Manifestação por mudanças na política econômica: governo é desafiado a ousar mais

A oligarquia financeira, responsável pela crise, segue – com mais evidência até – no controle do aparato estatal de um grande número de nações. Desse modo, governa buscando salvar a própria pele e empurra os prejuízos para o povo de seus países e para o resto do mundo. Apesar de desmoralizado, na teoria e na prática, contraditoriamente o neoliberalismo recrudesce através dos podres e grandes poderes da finança.

No mais recente lance de transferência de riqueza pública para o setor financeiro, 30 bilhões de euros irão cair, até fins de julho, nos cofres dos bancos da Espanha. Ao mesmo tempo, essa mesma Espanha reduz salários e mitiga ou elimina conquistas sociais históricas, um receituário que está se tornando “universal”.
Essa avalanche provoca efeitos negativos, inclusive nos grandes países em desenvolvimento. A China, tida como propulsora da economia mundial, desacelera seu motor. No Brasil, o impacto é preocupante e pode ser observado nos índices de crescimento aquém do necessário. Em 2011 o crescimento do PIB foi de 2,7% e para o presente ano a média das estimativas gira na faixa de 2%. Especial preocupação é o desempenho descendente do parque industrial. Já prevalece o diagnóstico de que o país passa por um processo de desindustrialização.
Com o aperto desse cerco, o Brasil reage. Da parte da presidenta Dilma Rousseff, desde o pronunciamento à Nação – alusivo ao Primeiro de Maio, quando fez dura crítica ao setor bancário privado por manter os juros altos para as empresas e para o consumidor – seu governo adota uma atitude arrojada para o país enfrentar e superar a crise. Por sua vez, os trabalhadores vão à luta. Por um lado eles realizam, juntamente com uma parcela ampla do empresariado, um movimento que pretende unir o país em torno de um movimento por produção, emprego. Por outro, realizam greves por melhores salários. É intenso, também, o debate de ideias sobre quais seriam os melhores caminhos para se romper esse cerco.
Correntes da política brasileira, entre elas o Partido Comunista do Brasil, têm reiterado que o país deve procurar fazer da crise uma janela de oportunidade. Para tal, é preciso superar antigos obstáculos herdados do processo histórico e realizar as reformas estruturais e democráticas cujas bandeiras e conteúdos impulsionam o país para frente.
O governo Dilma deu um passo que demonstra, concretamente, que a crise cria circunstâncias que favorecem a remoção de pedras no meio do caminho. A presidenta, valendo-se do desmascaramento dos malefícios da política macroeconômica neoliberal que impunha juros estratosféricos, liderou os debates que levaram o Banco Central a reduzir a Selic para 8%, percentual que poderá cair um pouco mais. Desse modo, em dezembro de 2012, a taxa básica de juros poderá ser fixada em 7,5% ou 7%. Inegavelmente, é uma grande conquista. É certo que os bancos privados relutam, conforme já sublinhado acima, em garantir na ponta essa queda dos juros. Todavia, são “pressionados” pelos bancos do setor estatal, que já iniciaram o movimento de baixa dos juros. Na esteira dessa medida, o câmbio oscilou positivamente a favor das exportações.
Além da queda de juros, o governo reduziu impostos, incrementou as compras governamentais e anuncia um programa de parcerias público-privadas. São medidas corretas. Contudo, a presidenta Dilma – alicerçada na larga base social e política de seu governo e no elevado respaldo popular – é desafiada a ousar mais. É chamada a liderar a Nação no enfrentamento da crise, um dos maiores perigos de sua história recente.
Elevar o patamar dos investimentos públicos e privados para fortalecer a indústria nacional com inovação e aumento da produtividade e modernizar a infraestrutura são, entre outras, tarefas inadiáveis.