Agora, porém, ando ouvindo mais e mais sobre um ano ainda mais fatídico. De repente, economistas normalmente calmos estão falando em 1931, o ano em que tudo desabou.

Tudo começou com uma crise bancária num país europeu pequeno (a Áustria). A Áustria procurou acudir com um resgate aos bancos, mas o custo crescente do resgate colocou em dúvida a solvência do próprio governo. Os problemas da Áustria não deveriam ter sido suficientes para ter efeitos importantes sobre a economia mundial, mas, na prática, geraram um pânico que se espalhou pelo mundo. Isso lhe soa familiar?

Mas a lição realmente crucial de 1931 disse respeito aos perigos da renúncia à tomada de medidas políticas. Governos europeus mais fortes poderiam ter ajudado a Áustria a gerir seus problemas. Os bancos centrais, especialmente o Banco da França e o Federal Reserve, poderiam ter feito muito mais para limitar os danos. Mas ninguém com poder de conter a crise tomou a iniciativa de fazê-lo; todos os que poderiam e deveriam ter agido declararam que era a responsabilidade de outros.

E isso está acontecendo de novo, tanto na Europa quanto na América.

Considere primeiramente como os líderes europeus vêm lidando com a crise dos bancos na Espanha (esqueça a Grécia, que é praticamente uma causa perdida; é na Espanha que o destino da Europa será decidido). Como foi o caso da Áustria em 1931, a Espanha tem bancos que enfrentam problemas e precisam desesperadamente de mais capital, mas o governo espanhol de hoje, como o governo austríaco da época, enfrenta questionamentos sobre sua própria solvência.

Então o que devem fazer os líderes europeus, que têm um interesse enorme em conter a crise espanhola? Parece óbvio que os países credores europeus precisam, de alguma maneira, assumir parte dos riscos financeiros com que os bancos espanhóis se defrontam. Não, a Alemanha não vai gostar disso –, mas, com a própria sobrevivência do euro em jogo, um pouco de risco financeiro deveria ser uma consideração de monta menor.

Mas não. A “solução” encontrada pela Europa foi emprestar dinheiro ao governo espanhol e dizer a esse governo que resgate seus próprios bancos. Os mercados financeiros não demoraram a entender que isso não soluciona nada –apenas deixa o governo da Espanha ainda mais afundado em dívidas. E agora a crise europeia está mais profunda que nunca.

Mas não nos limitemos a ridicularizar os europeus, já que muitos de nossos próprios políticos vêm agindo com irresponsabilidade igual. E não me refiro apenas aos republicanos no Congresso, que muitas vezes dão a impressão de estarem tentando sabotar a economia intencionalmente.

Falemos, ao invés disso, do Federal Reserve. O Fed tem um chamado mandado duplo: ele deve trabalhar tanto pela estabilidade dos preços quanto pelo emprego pleno. E na semana passada o Fed divulgou seu conjunto mais recente de projeções econômicas, mostrando que prevê fracassar nas duas partes de seu mandado, com inflação abaixo da meta e desemprego muito acima da meta por anos ainda por vir.

É uma perspectiva terrível, e o Fed sabe disso. Ben Bernanke, o presidente do Fed, avisou em especial sobre os danos causados ao país pelo nível sem precedentes de desemprego de longo prazo.

Então o que o Fed propõe fazer em relação ao problema? Quase nada. É verdade que na semana passada ele anunciou algumas ações que supostamente injetariam ânimo na economia. Mas acho que é justo dizer que todo o mundo que tem alguma familiaridade com a situação vê essas ações como sendo pateticamente inadequadas –o mínimo absoluto que o Fed poderia fazer para afastar as acusações de não estar fazendo nada.

Por que o Fed não quer agir? Meu palpite é que o banco está sendo intimidado por aqueles parlamentares republicanos; que tem medo de fazer qualquer coisa que possa ser vista como sendo uma ajuda política a Obama, ou seja, qualquer coisa que possa ajudar a economia. Talvez exista alguma outra explicação, mas o fato é que o Fed, assim como o Banco Central Europeu, assim como o Congresso dos Estados Unidos e como o governo da Alemanha, decidiu que evitar o desastre econômico é responsabilidade de outros.

Nada disso deveria estar acontecendo. Assim como em 1931, os países ocidentais possuem os recursos de que precisam para evitar a catástrofe e até mesmo para recuperar a prosperidade; e nós contamos com a vantagem adicional de saber muito mais do que sabiam nossos bisavôs sobre como ocorrem depressões e como pôr fim a elas. Mas conhecimentos e recursos de nada adiantam se aqueles que os possuem se recusam a usá-los.

E é isso o que parece estar acontecendo. As questões fundamentais da economia mundial não são tão assustadoras assim, por si sós; é a quase universal renúncia à responsabilidade que infunde medo crescente a mim e a muitos outros economistas.

____________

Fonte: The New York Times, na Folha.com