A visita do embaixador da Síria ao PCdoB
A delegação diplomática da Síria foi recebida pelo presidente nacional do PCdoB, Renato Rabelo. Estávamos ainda com o camarada Ricardo Abreu, Secretário de Relações Internacionais do Partido, e a camarada Socorro Gomes, presidenta do Cebrapaz e do Conselho Mundial da Paz, recentemente reeleita na Assembleia Mundial ocorrida no Nepal. Tive a honra de ter sido convidado a participar do evento.
Em um primeiro momento, Renato lembrou que nossas relações com a Síria e com o partido dirigente, o Partido Socialista Árabe Sírio – Baath é antiga. Uma delegação de alto nível de nosso Partido esteve em Damasco com o atual presidente Bashar em 2007. Assinamos um protocolo de cooperação internacional que vigora até hoje. Nela estiveram além do nosso presidente, os membros do CC José Reinaldo Carvalho, Jamil Murad e Walter Sorrentino.
Renato reafirmou ainda as posições de nosso Comitê Central e da Comissão Política. Em doze meses, a direção do Partido emitiu cinco notas públicas em solidariedade ao povo e ao governo da Síria, bem como rechaçamos toda e qualquer ingerência interna que viole a soberania desse país árabe. Reafirmou que nosso Partido, em conjunto com outras forças políticas, partidos e entidades da sociedade civil brasileira esta na linha de frente da luta de solidariedade a esse que é o mais antigo país na terra, de vida milenar e que imensas contribuições deram e continua dando à civilização humana.
O embaixador, de sua parte, reafirmou os laços de amizades antigas com os comunistas do PCdoB e de todo o mundo. Mencionou as dificuldades que seu país atravessa fruto do ataque imperialista que vem sofrendo, apoiado, financiado e estimulado pelos países do golfo do petróleo, das monarquias feudais e reacionárias. Tal apoio vem também da Turquia, tacitamente comandada pelos Estados Unidos e Israel.
Registrou a gratidão ao Partido pela convocação das atividades políticas desse dia, em especial o ato público, de massa, que ocorreria mais à noite no auditório do CC. Disse que o governo da Síria de Bashar Al Assad esta firmemente empenhado na realização das reformas e que a sua velocidade só não foram maiores pelas circunstâncias históricas amplamente conhecidas.
Mencionou decretos e leis que legalizaram partidos, garantiram amplas liberdades de expressão, abriram mais de 170 órgãos de imprensa livres no país e o mais importante: eleições livres foram realizadas em fevereiro. Um novo parlamento tomou posse, com mais de 12 partidos e uma nova constituição foi promulgada, sendo referendada por quase 90% da população síria. Tudo isso em meio a intensos ataques de mercenários armados pelas monarquias da região e boicote dos chamados oposicionistas externos (não tem base no país).
A coletiva de imprensa
Aqui é preciso registrar algumas questões importantes. Fizemos um esforço para chamar a tal “grande imprensa”. Alguns chamam de imprensa-empresa. Os jornalistas e camaradas de Partido, usando listas que cada um dispõe, como o Khaled Maahassen, José Reinaldo Carvalho, do portal Vermelho e Altamiro Borges, do Blog do Miro e do Centro de Estudos Barão de Itararé enviaram resumos para a imprensa. A divulgação foi ampla.
No entanto, apenas a chamada mídia alternativa compareceu. A impressão que fica é que as TVs e os jornalões da burguesia acharam melhor não “ouvir o outro lado”. Para que mesmo eles dariam voz e amplificariam opiniões que não são as do império que eles tanto propagam? Vejamos. Todos os dias por meses a Folha e o Estadão têm dado manchetes garrafais onde dizem que “ditador da Síria massacra mais tantas pessoas”. Nem se preocupam em saber se isso é fato. Não estão preocupados com o “outro lado da notícia”. Não fazem jornalismo. Fazem propaganda. De suas teses, de suas ideias, da sua ideologia.
Qualquer jornalismo sério, equilibrado, quando sabe da presença de um embaixador de um país que esta no centro de um conflito internacional enviaria um jornalista para ouvir a opinião desse diplomata. Mas não no Brasil com essa mídia.
De nossa parte, que estávamos na organização, ficamos muito satisfeitos pelas presenças dos seguintes órgãos de mídia alternativa: portal e TV Vermelho, portal IaNotícia, Revista Sawtak e revista Chams, o combativo jornal Hora do Povo e o blog do Miro. Todas as perguntas, questionamentos, foram prontamente respondidos pelo embaixador Khaddour.
A reunião com as entidades da sociedade civil
Uma semana antes do evento, a Secretaria Internacional do PCdoB despachou convites personalizados para os presidentes e/ou coordenadores gerais das 31 entidades nacionais de todos os segmentos sociais, em especial centrais sindicais, entidades de mulheres, de jovens, de estudantes, de bairros e comunitárias, de negros e todas as entidades árabes que conhecemos. Convidamos os partidos progressistas e de esquerda.
Não pudemos ter a presença de todas as entidades chamadas e convidadas. Mas muito nos honraram as que atenderam ao nosso convite. Listamos abaixo as que compareceram:
Partidos: PCdoB, Pátria Livre, Partido Comunista Libanês, Partido Nacional Social Sírio, Partido Socialista Árabe Sírio – Baath e Consulta Popular.
Estudantes e Jovens: UNE, Oclae, FMJD e UJS.
Outras entidades: CTB, UBM, FDIM, MST, Via Campesina e Marcha Patriótica da Colômbia.
Entidades Árabes, de Estudos, de Cooperação e de Paz: Fepal, Fearab/Brasil e SP, Fearab/Américas, Centro Cultural Árabe Sírio, Cebrapaz, Iecint, GT Árabe/CEPGOM, Conselho Mundial da Paz, Esporte Clube Sírio.
O parlamentar do PCdoB de São Paulo, vereador Jamil Murad, filho de sírios imigrados ao Brasil esteve presente ao evento.
Neste momento, o embaixador procedeu aos esclarecimentos das dúvidas dos presentes, respondeu a questionamentos eventuais com firmeza. Tudo dentro de um clima de franqueza e sinceridade que deve ser o existente entre pessoas e entidades de um mesmo campo político, patriótico e popular.
Mencionou um aspecto interessante no conflito que já dura um ano e meio. Que existe uma “guerra de vontades” na Síria hoje. De um lado, a vontade dos que defendem o bem estar do povo, o equilíbrio, a harmonia e a soberania do país. De outro lado, os que defendem a intervenção externa, a desarmonia, o controle do país por potências estrangeiras. Isso, assegurou o embaixador, jamais ocorrerá na Síria.
Mencionou ainda de forma clara, uma estranha e equivocada aliança, que dá suporte aos ataques de mercenários e terroristas estrangeiros que atuam no país hoje. A aliança envolve a Al Qaeda, com a Irmandade Muçulmana Síria, mais os salafistas e wahhabitas. Apoiados e comandados pelos países do Golfo, as monarquias reacionárias da Arábia Saudita e do Qatar, da Turquia e dos EUA com apoio da inteligência de Israel.
O ato público da noite
Por fim, após essa grande maratona de eventos, pontualmente às 18h30 demos início à projeção de um filme que mostra Toda a verdade sobre a Síria. É excepcional. Pouco sabemos sobre os seus produtores. Tem 47 minutos. Narrados em sua maioria em árabe e inglês, possui legendas em espanhol. Mostra o “outro lado” da guerra na e contra a Síria. Mostra outra verdade que os grandes meios de comunicação sonegam dos cidadãos. Nossos leitores podem assistí-lo abaixo:
Por volta das 19h45 demos início ao ato público em solidariedade ao povo sírio e em apoio à soberania da Síria. A maioria das entidades presentes na parte da tarde ficou conosco até o encerramento às 22h. a mesa foi composta de forma ampla. Coordenada pelo economista Ricardo Abreu, SRI do PCdoB, contou ainda com a ex-deputada Socorro Gomes, presidente do Cebrapaz/CMP, mais o sociólogo e Prof. Marcelo Buzetto do MST/Via Campesina, a Manuela Caroline da Marcha Patriótica da Colômbia, o médico Dr. Michel Saccab, do Esporte Clube Sírio, que neste ato representou todas as entidades árabes presentes e mais o vereador e também médico Dr. Jamil Murad, do PCdoB e do nosso Comitê Central.
Ao final, agradecimentos às presenças dos representantes diplomáticos na sede dos comunistas e ao Prof. George Khoury, incansável e fiel tradutor, de quem, com muita honra, fui aluno de árabe há 20 anos.
Os significados para o PCdoB da visita
É antiga a relação que os comunistas do PCdoB possuem com o movimento árabe e palestino no Brasil. Aliás, isso tem sido assim em todo o mundo, com todos os comunistas de todos os países.
Aqui no Brasil, o marco disso foi exatamente há trinta anos. Em 18 de setembro de 1982, em plena ditadura, saímos às ruas em várias cidades grandes e capitais para protestarmos contra o massacre de três mil palestinos nos acampamentos de Sabra e Chatila no Líbano, praticado por falanges direitistas apoiadas e orientadas por Israel, sob o comando de Ariel Sharon.
Dessa época aos dias atuais, os laços se estreitaram. Desde que a OLP instalou seu escritório político no Brasil em 1980, estivemos ao lado dos palestinos. Organizamos o Comitê contra a 1ª Guerra no Golfo em 1991. Fizemos isso novamente em 2003, quando ajudamos a organizar duas passeatas imensas contra a nova e 2ª Guerra no Golfo, feita por Bush Filho. Fomos às ruas novamente quando Israel atacou o Líbano e foi derrotado em 2006. Nas eleições libanesas, amigos do Partido e seus militantes articularam-se em apoio à coligação “8 de Março”, patriótica e antiimperialista, com o Hezbolláh, o grupo Amal e os cristãos patrióticos do general Michel Aoun, para barrar a outra “14 de Março”, apoiada pelos EUA e Israel. Apoiamos os levantes populares árabes em todos os países desde dezembro de 2010. Nossas publicações, o portal Vermelho e a revista Princípios têm aberto amplos espaços para os temas árabes e palestinos em geral. Realizamos diversos debates.
No caso da crise na Síria, nunca os comunistas vacilaram. Deixaram clara a sua opinião. Se por um lado apoiamos o clamor das ruas árabes por maiores liberdades e reformas políticas e contra o modelo neoliberal que lá também foi amplamente implantado, por outro nunca titubeamos em fazer campanha pela deposição do presidente da Síria, Bashar al Assad. Nossa direção nacional foi chamada a emitir opinião firme sobre a Síria e o fez sempre por unanimidade.
Em 2011, militantes do Partido da frente árabe e palestina, tomaram a iniciativa de fundar no dia 11 de junho, em nossa sede nacional e com outras forças políticas, o Comitê pelo Estado da Palestina. O seu lançamento ocorreu na sede do Sindicato dos Engenheiros no dia 29 de agosto com 200 pessoas e dezenas de entidades da sociedade civil. Esse mesmo Comitê, que se reúne mensalmente (fará na terça-feira, dia 11 de setembro a sua 26ª reunião) organizou uma imensa passeata no dia 22 de setembro de 2011 com três mil pessoas pelas ruas de São Paulo, em apoio ao pleito dos palestinos de serem admitidos como o 194º Estado-Membro das Nações Unidas. Nossos militantes estão na linha de frente, pelas entidades de que participam, do Comitê Brasileiro que organiza o Fórum Social Mundial Palestina Livre, que ocorrerá na cidade de Porto alegre entre os dias 28 de novembro até 1º de dezembro, quando esperamos mais de 15 mil pessoas.
Neste momento, em que setores equivocados da esquerda brasileira e mundial, quase que clamam abertamente por um ataque à Síria, em que a grande mídia dá seu total apoio a que as forças da Otan e do imperialismo invadam esse milenar país árabe, em que setores da intelectualidade brasileira, premidos pela propaganda anti-Síria e pró-imperialista, os comunistas do PCdoB sentem-se honrados em receber em sua sede nacional, junto com dezenas de outras organizações da sociedade civil, representantes do governo e do Estado sírio, através seus diplomatas que aqui estiveram.
O PCdoB envia seus sinais à sociedade. Que não se curva às pressões. Que não se intimida. Que abraça as causas justas por mais difíceis que sejam elas. Sabemos que não é fácil explicitar a posição em apoio à soberania da Síria, à sua autodeterminação e ao seu desenvolvimento e progresso nacional, quando todos os jornais, rádios e TVs do país falam exatamente o contrário, em apoio claro aos mercenários à soldo do imperialismo que querem subjugar o país e colocar de joelhos seu governo patriótico e progressista. O PCdoB deixa claro a sua defesa intransigente da soberania e da autodeterminação dos povos e mostra sua firmeza na luta antiimperialista.
Por isso os comunistas do PCdoB clamam em alto e em bom som: Viva a Soberania da Síria! Fora imperialismo do Oriente Médio!
Assim clamaram as mais de 70 pessoas nesse dia histórico de 4 de setembro de 2012 na sede nacional do Partido Comunista do Brasil – PCdoB.
* Lejeune Mirhan é sociólogo, escritor e arabista. Foi professor de Sociologia da Unimep entre 1986 e 2006. Presidiu o Sindicato dos Sociólogos de SP de 2007 a 2010. É colaborador da revista Sociologia da editora Escala e dos portais Vermelho e Grabois. E-mail: [email protected].