O Anjo

 

 

Veio chegando, e tão leve,
que eu nunca pude saber
se era do céu ou da terra.
E Deus não quis me dizer.

 

 

Ficou sempre do meu lado,
asas tristes, mãos caídas.
Tem os olhos de um menino
que viu coisas proibidas…

 

 

 

Desperto às vezes e sinto
suas mãos nos meus cabelos.
Fecho os olhos. Nos meus sonhos
não existem pesadelos.

 

 

Outras vezes fica triste,
rosto quase material.
Boca doente de desejos –
velha sombra de algum mal.

 

 

 

Não é homem, não é santo,
quem será e de onde vem?
Por que fica do meu lado?
Quer meu mal ou quer meu bem?

 

 

Eu o chamo docemente
quando a noite cai em mim:
– Anjo triste estende as asas,
Talvez seja agora o fim.

 

 

 

Anjo triste, minha sombra,
Complacente companheiro,
sopra o vento…O mar  me leva…
Abre as asas meu veleiro!

 

 

E o Anjo suavemente
põe as mãos sobre o meu rosto
Suas asas como um manto
Levam longe o frio de agosto.

 

 

 

E eu me vejo pequenina,
Leve, fina e transparente.
Nada tenho. Está ao meu lado
O Anjo triste e complacente.

 

Lila Ripoll – Antologia Poética
Editora Leitura