José Carlos Mariátegui: Lênin
Texto publicado no Claridad, No. 5, marzo de 1924, Lima – Perú. O sociólogo peruano José Carlos Mariátegui foi um dos primeiros e mais influentes pensadores do marxismo latino-americano no século XX. O texto foi escrito em forma de obituário logo após a morte de Lênin.
O proletariado revolucionário perdeu mais um de seus grandes condutores e líderes. Um que com maior eficácia, maior acerto e maior capacidade serviu a causa dos trabalhadores, dos explorados e dos oprimidos.
Nenhuma vida foi tão fecunda para o proletariado revolucionário como a vida de Lênin. O líder russo possuía uma extraordinária inteligência, uma extensa cultura, uma vontade poderosa e um espírito abnegado e austero. A estas qualidades se unia uma faculdade assombrosa de perceber claramente o curso da história e adaptar a atividade revolucionária a ela.
Esta faculdade genial, esta atitude singular, não abandonou nunca Lênin. E assim, iluminado pela experiência da insurreição de 1905, Lênin compreendeu claramente a necessidade de criar um partido revolucionário, isento de prejuízos e ilusões democráticas e parlamentaristas. Logo em 1907, Lênin advertiu para a iminência da guerra, previu suas conseqüências políticas e econômicas e anunciou a possibilidade e o dever de aproveitá-la para antecipar e acelerar o fim do regime capitalista. Finalmente, depois de haver denunciado o caráter da guerra européia e depois de haver intervindo nos congressos de Zimmerwald e Kienthal, nos quais as minorias socialistas e sindicais da Europa afirmaram seus princípios classistas e internacionalistas, abandonados pela Segunda Internacional, Lênin conduziu o proletariado russo a conquista do poder, aboliu a exploração capitalista em um povo de cento e vinte milhões de homens, defendeu a revolução de seus inimigos internos e externos e organizou a Terceira Internacional, que reúne hoje em suas seções numerosas, milhões de homens de todas as nacionalidades e de todas as raças em marcha à “luta final”.
Qualquer que seja a posição ideológica que se tenha no campo revolucionário, não se poder negar a Lênin um endereço e um posto principal na história da redenção dos trabalhadores. Vemos, por isso, que os próprios socialistas da Segunda Internacional, dessa Internacional reformista tão energicamente atacada por Lênin, em sua mensagem de condolências a Moscou hão rendido homenagem a retidão e a sinceridade do revolucionário russo.
Comunistas, socialistas e libertários, os homens de todas as escolas e todos os partidos revolucionários, e tirando estes ou aqueles, almejando um regime de justiça social, se dão conta de que a obra e a personalidade de Lênin não pertencem a uma seita nem a um grupo destinado a todo o proletariado, aos revolucionários de todos os países.
O duelo dos trabalhadores é, pois, universal e unânime.
A morte de Lênin significa uma perda enorme para a Revolução: Lênin poderia dar muito esforço inteligente as massas revolucionárias. Porém, não teve tempo, afortunadamente, para cumprir parte essencial de sua obra e de sua missão; definiu o sentido histórico da crise contemporânea, descobriu um método e uma prática realmente proletários e classistas e forjou os instrumentos morais e materiais da Revolução. Milhares de colaboradores, milhões de discípulos prosseguirão, completarão e concluíram a sua obra.
“Claridad”, em nome da vanguarda organizada do proletariado e da juventude e dos intelectuais revolucionários do Peru, saúda a memória do grande mestre e agitador russo.