Em sessão plenária, partidos ressaltam papel dos comunistas na defesa da democracia
Com revelações de seu passado de proximidade com os comunistas, o presidente do Senado, José Sarney, abriu na segunda feira (26) a sessão solene do Congresso Nacional em homenagem aos 90 anos do Partido Comunista do Brasil. Sua presença na condução dos trabalhos fez lembrar o ingresso do Partido na legalidade após a longa fase de perseguições inaugurada com o golpe de 1964 — por meio de um decreto extraordinário, em 23 de maio de 1985, o então presidente da República, José Sarney, extinguiu a proscrição imposta aos comunistas.
Como lembrou o senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), na ocasião, João Amazonas, então presidente do Partido, foi convidado por Sarney para uma visita ao Palácio do Planalto a fim de encontrar uma forma de instaurar a legalidade dos comunistas sem passar pelo Congresso Nacional — então permeado por vozes conservadoras. Sarney fez questão de conduzi-lo pela rampa de acesso ao Palácio do Planalto, famosa por ser a porta de entrada dos presidentes da República.
Acompanhado de Haroldo Lima, então um influente deputado federal pelo Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) — ele era vice-líder do partido na Câmara dos Deputados —, eles galgaram a rampa do Palácio do Planalto sob a contemplação dos Dragões da Independência, o 1° Regimento de Cavalaria de Guardas criado na época colonial e que faz a guarda e a segurança do presidente da República. Após a recepção, Sarney abriu a porta do Gabinete da Presidência da República para os jornalistas e anunciou que os partidos proscritos estavam legalizados.
Na sessão solene do dia 26, Sarney comentou aqueles dias significativos para a reconquista da democracia. Lembrou que viera de um acordo entre o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB) e uma dissidência que se formara no Partido Democrático Social (PDS) — a nova configuração da Aliança Nacional Renovadora (Arena), sustentáculo político da ditadura — para assumir a Presidência da República nos dias da tragédia de Tancredo Neves. “Eu representava, no imaginário de muitos políticos, aquele regime, sem que se examinassem minhas motivações e compromissos”, disse.
Na ausência de Tancredo Neves, cabia a ele ocupar o posto de presidente e a primeira coisa que precisava fazer era se legitimar. Na linha da legitimação, recebeu no Palácio do Planalto a bancada comunista e João Amazonas. Segundo Sarney, a presença dos líderes comunistas era uma sinalização mais forte que qualquer medida legal que seria, pela própria natureza parlamentar, de demorada execução. “Encerrávamos, com uma fotografia, a questão da legalização dos partidos chamados clandestinos, objeto de grande discussão e reação dos militares, que obrigara Tancredo Neves na campanha a dizer que este era um problema da Justiça e não do Poder Executivo”, afirmou.
Sarney disse que suas relações com os comunistas vêm da infância, quando morava em Codó e chegou na cidade Maria Aragão, “a combativa chefe do Partido Comunista no Maranhão”, de quem ficou amigo. “Fiquei ligado por laços de família. Roberto, irmão de Marly, minha mulher, foi casado com uma filha dela, minha comadre Simone”, lembrou. Sarney também comentou que os primos Hilton e Newton pertenceram à Aliança Nacional Libertadora (ANL) no Maranhão. Foram presos e deportados.
Antes, disse Sarney, foram com dois sacos nos quais estava o material de propaganda — com bandeiras com a foice e martelo — para escondê-lo na casa da família, possível prova contra eles que poderia ser apreendida pela polícia. “Escolheram a nossa casa porque era a casa do Promotor Público de São Luís. Minha mãe ficou muito assustada. Depois de algum tempo, quando as coisas serenaram, outros militantes foram na nossa casa pedir que minha mãe devolvesse os arquivos da Aliança Libertadora Nacional. Qual não foi a surpresa deles quando minha mãe disse que ficara tão assustada e com medo que no dia seguinte queimara tudo. Foi assim que foram destruídos os arquivos da Aliança Libertadora no Maranhão”, recordou.
Sarney lembrou também a história de outro primo, Milton Lobato, que, no Rio de Janeiro, fora médico de Luis Carlos Prestes e vereador pelo Partido Comunista do Brasil, quando da redemocratização de 1945. Uma terceira lembrança da infância de ligação com o Partido Comunista, disse, é a da professora Mãesinha Mochel, da tradicional família Mochel. “Minha professora veio a ser a chefe do Partido Comunista no Maranhão. Era uma criatura muito boa e excelente professora. Não quis ensinar-me marxismo”, comentou.
Deputado Osmar Júnior (PCdoB-PI), Renato Rabelo, José Sarney, senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e deputada Luciana Santos (PCdoB-PE). Foto: Leonardo Brito
No fim da adolescência, disse Sarney, já em plena atividade política, admirava o Partido Comunista por sua tenacidade, mas, com inclinações contra Getúlio Vargas, não ficou ao lado dos comunistas, que apoiaram o então presidente da República em sua fase de democratização do país. “Mas passei a ter grandes simpatias pelas idéias marxistas. O comunismo era uma idéia generosa”, afirmou. Não lera O Capital “nem os livros de doutrina maiores”, mas conheceu o Manifesto do Partido Comunista e outras obras didáticas.
Segundo ele, as lembranças foram para registrar que tem uma longa admiração pelos ideais comunistas e sempre teve, entre os maiores amigos, comunistas militantes. “Isso porque, como já disse, identifico no comunismo uma idéia generosa, a da igualdade entre os homens, que nos aproxima da justiça social. E essa idéia tem a capacidade de abrir os corações, rompendo com os interesses pessoais para fazer prevalecer o interesse da humanidade”. Sarney finalizou dizendo que a história do Partido Comunista do Brasil é longa e rica de valores, de sacrifícios, de heroísmo. “Outros falarão aqui, sem dúvida alguma, com detalhes desses pontos”, disse.
Sarney afirmou que quis fazer este registro pessoal e deu testemunho de uma longa convivência e de uma visão dos valores maiores dos comunistas para registrar que era com grande honra que o Senado Federal reverenciava os 90 anos de um Partido que ao longo da história afirmou homens com idéias, com idealismos, com grandeza, que deram a vida pelo Brasil e muitos lutam até hoje por essas idéias, ajudando a construir a nova democracia brasileira. “Eu quero homenagear todos os que pertencem ao Partido Comunista do Brasil, do qual eu sempre brinco que sou linha auxiliar da pessoa de Renato Rabelo”, finalizou.
Rose de Freitas
Rose de Freitas (PMDB-ES), presidente da Câmara dos Deputados em exercício, falou em seguida, iniciando a intervenção dizendo que a história do Partido Comunista é de afirmação de uma idéia, da consolidação de uma proposta de luta por um sonho social e político. Após rememorar a trajetória dos comunistas no país, lembrou que o Partido, alternando períodos de clandestinidade e legalidade, vem prestando inestimável contribuição à consolidação dos ideais democráticos no país.
Para Rose de Freitas, ao longo das décadas e acompanhando ativamente o percurso da sociedade brasileira o Partido Comunista do Brasil sedimentou uma história de lutas, idealismo e superação. Marcou presença nos momentos mais decisivos da história política brasileira, em todo o século XX, assim como manteve posições combativas nas condições mais desfavoráveis. Participou de campanhas em defesa da democracia, como a da legalidade que garantiu a posse na Presidência da República de João Goulart, e suportou o derramamento de sangue e o desaparecimento de tantos militantes nos anos de chumbo da ditadura. No campo das artes e do pensamento, lembrou, abrigou luminares como Caio Prado Júnior, Nelson Werneck Sodré, Jorge Amado, Graciliano Ramos, Oscar Niemeyer e Cândido Portinari.
Rose de Freitas enfatizou que hoje o mundo passa por um momento de importantes transformações no cenário geopolítico, ressaltando que o declínio do império norte-americano não apenas redefine a equação das forças como põe em xeque o tradicional modelo econômico capitalista. O acirramento dos paradoxos e desigualdades agora em escala planetária, disse ela, estimula o interesse pela retomada do pensamento de esquerda sob nova perspectiva. “Acredita-se que em meio à grave crise internacional surjam alternativas de desenvolvimento econômico e novas formas de convivência social”, avaliou.
Neste contexto, afirmou, é evidente o esforço do Partido Comunista do Brasil no sentido da consolidação das nossas conquistas e do protagonismo nacional, valorizando o trabalho, buscando a ampliação dos direitos sociais e a melhoria dos serviços públicos. Aprimorando a democracia e afirmando a soberania nacional, o Partido sempre trabalha tendo em vista a mobilização popular, a transparência administrativa e o respeito à coisa pública. O Partido, disse Rose de Freitas, atua em torno do ideal maior, que é o da transformação social, permanecendo fiel ao compromisso com as reformas política, educacional, tributária, agrária e urbana, e com a democratização do acesso à comunicação.
Sob um amplo leque de bandeiras, pontuou, o Partido Comunista do Brasil atua com consistência na luta das mulheres e das minorias, contra a fome e a miséria, sem perder de vista a inadiável preservação do meio ambiente. Sua atuação nos poderes da República vem sendo marcada pela seriedade e dedicação. “Muito embora seja o partido mais antigo do país, pode-se dizer que é o mais jovem em razão da idade média dos seus filiados”, lembrou. Na atual composição da Câmara dos Deputados, disse Rose de Freitas, é o partido com maior número de deputadas, “o que quero ressaltar com muito orgulho”.
Segundo ela, o PCdoB chega aos 90 anos com um histórico de contribuições fundamentais à dinâmica da política nacional. A cada vez que se pôs em risco a democracia do país, jamais deixou de trabalhar com entusiasmo. “Na crença inabalável de que um mundo novo é possível, mantém-se radical na necessidade de preservar a democracia”, afirmou. “Por todas essas razões, participamos com grande entusiasmo da comemoração deste aniversário, cumprimentando efusivamente todos os membros do Partido Comunista do Brasil, na pessoa do seu ilustre presidente, Renato Rabelo”, enfatizou.
Inácio Arruda
O senador Inácio Arruda (PCdoB-CE), um dos autores do requerimento da sessão solene, falou em seguida. Segundo ele, havia muito o que abordar na história de um partido que completa 90 anos, que nasceu com o objetivo declarado de construir uma nova sociedade, sem oprimidos e sem opressores, que viveu a mais dura clandestinidade e passou também por períodos de vida legal – sendo o atual, inaugurado em 1985, o mais duradouro –, que atuou no campo e nas cidades, nos movimentos sociais, culturais e nos sindicatos, que se dispôs à luta política, econômica e também teórica, que tem dado contribuições inclusive no terreno dos esportes.
Na tribuna, senador Inácio Arruda (PCdoB-CE). Foto: Leonardo Brito
Inácio Arruda também fez um resumo da história do Partido Comunista do Brasil e ressaltou que, mesmo que bem mais breve, é também fecunda a atividade dos comunistas no parlamento. “Vale ressaltar que seus representantes são gente oriunda das frações populares do nosso povo – inaugurada, como vimos, com nossos primeiros parlamentares, um operário negro e um imigrante nordestino no Rio de Janeiro –, da intelectualidade, como Jorge Amado, de lutadores provados, como Prestes, Amazonas, Pomar, Grabois e tantos outros”, registrou.
Ideli Salvatti
Ideli Salvatti, ministra da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República, foi a oradora seguinte. Segundo ela, é impossível para qualquer brasileiro ou brasileira que tenha sensibilidade, que tenha preocupação com a justiça social, não ter sido influenciado pelo PCdoB. “Eu quero aqui inclusive dar o meu testemunho, da forma como o presidente Sarney o fez, ao citar tantos episódios da sua política onde ele teve a oportunidade de conviver e de ser influenciado”, disse.
Para a ministra, o PCdoB, para todos os que têm compromisso com a justiça, com a liberdade e com a democracia, em algum momento da vida foi “área de influência” e teve parceria. “Por isso que eu não poderia deixar de estar aqui neste momento saudando os camaradas do PCdoB, e dizendo inclusive que nós todos temos muitos compromissos para com a militância do Partido”, enfatizou.
Ideli Salvatti finalizou reforçando a campanha para que “de uma vez por todas se localizem os corpos da Guerrilha do Araguaia”. “Para que as famílias destas lideranças, destes combatentes, possam dar um enterro digno e fazer todas as honras a estes que lutaram em uma condição tão adversa. Por isso, meus parabéns, que o PCdoB continue sempre aguerrido, firme parceiro, porque foi com a parceria, com aliança, com aquilo que nós tivemos capacidade de construir entre vários partidos que nós pudemos dar a este país um primeiro presidente operário e uma primeira presidenta da República. Isso só foi possível pela aliança, pela pareceria e pela solidariedade que sempre tivemos no PCdoB em todos os momentos”, concluiu.
Eduardo Campos
O governador de Pernambuco e presidente do Partido Socialista Brasileiro (PSB), Eduardo Campos, falou em seguida. “Trago uma mensagem do PSB de toda a nossa militância, de nossos dirigentes. Venho para trazer a nossa palavra de respeito, de reconhecimento, de gratidão, de todos os democratas, de todos os socialistas, de todos os brasileiros que sonham com a construção de um país justo, equilibrado socialmente”, afirmou.
Segundo o governador, os socialistas e democratas também estavam em festa. “Hoje não é só um dia de festa para a militância do PCdoB. Hoje é um dia de festa para a democracia. Para a luta popular brasileira. Para aqueles que querem construir um Brasil sem as desigualdades que ainda marcam a cena deste país. Devo dizer que o PCdoB tem nesses 90 anos uma história de grande dignidade. Poucas organizações políticas mundo afora tem uma história marcada por vitórias e por dor como o PCdoB soube trilhar nesses 90 anos com muita generosidade, com muita firmeza para não vacilar nos princípios e nos valores que guarda. Esse Partido é um patrimônio do povo e dos trabalhadores brasileiros”, enfatizou.
Eduardo Campos afirmou que nesses 90 anos o Brasil tem se transformado com a garra, a militância, a luta embalada por milhares e milhares de militantes do PCdoB espalhados pelo território brasileiro. Na luta do campo, na luta das cidades e nas universidades o PCdoB sempre participou, tendo o interesse nacional no centro do debate. “Deve dizer que nesse momento vem à minha memória o privilégio que tive, acompanhando o governador Miguel Arraes, que presidiu o nosso partido, de partilhar de reuniões memoráveis que me ajudaram a atravessar essa curta caminhada na vida pública com o mestre João Amazonas, a quem quero render as melhores e maiores homenagens”, disse o governador.
Segundo ele, Amazonas era um brasileiro corajoso, disposto, honrado, que formou muitos militantes políticos que estão no PCdoB e tantos outros que aprenderam nas escolas do Partido, no movimento estudantil, no movimento social. “O PCdoB formou gerações de mulheres e de homens que lutam e sonham com as transformações que embalam a nossa luta cotidiana”, disse. Para Eduardo campos, Sarney teve o grande mérito de, como presidente da República, garantir a transição para a democracia e de reconhecer aquilo que já era reconhecido pelo povo, que era a organização dos comunistas nas fábricas, no campo, nas periferias das cidades.
Dirigindo-se ao presidente do Senado, o governador disse que aquele foi um ato dos mais importantes. “Para a sua biografia, para a sua passagem na Presidência da República, que nos levou a que hoje possamos juntos agradecermos ao PCdoB pela sua história e pela sua firmeza”, disse. Eduardo Campos agradeceu também “aos companheiros e aos camaradas” que começaram com ele a militância em Pernambuco “e que não conseguiram, por mais que pelejaram, me filiar ao PCdoB”. Citou Luciano Siqueira, Alanir Cardoso, Luciana Santos e Renildo Calheiros “para expressar a gratidão pelo papel que todos eles tiveram na construção não só da minha compreensão como homem público”.
Agradeceu também a contribuição que eles têm dado ao povo de Pernambuco “para que possamos seguir construindo dias melhores para a nossa gente”. “Por isso, estaremos aqui sempre prestando esse reconhecimento devido de todos os democratas brasileiros, a forma digna com que o PCdoB se coloca na cena política brasileira. Com muita firmeza nos seu pensamento, na sua reflexão sobre a sociedade que deseja, mas com a generosidade que muitas vezes falta à vida pública brasileira. Por isso, parabéns, camaradas!”, finalizou.
Aldo Rebelo
O orador seguinte foi o ministro do Esporte, Aldo Rebelo. Saudou o “estimado presidente José Sarney” com um gesto “de reconhecimento e de gratidão” pelo seu destacado papel na redemocratização do país, em contribuir para a legalidade do Partido Comunista do Brasil e de todas as instituições e entidades que hoje integram a vida partidária, estudantil e sindical na cena democrática no país.
Aldo Rebelo fez uma breve consideração sobre o movimento comunista, que segundo ele não surgiu na cena mundial como o único a contestar o capitalismo. “Ele é apenas um dos movimentos a contestar a economia, a política e a cultura do sistema produzido pelas transformações econômicas que chegaram ao auge nos séculos XVIII e XIX. O movimento comunista partilha a crítica ao capitalismo com as encíclicas papais, com as correntes literárias que surgem na Inglaterra e na França, com a filosofia, não apenas a marxista, mas também as que dão origem ao movimento trabalhista na Inglaterra”, registrou.
Segundo o ministro, o movimento comunista não surgiu como “uma seita de conspiradores”. “No Brasil, o Partido Comunista surge em 1922, no mesmo tempo que a Semana da Arte Moderna, que a revolta dos jovens oficiais no Forte de Copacabana, que sacrificaram suas vidas em uma demonstração da insatisfação com a situação existente no plano econômico, social e político do Brasil no início do Brasil do século XX”, disse. Para ele, o Partido surgiu no Brasil como conseqüência e resultado das transformações conhecidas na pátria logo após a proclamação da República, em 1889.
Aldo Rebelo disse que já naquele período o presidente Floriano Peixoto não escapou de receber a alcunha de ser adepto de uma espécie de organização jacobina. “Foram batalhões operários que marcharam em defesa do seu governo durante a Revolta da Armada. O Brasil conhecera pouco antes da fundação do Partido uma grande greve operária que se alastrou por São Paulo durante muito tempo, em 1917. O Partido, portanto, está integrado desde a sua origem aos conflitos, aos desequilíbrios e às lutas econômicas, políticas, culturais e sociais da nossa sociedade”, afirmou.
Segundo o ministro, os comunistas pagaram um tributo elevado pelo seu apreço à liberdade, pela sua fidelidade às lutas por transformações sociais e pela sua lealdade aos interesses legítimos da construção de um país soberano e livre. “Se olhamos para o passado sem ódio, é preciso dizer também que olhamos para o futuro sem medo, sem temor do que representamos. Da nossa história, das nossas heranças, das nossas conquistas, dos nossos fracassos, das nossas vitórias, das nossas derrotas. Vitórias e fracassos, vitórias e derrotas que envolvem a tentativa de construir um país carregado de virtudes e qualidades civilizatórias”, destacou.
Aldo Rebelo enfatizou que nenhum partido, nenhuma organização, tem mais amor e reverência pelo país do que o Partido Comunista do Brasil. “Mas também consciente dos desequilíbrios e das desigualdades que marcam a nossa sociedade. Das deficiências que ainda encontramos para construir um Brasil plenamente desenvolvido. Plenamente independente e plenamente soberano. Por isso, nos integramos aos esforços recentes para dar um passo adiante na construção desse ideário”, afirmou. Segundo ele, por esse ideal os comunistas apoiaram as eleições do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva e da presidenta Dilma Rousseff, além de integrar governos progressistas e democráticos em todo o Brasil.
O ministro afirmou que o Partido Comunista do Brasil chega aos seus 90 anos ostentando essa trajetória de dedicação e de sacrifícios em defesa das causas do povo e do Brasil. “Nas alianças heterogêneas e amplas buscamos o caminho para ampliar e aprofundar a vida democrática, abrir os horizontes sociais e encontrar a forma de desenvolver plenamente a economia e fortalecer a soberania do Brasil”, disse.
Segundo Aldo Rebelo, os 90 anos do Partido não são apenas um momento de comemoração. “Creio que mais do que comemoração, celebramos nessa data a nossa contribuição à luta de todas as forças democráticas, patrióticas e progressistas do Brasil, que deram passos recentes no caminho da construção futura do país, da qual temos o orgulho de partilhar e integrar. Portanto, viva o Partido Comunista do Brasil! E viva a luta das forças progressistas!, enfatizou.
Sebastião Rocha e Ana Amélia
O deputado Sebastião Rocha representou o Partido Democrático Trabalhista (PDT). Lembrou que seu partido, liderado por Leonel Brizola, partilhou muitas lutas com o PCdoB. “Me sinto honrado de estar aqui neste dia especial para um Partido tão importante para a história do Brasil”, disse. “Representando o meu partido, trago uma palavra amiga, uma palavra de respeito, uma palavra de reconhecimento pela trajetória impar deste Partido”, destacou.
Segundo ele, o PCdoB não é apenas um partido. “É um Partido com a face do Brasil, com a cara do Brasil. Um Partido com a face dos camponeses, um Partido com a face dos operários, das mulheres e dos jovens”. “Jovens que tem permitido ao PCdoB uma inserção no movimento estudantil e tem permitido essa reciclagem, essa atualização. O Partido tem tido a sabedoria que talvez nenhum outro partido do Brasil tenha — a de fazer essa reciclagem, essa transição”, destacou.
A senadora Ana Amélia, do Rio Grande do Sul, falou em nome do Partido Progressista (PP). Segundo ela, não havia razão para nenhuma estranheza em homenagear um Partido com tantas divergências programáticas. “Porque estamos fazendo aqui, na verdade, uma homenagem à democracia e à pluralidade. Não há dúvida de que o Partido Comunista do Brasil representará sempre uma posição respeitável e necessária no seio da sociedade brasileira. Aceitá-lo como um parceiro na busca do aperfeiçoamento das instituições que servem ao nosso povo equivale a aceitar a própria democracia e a pluralidade das idéias”, afirmou.
Renato Rabelo, Ranan Calheiros e Paes Landim
Chegou a vez do pronunciamento do presidente do PCdoB, Renato Rabelo. Ele esclareceu que o requerimento da sessão solene do Congresso Nacional teve como signatários o presidente do Senado, José Sarney, o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia, os líderes do PCdoB no Senado e na Câmara, Inácio Arruda e Luciana Santos, respectivamente, os membros da bancada do PCdoB no Congresso e todos os lideres de partidos com representação na casa. “Transcorreram nove décadas ininterruptas vincadas por muitas gerações que lutaram bravamente, sustentando a bandeira da liberdade, da democracia, da soberania nacional, do socialismo. Podemos, assim, ver com maior nitidez a dimensão histórica desta data de 25 de março de 1922”, afirmou.
Renato Rabelo. Foto: Leonardo Brito
Segundo ele, a fundação do Partido Comunista do Brasil, por nove delegados representando 73 camaradas, foi o vestíbulo na cena política brasileira de um Partido da classe trabalhadora, com organização própria, uma causa definida – a luta pelo socialismo. “Foi um acontecimento que demonstrou a visão histórica e o ato de coragem dessa semente de comunistas, que germinou para enfrentar a exclusão das massas trabalhadoras do curso político”, disse. Para Renato Rabelo, o PCdoB tem sido uma força protagonista deste novo e promissor ciclo político que vive a nação brasileira e os trabalhadores aberto com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva em 2002, e continuado por Dilma Rousseff.
O senador Renan Calheiros (PMDB-AL) foi o orador seguinte. Citou a capacidade de agregação e de diálogo do PCdoB e recorreu às origens dos fundadores do Partido para dizer que ali estava a essência do povo brasileiro, que tem um ideal de uma sociedade liberta dos privilégios descabidos e das injustiças, de modo que cada ser humano possa usufruir de uma vida digna. Para ele, Astrojildo Pereira, Maurício Grabois, Luis Carlos Prestes e João Amazonas, cada um a seu tempo e a seu modo, inscreveram páginas decisivas da história do país. Disse que na pessoa do presidente Renato Rabelo externava o respeito e a admiração por todos que seguem construindo, nos dias atuais, a grandeza do Partido Comunista do Brasil.
Paes Landim falou em nome da liderança do PTB. Lembrou a convivência com representantes históricos do Partido e disse que conheceu Astrojildo Pereira. Para ele, a cassação do registro do Partido, em 1947, foi o maior erro da democracia brasileira, fato ligado à tendência autoritária da elite brasileira.
Aníbal Diniz e Sandra Rosado
O senador do Acre Aníbal Diniz representou o Partido dos Trabalhadores (PT). Disse que era uma honra e satisfação representar a bancada do seu partido. “A bancada do PT no Senado gostaria de expressar o seu reconhecimento e prestar a sua homenagem ao PCdoB. Em todas as lutas do povo brasileiro — e foram muitas — nos últimos 90 anos, o Partido Comunista do Brasil se fez presente. Gente que pensou em um país melhor e lutou contra tudo e todos. Às vezes, e não foram poucas, com sacrifício da própria vida”, afirmou.
Segundo ele, o Brasil deve muito aos comunistas. “Deve ao Partido Comunista do Brasil a lucidez de pensamento, o comprometimento e dedicação, a interpretação arguta e uma luta apaixonada. Porque sem paixão não existe causa vitoriosa. Os partidos de esquerda e de centro-esquerda brasileiros, e o PT em particular, devem muito ao Partido Comunista do Brasil. Somos em boa parte herdeiros dessa rica tradição”, disse.
Aníbal Diniz lembrou que o PCdoB sempre defendeu unidade. Enfatizou a formação da Frente Brasil Popular, que teve no primeiro momento a aliança entre PT, PCdoB e PSB, anunciando ao Brasil a possibilidade de ter um operário presidente — sonho concretizado em 2002 com a vitória Lula. “Por isso tudo, devemos muito ao Partido Comunista do Brasil no plano nacional, à militância aguerrida, que dá brilho a todas as campanhas”, concluiu.
Sandra Rosado, líder do PSB, disse que reconhece no PCdoB o papel importante na consolidação da democracia. “É com muita alegria que participamos desse momento tão importante e emblemático na história política do nosso país. Sobretudo por celebramos nessa ocasião os 90 anos de um Partido que sempre tem participado efetivamente na luta social, na busca de uma sociedade justa, livre e igualitária. Temos tido uma parceria e até muitas vezes a concordância dos nossos pensamentos”, lembrou.
Segundo Sandra Rosado, essa parceria pelo entendimento fortalece o governo e seu programa. “Não podemos deixar de rememorar nessa data tão importante os brasileiros e brasileiras que colaboraram para chegarmos a esse momento”, disse. Lembrou os comunistas que lutaram na clandestinidade e citou Pedro Pomar, João Amazonas e Luis Carlos Prestes, entre outros, que fizeram da luta do Partido Comunista do Brasil uma luta vitoriosa.
Valdir Raupp e Lídice da Matta
O presidente nacional do PMDB, senador Valdir Raupp, de Rondônia, falou em seguida. Disse que fazia questão de se juntar aos que saudavam os 90 anos de fundação do Partido Comunista do Brasil. “Já houve tempo em que homenagear um Partido Comunista era efetivamente um ato ilícito”, lembrou. “Mais do que um sinal de nossa maturidade política, a homenagem que hoje prestamos é um justo reconhecimento da relevante contribuição que o PCdoB deu para a história política do país”, afirmou.
Segundo Valdir Raupp, sendo adversários ou partidários, simpatizantes ou não das idéias defendidas pelo Partido, o fato é que a voz peculiar e a atuação ainda que muitas vezes polêmicas dos comunistas foram ao longo da história ingredientes fundamentais do pluralismo que deve caracterizar as sociedades democráticas. “Que uma organização política resista tanto tempo à margem do processo político regular é de fato espantoso. E demonstra que a unidade e a identidade do Partido residem em algo que ultrapassa as conveniências eleitorais e as circunstâncias partidárias particulares das disputas por espaços políticos. Ao 90 anos, o PCdoB, sem deixar de lado suas bandeiras históricas, atinge a maturidade, participando de forma importante no atual governo”, destacou.
A senadora Lídice da Matta (PSB-BA), que já integrou a bancada do PCdoB na Câmara dos Deputados, disse que os desafios dos comunistas se ligam à resistência daqueles que deram a vida pela causa do Brasil. Comentou a crise econômica mundial para realçar o papel das lutas populares. A presidência da sessão foi exercida, além de Sarney, pela senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) e pela deputada Luciana Santos (PCdoB-PE), que encerrou o evento proclamando: O socialismo vive! Viva o PCdoB! Viva o povo brasileiro!