Documentário animado produzido em 2008 por Ari Folman, um veterano da Guerra do Líbano de 1982. Narra as tentativas de Folman de recuperar suas memórias perdidas dos eventos que marcaram o massacre de Sabra e Shatila, durante a tomada de Beirute, sob o comando de Ariel Sharon, morto no dia 11 de janeiro de 2014, aos 85 anos após 8 anos em coma. Um filme inquietante que aborda fatos vistos pelos olhos de jovens combatentes israelenses, testemunhas de um dos maiores genocídios do Século XX.

Ariel Sharon, símbolo israelense da linguagem da força, morto recentemente, ficou marcado pelo envolvimento com alguns dos episódios mais violentos da relação do governo de Israel com os palestinos. Sua longa carreira militar e política, ocupando postos-chave desde a fundação de Israel em 1948, ficou manchada por episódios sangrentos, como a operação na aldeia palestina de Qibya — também conhecida como massacre de Qibya —, ocorrida em 1953 e que deixou 69 mortos, a maioria deles civis, quando ele era um jovem militar de apenas 24 anos. Em 2005, quando era primeiro-ministro, a Unidade Especial 101, comandada por Sharon, atacou uma aldeia na Cisjordânia — então sob domínio jordaniano —, destruindo 49 casas, uma escola e uma mesquita. Muitas das vitimas estavam dentro das casas, que foram explodidas pelas tropas.

Mas o massacre nos campos de refugiados palestinos de Sabra e Shatila, em setembro de 1982, foi o episódio mais sangrento da sua carreia. Em 1982, como ministro da Defesa, Sharon liderou a primeira guerra do Libano, contra as forças da OLP (Organização de Libertação de Palestina), baseadas no país. Cerca de 1.500 civis palestinos foram assassinados por milícias falangistas libanesas, que entraram nos campos de refugiados enquanto as tropas israelenses os cercavam. A Comissão Kahan, nomeada pelo governo israelense para investigar o massacre, chegou à conclusão de que Sharon era responsável por ter “ignorado o perigo de derramamento de sangue e não tomar medidas adequadas para impedi-lo”. Após o massacre, ele ficou conhecido como “o açougueiro de Beirute”.

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Operação cérebro de ferro

Adalberto Monteiro

As cidades palestinas são hoje um monte de escombros. Ferro retorcido, blocos de concreto e carne humana. A fúria dos tanques de Israel reduziu a pó tudo que tivesse vida ou fosse essencial à ela. Milhares de lares demolidos. Lavouras transformadas em cinzas. Nem as árvores escaparam, sobretudo as oliveiras. Massacre hediondo perpetrado pela sinistra dupla Ariel Sharon e George W. Bush. Mas cidades palestinas vão renascer, como já o fizeram variadas vezes desde 1948. A vida renascerá tal renasceu, após o massacre de Sabra e Shatila, ocorrido em 1982.

Nos últimos dias, a prepotência e o cinismo do Estado de Israel impõem mil e uma condições a ONU quanto ao envio de uma comissão para averiguar o massacre ocorrido em Jenin. Vai ser impossível ocultar o genocídio praticado. Os corpos de civis palestinos estão soterrados. Ninguém pode vê-los, pode interpelar o facínora. Contudo, há prova uma irrefutável: a fedentina que infesta os becos das aldeias, as avenidas das cidades destroçadas. De tal modo, que a comissão da ONU só não irá atestar o massacre, caso os seus integrantes sejam destituídos de visão, de audição e, sobretudo, de olfato.

Não será possível ocultá-lo

Estarrecido, o mundo democrático já se escandalizou com o que viu. A mesma indignação eclodida há vinte anos atrás. A data: dias 16, 17,18 de setembro 1982; a vítima: a população civil palestina de Beirute ocidental, Líbano, nos campos de Sabra e Shatila; o verdugo, o comandante do massacre: General Ariel Sharon, então ministro da defesa do Estado de Israel; o fato: em 4O horas de carnificina, as denominadas falanges libanesas em conluio com o Exército de Israel assassinam 3 mil homens, crianças e mulheres; nome da operação arquitetada e comandada por Sharon: “Cérebro de Ferro”.

Vejam, o quão sanguinário é o cérebro de ferro. Pouco tempo antes deste genocídio, fruto do chamado “acordos Habib” os guerrilheiros da OLP deixam Beirute ocidental sob proteção de forças internacionais. Uma das mais importantes cláusulas do referido acordo estabelecia que, sob nenhuma hipótese, as tropas de Israel poderiam invadir Beirute. Isto evidentemente porque a numerosa população de refugiados palestinos ficara sem proteção.

Pois bem. No dia 14 de setembro de 82, morre, vítima de um atentado à bomba o recém eleito, presidente do Líbano, Bechir Gemayel, notório aliado dos israelenses. Na noite desse mesmo dia, estabelece-se uma ponte aérea que transporta, tropas e armamentos das bases militares do Estado de Israel para Beirute.

No dia seguinte, 15 de setembro, a ponte aérea militar se intensifica. Os tanques e a infantaria israelense vão penetrando e assumindo o controle dos indefesos campos de refugiados de Sabra e Shatila. Dois generais israelenses reúnem-se com os comandantes das milícias unificadas da direita cristã, as falanges. Pauta: a ocupação dos campos de refugiados. O general Ariel Sharon, pessoalmente comanda suas tropas.

A diplomacia palestina entra em ação

Cobra, principalmente, dos Estados Unidos, os termos dos “acordos Habib”. O então do presidente dos EUA, Ronald Reagan, despacha seu assessor, Morris Draper, à região. Menahem Begin, à época primeiro- ministro do Estado judeu, pediu ao diplomata norte-americano que tranqüilizasse a OLP e o mundo. E explicou: Nosso objetivo é manter a ordem na cidade. Com o assassinato de Bechir Gemayel poderia ocorrer progromes (massacres). O tal Draper, ainda pergunta se Israel tinha intenção de abrir os acampamentos às Falanges. Begin, responde: somente algumas operações restritas. Diante dessa resposta, o representante yanque afirma: Estou satisfeito com as explicações de Begin. (O leitor se deve se lembrar do que, semanas atrás, disse Colin Power enviando de Bush ao Oriente-Médio: Estou satisfeito com as explicações de Ariel Sharon…).

Setembro, dia 16. Ariel Sharon dá sinal verde aos seus generais. Conforme o combinado, a matança seria feita pelas tropas falangistas. Então, sob o comando e proteção do exército israelense, 1.500 homens das falanges, fortemente armados, marcham e penetram nos acampamentos de Sabra e Shatila. Às 5 da tarde, começa a carnificina que se prolonga por 40 horas. Crianças e mulheres palestinas que conseguem escapar chegam até os soldados israelenses e informam que as falanges estão matando tudo que encontram pela frente: pessoas e animais. Os soldados comunicam o fato aos oficiais e estes respondem: fiquem calmos a situação está sob controle. Os generais israelenses do alto de seu QG, munidos de binóculos, a tudo assistem e tudo relatam a Ariel Sharon.

Eis, os fatos

Que levam o mundo democrático a denominar Ariel Sharon, um criminoso de guerra. Hoje alçado à condição de primeiro-ministro de Israel, implementou a parte II, da “Operação Cérebro de Ferro”. Na verdade o povo palestino depois da nação afegã, foi a vítima seguinte, da guerra longa, prolongada e suja que Bush jurou contra os povos depois do 11 de setembro.

Desde a II Intifada que começou em 28 de setembro de 2000 até 13 de abril de 02, sem incluir as vítimas de Jenin, segundo a ONG palestina MIFTAH, 1.438 palestinos foram mortos, 18.890 feridos e 112.900 oliveiras arrancadas e 7 mil residências destruídas.

Caro leitor, minhas desculpas. Mas diante de tanta atrocidade, a poesia vai provocá-lo. Se você não é capaz de lutar pela paz, pelos os que estão sendo mortos agora, lute por você mesmo. Amanhã o país bombardeado poderá ser o seu, e aquela criança que aparece morta no vídeo, talvez não seja uma menina árabe,mas a sua filha!

Adalberto Monteiro é jornalista, poeta e membro do Comitê Central do PCdoB.