prenderam, espancaram e assassinaram os líderes revolucionários Rosa Luxemburgo e Karl Liebknecht, no dia 15 de janeiro de 1919. Mais tarde, Leo Jochiges, companheiro de Rosa, também foi preso e assassinado, juntamente com centenas de operários, fuzilados pela repressão (2).
Nesse contexto nasceu o Partido Nacional Socialista alemão, em 1918, baseado num nacionalismo extremado, no anti-semitismo e, principalmente, num virulento anticomunismo (3). Em 1933, seu líder máximo, Adolf Hitler, chegou ao poder na Alemanha. Sua política belicosa e agressiva levou à invasão de países vizinhos, à intervenção a favor dos conservadores na guerra civil espanhola e, finalmente, à Segunda Grande Guerra. A Alemanha transformou-se então na potência industrial e militar cujo objetivo declarado e explícito era a luta contra a democracia e o comunismo e que tinha, entre seus objetivos principais, a expansão para o Leste europeu e a destruição do primeiro Estado socialista que se tentava construir na história, a União Soviética.
A guerra civil da Espanha, que opôs monarquistas e republicanos de 1936 a 1939, serviu de campo de testes para armas e militares nazistas, que atuaram ao lado dos monarquistas do general Francisco Franco. A guerra deixou um saldo de 600 mil mortos e um símbolo, a aldeia de Guernica, alvo dos pilotos nazistas da Legião Condor, que a destruíram completamente.
Ao fim da Segunda Grande Guerra, emergiu um mundo polarizado em torno de duas novas potências, os Estados Unidos e a União Soviética, em lados opostos. Teve início, então, a Guerra Fria que, para acertar a divisão do planeta entre dois blocos, esquentou em algumas partes, como na Grécia. Ali ocorreu uma guerra civil que pode ser encarada como o Vietnã dos anos 1940. Os alemães haviam sido expulsos principalmente pelos esforços do ELAS (Exército de Libertação Nacional), sob a liderança dos comunistas, que recusou-se a depor armas (como fizeram a resistência italiana e a resistência francesa) em favor de um novo governo, pró-ocidental. Em 3 de dezembro de 1944, os gregos conheceram então seu "domingo sangrento", quando tropas inglesas abriram fogo, em Atenas, contra o ELAS e contra manifestantes pró-independência e autonomia da Grécia. Houve um acordo de cessar fogo (acordo de Varkiza), e extremistas de direita tomaram o poder, iniciando uma guerra civil sangrenta e feroz (4). Nela, foram então testadas pela primeira vez muitas das idéias e métodos da contra-insurreição, que os norte-americanos e os europeus usaram (e ainda usam) após a Segunda Grande Guerra.
Essas táticas foram aperfeiçoadas pelos franceses na Argélia, onde, em novembro de 1954, começou a guerra pela independência contra a França. Os franceses aperfeiçoaram a tortura e o extermínio de prisioneiros, como métodos de interrogatório e repressão. Espancamentos, uso de choque elétrico e de produtos químicos, tudo isso foi sendo testado e incorporado ao arsenal de métodos antipopulares e antidemocráticos. A guerra da Argélia durou 8 anos, até a independência, em 1962 e os argelinos perderam um milhão de vidas como preço de sua independência nacional.
A "guerra fria" se espraiou pelo mundo todo e acentuou-se no Sudeste asiático, nos anos 1960 e 1970. Em 1961, começou a Guerra do Vietnã, onde o pretexto de afastar os comunistas do governo justificou a tentativa de sufocar a independência nacional daquele país. Também no começo dos anos 1960, na Indonésia, a repressão policial-militar erigiu um novo símbolo na luta contra a repressão ao povo: Jacarta. O governo Sukarno, um líder populista, apoiava-se no Partido Comunista Indonésio e tentava desenvolver um programa nacionalista. Em 1965, os militares, liderados pelo general Suharto, deram um golpe de estado e desencadearam uma selvagem caça não só aos comunistas, mas também aos "colaboradores", "simpatizantes", "indecisos" e "indiferentes" da Indonésia. Isto é, a todos os democratas, socialistas, comunistas e políticos populares que não seguissem a cartilha da extrema direita Indonésia. Chegaram a linchar adversários pelas ruas de Jacarta e, no final, mais de 500 mil "comunistas" forma massacrados.
A Guerra do Vietnã terminou em 1975, com a expulsão dos norte-americanos e seus aliados do país, numa derrota memorável: um pequeno e pobre país havia enfrentado vitoriosamente a maior potência militar do planeta. Ao custo de 1,5 milhão de mortos e 3 milhões de feridos (numa população total de 39 milhões de pessoas!) conseguiu unificar o país e afirmar sua soberania nacional.
Os bisnetos latino-americanos do general Galliffet, que foi um dos responsáveis pelo massacre da Comuna de Paris, agem hoje livremente em muitos países da América Latina. Eles fazem parte de uma longa tradição de militares que oprimem seu povo em defesa de interesses anti-nacionais, como os que, em 1907, no Chile, massacraram os mineiros de Iquique. Os trabalhadores haviam ocupado o porto, numa greve contra os patrões ingleses. Para fazê-los voltar ao trabalho, os militares cercaram a praça e metralharam o povo desarmado, em nome da defesa da "propriedade, da ordem pública e da vida!” (5).
Um ano depois, no México, o presidente Porfírio Diaz pedia ajuda militar aos norte-americanos para reprimir movimentos grevistas. Na cidade de Juarez, na fronteira, os líderes operários Flores e Magon, que eram irmãos, foram assassinados, e suas cabeças exibidas em praça pública, para servir de exemplo.
Na Argentina, surgia então a Liga Patriótica Argentina, uma organização paramilitar direitista, que matava operários e judeus nas ruas de Buenos Aires, coma complacência do governo. E, no interior do país, na Patagônia, o próprio exército fuzilava peões em greve nos latifúndios.
Os tiros que assassinavam o povo, em inúmeros episódios semelhantes na América Latina, defendiam os interesses das elites locais, aliadas ao imperialismo norte-americano. E o espírito que animava esses defensores da "civilização ocidental"
Relatos Macabros
Os fuzilamentos em Paris, durante a semana sangrenta
O massacre dos operários de Paris pelas forças policiais-militares da burguesia francesa teve requintes de crueldade. Marx, em A Guerra Civil na França transcreveu alguns relatos onde se nota que eles chocaram a própria imprensa burguesa da época. A seguir, reproduzimos esses relatos:
A coluna de prisioneiros se deteve na avenida Uhrich, e foi formada com quatro ou cinco filas, dando vista à rua. O general marques Galliffet e seu Estado-Maior desceram dos cavalos e começaram a passar em revista, da esquerda para a direita. O general andava lentamente, observando as filas; de vez em quando, se detinha e tocava o ombro de um prisioneiro ou o chamava com um movimento de cabeça, se estava nas filas de trás. Na maioria dos casos, os selecionados por esse procedimento, sem mais trâmites, eram postos no meio da rua, onde formavam uma pequena coluna à parte (…) A possibilidade de erro era, evidentemente, considerável. Um oficial montado indicou ao general Galliffet um homem e uma mulher, como acusados de algum crime. A mulher saiu correndo da fila, pôs-se de joelhos e, com os braços abertos, protestou sua inocência com grande emoção. O general aguardou uns instantes e, em seguida, com rosto impassível, e sem mover-se, disse: Madame, conheço todos os teatros de Paris: não vale a pena fazer comédias ("ce n'est pas la peine de jouer la comédie") (…) Aquele dia era pouco conveniente para alguém ser ostensivamente mais alto, mais sujo, mais limpo, mais velho ou mais feio que seus vizinhos. Um homem com o nariz cortado chamou a minha atenção e, em seguida, compreendi que devia àquele detalhe ver-se livre rapidamente deste vale de lágrimas (…) Deste modo foram selecionados mais de cem; um pelotão de fuzilamento destacou-se, e a coluna seguiu sua marcha. Em poucos minutos começou em nossas costas um fogo intermitente, que durou mais de um quarto de hora. Estavam executando aqueles desgraçados, condenados tão sumariamente (Correspondente do Daily News em Paris, 8 de junho).
Este Galliffet, "o cafetão de sua mulher, tão famosa pelas desavergonhadas exibições de seu corpo nas orgias do Segundo Império", era conhecido durante a guerra com o nome de "Alferez Pistola" francês.
O Temps, um jornal prudente e pouco dado a sensacionalismo, relata a história horrorizante de pessoas meio fuziladas e enterradas vivas.
Na praça de Saint Jacques-La-Bouchiere foi enterrado um grande número de pessoas; algumas delas muito superficialmente. Durante o dia, os ruídos da rua não permitia ouvir nada, mas no silêncio da noite os vizinhos das casas que rodeavam a praça acordaram ao ouvir gemidos longínquos, e pela manhã uma mão crispada foi vista saindo do solo. Em consequência disso, ordenou-se que se desenterrassem os cadáveres (…) Que muitos feridos foram enterrados com vida é coisa que não oferece menor dúvida.
Há um caso do qual posso falar pessoalmente. Em 24 de maio Brunel e sua amante foram fuzilados no pátio de uma casa na Praça Vendôme, onde seus corpos ficaram abandonados até a tarde do dia 27. Quando por fim vieram retirar os cadáveres, viram que a mulher ainda vivia e a levaram a uma clínica. Embora tivesse recebido quatro tiros, está agora fora de perigo".
(Correspondente do Evening Standard em Paris, 8 de junho). foi definido com precisão pelo chefão da Máfia norte-americana, Al Capone, em 1929. Falando para 10 mil estudantes no estádio da Northwestern University, aquele gangster conclamou-os, em meio à grande depressão, à "defesa contra o perigo comunista!” O mesmo espírito que, nos anos 1950, levou o senador direitista norte-americano Joseph McCarthy a criar a legislação anticomunista e o macartismo, iniciando uma perseguição sem tréguas contra todos os suspeitos de atentarem contra o status quo e o bom andamento dos negócios.
Repetindo os slogans "é proibido proibir" e "a imaginação no poder", dos estudantes franceses, universitários saíram às ruas da cidade do México em 1968, gritando palavras de ordem contra o governo. Foram massacrados na praça de Tlatetolco pelo exército mexicano. No Chile, Salvador Allende, do Partido Socialista, foi eleito presidente, e começou um programa de reformas que feria os interesses da elite local e do imperialismo. A CIA fomenta então um golpe de Estado, que assassinou Allende e iniciou uma ditadura sanguinária. O Estádio Nacional de Santiago tornou-se pequeno para a quantidade de prisioneiros lá alojados, e milhares de chilenos foram assassinados nos anos seguintes.
Na Argentina, os militares deram sucessivos golpes desde 1965, e o clímax da violência ocorreu no período iniciado em 1976, quando milhares de argentinos foram torturados e assassinados, muitos jogados em alto mar.
O Uruguai viveu história semelhante, com a característica de que lá os militares faziam os prisioneiros pagarem a estadia nas prisões do país!
Na América Central, a violência endêmica acentuou-se com o crescimento da guerrilha. Em 1979, os sandinistas tomaram o poder na Nicarágua; em consequência, a extrema-direita e os militares, apoiados pelos norte-americanos, recrudesceram sua atividade em El Salvador, Guatemala, Honduras e outros países da região. Esquadrões da morte agem impune e barbaramente na região, contra militantes operários, democratas e nacionalistas.
Em 1974, na Guatemala, o general Kjell Laugerud, eleito presidente através de fraudes, resolveu praticar as técnicas de contra-insurreição recomendadas pelos militares norte-americanos e desenvolvidas no Vietnã. Tornou-se comum ver-se cabeças de "bandidos", decapitadas, penduradas em postes, como exemplo.
Em 1980, na Bolívia, o general Luiz Garcia Meza liderou um golpe de Estado. O país vivia um processo de normalização institucional, e o golpe ocorreu às vésperas do segundo turno da eleição daquele ano. Na primeira rodada, nenhum candidato havia obtido maioria absoluta, o líder socialista Marcelo Quiroga Santa Cruz obteve uma votação expressiva, e o favorito era Sile Zuazo, de tendência nacionalista. O golpe de Estado, ocorrido no dia 17 de julho foi o mais violento da história boliviana. Grupos para-militares percorreram La Paz de alto a baixo, e mataram mais de 1.500 pessoas – entre eles Quiroga, Santa Cruz e vários outros líderes populares que, no momento do golpe, faziam uma assembléia na sede da Central Operária Boliviana, deliberando as providências que tomariam contra a ameaça de golpe.
Esta lista de horrores – na qual, deliberadamente, não nos referimos a episódios da história brasileira, que são muitos e tão dramáticos quantos os aqui lembrados – revela a face cruel do governo burguês contra os lutadores do povo e da democracia. Uma sanha que cresce à medida em que a luta de classe se torna aguda e que, como na Comuna de Paris, deixa de lado todos os disfarces judiciais e institucionais, e revela a violência crua e implacável daqueles que lutam em defesa dos privilégios da minoria.
São tantos os episódios violentos dessa natureza que pontilham a história do Brasil que o historiados Capistrano de Abreu escreveu, certa vez, que o povo brasileiro é um povo capado e sangrado; o historiador José Honório Rodrigues, por sua vez, disse – num ensaio sobre as lutas escras ocorridas durante o século passado – que o Império brasileiro viveu num estado de guerrilhas permanente.
Infelizmente episódios violentos não fazem parte apenas da história, mas frequentam o noticiário dos jornais mesmo em nossos dias, no limiar do século XXI. Lembre-se, por exemplo, da invasão da Companhia Siderúrgica Nacional, em greve, em 1988, quando soldados armados e tanques de guerra foram enviados contra operários indefesos, resultando na morte de trabalhadores.
O estado de guerrilha permanente subsiste ainda hoje no campo brasileiro, no conflito aberto entre latifundiários que monopolizam a posse da terra e lavradores que exigem um pedaço de chão para plantar.
O último episódio de grande repercussão, nesse particular, foi o assassinato de Expedito Ribeiro, presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria, no sul do Pará, parte trágica de uma série de assassinatos ocorridos na região. Desde 1980, só no sul do Pará, 173 militantes sindicais e outros defensores dos direitos dos trabalhadores rurais foram assassinados. Em Rio Maria, desde 1985, foram oito os mortos, entre eles João Canuto, primeiro presidente do Sindicato local, morto em dezembro de 1985, e dois de seus filhos, em abril de 1990.
Isso apesar de inúmeras vezes ter sido denunciada a existência de macabras listas de condenados à morte pelo latifúndio e seus capangas. São homens acima de qualquer lei; a impunidade é tamanha que os pistoleiros propagam abertamente seus "feitos". Afinal, a chance de serem pegos e terem que pagar por seus crimes são pequenas, apesar de todo o alarde feito em torno do julgamento dos matadores de Chico Mendes, cujo assassinato teve repercussão mundial.
Dados divulgados pela Comissão Pastoral da Terra comprovam a impunidade. Segundo a entidade, de 1964 a 1990, ocorreram 1.630 assassinatos de sindicalistas e trabalhadores rurais no país; apenas 22 deles foram levados a julgamento, e somente 14 foram condenados! Mas a ação dos donos de terra não se limita aos assassinatos, 512 trabalhadores rurais sofreram lesões corporais, 66 foram torturados, 401 foram presos ilegalmente, houve 1.079 agressões, ocorreram 5 sequestros e 5 trabalhadores desapareceram.
Marco Aurélio Ruy é jornalista.
Notas
(1) KOCHAN, Lionel. Origens da Revolução Russa. Zahar, RJ, 1968.
(2) GUIMARÃES, Juarez (org.). Rosa, a vermelha. Busca Vida, SP, 1987.
(3) CARSTEN, Francis L. Ascension del fascismo. Seix, Barcelona, 1971.
(4) GITLIN, Todd. “Contra-insurreição: mito e realidade”, in HOROWITZ, David (org.) Revolução e Repressão. Zahar, RJ, 1969.
(5) GALEANO, Eduardo. O século do vento (Memória do Fogo, III). Nova Fronteira, RJ, 1988 (os episódios da história das Américas aqui referidos foram extraídos desta obra).
EDIÇÃO 21, MAI/JUN/JUL, 1991, PÁGINAS 43, 44, 45, 46