A destruição bolsonarista e o rumo do governo Lula
Cátedra Claudio Campos realiza Seminário 100+50 em São Paulo.
Por Osvaldo Bertolino
A primeira etapa do Seminário 100+50 – desafios do governo Lula, realizado na quarta-feira (24) no Sindicato dos Jornalistas de São Paulo, superou as expectativas, de acordo com Nilson Araújo, diretor de Comunicação da Fundação Maurício Grabois e presidente do Sindicato dos Escritores de São Paulo, entidades que somam a outras 12 na promoção do evento.
Participaram do debate, intitulado O desmonte de Bolsonaro e os primeiros dias do governo Lula, Guilherme Santos Mello – secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda –, Nelson Barbosa – diretor de Planejamento e Estruturação de Projetos do BNDES – Adilson Araújo (presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) e Rosa Maria Marques – professora titular da PUC-SP e ex-presidenta da Sociedade Brasileira de Economia Política.
Guilherme iniciou as intervenções afirmando que o primeiro passo do governo foi recuperar as políticas públicas e socais, de transferência de renda, buscando o caminho do desenvolvimento. Ressaltou a rapidez e sucesso do processo, refletidos na previsão de melhoria dos índices de crescimento da economia. Falou também de iniciativas para a retomada da política industrial, inserida na questão ambiental.
Como medidas para viabilizar essa retomada, de acordo com Guilherme, é preciso desfazer as amararas deixadas pelos governos anteriores, citando os exemplos da Petrobras e do BNDES. Destacou o provimento de recursos para a ciência, tecnologia e inovação, disponibilizando créditos para políticas industrial e de desenvolvimento.
Acrescentou que o desafio da macroeconomia vem sendo enfrentado, levando em conta as políticas públicas e a estabilização da dívida pública, citando o chamado “arcabouço fiscal”, apreciado no Congresso Nacional, como meio para a política de investimentos, inserido no processo da PEC da transição, aprovado antes da posse do governo Lula. Segundo Guilherme, esse conjunto de medidas se fortalecerá com a reforma tributária e a retomada da trajetória do desenvolvimento.
Nelson Barbosa
Representando o presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, Nelson Barbosa discorreu sobre o que chamou de recuperação da capacidade de governar. Ou seja: recompor o Estado para que ele possa operar políticas públicas e de desenvolvimento, enfrentando os mitos neoliberais dos governos anteriores. Citou a reconstituição de alguns ministérios e de alguns órgãos públicos – a exemplo do BNDES – para ações imediatas e planejamento de médio e longo prazos.
Lembrou que o presidente Lula tem reiterado a diretriz de recuperação e avanço, recordando que o projeto de recompor o Estado vem de antes da posse, o processo da PEC da transição, o caminho para enfrentar as consequências da super contração fiscal deixada pelo governo de Jair Bolsonaro. O desafio, ressaltou, é dar sustentabilidade à retomada do crescimento, após o impulso inicial, com políticas institucionais e investimentos.
Adilson Araújo
O Brasil enfrenta ainda os efeitos da encruzilhada de 2013, quando se deflagrou a marcha golpista, disse Adilson Araújo do preâmbulo de sua fala. Segundo ele, o governo Bolsonaro foi a síntese daquele movimento, impulsionado pela Operação Lava Jato, que passou pelo golpe da fraude do impeachment de 2016 contra a presidenta Dilma Rousseff e chegou à agenda ultraliberal iniciada por Temer. Citou dados como a até então reduzida taxa de desemprego, que explodiu após o golpe, responsável pelo que classificou de “tragédia social”.
Enfatizou que é dever das forças progressistas lutar pelo êxito do governo Lula, com a criação de condições para o desenvolvimento e o avanço da democracia. Segundo Adilson, uma das tarefas imediatas é a democratização da comunicação, o incentivo de meios para a “disputa de narrativas”.
Rosa Marques
A professora Rosa Marques iniciou sua fala discordando do nome da mesa, segundo ela impreciso com a definição de “desmonte de Bolsonaro”, afirmando que houve de fato uma destruição. Foi uma política de terra arrasada, enfatizou. E apontou a necessidade de ações que descortinem horizontes, a partir de um diagnóstico sobre a dimensão da destruição em todos os níveis, promovida pelo governo Bolsonaro.
A tragédia não se deu apenas na economia, alertou. Além da drástica redução dos investimentos e consequente desindustrialização, o bolsonarismo investiu contra todos os mecanismos do Estado voltados para as questões sociais e democráticas, com consequências dramáticas. Disse que a pandemia mostrou os efeitos de uma economia dependente de produções externas, inclusive itens básicos.
De acordo com a professora, o governo Lula deve priorizar investimentos em ciência e tecnologia, além de recuperar o papel do Estado como promotor do desenvolvimento e operador de políticas públicas e sociais, como saúde e educação. Falou também da importância da comunicação pelo governo, a necessidade de informar a população sobre a situação do país e os planos para a sua recuperação.
Sérgio Barroso
Na parte reservada às falas da plateia, o diretor de Estudos e Pesquisa da Fundação Maurício Grabois, Aloísio Sérgio Rocha Barroso, saudou o evento e a iniciativa de Nilson Araújo. Em seguida, afirmou que os representantes do governo deveriam apresentar o rumo do desenvolvimento do país, além de citar as iniciativas em andamento, que são importantes, mas tópicas. “O rumo do desenvolvimento não está claro”, cobrou.
Assista abaixo ao debate na íntegra: