Desde a crise financeira de 2008, os Estados Unidos enfrentam um declínio econômico relativo, agravado pelo crescimento da China, a resistência da Rússia e a reorganização de blocos regionais que desafiam sua supremacia.
O economista Michael Hudson argumenta que a política externa dos EUA desde a Guerra Fria tem sido pautada pelo rentismo financeiro e pelo uso do dólar como arma econômica, mas esse modelo encontra crescente resistência global (Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire, 2021).
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Gráfico mostra a evolução da participação da China, União Europeia e Estados Unidos no PIB global, medido em preços correntes, segundo dados do Banco Mundial. Crédito: Lara Connaughton/(CC BY 4.0)
Paralelamente, a hegemonia militar dos EUA vem sendo questionada.
O fracasso nas guerras do Oriente Médio e da Ucrânia passa agora por um deslocamento do poderio econômico, político, midiático e militar para seu expansionismo nas Américas e conter a China, e indica que a capacidade dos EUA de projetar poder globalmente está cada vez mais limitada.
O declínio do império dos Estados Unidos e a ascensão do Nazi-Trumpismo podem ser analisados sob a ótica da transição da hegemonia global norte-americana para um mundo multipolar e a radicalização do nacionalismo imperialista sob Donald Trump.
Seu slogan Make America Great Again (MAGA) reflete a tentativa de restaurar a primazia dos EUA, mas agora em um contexto de crise estrutural do capitalismo ocidental e de perda de influência geopolítica.
Trump e a radicalização imperialista no continente americano
Com o retorno de Trump ao cenário político e sua reeleição em 2024, seu discurso se desloca de uma postura isolacionista para um neo-monroeísmo agressivo.
A Doutrina Monroe, historicamente utilizada para justificar intervenções no Hemisfério Ocidental, ressurge sob Trump em uma forma mais radical, como evidenciado por declarações de seu círculo próximo e sua visão de América para os americanos – entendida como um projeto imperialista de dominação continental das Américas.
Saiba mais sobre a Doutrina Monroe no artigo do intelectual cubano Elier Ramírez Cañedo
O ex-assessor de segurança nacional de Trump, John Bolton, declarou abertamente que “os EUA têm o direito de intervir onde seus interesses estratégicos estiverem ameaçados” (The Room Where It Happened, 2020). A política de sanções contra Cuba, Venezuela e Nicarágua, além da crescente pressão sobre o México para atuar como tampão migratório, evidenciam essa guinada.
A ideia de expansão imperialista para o continente americano foi explicitada quando Trump sugeriu a compra da Groenlândia da Dinamarca em 2019.
Na época, o então secretário de Estado, Mike Pompeo, afirmou que a região era “estrategicamente vital para os interesses dos EUA” (The Atlantic, 2019).
Após sua eleição, Trump defende abertamente anexar a Groenlândia, o Canadá e o Golfo do México.
O desprezo de Trump por Bolsonaro demonstrada em sua posse é proporcional à incapacidade deste de ter se perpetuado no poder através de um golpe militar no Brasil, e de ter permitido a volta de um governo democrático. As recentes declarações de que os EUA não precisam do Brasil revela a sua tentativa de isolar o país para seguir com seu expansionismo nas Américas. Claro que fará todo o possível para sabotar o atual governo e ter um aliado submisso a essa estratégia em 2026.
Esse tipo de postura indica que a lógica expansionista de Trump não se limita a conter a China ou a União Europeia, mas se volta para a consolidação de uma hegemonia, com a tentativa de anexações territoriais e exercer domínio incontestável nas Américas.
Assista ao Conexão Sul Global, da TV Grabois, e confira a análise sobre a posição da América Latina diante do Trump 2.0:
A ascensão do “Nazi-Trumpismo”
A fusão do ultranacionalismo rentista e parasitário com elementos autoritários e racistas em torno de Trump, agravada pelo controle das Bigtechs que dominam a mídia como seus aliados e parceiros, representa uma forma contemporânea de nazi fascismo, caracterizada por:
- Militarização e culto à força – A defesa de um Estado policial, com repressão violenta a protestos e militarização das fronteiras.
- Supremacismo branco e xenofobia – A retórica anti-imigração e os ataques a minorias reforçam uma política de exclusão racial. Serve para justificar perseguições em massa dentro dos EUA, golpear o que resta da fragil democracia e Justiça americana.
- Hostilidade às instituições democráticas – O ataque ao Capitólio em 6 de janeiro de 2021 foi um marco do desprezo de Trump pelas normas democráticas.
- Uso de mitos históricos para justificar o expansionismo – A ideia de que os EUA devem “recuperar” seu poder é usada para validar a agressividade externa.
- Desregulamentação da internet e das Bigtechs para levar sua campanha de mentiras e difamações, criar e alimentar o clima de ódio e perseguições.
Trump e as Nações das Américas sob ameaça
O Nazi Trumpismo radicalizado representa um risco direto para a soberania e a democracia das Nações das Américas e ao povo dos Estados Unidos.
Com a fragmentação da hegemonia dos EUA e a ascensão de novas potências, Trump quer dobrar sua aposta no imperialismo sobre o Hemisfério Ocidental como forma de compensar a perda de influência global. Sua retórica de um império pan-americano, leva a um aprofundamento da doutrina de intervenção e de submissão econômica dos países vizinhos, mas fica também mais exposto em seus interesses de submeter povos e as nações das américas à supremacia das elites rentistas parasitárias dos EUA.
Trump é nazista? Uma análise das similaridades políticas e ideológicas
Trump adotará políticas ainda mais agressivas contra governos progressistas nas Américas, utilizando sanções, golpes híbridos e até ameaças militares para consolidar uma nova forma de dominação imperialista, mas fica mais identificado como alvo central da luta dos povos, dos democratas e patriotas das Américas.
Assim como não foi correto subestimar o Bolsonarismo, também seria um erro trágico subestimar o Nazi Trumpismo.
O Nazi Trumpismo não é apenas um fenômeno interno dos EUA – é uma ameaça geopolítica global.
As Nações dos Libertadores da América, Bolivar, Zapata, Marti e Tiradentes vão se levantar!
Da Groenlândia à Patagônia, a União para derrotar o Nazi Trumpismo e Libertar as Américas é o antídoto e a saída.
Denunciar sua política expansionista e belicista para manter o poder do rentismo parasitário de seus decadentes monopólios, bancos e big techs, sobre as Nações das Américas, é o caminho vital para derrotar seus sabujos e isolar seus aliados entreguistas em cada país.
Miguel Manso é pesquisador do Grupo de Pesquisa sobre Desenvolvimento Nacional e Socialismo da Fundação Maurício Grabois – Engenheiro Eletrônico formado pela USP e Coordenador de Políticas Públicas da EngD – Engenharia pela Democracia.
Este é um artigo de opinião. A visão dos autores não necessariamente expressa a linha editorial da FMG.