Três anos antes do golpe que destituiu Fernando Lugo da Presidência do Paraguai, em junho de 2012, o país já vivia uma crise política decorrente da frágil coalizão governista formada pela Frente Guasú, que dependia do apoio do PLRA (Partido Liberal Radical Autêntico), e do surgimento de novos casos de crianças que supostamente seriam filhos do presidente.

Naquela ocasião, em maio de 2009, a orientação da embaixada norte-americana em Assunção para o presidente Barack Obama era estreitar os laços com Lugo, segundo documentos revelados pelo Wikileaks.

“Lugo continua enviando sinais positivos para mostrar que respalda a assistência e a cooperação com os EUA. Nós devemos fazer tudo o que for possível para construir uma amizade com Lugo”, afirmou a então embaixadora Liliana Ayalde.

Para ilustrar o apoio de Lugo aos Estados Unidos, Ayalde cita a recusa do presidente paraguaio em visitar o Irã em uma possível viagem ao Oriente Médio. Ao avaliar o governo do ex-bispo, porém, a embaixadora classifica seus principais assessores como “inexperientes”.

Apesar da mensagem, o governo Obama foi um dos primeiros a reconhecer a legitimidade de Federico Franco como presidente do Paraguai, em junho de 2012. Franco, do PLRA, era vice de Lugo e chegou ao poder depois de o Senado aprovar o impeachment do ex-bispo “por mau desempenho de suas funções” durante o massacre de Curuguaty, que deixou 14 mortos no conflito entre policiais e camponeses.

Antes de usarem essa justificativa, parlamentares liberais e do Partido Colorado já haviam tentado instaurar um julgamento político de Lugo outras 24 vezes no Parlamento paraguaio.

Desde 2009 os Estados Unidos já tinham conhecimento de um plano para desestabilizar o governo e destituir Lugo. Na época, os diplomatas norte-americanos apontavam o ex-general Lino Oviedo, morto em fevereiro de 2013, e o ex-presidente Nicanor Duarte Frutos como responsáveis pela organização do golpe de Estado.

Franco não foi reconhecido pela maioria dos países sul-americanos e o Paraguai está suspenso do Mercosul e da Unasul (União das Nações Sul-Americanas). A suspensão deverá acabar após a realização das próximas eleições presidenciais, em 21 de abril, caso o pleito seja considerado limpo e transparente.

Publicado no Opera Mundi