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José Medeiros: Lula, Xi Jinping e o G20

13 de novembro de 2024
Líderes se reúnem para discutir cooperação estratégica, desafios globais e o papel das grandes economias no combate à fome e nas transições energéticas

Líderes se reúnem para discutir cooperação estratégica, desafios globais e o papel das grandes economias no combate à fome e nas transições energéticas

Sempre acolhedor, o Rio de Janeiro abraçará entre os dias 18 e 19 de novembro de 2024 renomados líderes mundiais na 19ª Cúpula do G20, o principal fórum de tentativa de cooperação econômica internacional e uma plataforma privilegiada para encontros e diálogos entre o Sul Global e o Norte Global.

Segundo o Itamaraty, 55 representantes de países e organizações internacionais já confirmaram presença, entre os quais o presidente da China, Xi Jinping, e o presidente dos EUA, Joe Biden, na verdade uma estrela em acaso. Outra presença não menos relevante será a do ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, representando o presidente Putin. E, claro, teremos o presidente Lula, na condição de anfitrião.

Isso demonstra que apesar do compreensível ceticismo sobre a capacidade do G20 assumir algum protagonismo diante dos problemas internacionais mais urgentes e profundos, não resta dúvida que essa ainda é uma plataforma relevante para o diálogo multilateral.

Tendo por tema “Construindo um Mundo Justo e um Planeta Sustentável”, o Itamaraty anunciou que na cerimônia de abertura será lançada a Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, “uma iniciativa brasileira que mobiliza países e organizações internacionais para acelerar os esforços no combate à fome e à pobreza até 2030”.

Não seria o caso de se inspirarem na iniciativa da China para eliminação da extrema pobreza em um país com mais de 1 bilhão e 400 milhões de habitantes? Não resta dúvida de que o legado de reflexões como as elaboradas pelo pensador brasileiro Josué de Castro, autor do clássico Geografia da Fome (1946), ou iniciativas como o programa Fome Zero dos primeiros mandatos do presidente Lula, assim como o conceito desenvolvido por Xi Jinping de “eliminação da pobreza com precisão” podem ser muito úteis e inspiradores para essa Aliança.

A programação oficial discutirá também a reforma da governança global e transições energéticas. Evidentemente, a abordagem dos conflitos bélicos que ocorrem no Oriente Médio e entre a Rússia e a Ucrânia será quase inevitável, mesmo que não esteja no cardápio oficial. E óbvio, nos bastidores, a eleição de Donald Trump deve ocupar um lugar de destaque.

O evento ocorrerá no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM), um ícone do modernismo arquitetônico brasileiro desenhado pelo arquiteto Affonso Eduardo Reidy. Entre uma movimentação e outra, os participantes terão diante dos seus olhos o verde dos jardins de Burle Marx, o azul vivíssimo da Baía da Guanabara e a imponente presença do Pão de Açúcar. Tudo harmoniosamente integrado em um mesmo conjunto de beleza artística e natural.

Não custa torcer para que a luz da Baía de Guanabara, que segundo o poeta Caetano Veloso, tocou profundamente o coração do pintor francês Paul Gauguin, venha também iluminar as mentes dos líderes presentes no G20 para que o espírito de cooperação ajude a afastar as sombras das incertezas que rodeiam a arena internacional. Sem desarmarmos os pensamentos bélicos que ameaçam a paz mundial, propósitos elevados como o avanço da ‘construção de um mundo justo’, de um ‘planeta sustentável’ ou mesmo de uma humanidade bem alimentada serão cada vez mais difíceis de se tornarem realidade.

Não custa relembrar, como destacou o presidente Xi Jinping no discurso de abertura da exitosa 11ª Cúpula do G20 realizada em setembro de 2016, aqui em Hangzhou, que “O G20 deve cumprir com as expectativas depositadas pela comunidade internacional, deve seguir o caminho da prosperidade e da estabilidade. Deve adaptar-se ao seu tempo e mostrar o caminho.”

Independentemente dos acordos e resultados concretos que serão obtidos na Cúpula do G20 do Rio, minha expectativa maior está em torno da visita de Estado do presidente Xi Jinping, que ocorrerá no dia 20 de novembro, em Brasília. O encontro entre Lula e Xi Jinping, além de ser o ponto alto das comemorações dos 50 anos do estabelecimento das relações diplomáticas entre o Brasil e a China, reforçará a amizade entre o povo chinês e o povo brasileiro e deve projetar horizontes novos para o avanço dessas relações.

Curiosamente, no dia 20 de novembro se celebra no Brasil o Dia Nacional da Consciência Negra. A data, uma homenagem ao líder do Quilombo dos Palmares, Zumbi, morto no ano de 1695, é sobretudo um brado à Liberdade, anseio atualíssimo, para um progresso mundial pacífico e economicamente benéfico para todos os povos.

José Medeiros da Silva é professor e diretor do Centro de Estudos de Brasil da Universidade de Estudos Internacionais de Zhejiang, em Hangzhou.

Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial dFMG.