Cinco lições de uma semana de confusão no Chipre
De modo apropriado, uma semana de turbulência no Chipre acabou em confusão. O governo de Nicósia se encontrava, na sexta-feira, em uma maratona de conversações com a troika (a União Europeia, o Banco Central Europeu e o Fundo Monetário Internacional) entre especulações de que se chegaria a um acordo no fim de semana para impedir que o Chipre quebrasse na segunda-feira.
Mas, inclusive nesta fase, podem-se extrair cinco conclusões amplas no final de outra tumultuosa semana na trajetória do euro. Em primeiro lugar, a proposta de deixar fora da taxa de resgate os depositantes de menos de 100.000 euros (85.000 libras esterlinas) foi tão sensata como tivera sido insensata a ideia de incluir esta cláusula em um princípio. Teriam evitado muitas angústias se houvessem focalizado em quem tivesse depósitos acima de 100.000 euros para conseguir os 5,8 bilhões de euros que a troika exige em troca de uma tábua de salvação financeira de 10 bilhões de euros.
Como resultado deste enorme erro, um drama se converteu em uma crise. Mesmo que agora se necessitem controles de capital para impedir pânico em escala real quando os bancos abrirem para retomar sua atividade, junto a uma possível reestruturação do sistema bancário destinada a criar um banco “bom” e um banco “mau”.
A segunda conclusão é que para os outros 16 membros da eurozona o Chipre não importa muita coisa, e não perderiam o sono se ele abandonasse a moeda única. Isto supõe um agudo contraste comparado com a atitude em relação aos outros países resgatados – Grécia, Irlanda e Portugal – onde houve muito menos dessa política de risco calculado de “é-isso-ou-nada-feito” que luziu nos últimos sete dias. Este enfoque não só se vê incitado pelo fato do Chipre ser um país pequeno que só corresponde a 0.2% do PIB da eurozona. Também se tem a sensação – em países como a Alemanha – de que o Chipre é uma espécie de país díscolo [“rogue state”], que esteve encantado em basear sua economia na lavagem de dinheiro “sujo” da Rússia. Angela Merkel não vê razão pela qual uma crise em um paraíso fiscal deveria estender-se à Itália ou à Espanha.
Em terceiro lugar, esta visão parece ser compartilhada com os mercados financeiros, que até agora estiveram profundamente tranquilos em relação aos acontecimentos no Chipre. É verdade que o euro baixou um pouquinho e as bolsas já tiveram semanas melhores, mas não houve nenhum sintoma no aumento dos tipos de juros da dívida italiana, espanhola ou portuguesa, um indicador chave do risco de contágio. Alguns analistas afirmaram que isso era um sinal enormemente animador, dando a entender que os problemas do Chipre estavam controlados. Há outros, como Stephem Lewis, do Monument Securities, que se preocupa que os mercados tenham ficado “insensibilizados” às más notícias pela disponibilidade dos bancos centrais em inundar de liquidez os sistemas bancários.
Em quarto lugar, o Chipre tem pela frente um futuro deprimente embora se resgate seus bancos e se salve sua integração no euro. Não lhe será permitido manter seu status como paraíso fiscal preferido dos moscovitas opulentos e será obrigado a experimentar uma dose muito mais severa de reequilíbrio econômico do que a que necessita o Reino Unido. O Chipre ficará com um índice de dívida pública com respeito ao PIB (145%) acima do da Grécia, mesmo assumindo que consiga os 10 bilhões de euros de ajuda financeira da troika e dê por perdidos 5,8 bilhões de euros de dívida bancária. Isso parece insustentável, especialmente se considerado que um programa de austeridade selvagem, que é condição prévia para o empréstimo da troika, quebrará ainda mais a economia na recessão.
Por último, a eurozona se engana se pensa que encurralou completamente a crise. Os depositantes nos bancos de outros Estados membros não esquecerão que a zona euro esteve disposta, em um dado momento, a empreender contra os depositantes grandes ou pequenos. Também se darão conta de que quando o Chipre respondeu ao plano original, a eurozona pestanejou.
Larry Elliott dirige a seção de economia do jornal britânico The Guardian e é coautor, junto com Dam Atkinsom, de The Gods That Failed: How the Financial Elite Have Gambled Away Our Futures (Vintage) [Divindades falidas: Como a elite financeira apostou nosso futuro].
Larry Elliott escreve no The Guardian
Tradução: Liborio Júnior para a agência Carta Maior