Sementes de novas crises

Estamos perante uma crise global de sobreprodução e sobreacumulação

O FMI acaba de rever em baixa as previsões de crescimento da economia mundial, indiciando que uma recessão mundial não está fora do horizonte. Nos EUA, as minutas das reuniões do FED – o banco central dos EUA – recentemente divulgadas, bem como as já referidas previsões do FMI, confirmam um cenário de aprofundamento da crise e de disparo do desemprego no «coração» do capitalismo mundial. A afirmação do FMI de que «os EUA estão a caminho de um precipício orçamental que poderá ter consequências significativas para a economia mundial» levantam um pouco mais o véu sobre a explosiva situação na economia norte-americana cuja divida pública ascenderá no final do ano a 106,7% do PIB.

Do lado de cá do Atlântico, a recessão económica alastra a quase toda a União Europeia. Reconhece-se agora a possibilidade de «uma escalada da crise do euro» (FMI), mais um sinal de que a tão badalada cimeira da União Europeia de finais de Junho não resolveu um único problema e apenas se limitou a aprovar medidas que permitam continuar a financiar a banca, de forma mais célere e directa, mas sempre às custas dos povos.

A Espanha é, como era de esperar, atirada para a espiral austeridade-recessão. O anúncio das duríssimas medidas de austeridade vem confirmar que o «resgate» à banca espanhola se trata de uma socialização de prejuízos que directa ou indirectamente vai ser paga pelos trabalhadores e o povo e atirar o país para a intervenção externa. Acontecimentos calam aqueles que, como o PS ou o Bloco de Esquerda, correram a insurgir-se contra um resgate espanhol com «condições melhores» que o de Portugal.

O jogo da extorsão e da promiscuidade entre instituições europeias e o grande capital financeiro prossegue: a Itália é a vítima que se segue, enquanto que o Chipre tenta resistir buscando financiamentos na Rússia e na China a taxas de juro inferiores e sem condições políticas. Na França, aPeugeot acaba de anunciar o despedimento de oito mil trabalhadores, mais um sinal da crise e do processo de desindustrialização. O Reino Unido caminha a passos largos para a estagnação e é um dos países que maior baixa regista nas previsões económicas. Na Alemanha, os discursos começam a falar de «nuvens carregadas» sobre a sua toda-poderosa economia, nomeadamente por via da redução das exportações para a China, do efeito boomerang da sua política de esmagamento das economias da «periferia» da UE e da possibilidade crescente de uma crise do euro.

O falhanço das «soluções clássicas»

No sector financeiro a situação é cada vez mais explosiva. O escândalo doBarclays e da manipulação do índice Libor pelo cartel dos maiores bancos do reino Unido mas também, a título de exemplo, dos EUA (Citigroup) e Suiça (UBS); as notícias que apontam para a possibilidade de a Euriborestar a ser sujeita às mesmas operações de manipulação e cartelização; a divulgação de perdas do gigante norte-americano JP Morgan no valor de 5,8 mil milhões de dólares por «operações de crédito mal sucedido» (divulgando simultaneamente cinco mil milhões de dólares de lucros no segundo trimestre do ano!), são todos eles sinais de profunda instabilidade que não podem deixar de lado a hipótese de podermos estar à beira de um novo e muito significativo episódio de esvaziamento da bolha financeira.

Entretanto, a crise alastra às economias emergentes confirmando o seu carácter global. A China regista, pelo sexto mês consecutivo, um arrefecimento do seu crescimento económico, tendo atingido no segundo trimestre do ano o menor crescimento do PIB dos últimos três anos (7,6%). O primeiro-ministro chinês, Wen Jiabao, anuncia «tempos difíceis» e as previsões do FMI apontam para um «arrefecimento» significativo da segunda economia mundial. No Brasil, um dos países, que a par com a Índia, maior baixa de previsão de crescimento económico regista, a presidente Dilma reconhece os impactos da crise na sexta maior economia mundial e fala de medidas de estímulo económico.

Se provas faltassem, o cenário económico actual confirma aquilo que há muito tempo vimos dizendo. Estamos perante uma crise global de sobreprodução e sobreacumulação de capital a que o sistema responde com a destruição de forças produtivas, uma ofensiva imperialista em larga escala nos planos económico, social, militarista, anti-democrático e de recolonização e uma ainda maior financeirização da economia capitalista.

Mas o que a realidade também demonstra é que as «soluções clássicas» do sistema não estão a surtir efeito. Bem pelo contrário, revelam-se como sementes de novos episódios de crise e tornam cada vez mais possíveis grandes explosões sociais. Explosões que só a luta organizada dos povos em defesa dos seus direitos e aspirações, pela superação de um capitalismo tão decadente como perigoso, pode direccionar no caminho do progresso, do desenvolvimento e da paz.

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Fonte: Avante!