Dez anos que abalaram o Brasil
Escrito em linguagem fácil, o livro se propõe a uma defesa ardorosa do neodesenvolvimentismo introduzido pelos sucessivos governos federais do PT. Sicsú busca o embate tanto com a direita conservadora, que tacha o período recente de intensas mudanças sociais no Brasil como “tempos estranhos”, quanto com a esquerda radical, que enxerga a manutenção do neoliberalismo e não reconheceria os avanços sociais do período.
Recheado de dados e estatísticas que sustentam a superioridade, em várias dimensões, dos governos petistas em relação aos tucanos, o texto é construído em torno de uma interessante tese: o neodesenvolvimentismo proporcionou à sociedade brasileira uma ampla disseminação do consumo de massa, apoiada na dinâmica de elevação do emprego e diminuição da desigualdade na distribuição de renda, melhorando a condição de vida do brasileiro e tornando-se o grande legado a ser defendido contra a regressiva investida conservadora.
Sicsú sustenta que o projeto neodesenvolvimentista deve responder a um novo nível de demandas e aspirações, a passagem do consumo de massa para o bem-estar e o bem viver, sintetizado na universalização do acesso a serviços públicos de qualidade. A tese pressupõe uma relação público/privado na sociedade brasileira que passa a pender para o primeiro, contradizendo uma tendência presente na configuração recente da classe trabalhadora brasileira, que nos últimos anos vem cada vez mais buscando o termo privado na saúde, previdência, segurança e ensino.
Em que pese a postura de defesa do projeto neodesenvolvimentista, Sicsú não deixa de apontar algumas importantes contradições, como o problema urbano decorrente da produção e consumo de automóveis. Se bem-sucedido no embate com a direita conservadora, o mesmo não acontece com a esquerda radical, esquivando-se ao resignar perante o arco de alianças que sustentou o projeto; ao apoiar o empresariado brasileiro na busca de competitividade global; e ao não assinalar as condições de trabalho precárias que se espraiam com o neodesenvolvimentismo.
Fábio Marvulle Bueno
Mestre em Economia pela Unicamp e doutorando em Sociologia pela UnB.