Brics avançam na América Latina
No início de junho, testemunhamos alguns desenvolvimentos cruciais do ponto de vista dos países do Brics. O ministro das Relações Exteriores cubano visitou Nova Déli e buscou estabelecer a parceria do Brics com os países da América Latina. Além disso, representantes de Cuba, Haiti, Costa Rica e Chile encontraram o chanceler russo Serguêi Lavrov, em Moscou, e buscaram a cooperação da Rússia para o desenvolvimento dos países latino-americanos. Por fim, o presidente chinês, Xi Jinping, visitou Trinidad e Tobago, Costa Rica e México, para ampliar o envolvimento da China na região.
Assim como a África, a América Latina está emergindo como um polo de desenvolvimento econômico, com enormes recursos naturais. Por isso, o engajamento do Brics na região, que é constituída por 33 países e possui no total 600 milhões de habitantes, tornou-se oportuno. A criação da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (CELAC), em 2011, favoreceu o desenvolvimento de uma voz única na região. Sendo o Brasil um membro do Brics, bem como da CELAC, o envolvimento dos Brics na região será mutuamente benéfico com implicações mais amplas para o cenário mundial.
O ministro das Relações Exteriores cubano, Bruno Eduardo Rodríguez Parrilla, disse em Nova Déli que a “CELAC quer melhorar as relações com os Brics”. “Queremos mais cooperação econômica com a Índia e as outras nações do Brics, pois consideramos essa relação valiosa”, acrescentou. A Índia é o primeiro parceiro de diálogo da CELAC, que tem proporcionado ao grupo um formato para estreitar as relações com a Índia em diversas áreas, sobretudo em tecnologia da informação, serviços médicos e turismo, conforme sugerido pelo ministro cubano. “Vemos uma oportunidade para estabelecer relações econômicas mutuamente benéficas com a Índia”, anunciou.
A CELAC tem um formato semelhante de diálogo com a China, que pode ser estendida para a Rússia e África do Sul. A CELAC, que é composta por todos os países do continente americano, exceto os EUA e o Canadá, começou recentemente a explorar as relações econômicas com outros países, incluindo as grandes potências do Brics. Parrilla destacou que há muitos valores e objetivos comuns entre a CELAC e o Brics que precisam explorados mais a fundo.
Os ministros das Relações Exteriores de Cuba, Haiti e Costa Rica e o vice-ministro das Relações Exteriores do Chile encontraram o chanceler russo Serguêi Lavrov na capital russa para discutir sobre vários assuntos, incluindo a promoção de um diálogo mais próximo, comércio e um regime de isenção de vistos. O comunicado conjunto englobou pontos comuns de interesse nas áreas de combate ao terrorismo, desenvolvimento das relações econômicas, promoção da democracia e dos princípios do direito internacional e luta contra o crime organizado transnacional, bem como outras ameaças e desafios. No final da reunião, Lavrov ressaltou o desejo de contatos permanentes entre a CELAC e o Brics. “Acreditamos que é uma ideia muito atraente e nós definitivamente discutiremos isso com outros os Estados que fazem parte dessa associação”, disse o ministro russo. Lavrov também expressou a vontade de criar um mecanismo permanente de diálogo político e de cooperação entre a Rússia e a CELAC.
A China começou a acompanhar vigorosamente a política latino-americana. O país já substituiu os EUA como o maior parceiro comercial do Brasil e do Chile. Suas relações comerciais com a América Latina aumentaram bastante ao longo da última década. De 2000 a 2011, essas trocaram cresceram em 20 vezes, passando de US$ 3,9 bilhões para US$ 86 bilhões. Às vésperas da visita de Xi Jinping à América Latina, o assistente do ministro das Relações Exteriores chinês, Zheng Zeguang, negou qualquer concorrência entre a China e os EUA na região e afirmou que a China pode trabalhar com os EUA em uma estrutura baseada em confiança mútua, igualdade e inclusão. Xi Jinping foi recebido pelo primeiro-ministro de Trinidad e Tobago, Kamla Persad-Bissessar. Além desse país caribenho, o presidente chinês visitou também a Costa Rica e o México. A China está na expectativa de ampliar seus investimentos na exploração de recursos naturais, incluindo os recursos energéticos da região.
O envolvimento dos Brics com a CELAC não é apenas um fator de promoção do multilateralismo e fomento de uma ordem mundial multipolar, mas também acumula vantagens econômicas para ambas as partes. Enquanto os membros do Brics estão aperfeiçoando rapidamente suas economias com enormes recursos financeiros, os países da CELAC também registraram crescimento, apesar da desaceleração econômica global. Fora isso, os países latino-americanos são ricos em recursos naturais. A União das Nações Sul-americanas sobre Recursos Naturais e Desenvolvimento Integral, em sua reunião na capital venezuelana no início de junho, enfatizou a importância dos recursos naturais e sua exploração para o desenvolvimento da região. A América Latina possui 38% do cobre mundial, 21% do ferro, 65% das reservas de lítio, 42% da prata e 33% do estanho. Também possui cerca de 30% do total dos recursos hídricos do mundo e 21% das florestas naturais. Alguns dos países latino-americanos, como México e Venezuela, são também ricos em recursos energéticos. A enorme população da CELAC torna essa região um vasto mercado para investimento e também para a importação dos países do Brics.
O crescente poder dos Brics vai aumentar ainda mais com o seu envolvimento intenso na América Latina. Embora muitas das iniciativas discutidas acima estejam relacionadas a cada um dos membros dos Brics, isso contribui para a esfera coletiva de influência do grupo. À medida que o engajamento com alguns membros da América Latina se tornar mais dinâmico, mais perspectivas coletivas poderão ser exploradas. O grupo pode seguir com estratégias comuns para explorar os recursos da região e, assim, tirar proveito mútuo. Nesse contexto, a proposta de criação de um banco do Brics poderá ser uma ferramenta eficaz.
Debidatta Aurobinda Mahapatra é um observador indiano. Entre suas áreas de interesse estão conflitos internacionais, terrorismo, paz e desenvolvimento, bem como aspectos estratégicos da política eurasiática.
11/06/2013 Debidatta Aurobinda Mahapatra, observador indiano