Protestos e democracia: para Dilma, tudo a ver
Dilma criticou, no entanto, as interrupções de rodovias e os atos violentos que, em sua opinião, precisam ser condenados e coibidos pelo governo. “Nós contamos também com o Judiciário, para multar aquelas organizações e aquelas entidades que paralisam estradas porque o direito de ir e vir é fundamental. É um direito democrático”, disse.
Ela acha que o governo deveria acelerar as reformas para atender as demandas da população. “Precisamos de melhores serviços públicos no Brasil”, afirmou.
Lembrou que, nos últimos dez anos, o país “avançou de forma expressiva” e que essas conquistas “vieram para ficar e não serão de nenhuma forma abaladas”. Segundo ela, cabe agora “aumentar os direitos sociais”.
O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que acompanha a presidenta na viagem a Montevidéu, e cada vez ocupa mais as funções de chefe da Casa Civil, também criticou o bloqueio de estradas porque “prejudica a vidas das pessoas e não constrói nada – não gera mais democracia, nem mais direitos sociais”.
Ele disse que as manifestações precisam ser respeitadas, mas os manifestantes também precisam respeitar os direitos dos outros. “Isso faz parte do amadurecimento e acho que está cada vez mais sólido”. Mercadante acha que os protestos estão “mais moderados”.
Dilma e Mercadante deram a entrevista no mesmo momento em que o Dia de Lutas promovido pelas centrais sindicais se encerrava, de certa forma de maneira melancólica: embora as manifestações tenham afetado relativamente o dia a dia de algumas capitais, elas não empolgaram a população em geral.
Foram mais para “inglês ver”, ou seja, para sair no noticiário dos jornais.
As bandeiras de luta dos sindicalistas são inteiramente justas.
Talvez as manifestações ajudam a abrir mais os canais de comunicação com o governo federal.
O perigo, porém, é transformar reivindicações legítimas em meros atos de protesto contra um governo que tem continuado o processo de transformação do Brasil numa sociedade mais justa e igualitária e em palanque eleitoral para oportunistas, como o deputado Paulinho da Força (PDT-SP), que controla há anos a segunda maior central sindical do país.
A presidenta Dilma, de todos os políticos da situação e da oposição, foi quem reagiu com maior sensibilidade às “vozes da rua”, tendo a coragem de propor uma reforma política radical, por meio de um plebiscito.
Para quem a acusava de ser apenas uma “gerentona”, sua proposta revelou uma notável sensibilidade política, e por isso mesmo é que foi bombardeada pelos conservadores, esses que, como o príncipe Falconeri, do extraordinário “O Leopardo”, de Lampedusa, querem mudar tudo para que tudo fique exatamente como está.
Suas declarações em Montevidéu vão no âmago da questão: querer mais é positivo para a democracia.
O único problema é que, no Brasil, existem poderosos interesses que lutam diariamente contra a democracia.