A crise é “100% nacional”?
Uma informação do Financial Times, reproduzida pelo jornal Valor Econômico, dá conta de que o crescimento dos emergentes, no primeiro semestre deste ano, excluída a China, foi de zero por cento! As moedas de todos eles se desvalorizaram. Números ainda quentes, saídos dos fornos da Cepal, registram o prognóstico de que neste ano o crescimento da América Latina será de algo próximo a 0,5%.
Por sua vez, o Fundo Monetário Internacional (FMI) estima que a economia mundial deverá crescer apenas 3,3%, menos que em 2014, devido à anêmica recuperação das economias do centro capitalista e ao desaquecimento das economias dos emergentes.
Portanto, a recessão que afeta a economia brasileira está muito longe de ser “100% nacional” como querem a grande mídia e a direita neoliberal.
“A grande recessão” mundial açabarca, na atual etapa, as economias dos países da periferia do sistema que, numa fase anterior, haviam conseguido driblar ao menos em parte seus impactos.
Foi preciso algo do tamanho da China bater na cara dos comentaristas econômicos dos grandes veículos de comunicação para que, constrangidos, fossem obrigados a admitir que há sim crise no mundo e que ela atinge os países em desenvolvimento.
É fato que a recessão da economia local tem também fatores internos. E se destacam entre tais fatores, os efeitos – conforme reconhecem vozes do próprio mercado – da Operação Lava Jato, que derrubou o crescimento do setor de infraestrutura e da construção civil. Se a recessão este ano chegar a 2,5% do PIB, calcula-se que no mínimo 1% deriva da tática de terra arrasada da direita neoliberal, da campanha do quanto pior melhor, do ataque cerrado às empresas nacionais, em particular contra a Petrobras.
O ambiente forjado pelo golpismo, marcado pela instabilidade política, associado à dinâmica arrasadora da crise capitalista, inibe os investimentos, instaura o império da dúvida. Qual capitalista fará um grande investimento numa atmosfera volátil, num clima de golpe em marcha no qual reina a incerteza, inclusive institucional?
Por óbvio, a recessão também decorre de erros do governo, que se somam a obstáculos estruturais ao desenvolvimento, que demandam convicções e relação de forças para que sejam superados. Entre os equívocos do companheiro governo se destacam a escalada de aumento da taxa básica de juros, que somente agora foi freada. Freada, mas com a taxa lá nas alturas.
Outro erro foi o ajuste contracionista quando a economia já estava ladeira abaixo. A crítica ao ajuste recessivo não implica comungar com as ilusões daqueles que julgam que o “Estado pode tudo”, tampouco não entender que há sim uma crise fiscal no país. O erro é mandar a conta apenas para o “andar de baixo”, protegendo os que ganham fortunas, como é o caso dos Bancos.
Os efeitos da crise mundial do capitalismo, êxitos da tática do quanto pior melhor da oposição, erros do governo, nesta ordem, são as causas de fundo da recessão brasileira.
Adalberto Monteiro, presidente da Fundação Maurício Grabois e editor da revista Princípios.