O movimento Direitos Já! Fórum pela Democracia divulgou nota nesta quarta-feira (15) para relembrar os 40 anos da eleição de Tancredo Neves como presidente do Brasil. O político mineiro, filiado ao PMDB, foi eleito de forma indireta pelo Colégio Eleitoral em 15 de janeiro de 1985, representando a Aliança Democrática.
O Direitos Já! destaca a data como um momento decisivo na transição do Brasil para a democracia. Na votação, Tancredo derrotou Paulo Maluf, do Partido Democrático Social (PDS), candidato apoiado pelo regime militar.
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O documento analisa o impacto da morte de Tancredo, em 21 de abril do mesmo ano, no rumo da história brasileira.
Confira na íntegra a nota divulgada nas redes sociais do movimento:
“Não há Pátria onde falta democracia”
No dia 15 de janeiro, completam-se quarenta anos que o ex-governador de Minas Gerais, Tancredo de Almeida Neves, foi eleito pelo colégio eleitoral criado pela ditadura para se perpetuar no poder, implodindo assim aquele instrumento do autoritarismo. Mas não chegou a tomar posse. Acometido de grave doença abdominal, sofreria a primeira intervenção cirúrgica na noite do dia 14 de março de 1985, e a posse seria no dia seguinte. Depois de uma maratona de sete intervenções cirúrgicas, Tancredo não conseguiu mais resistir a 39 dias de sofrimento, resistência e esperança.
A vitória da Aliança Democrática no colégio eleitoral fazia parte de uma luta mais geral contra a ditadura, que ocorria desde seu início e havia se acelerado com a anti-candidatura de Ulysses Guimarães em 1973 e a vitória da oposição para o Senado em 1974 (16 de 22 vagas em disputa). Essas lutas culminaram com a campanha das Diretas Já, que realizou, no primeiro semestre de 1984, em plena crise econômica, social e política da ditadura, as maiores mobilizações de massa da nossa história.
Revelando o isolamento da ditadura, a emenda das Diretas Já conseguiu 60% dos votos da Câmara dos Deputados. No entanto, não foi aprovada porque a emenda constitucional exigia dois terços dos votos. Mas o sentimento de mudança era tão forte que o desencanto momentâneo se transformou no forte apoio à disputa no colégio eleitoral pela frente encabeçada por Tancredo, a Aliança Democrática, que propunha implantar uma Nova República no país. Venceu contra o candidato da ditadura por cerca de 70% dos votos no colégio eleitoral. Era tal o isolamento da ditadura que perdeu até no instrumento criado para se perpetuar.
Na biografia de Tancredo, ressalta-se que foi ministro da Justiça do segundo governo de Getúlio, a quem aconselhou lançar a chapa Juscelino Kubitschek-João Goulart; negociou a posse de João Goulart, com a cúpula das Forças Armadas e do Congresso, depois da renúncia de Jânio Quadros; foi primeiro-ministro de Jango durante o Parlamentarismo. Esteve com Getúlio até seu martírio e recebeu de presente a caneta com que redigiu sua carta-testamento. Também esteve ao lado de Jango até o último momento, acompanhando-o até o aeroporto de Brasília, quando este decide não resistir ao golpe. Foi um dos poucos deputados do antigo PSD que votou contra a indicação do marechal Castelo Branco.
Tancredo, por seu jeito conciliador, era tido na oposição como um “moderado”, mas poucos tinham a sua substância. Não há dúvida de que o seu falecimento mudou os rumos da nossa história. Mostrando sua profunda identidade com nossa história de lutas e conquistas, declarou, no dia da sua eleição: “Se todos quisermos, dizia-nos, há quase duzentos anos, Tiradentes, aquele herói enlouquecido de esperança, apoderemos fazer deste país uma grande Nação. Vamos fazê-la”.
E mais: “A construção dessa nação está ao nosso alcance. Depende de liberarmos toda a energia e a vontade de nossa gente (…). Tenho uma palavra especial para os trabalhadores. É às suas mãos que muito devemos e é em suas mãos que está o futuro de nosso país (…). Defender a livre iniciativa e a propriedade privada é defendê-las contra os monopólios e o latifúndio (…) Tais organizações servem fundamentalmente a seus interesses”. Neste sentido, o desenvolvimento para ele significava “criar empregos, remunerar melhor a força de trabalho e distribuir mais adequadamente a renda nacional”. Para isso, havia que resolver o problema da dívida. E Tancredo chancelou: “Divida se paga com dinheiro e não com a fome do povo”.
Sobre a democracia, há a frase célebre de Tancredo: “Não há Pátria onde falta democracia”. Na sua visão de democracia, “uma nação evolui na mesma medida em que cresce a participação dos trabalhadores na divisão da renda e na direção dos negócios públicos”. E diz mais: “enquanto houver, neste país um só homem sem trabalho, sem pão, sem teto e sem letras, toda a prosperidade será falsa”.
Direitos Já! Fórum pela Democracia