Relações Exteriores: Novo ministro fortalece agenda ambiental
O novo ministro das Relações Exteriores, embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, foi um dos mais respeitados negociadores do clima do mundo. Sua indicação pode sinalizar a intenção do governo Dilma Rousseff de fortalecer a agenda ambiental na pauta internacional brasileira, mas mostra a proximidade que o advogado carioca tem com a presidente.
Figueiredo tem também bom trânsito no governo americano, e a troca de comando do Itamaraty não deve causar problemas à visita de Estado de Dilma aos EUA, em outubro. Para uma fonte, a mudança pode servir inclusive para uma superação mais rápida do episódio das denúncias de que o governo americano espionou telefonemas e e-mails de brasileiros.
Figueiredo, de 58 anos, chefiou a delegação brasileira nas negociações do clima da famosa conferência de Copenhague, em dezembro de 2009, até a chegada de Dilma, que então era chefe da Casa Civil. Na Dinamarca, ela acostumou-se a chamá-lo publicamente de “Fig”. Quando o evento se aproximava do fracasso, Figueiredo voltou ao Brasil no mesmo voo do então presidente Lula e de Dilma, para ajudá-los a explicar, na chegada ao Brasil, o que havia acontecido. A conferência ainda não havia terminado, e a delegação brasileira ficou sem seu principal negociador.
Figueiredo também foi a mente por trás da negociação da Rio+20, a conferência da ONU de junho de 2012, no Rio. Sua presença era tão forte que ofuscava a do chefe, o ex-ministro Antonio Patriota.
Ele é um defensor de posições mais nacionalistas que globais. Nas negociações de clima, por exemplo, não permite que o acordo sobre florestas avance antes dos demais, para que o Brasil não fique sem poder de barganha. Na conferência do clima de Durban, na África do Sul, ganhou espaço na imprensa mundial por sua habilidade em liquidar com um impasse que opôs a delegação indiana e a da União Europeia. Figueiredo sugeriu uma troca de palavras sutil e terminou com o confronto.
Aos 58 anos, ele acabara de deixar a sub-secretaria geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia, que ocupava desde 2011.
Entre suas marcas estão a habilidade sofisticada de negociar e uma personalidade centralizadora. Ele vê as questões ambientais como entrelaçadas com os movimentos da economia.
Além de ser uma resposta ao governo da Bolívia, a substituição de Patriota por Figueiredo agregaria ao governo Dilma um trunfo político eleitoral: o diplomata tem um histórico de bem sucedida atuação na área ambiental, justamente o setor em que a ex-senadora Marina Silva, pré-candidata à Presidência, mantém seu mais forte discurso.
Para os parceiros do Brasil, em particular, e para os colegas chanceleres de maneira geral, o novo titular do Itamaraty será talvez uma face — e uma interface — mais conhecida do que era o antecessor, Antonio Patriota, no início do governo Dilma.
Aos 58 anos, nascido no Rio de Janeiro, Figueiredo faz parte da mesma geração de diplomatas à qual pertence o próprio Patriota, assim como os atuais titulares de vários dos postos mais importantes do Itamaraty. O novo chanceler ingressou na carreira diplomática em 1980, e nas três últimas décadas representou o país nos principais foros e encontros internacionais relacionados à questão ambiental — integrava o Departamento do Meio Ambiente já em 1992, ano em que o Rio sediou pela primeira vez a conferência da Organização das Nações Unidas sobre o tema. Antes de retornar como chefe de missão à ONU, onde já servira entre 1986 e 1989, era subsecretário-geral de Meio Ambiente, Energia, Ciência e Tecnologia no ministério.
Promovido a embaixador em dezembro de 2009, o novo chanceler exercia pela primeira vez a chefia de uma missão permanente, mas tem passagens pelas embaixadas brasileiras em Santiago, Washington e Ottawa, além da representação perante a Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco).