Logo Grabois Logo Grabois

Leia a última edição Logo Grabois

Inscreva-se para receber nossa Newsletter

    Antirracismo

    Milonga dos negros

    Milonga dos negros   Minha voz, senhores, como Quem joga truco, eu levanto Para celebrar a gente De cor negra no meu canto. Para ingleses e holandeses, Eram negro marfim, E aqui os desembarcavam Depois de meses sem fim. Lá no bairro do Retiro Houve um mercado de escravos; Determinados que eram, Muitos provaram ser […]

    POR: Jorge Luis Borges

    2 min de leitura

    Milonga dos negros
     

    Minha voz, senhores, como
    Quem joga truco, eu levanto
    Para celebrar a gente
    De cor negra no meu canto.

    Para ingleses e holandeses,
    Eram negro marfim,
    E aqui os desembarcavam
    Depois de meses sem fim.

    Lá no bairro do Retiro
    Houve um mercado de escravos;
    Determinados que eram,
    Muitos provaram ser bravos.

    Esqueceram seu país
    De leões quando meninos
    E a esta terra os habituaram
    Os costumes e os carinhos.

    Quando a pátria, numa certa
    Manhã de Maio, nasceu,
    O gaúcho só sabia
    Lutar montando um corcel.

    Alguém viu que os negros eram
    Patriotas, destros, ferrenhos,
    E formou-se o Regimento
    De Pardos e de Morenos.

    O sofrido regimento
    Cujo número era seis
    E do qual disse Ascasubi:
    “Mais bravo que o galo inglês”.

    E assim, na margem oposta,
    Esse bando negro, ao grito
    De Soler, arremeteu:
    Foi no ataque do Cerrito.

    Martin Fierro matou um
    E é quase como se houvera
    Matado todos. Sei de outro
    Que morreu pela bandeira.

    A cada tarde no Sul
    Olha-me um rosto moreno,
    Trabalhando pelos anos
    Tão triste quanto sereno.

    Em que céu de longa sesta
    E tambor estão agora?
    O tempo que é esquecimento,
    O tempo os levou embora.

     

    Jorge Luis Borges Obras Completas II 1952 – 1972
    Editora Globo