Portugueses pressionam o governo
Publicado no jornal Valor Econômico em 05/03/2013
Manifestantes antiausteridade estão fazendo um cerco a altas autoridades do país, ao cantar em eventos públicos em que elas estão presentes a música “Grândola, Vila Morena”, que ficou conhecida como o hino da Revolução dos Cravos, de 1974. Eles conseguiram silenciar alguns de seus alvos, entre eles o primeiro-ministro, quando ele fazia um discurso ao Parlamento.
Ao mesmo tempo, muitos portugueses estão colocando o nome e o equivalente ao CPF de Coelho nos recibos de suas compras. Em tese, isso tornaria o ministro passível de punição pelo fisco português pelo fato dos gastos superarem sua renda.
O número do documento do ministro se espalhou por uma corrente de e-mails e SMSs e pode agora ser visto em posts colocados por internautas no Facebook. Segundo a imprensa local, milhões de euros em gastos agora constam nos números de documentos do primeiro-ministro e de outras autoridades do governo, apesar de fornecer um nome falso para a confecção desses recibos ser um delito passível de até três anos de prisão.
Dentre os vários movimentos contra a austeridade que se espalham pelo país, o mais barulhento é o “Que se lixe a troica! Queremos as nossas vidas”, formado em sua parte por jovens, que são as maiores vítimas dos cortes de gastos: o desemprego para pessoas de até 25 anos no país chega a 40%.
Portugal está tentando renegociar partes de seu acordo de auxílio internacional, em meio à piora das perspectivas para a recessão no país e aos crescentes protestos populares sobre as medidas de austeridade impostas pelos credores para reduzir o déficit do país.
O ministro das Finanças da Holanda, Jeren Dijsselbloem, disse que representantes da União Europeia discutirão o afrouxamento das condições dos empréstimos para Portugal e Irlanda hoje em Bruxelas. Falando à imprensa na capital belga, ele afirmou que os programas de ambos os países estão “nos trilhos” e “se saindo bem”, apesar de circunstâncias macroeconômicas desafiadoras.
Portugal pleiteia um alongamento do prazo para pagar seus empréstimos, o que daria ao país fôlego para se financiar após o término do programa de socorro de € 78 bilhões. O pedido, ao lado do pleito irlandês, igualaria os termos obtidos pela Grécia sob o último acordo para socorrer o país.
O governo português já está aguardando a aprovação de outro pedido: o de que os credores de seu pacote de socorro – União Europeia e Fundo Monetário Internacional (FMI) – deem mais tempo para que o país corte seu déficit orçamentário para 3% do PIB (Produto Interno Bruto). Em 2012, o número fechou em 5% do PIB.
A performance decepcionante da economia portuguesa em dois anos de programa de resgate aumentou as preocupações de que se está exigindo do país muita austeridade em muito pouco tempo. Em 2011, os credores previram que o PIB do país se contrairia 4% em 2012 para começar a crescer em 2013, e com desemprego atingindo o pico de 13% neste ano. Em vez disso, as previsões agora indicam contração de quase 7% de 2011 a 2013, com a taxa de desemprego chegando a 17,3%.