A carta integra a exposição “Pixinguinha”, em cartaz até o dia 6/5 no Centro Cultural Banco do Brasil Brasília, que aborda a vida e a obra do músico Alfredo da Rocha Vianna Filho (1897-1973). Para a curadora Lu Araújo, um dos destaques da mostra é a chance de conhecer aspectos como o contado acima, relativos à intimidade do artista. Entre os objetos expostos, há uma carteirinha de filiação à maçonaria, cartas que ele trocou com músicos e escritores, instrumentos, abotoaduras com notas musicais, documentos e partituras.

“Pixinguinha era muito reservado e mesmo quem pesquisa sobre ele não encontra muitas informações sobre sua vida privada”, conta a curadora. Ao mesmo tempo, diz, ele usava muito os acontecimentos do dia a dia em suas composições. Um exemplo é “Lamento”, cuja letra é de Vinicius de Moraes. “Pixinguinha foi receber uma homenagem no Copacabana Palace e foi barrado na porta porque era negro. Ele e seus amigos entraram pela porta de serviço e, quando vieram lhe pedir desculpas, afirmou: ‘Só lamento que isso tenha ocorrido’. Daí compôs a música. Qualquer resposta que ele tenha dado a qualquer polêmica veio por meio de sua produção artística.”

A curadora começou sua pesquisa em 1997, depois que um neto de Pixinguinha, Marcelo Vianna, e o maestro Caio Cezar a procuraram propondo um trabalho que divulgasse outras facetas da carreira do músico, além das mais conhecidas, de flautista e compositor popular – “Carinhoso”, feita entre 1917, é uma de suas músicas mais conhecidas.

O primeiro resultado da parceria foi o documentário “Nós Somos um Poema” (2008), seguido pelo lançamento da trilha sonora que Pixinguinha e Vinicius compuseram para o filme “Sol sobre a Lama” (1963), de Alex Viany, e de dois discos que mostram as orquestrações sinfônicas do músico. Estima-se que, entre os anos 1920 e 1950, sua época mais produtiva, ele tenha criado cerca de mil composições.

A exposição está dividida em 12 salas temáticas. Começa com um ambiente que remete à pensão Vianna, no Rio, onde os pais de Pixinguinha abrigavam músicos que não tinham onde morar – o pai dele era flautista amador. Uma das fotos mostra o músico quando criança – Pizindin era seu apelido – segurando seu primeiro instrumento musical: um cavaquinho.

As salas seguintes enfocam áreas como a amizade do músico com Donga e João da Baiana, sua experiência no rádio e no cinema, a composição e repercussão de “Carinhoso” e a Semana de Arte Moderna. Embora não tenha participado do evento, Pixinguinha deu a Mário de Andrade um depoimento sobre os rituais afro-brasileiros para “Macunaíma” e foi homenageado pelo escritor no livro.

Fonte: Valor Econômico