Joaquim Infante Ugarte mostrou um amplo panorama dos “Lineamentos”, detalhando que eram o resultado de 163 mil reuniões que contou com a participação de mais de 8 milhões de cubanos. Numerosas emendas foram incorporadas ao texto do Comitê Central do Partido Comunista de Cuba (PCC), um esforço para dinamizar a economia sem abrir mão das conquistas da Revolução. Joaquim Infante Ugarte enfatizou que as mudanças em curso terão a continuidade do Estado como ente planificador e regulador. Ele, que foi diretor do Orçamento Nacional entre 1976-1991 e colaborador de Ernesto Che Guevara quando o revolucionário argentino presidiu o Banco Central, ressaltou que muitos mecanismos administrativos estão sendo substituídos por outros que garantam mais eficiência econômica e financeira.

Segundo ele, um sistema tributário equilibrado, que impeça a excessiva concentração de renda por meio de impostos progressivos, também é parte importante das mudanças em andamento. A economia cubana, afirmou, deve criar condições para garantir as conquistas sociais e manter as contas externas equilibradas. Joaquim Infante Ugarte lembrou que o bloqueio do regime norte-americano ao país é um obstáculo considerável ao desenvolvimento cubano. Pelas suas contas, a ilha revolucionária já perdeu, nos 50 anos de vigência do bloqueio, a quantia de US$ 97,5 bilhões. Joaquim Infante Ugarte citou também as dificuldades enfrentadas por secas, furacões e ciclones que têm atingido o país.

O economista cubano comentou as debilidades do país, que, segundo ele, são decorrentes da baixa produtividade e do desestímulo ao trabalho. O objetivo é aprofundar a relação entre a ideologia revolucionária cubana e as mudanças empreendidas. A essência é a a intenção de consolidar a orientação socialista na construção social de novas condições internas e externas. Ela constitui o programa da nação cubana para enfrentar os problemas econômicos internos e externos e foi legitimada e enriquecida por um processo de grande participação popular.

Desafio da Venezuela

Henrys Mogollón, o representante do PSUV, abriu sua intervenção afirmando que o socialismo científico é a melhor via para a redenção dos povos. Segundo ele, esse é o objetivo estratégico do governo venezuelano. Para o representante venezuelano, que além de integrar a Comissão de Assuntos Internacionais do seu partido é deputado, a experiência do país resgata os ideais das grandes lutas de Simon Bolívar e de Ezequiel Zamora. Henrys Mogollón se estendeu sobre a idéia do socialismo, que, segundo, ele deve refletir as realidades de cada nação. Mas, em seu entendimento, os problemas e necessidades sociais são similares e só podem ser resolvidos com a cooperação e solidariedade, respeitando o direito internacional, a soberania e a autodeterminação dos povos. 

Os povos progressistas devem avançar, sob estes princípios, para enfrentar a ofensiva imperialista, afirmou. “Também não é um modelo para exportação, pois acreditamos que cada povo tem um enorme potencial para consolidar e assumir lutas em estágios avançados da superestrutura e, em seguida, transformar suas realidades”, disse. “Homens e mulheres continuam a ser o motor para combater a exploração e a pilhagem em todas as suas formas, é um compromisso para o qual nos encontramos hoje (no seminário)”, comentou. “Neste espaço na América Latina emergiu como uma força histórica a possibilidade de mudar a realidade histórica com propostas concretas para a unidade e a integração”, asseverou.

Segundo Henrys Mogollón, “o desafio da Venezuela tornou-se uma grande esperança para os outros povos que lutam e resistem, com todos os seus defeitos”. “No entanto, nosso processo continuará a avançar o ideal bolivariano, unindo os movimentos sociais e políticos em torno da estratégia de acumulação de forças no campo das idéias para fazer avançar a prática necessária para assegurar o estabelecimento de uma nova ordem mundial multipolar”, disse ele. “O esforço do povo da Venezuela para a sua libertação vem de uma longa história de revoluções e traição, no contexto das lutas de resistência dos nossos antepassados contra a conquista e o genocídio”, afirmou.

Porta da emancipação

Ele lembrou que essa história formou uma sociedade colonial com profundas desigualdades. Conseqüentemente, houve o despertar popular. “Tudo começou em 1806, com o precursor processo da revolução da independência, que se tornou a faísca para outros povos do continente começar uma guerra pela soberania e pela liberdade. Na Venezuela, o ideólogo e o grande ator dessas batalhas foi Simón Bolívar, que com sua genialidade foi capaz de conduzir o esforço emancipatório”, comentou. Henrys Mogollón explicou que uma situação semelhante ocorreu na intervenção histórica de Ezequiel Zamora. No século XX, destacou-se o movimento nacionalista liderado pelo General Cipriano Castro.

O país enfrentou a volta para o domínio dos impérios britânico e holandês, que quase iniciou uma guerra com a recusa de povo em pagar dívidas impostas por reformas destinadas a controlar a produção de petróleo. “No início de fevereiro de 1989, o povo cansado e castigado pelo pacote neoliberal decidiu iniciar uma segunda revolução da independência. Foram as rebeliões civis e militares. No final de 1998 e início de 1999, começou a revolução do século XX e século XXI na América Latina. O povo da Venezuela, pela primeira vez após os esforços incipientes de Simon Bolívar para criar uma grande República, começou a abrir uma porta de emancipação, a do socialismo”, completou.

Vietnã e China

Duong Than Bac, representante do Partido Comunista do Vietnã (PCV), fez a intervenção seguinte. Para ele, o socialismo exige, atualmente, esforços teóricos e práticos para uma correta compreensão da realidade de cada país e internacional. Segundo ele, a queda do bloco soviético refletiu a formação de forças anti-socialistas, que, de maneira oportunista, se aproveitaram das debilidades do sistema para golpeá-lo por dentro. Para o representante vietnamita, o capitalismo, no entanto, tem demonstrado sua superação histórica. A atual crise econômica, afirmou, é uma comprovação de que a luta pelo socialismo continua na ordem do dia.

Encerrando as intervenções, o representante chinês fez um breve relato da história para reforçar a idéia de que o socialismo segue sua marcha de progresso no país. Segundo ele, hoje a luta é pelo progresso científico, base do desenvolvimento econômico e social. Lembrou que esse é um processo iniciado com a abertura inaugurada em 1978, atualmente liderado pelo presidente Hu Jintao. Ressaltou que o Partido Comunista indicou o socialismo com peculiaridades chinesas como base teórica para essa nova fase do país.