Quem esperava que Barack Obama desembarcasse em Israel para forçar palestinos e israelenses a negociar, depois de quatro anos de impasse total no processo de paz, se decepcionará muito tristemente.

A viagem do presidente dos EUA que se inicia hoje talvez seja “histórica” – a primeira, de Obama, a Israel e aos territórios palestinos –, mas o próprio Obama já cuidou de fazer todo o possível para esvaziar qualquer expectativa.

No fim de semana, líderes árabe-norte-americanos revelaram que Obama deixara bem claro que não apresentaria qualquer plano de paz, porque Israel já sinalizara que não tem interesse em acordo com os palestinos.

Dúvidas que por acaso persistissem sobre as intenções de Israel foram varridas, com o anúncio de um novo gabinete, rapidamente empossado antes da chegada de Obama. O novo governo faz o anterior, também de Benjamin Netanyahu – já considerado o mais linha-dura de toda a história de Israel – parecer quase moderado.

Ynet, website de notícias muito popular em Israel, noticiou que os colonos saudaram o novo gabinete como a realização de seu “sonho erótico molhado”.

Zahava Gal-On, líder do partido de oposição Meretz, observou que o novo gabinete “muito fará pelos colonos e nada, absolutamente, pelo resto da sociedade israelense”.

O partido dos próprios colonos, “Lar Judeu”, foi premiado com três ministérios chaves – comércio e indústria, Jerusalém e moradia – além de controlar a comissão de finanças do Parlamento, o que basta para assegurar que as colônias exclusivas para judeus frutificarão durante seu mandato.

Não há sequer a mínima chance de o partido “Lar Judeu” aceitar congelamento de construções nas colônias semelhante ao que Obama propôs e no qual insistiu no primeiro mandato. Em vez disso, o partido acelerará o ritmo das construções e do desenvolvimento de indústrias além da Lista Verde, para tornar mais atraentes as colônias e promover a venda de moradias.

Uzi Landau, do partido de extrema direita “Israel nosso Lar”, de Avigdor Lieberman, ficou com o portfólio de turismo e rapidamente direcionará recursos para promover os muitos endereços bíblicos na Cisjordânia, para encorajar a visitação de israelenses e turistas.

O novo ministro da Defesa, que supervisiona a ocupação, é o único funcionário cuja posição que lhe dá competência para obstruir essa colonização ‘grátis-para-todos’; mas Moshe Yaalon, do partido Likud, ex-comandante militar, é conhecido pelo fervoroso apoio à ocupação e aos colonos.

É verdade que o grande partido Yesh Atid, de Yair Lapid, centrista, também está representado. Mas sua influência, só diplomática, será posta sob rédea curta, porque seus cinco ministérios cuidarão de questões domésticas, bem-estar, saúde e ciência.

A única exceção, Shai Piron, novo ministro da educação, é rabino e colono, do qual só se deve esperar prosseguimento do atual programa de viagens escolares às colônias, continuando os bem-sucedidos esforços dos colonos para integrar-se na sociedade.

Longe de preparar-se para fazer concessões ao presidente dos EUA, Netanyahu só faz declarar seu apoio ao plano do partido Lar Judeu, para anexar novas vastas porções da Cisjordânia.

O único ministro com interesse pressuposto em conversações diplomáticas, mas quase exclusivamente orientado por seus esforços de autopromoção para permanecer popular na Casa Branca, é Tzipi Livni. Ela sabe bem o quanto são limitadas as oportunidades para negociar: o processo de paz só foi superficialmente mencionado no acordo da coalizão.

Obama, aparentemente consciente de que estará diante de governo ainda mais intransigente que o anterior, optou por não falar ao Parlamento. Em vez disso, discursará para platéia mais receptiva, de estudantes israelenses, em ação que funcionários dos EUA têm chamado de “uma ofensiva de charme”.

Devem-se esperar muito palavreado, promessas magras e ação zero contra a ocupação.

Sinal da relutância da Casa Branca, que foge da questão das colônias ilegais nos territórios ocupados, seus representantes na ONU recusaram-se a participar, na 2ª-feira, de um debate no Conselho de Direitos Humanos que apresentou as colônias como forma de “deplorável anexação” da Cisjordânia e de Jerusalém Leste.

A abordagem “não é comigo” de Obama satisfará seu eleitorado nos EUA. Pesquisa feita pela rede ABC-TV mostrou que o maior número de norte-americanos (55%) apoiam Israel, contra 5% que apóiam os palestinos. Maioria ainda maior, 70%, entende que os EUA devem deixar que os dois lados discutam e decidam o próprio futuro.

Israelenses comuns, o público que o presidente dos EUA quer atingir, tampouco veem com bons olhos qualquer envolvimento dos EUA. Outra pesquisa recente mostra que 53% preveem que Obama não protegerá interesses de Israel; e 80% entendem que com Obama, nos próximos quatro anos, não acontecerá qualquer avanço na questão com os palestinos. O estado de espírito dominante é de indiferença, mais de que de expectativa.

Todas essas são boas razões para explicar por que nem Obama nem Netanyahu dedicarão grande atenção à questão palestina, durante a visita de três dias. Como o analista Daniel Levy observou: “Obama vem, sobretudo, para fazer declarações sobre os laços que unem EUA e Israel, não para falar da ocupação ilegal.”

É o que entendem também muitos palestinos, cada dia mais exasperados pelo obstrucionismo dos norte-americanos. Funcionários dos EUA que foram a Belém, na preparação da visita que Obama fará à cidade na 6ª-feira, foram colhidos em várias manifestações anti-Obama. E esperam-se novas manifestações hoje, em Ramallah.

Outros palestinos protestam hoje, montando uma nova comunidade de barracas em terra palestina ocupada próxima de Jerusalém. Inúmeros outros acampamentos desse tipo, montados antes, foram violentamente demolidos por soldados israelenses.

Os organizadores esperam chamar a atenção para a hipocrisia dos EUA no apoio à ocupação israelense: colonos judeus são autorizados a construir, com apoio do governo de Israel, em territórios ocupados – o que é flagrante violação da lei internacional; e os palestinos são impedidos por soldados israelenses de desenvolver o próprio território, o mesmo que a comunidade internacional já reconheceu como estado palestino, com representantes na ONU.

A mensagem escrita nas entrelinhas dessa visita de Obama é que o governo de Netanyahu tem carta branca para fazer avançar sua agenda de violências, sem nada temer de Washington, além, no máximo, de algum protesto simbólico.

O novo gabinete israelense não perdeu tempo para definir suas prioridades legislativas. A primeira nova lei já anunciada é uma “lei básica” que mudará a definição oficial do Estado, de modo a que os aspectos “judeus” sobreponham-se aos elementos “democráticos” – movimento que o jornal Haaretz qualificou de “insano”.

Dentre outras determinações de lei, há uma que limita a aplicação de fundos públicos, que passam a só poder ser aplicados em novas comunidades de judeus. É um arranjo cínico, com o qual Netanyahu visa a aplacar um crescente movimento de protesto em Telavive, que começa a exigir moradia a preços mais acessíveis para todos.

Oferecendo terra a preço subsidiado para novas colônias na Cisjordânia e em Jerusalém Leste, Netanyahu consegue expandir as colônias, rouba mais terra dos palestinos, cala os protestos e desestabiliza a oposição. Só precisava, de fato, das bênçãos de Obama.

Traduzido pelo coletivo Vila Vudu

20/3/2013, Counterpunch
http://www.counterpunch.org/2013/03/20/will-israeli-settlers-receive-obamas-blessing/#.UUqUtb7JraY.email