Como a crise abre espaço para o crime organizado
Segundo um levantamento realizado pela organização italiana SOS Impresa, de Palermo, os diferentes grupos mafiosos italianos movimentam hoje cerca de 140 bilhões na economia local. “Com uma liquidez de 65 bilhões, a realidade é que a Máfia se transformou no maior banco da Itália”, estima a instituição, criada para denunciar as práticas mafiosas de grupos criminosos. Antes mesmo da crise iniciada em 2008, após a quebra do banco americano Lehman Brothers, os grupos como Cosa Nostra, Camorra e ‘Ndrangheta controlavam 7% do Produto Interno Bruto (PIB) italiano.
Há algumas semanas, uma operação da polícia italiana mostrou os atuais tentáculos da Máfia, com o envolvimento de magistrados e funcionários públicos. Com a chegada da crise e a decisão dos bancos tradicionais de fechar suas torneiras, pequenos empresários estão numa situação de fragilidade, o que permite à Máfia desembarcar oferecendo créditos e ajuda, em troca de favores e do silêncio absoluto dos envolvidos. “As vítimas são normalmente pessoas que trabalham no tradicional setor do comércio, seja com alimentos, roupas, floriculturas ou lojas de móveis”, afirma o relatório. “São categorias que, como muitas outras, estão pagando o preço da crise econômica.”
Se na Itália a crise se traduz no fortalecimento de grupos criminosos, na Grécia o fenômeno da economia subterrânea ganha outra dimensão. Algumas cidades decidiram criar seus próprios mercados informais, enquanto outros grupos estabeleceram até mesmo moedas alternativas ao euro, para escapar ao fato de que muitas famílias simplesmente não têm o mesmo volume de dinheiro que há quatro anos. Existe pelo menos uma dúzia de esquemas alternativos criados por associações de bairro e pequenas cidades, para garantir o fornecimento de serviços e bens entre a população, sem necessariamente usar a moeda única europeia.
O mais notório deles é o TEM, sigla em grego para Unidade Alternativa Local, uma espécie de moeda virtual. Um dos locais que mais têm usado o esquema é a cidade de Volos, onde 20% da população se encontra desempregada. Com a população ainda mantendo suas técnicas e capacidades profissionais, a opção foi criar um esquema para trocar serviços, sem necessariamente o uso de euros.
Para fazer parte do esquema, o profissional se registra num site e ganha créditos quanto mais serviços prestar à comunidade. Com esses créditos, pode trocar por outros serviços. Até um tipo de cheque foi criado para permitir pagamento por bens e serviços. Professores, eletricistas, barbeiros, técnicos e veterinários têm usado amplamente o serviço, além de padarias e pequenos supermercados. Na cidade, a nova moeda ganhou tal dimensão que comerciantes passaram a aceitar tanto euros como os TEMs.
Tanto o caso grego como italiano escancaram o fato de que, depois de 30 anos de retração, a economia informal europeia volta a se expandir. Na Espanha, esse crescimento foi de 30% entre 2008 e 2010, o auge da crise. No caso da economia espanhola, a constatação foi a explosão do número de trabalhadores sem carteira assinada. O desemprego no país superou a marca de 20%, e muitos optaram por aceitar trabalhar por salários mais baixos e sem proteção social, mas pelo menos mantendo seus empregos.
Em Portugal, outro país afetado pela crise e pelas medidas de austeridade, dados oficiais revelam que a economia paralela já chega a 24,5% do PIB do país em 2011. Em três anos, a elevação foi de quatro pontos porcentuais. Segundo um estudo da Universidade do Porto, US$ 52,6 bilhões já são movimentados na economia paralela do país, metade de todo o dinheiro emprestado pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela União Europeia para resgatar Portugal.
A constatação dos economistas é de que, se impostos fossem cobrados da economia paralela, o déficit fiscal português poderia cair dos atuais 9,1% do PIB para apenas 2,9% do PIB, recolocando o país dentro das regras de estabilidade do euro. Portugal, Grécia e Itália passaram nos últimos anos a liderar o ranking das maiores economias paralelas entre os países ricos, onde a média é de 18% do PIB em esquemas informais. Há 20 anos, a economia paralela de Portugal era de apenas 9,3% do PIB.
Com informações do O Estado de S. Paulo