O suicídio no começo do ano do ex-lançador Cho Sung-min, famosa estrela do beisebol, comoveu por completo a Coreia do Sul.

Ex-serpentineiro da equipe japonesa Yomiuri Giants e ex-esposo da atriz Choi Jin-sil, Cho foi encontrado morto no banho pendurado pelo pescoço por um cinto.

Em 2008, Choi também se tirou a vida de uma maneira similar.

A Coreia do Sul, com 15 mil suicídios ao ano, possui a maior taxa desses episódios entre os integrantes da Organização de Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ou seja, tirar a própria vida é um fato frequente do ponto de vista de uma parte da sociedade.

Entretanto, a notícia do ex-beisbolista tem chamado à reflexão para uma política orientada a evitar esses acontecimentos.

A Ponte de Mapo, denominado como “da Morte”, com mais de 100 tentativas de suicídio nos últimos cinco anos, reflete um tanto a situação em que se acha esse estado do sul.

Em 2012, o governo de Seul tomou decisões para tentar reduzir esse número e renomear essa via como “Ponte da Vida”.

Assim, em setembro de 2012, se colocaram mensagens otimistas e fotografias de bebês sorridentes, de forma a recordar, aos que querem pôr fim a sua vida, que seus entes queridos os estão esperando.

Mapo é uma das 25 pontes que cruzam o rio Han, divisor de Seul, e a iniciativa parece exitosa, ao dizer de Lee Gi Duck, servidor público do governo da capital.

“Há pessoas que compartilham suas experiências como o caso de um adolescente, que decidiu acabar com sua existência, mas encontrou mensagens que foi lendo e no final, em lugar de encontrar o lugar perfeito para se matar, tinha cruzado a ponte”, indicou Lee.

A prefeitura de Seul pensou em erigir cercas altas no lugar, mas segundo o servidor público, essa medida só faria a pessoa mudar de lugar, mas não a mente.

Na Coreia do Sul os suicídios são a causa número um de mortes entre os adolescentes e o grupo etário de 15 a 30 anos.

Segundo os especialistas, uma das razões principais para essa alta taxa refere-se a uma cultura muito rigorosa da honra e do orgulho pessoal. Então muitas pessoas que precisam de ajuda, não são capazes de se abrir a outras, concluiu Han Sang-hoon, diretor da Linha de Vida Coreia (uma linha telefônica para as pessoas em perigo).

Mas também operam outras razões.

Antes de ser um país “rico”, a taxa de suicídio no Estado meridional estava dentro das mais baixas de todos os países industrializados.

Com a modernidade também chegou a Coreia do Sul a extensão dos horários trabalhistas e a diminuição das horas de descanso e incrementado os níveis de stress e seu custo foi alto.

A realidade é que hoje esse Estado asiático ocupa um lugar na vanguarda da triste estatística dos suicídios.

Alguns dos motivos dos jovens para pensar em tirar a própria vida como opção, emergem dos problemas com seus pais, seguida por outros entre os que destacam a insegurança para atingir um futuro seguro ou o stress escolar.

O caso dos mais jovens supõe um problema ainda mais preocupante.

A Internet, por exemplo, converteu-se em plataforma para que os adolescentes de diferentes cidades e realidades, se juntem e planejem suicídios coletivos.

Está o episódio de quatro alunos e um professor do Instituto de Ciência e Tecnologia Avançada, a mais prestigiosa universidade sul-coreana. Naquela oportunidade, um dos suicidas deixou em sua mensagem de despedida: “Dia após dia somos encurralados em uma concorrência implacável que nos afoga e sufoca”.

Talvez seja que esse ritmo vertiginoso do desenvolvimento deu muitas coisas aos coreanos, mas também lhes tirou outras.

Os pais de família que padeceram a escassez dos anos posteriores à Guerra da Coreia (1950-53) e a ditadura, até finais dos anos 80, inculcaram às novas gerações a necessidade de emergir dessa penúria como pessoas de sucesso.

Desde jovens, uma grande parte dos sul-coreanos luta por conseguir ingressar em universidades prestigiosas, talvez as portas de uma vida profissional de sucesso.

Com esse objetivo, os familiares dos menores impõem rígidas rotinas, nas quais abundam aulas extraordinárias durante os fins de semana e muitas horas de estudo.

Só há que perguntar aos jovens de 13 anos de idade como Han, aluno de uma prestigiosa escola do bairro de Gangnam, em Seul, que, durante os fins de semana, estuda espanhol, francês, piano e reforça seu inglês, algo que o deixa “cansado e sem tempo de ver a amigos”.

A aparência também desempenha um papel importante dentro da atual sociedade sul-coreana.

Uma rede de melhoria estética, Hamsoa, triunfou com um tratamento para que as crianças aumentem sua altura com massagens, suplementos nutricionais e sessões de estiramentos.

Segundo a percepção dos sul-coreanos, ser alto é uma chave de sucesso, especialmente para os homens, apesar de o desenvolvimento em temas nutricionais os colocou dentro da estatura média mais alta da Ásia.

No entanto, as críticas a este ritmo de vida não se fizeram esperar e pela Internet proliferam todo tipo de campanhas e consignas que denunciam essas exigências às quais se enfrentam os jovens sul-coreanos.

Este é um motivo para refletir sobre o estilo e os modelos que impuseram a sociedade, e de como talvez o ter tudo implique o não ter nada, porque sem felicidade e esporeado pela necessidade de desenvolvimento, para além do econômico, requer-se o humano.

*Jornalista da Redação Ásia da Prensa Latina