Venizelos apelou ao primeiro-ministro Antonis Samaras para “salvaguardar a unidade e o futuro do governo” de coligação, formado há um ano, após as eleições legislativas, em um contexto de profunda crise econômica e social.

O líder socialista e o outro parceiro da coligação, Fotis Kouvelis, representante da Esquerda Democrática (Dimar), opuseram-se ao fechamento da ERT, decidida na noite de ontem (11) pela Nova Democracia (ND), de tendência direitista e liderada por Samaras, chefe do Executivo.

Em uma intervenção perante seu grupo parlamentar, Venizelos lamentou que apenas os ministros da direita tenham assinado o ato legislativo, rejeitado pelos demais ministros do governo. Na terça-feira, Venizelos e Kouvelos recusaram-se a assinar o ato que determina o fechamento da televisão e da rádio públicas.

Segundo a rádio grega Radio Bubble, o governo grego publicou um ato legislativo de emergência ontem pela manhã para garantir a base legal para o fechamento da ERT. O dispositivo dá a ministros o poder de fechar agências estatais e demitir funcionários com uma única canetada. A avaliação do caso pelo parlamento só pode acontecer daqui a quatro meses.

Jornalistas de redes estatais de rádio e TV europeias, como a RTVE, na Espanha, e a RTP, em Portugal, decidiram cruzar os braços em solidariedade aos gregos demitidos ontem. “Não queremos para nós uma RTP encerrada. Somos todos gregos”, anunciaram os funcionários da rede portuguesa.

A decisão de fechar a ERT, segundo o governo grego, abre caminho para a criação, a partir do dia 29 de agosto, de uma nova emissora pública de rádio, TV e internet, que já tem nome: NERIT (Nova rádio, internet e TV helênica). Ela terá entre 1 mil e 1,2 mil funcionários – menos da metade do corpo da rede fechada ontem.

A deputada grega Anni Podimata, do partido de centro-esquerda PASOK e parte da coalizão governista, lamentou a decisão unilateral. “A morte súbita da rede pública de rádio e TV confirma a morte lenta da democracia, e este é um problema europeu”, afirmou.

Apesar de favoráveis à reestruturação da ERT, um organismo muito criticado por seus privilégios, clientelismo e má gestão, Venizelos e Kouvelis indicaram que seus deputados “não vão aprovar o decreto-lei destinado a validar o ato legislativo”.

O fechamento da ERT provocou um choque na Grécia, com os sindicatos dos setores privado e público acenando com a possibilidade de greve geral para amanhã (13) e concentrações em frente à sede da empresa. O fechamento repercutiu também em outros países.

15 mil em dois anos

Em abril deste ano, o governo grego anotou uma meta para os próximos dois anos: demitir 15 mil funcionários públicos. A medida apenas reverbera diretrizes do FMI (Fundo Monetário Internacional), da Comissão Europeia e do Banco Central Europeu, a troika, impostas em seus memorandos para reestruturação da economia grega.

Mas na semana passada o próprio FMI admitiu, em relatório sobre as medidas de austeridade na Grécia, graves falhas na condução da crise. Para o órgão, as diretrizes foram duras demais, e os resultados muito piores do que se previa. O país está em recessão há cinco anos e o desemprego está chegando aos 30% da população.