O papa Francisco afirmou nesta quarta-feira (24/04) à Associação Civil Avós da Praça de Maio, organização de direitos humanos que procura crianças sequestradas ou desaparecidas pela ditadura militar argentina, para “contarem com ele” na busca dos familiares.

“Contem comigo, eu estou à disposição”, afirmou o papa Francisco à presidente da assoaição, Estela de Carlotto, que compareceu à audiência acompanhada por Juan Cabandié, um dos 108 filhos encontrados pela associação e Buscarita Roa, integrante da associação e sequestrada na ditadura.

As Avós da Praça de Maio pediram ao papa para que abra os arquivos da Igreja argentina e do Vaticano para ajudar a averiguar o destino de 400 filhos de desaparecidos, seus netos. As crianças, que ainda não foram identificadas, foram separadas dos pais na prisão ou após eles serem assassinados pela ditadura. Segundo organizações de direitos humanos, cerca de 30 mil pessoas desapareceram durante o regime militar na Argentina. 

Durante o encontro, Estela afirmou ao papa que tinha ido ao Vaticano para lhe pedir ajuda na missão de encontrar seus netos e, segundo ela, o papa Francisco lhe respondeu duas vezes: “contem comigo, contem conosco”. Ela elogiou a postura do pontífice. “Isso é muito significativo. Trata-se da confirmação de um compromisso do papa, um compromisso da Igreja”, acrescentou. Ela ressaltou que, quando Francisco era bispo de Buenos Aires, “nunca falou nos desaparecidos. Isso nos machucava muito.”

Após o encontro com o papa, Estela fez questão de reiterar que a cúpula da igreja argentina foi cúmplice da ditadura, “muito por omissão”, e que não estão pedindo que lhes peçam perdão, “apenas que ajudem a encontrar nossos netos, já que não queremos morrer sem os conhecer e sem transmitir que seus pais lutaram para que nunca mais houvesse ditaduras”.

“A Igreja sabe” o que aconteceu, falou. “Algumas comunidades de freiras recebiam nossos netos, que depois eram repassados a outras famílias. Isso está escrito e pode ser comprovados nos arquivos. Não estamos pedindo nada impossível”, acrescentou Estela.

A representante das Avós da Praça de Maio contou que sua filha foi assassinada pelos militares apenas dois meses depois de ter dado à luz. “Voltaremos convencidos de que iniciaremos uma nova fase”, completou a ativista. “O encontro nos deu esperança, esperança não por ter tocado a mão de um papa, mas por ter aberto o caminho dos encontros, algo que é fundamental”, finalizou.

* Opera Mundi com informações de Efe e El Occidental