Uma justa homenagem à luta de Vital Nolasco
Na próxima sexta-feira (19/05), Vital Nolasco, histórico dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), originário da Ação Popular (AP), será homenageado com uma placa na sede nacional em São Paulo.
Por Osvaldo Bertolino
Na próxima sexta-feira (19/05), Vital Nolasco, histórico dirigente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), originário da Ação Popular (AP), será homenageado com uma placa na sede nacional em São Paulo. Haverá uma solenidade em reverência à sua trajetória de militante iniciada na véspera do golpe militar de 1964. O local será lembrado como uma de suas contribuições para o fortalecimento do PCdoB – a aquisição da sede própria, a primeira de sua história centenária.
Vital, como secretário de Finanças do Comitê Central, comandou uma campanha que mobilizou a militância comunista em todo o país, que contou também com a participação de amigos e colaboradores. Em sua autobiografia Vale a pena lutar – organizada e redigida pelo jornalista e escritor Osvaldo Bertolino –, ele descreve a iniciativa, lançada na festa do 85° aniversário do PCdoB, em março de 2007: “Fizemos cartazes, adesivos e folhetos dizendo que deveríamos ocupar um novo patamar na política, ter mais visibilidade.”
De acordo com Vital, a ideia era arrecadar recursos para comprar um bom prédio. “Eu sabia que aquela meta dependia do engajamento da militância comunista. E começamos dizendo que ao adquirir a carteirinha de membro do PCdoB cada militante daria o seu tijolo para a sede própria. Isso foi um grande incentivo para o comunista de base mesmo, lá na ponta da linha. E fomos à luta.”
O pontapé inicial foi dado com um jantar em Brasília, em 30 de maio de 2007, reunindo trezentas e vinte pessoas, “superando as expectativas”, relata Vital. Além da mobilização, houve venda dos bônus. “Enquanto os jantares eram para arrecadar cifras mais altas, os bônus permitiam a contribuição com valores menores, de acordo com as condições financeiras de cada um”, explicou.
A luta de Vital Nolasco
Vital nasceu na cidade de Belo Horizonte, Minas Gerais, em 16 de dezembro de 1946, em uma família operária. Cedo começou a trabalhar, ingressou na Juventude Operária Católica (JOC) e passou a frequentar o sindicato dos metalúrgicos de Belo Horizonte e Contagem. Era o período de desenvolvimento a ideia da Igreja Popular e da Teologia da Libertação. A AP transitava para a concepção marxista, preparando-se para enfrentar a ditadura militar.
Logo estaria no centro de uma das mais importantes batalhas daquele período – a greve dos metalúrgicos de Contagem e Belo Horizonte, iniciada em 16 de abril de 1968. Temendo o alastramento do movimento pelo país, que já se expandia para outras categorias, o ministro do Trabalho, coronel Jarbas Passarinho, foi para Minas Gerais dizendo que estava disposto a reagir à “provocação”. Ao sair de Brasília, ele fez um longo pronunciamento, reproduzido pela mídia, ameaçando os trabalhadores.
Vital foi um dos principais organizadores da greve, enfrentando o aparato repressivo montado para cumprir as ordens do coronel Jarbas Passarinho. Após um recuo, diante da repressão que prendeu várias lideranças sindicais, os trabalhadores retomaram a greve, novamente reprimida sob o comando direito do coronel Jarbas Passarinho. Diante das ameaças, Vital foi para São Paulo, protegido pela estrutura da AP.
Na capital paulista, trabalhando como operário Vital logo se integrou à oposição ao Sindicato dos Metalúrgicos, comandado por Joaquim dos Santos Andrade – o Joaquinzão –, interventor da ditadura. Participou também do Movimento do Custo de Vida – mais tarde Movimento Contra a Carestia –, liderado por Aurélio Peres, igualmente militante da AP e depois do PCdoB, que surgiu na zona Sul paulista e se espalhou pelo país.
Em março de 1974, Vital foi preso na Delegacia Regional do Trabalho (DRT) de São Paulo quando acertava as contas do pedido de demissão da Philco, multinacional do setor de produtos eletrônicos localizada no bairro do Tatuapé, onde trabalhava trabalhando como eletricista e fora alertado de que estava sendo seguido. Aos gritos, denunciou que estava sendo levado por agentes da ditadura. Conduzido ao 8º Distrito Policial, na Rua Tutoia, a sede do DOI-Codi paulista, foi brutalmente torturado. Escapou da morte pela ação corajosa do cardeal dom Paulo Evaristo Arns.
Solto, Vital voltou à militância, foi eleito dirigente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo. Com o fim da ditadura militar, elegeu-se vereador, em 1988, pelo PCdoB. Reelegeu-se em 1995. Um dos momentos de destaque de sua atuação como vereador foi na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Ossadas de Perus, a abertura de uma tumba com mais de mil e quinhentas ossadas no cemitério Dom Bosco – construído no bairro de Perus, em 1970, logo após o AI-5, de 1968.
Os mandatos de Vital destacaram-se pela luta antirracista. Em 11 de dezembro de 1990, por sua iniciativa a Câmara dos Vereadores de São Paulo concedeu o título de Cidadão Paulistano ao líder negro sul-africano Nelson Mandela, preso durante vinte e sete anos. Em setembro de 1993, ele entregou o título de Cidadã Paulistana para Jaci dos Santos, cujo nome artístico era Thereza Santos, teatróloga, atriz, professora, filósofa, carnavalesca e militante das causas dos povos africanos. O mesmo título foi concedido às primeiras mulheres senadoras negras, Benedita da Silva (PT-RJ) e Marina Silva (PT-AC).
Vital, membro da direção paulista do PCdoB desde os anos 1970, passou a integrar o Comitê Central. Faleceu em 19 de janeiro de 2022, em consequência de fibrose crônica, doença que atinge os pulmões. O então presidente nacional da Fundação Mauricio Grabois, Renato Rabelo, divulgou a seguinte nota:
Vital Nolasco, você estará sempre conosco!
Por Renato Rabelo
Sinto profundo sentimento de consternação nesta hora pelo falecimento do nosso grande camarada e dileto amigo Vital Nolasco.
Vital vem na mesma trincheira conosco desde a APML à integração ao PCdoB.
Vital foi um destemido combatente na luta contra a ditadura militar e se distingue entre as grandes lideranças sindicais operárias já no período após o regime ditatorial.
Ele está entre os quadros operários, militante comunista, dos mais influentes de sua geração.
Foi dirigente municipal, estadual, dirigente nacional de nosso Partido, secretário nacional de Finanças que abriu caminhos. Dedicado à formação dos militantes sindicais foi o primeiro presidente do CES (Centro de Estudos Sindicais).
Ele foi influente vereador da cidade de São Paulo, eleito e reeleito. Assumiu importante papel na luta antirracista e se orgulha com forte recordação, num momento memorável, por ter entregue ao grande líder Nelson Mandela o título de Cidadão Paulistano.
Relembro, quando presidente do PCdoB, na homenagem que lhe prestamos pela passagem de seus cinquenta anos de militância política, em que me pronunciei emocionado sobre sua distinguida trajetória militante, como uma liderança imprescindível ao nosso Partido, exemplo de grandes ensinamentos para todas as gerações de lutadores progressistas e comunistas.
Quero transmitir a sua companheira Ester, sempre junta e lutadora com Vital, os meus profundos pêsames, extensivos aos seus filhos, Daniel e Patrícia.
O falecimento de Vital, num momento de muitas grandes perdas, como em um acúmulo de vazios, nos impacta fortemente. São muitas distinguidas lideranças e quadros do nosso Partido, que se juntam aos combatentes e heróis e mártires que se dedicaram abnegadamente a nossa grande causa socialista e comunista. E muitos grandes amigos que se vão.
Todos deixam um legado imorredouro que nos dão mais força e eleva nossa esperança, nesse momento histórico de imensos e singulares desafios.
Vital Nolasco, você estará sempre conosco!