Luciana: Resistência, sagacidade e amplitude orientam ação do PCdoB
Segundo a dirigente, a resistência ao governo cresce em meio a dois fatores políticos fundamentais: o escândalo envolvendo a revelação de diálogos entre o ex-juiz Sergio Moro e procuradores da Operação Laza Jato e a situação caótica da economia brasileira.
Luciana considera que é preciso ficar claro para a população que os vazamentos das conversas entre o então juiz e o procurador Deltan Dallagnol, divulgadas pelo The Intercept Brasil, em parcerias com outros veículos de comunicação, demonstra que o atual ministro da Justiça usou a Lava Jato como projeto político eleitoral e pessoal.
“Ele virou ministro e queria ser presidente da República, quebrando o devido processo legal”, diz ela, referindo-se à determinação de Moro em prender Lula para beneficiar Bolsonaro nas últimas eleições. Portanto, o que está em jogo é a defesa do estado de direito e o devido processo legal.
“Os vazamentos feitos pelo The Intercept tornam mais equilibrada a relação de Moro com Bolsonaro. Agora é Bolsonaro que socorre a Moro. De igual modo cresce o número de personalidades do mundo jurídico que se manifestam questionando os procedimentos da Lava Jato”, afirmou
Luciana Santos diz que o importante é evitar que o caso vire um Fla-Flu, isto é, não se trata de um assunto a favor e contra a corrupção.
“Temos que fazer esse debate com amplitude. Não se trata de dois polos. Nós precisamos colocar o interesse do Brasil contando com todos os brasileiros e setores democráticos que sabem o significado que tem as instituições fortalecidas para um projeto de país democrático”, alertou.
“A noção de Frente Ampla que temos defendido coloca no centro de suas preocupações a questão democrática, por ela ser ampla em todas as suas vertentes. Não deixam de compor este quadro a defesa da soberania e do desenvolvimento nacional. No entanto, é na questão democrática que melhor se pode estabelecer pontes com outros atores políticos”, prosseguiu.
A dirigente comunista diz que a sagacidade está principalmente em conseguir explorar contradições entre as forças que poderiam aderir ao governo Bolsonaro. A defesa da democracia continua sendo a bandeira com maior capacidade aglutinadora
Economia
“Não há uma luz no fim do túnel”, disse Luciana Santos sobre a solução para o desemprego e retomada do crescimento. Prossegue: “Aí reside uma base objetiva de se estabelecer contraofensiva”.
Embora tenha capital político, Bolsonaro tem apoio de apenas um terço da população em seis meses de governo. Nesse período, houve o aumento de mais um milhão de desempregados.
“O processo de desindustrialização é acentuado e não há medida contra-cíclica. Pelo contrário, na proposta da reforma da previdência chegaram a colocar dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador) para financiar a previdência. No BNDES, desde o governo Temer, os recursos da carteira que financiam o setor produtivo, voltam para o tesouro para financiar superávit primário para a dívida pública”, argumentou.
No início dos anos 1980, o setor das indústrias atingia seu pico representando 22% do PIB. Atualmente, as estimativas recuaram para 10,4%, e ele pode cair para um número inferior a dois dígitos já em 2020.
Na sua visão, Bolsonaro é o governo do desmonte nacional. Para além da reforma da previdência, a agenda do governo se restringe em ampliar as privatizações com a Petrobras sendo fatiada, desregulamentação de setores estratégicos da economia e o estabelecimento na forma como se organiza o Orçamento da União.
“Há uma brutal contração de investimentos”, afirmou Luciana. Ela lembrou que somente com os gastos ligados ao Programa de Parceria Público Privada (PPP) e Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) se produziu uma queda de R$ 21,3 bilhões de 2014 para R$ 4,8 bilhões no primeiro trimestre deste ano, o que representa uma queda de 78%.
“O quadro é de total precarização das relações do trabalho. É cada vez maior o número de pessoas trabalhando sem nenhum vínculo formal de trabalho e de forma intermitente. Redução do valor real do salário. Ter um emprego com direitos assegurados se tornou um privilégio”, acrescentou.
Ela rebate a narrativa usada por Bolsonaro de que a culpa do quadro econômico é dos governos anteriores de Lula e Dilma. Em janeiro, lembrou a presidenta do PCdoB, a perspectiva de crescimento era de 2,4% do PIB. A expectativa em 2019 se encontra na casa de 0,87%, segundo o Banco Central.
Luta politica
Segundo a presidenta do PCdoB, o principal esforço do partido na elaboração se desenvolve em conjunto com a prática. “E no caso em concreto ele se dá na realização do enfrentamento ao governo Bolsonaro, e sua agenda ultraliberal, autoritária e antinacional (…) O núcleo central da tática continua o mesmo: resistência, amplitude e sagacidade”, afirmou.
Ao destacar figuras políticas importantes do partido como o governador Flávio Dino (MA), que exerceu papel importante na articulação de governadores do Nordestes que se posicionaram contra alguns pontos da reforma da Previdência, Luciana Santos disse que a resistência tem sido feita nas ruas e no parlamento.
Nesse ponto, ela destacou também a direção e coordenação pela UNE do maior vetor de mobilização de massa no país no período atual: os protestos contra os cortes de verbas das universidades brasileiras.
Também destacou o trabalho do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) na articulação do apoio a Rodrigo Maia (DEM-RJ) nas eleições para a Mesa da Câmara dos Deputados. O PCdoB acabou assumindo posições importantes como a Liderança da Minoria, Jandira Feghali (RJ), da Comissão do Trabalho, deputada Professora Marcivânia (AP) e as vice-presidências da Comissão de Ciência e Tecnologia, deputado Márcio Jerry (MA) e da Comissão de Educaçã, deputada Alice Portugal.
O apoio a Maia, segundo ela, ajudou na luta para derrotar o chamado projeto anti-crime de Sérgio Moro que visava legitimar as arbitrariedades cometidas por ele na Operação Lava Jato como o abuso da delação. Luciana também se referiu a alguns avanços na reforma da previdência como a retirada da capitalização do texto. “Isso enfureceu Paulo Guedes (ministro da Economia)”, disse
Governo Bolsonaro
Luciana Santos diz que o bolsonarismo é um fenômeno que envolve vários vetores e fatores. “Estamos completando nesta semana seis meses de governo Bolsonaro, em uma conjuntura marcada por tensões, instabilidades e imprevisibilidade. O governo se caracteriza pelo seu caráter autoritário, ultraliberal na economia, retrógado nos costumes e pela adoção de políticas neocoloniais e posturas de alinhamento e capitulação diante dos EUA”, argumentou.
Para ela, Bolsonaro procura encarnar o que ele conseguiu na campanha: o candidato anti-sistema, sendo ele a expressão máxima do sistema, da velha política.
“É um governo que procura se confrontar com a política e com as instituições, com qualquer tipo de tradição democrática (…) É um governo que age de maneira pensada utilizando como método o caos e o confronto”, argumentou.
Após as manifestações públicas em seu apoio, segundo Luciana, Bolsonaro buscou recuperar a iniciativa política. A seu modo, realizou uma primeira reforma ministerial com vistas a reorganizar o governo, colocando pessoas de confiança do núcleo familar.
“Generais demitidos, uns chamados de incompetentes, outro de sindicalista. Mudança na articulação política. E até um major da PM virando ministro. É possível que o governo ganhe uma dinâmica nova, contudo o mais provável é que continue realizando o enfrentamento ao Congresso e as demais instituições”, diz.
Ela afirmou que a disputa entre os núcleos de poder teve mesmo que momentaneamente um desfecho. “O clã sai fortalecido. Bolsonaro é quem manda. Demonstra que não será tutelado e que seu núcleo duro é o familiar. Mesmo com todas as tensões que devem ser exploradas, e que aqui não cabe nos aprofundarmos é nítida a existência de uma aliança muito forte, entre militares, Lava Jato e Bolsonaro”, diz.